Lewi Pethrus, o líder pentecostal sueco

Lewi Pethrus, o líder pentecostal sueco

Ele investiu em missões no Brasil e participou de duas AGOs da CGADB

O sueco Lewi Johansson, mais conhecido como Lewi Pethrus, foi um dos mais destacados nomes do Movimento Pentecostal. Nascido em 11 de março de 1884, filho do operário Johan Johnsson e sua esposa Anna Kristina Pettersdtr, ele começou a trabalhar ainda aos 10 anos em trabalhos braçais e aos 15 anos como aprendiz de uma fábrica de calçados. Em 12 de fevereiro de 1899, um mês antes de completar 15 anos, aceitou Jesus e foi batizado na Igreja Batista de Rånnum, na cidade de Vänersborg. Seu amigo de infância Daniel Berg, apenas um mês mais novo que ele, aceitaria Jesus e seria batizado nas águas na mesma igreja e ocasião. Berg emigraria para os Estados Unidos em 1902, de onde, 8 anos depois, acompanhado do pastor sueco Gunnar Vingren, viria a nosso país por orientação divina, fundando a Assembleia de Deus no Brasil.

Aos 16 anos, Pethrus emigrou para a Noruega. Ali, após ouvir um comentário dirigido a ele, resolveu largar seu emprego em uma fábrica de calçados para se dedicar totalmente à obra de Deus. Assim, em 1902, começou uma série de reuniões evangelísticas na Noruega, tornando-se no mesmo ano copastor da Igreja Batista em Arendal. Nessa época, Pethrus tinha só 18 anos. Ele conta em sua autobiografia que suas inspirações nesse período eram o célebre evangelista congregacional norte-americano Dwight Lyman Moody, falecido em 1899, pai das cruzadas evangelísticas e o homem que mais ganhou vidas para Jesus no século 19; e o célebre pastor e pregador batista inglês Charles Spurgeon, falecido em 1892.

De volta à Suécia em 1903, Pethrus tornou-se pastor de uma pequena Igreja Batista em Bengtsfors, Dalsland. No ano seguinte, no mês de agosto, resolveu registrar-se novamente em seu país, mas com novo nome: trocou o sobrenome Johansson por Pethrus. Também em 1904, visando a um maior preparo para o ministério, entrara no Seminário Betel em Estocolmo. Ali, porém, devido à influência do liberalismo teológico, quase perdeu a fé, sendo restaurado quando, em meio a essa crise, buscou a Deus em oração, ocasião em que Jesus lhe apareceu em visão.

Após concluir seus estudos no seminário em 1906 (foram apenas dois anos de estudos ali), se tornou pastor da Igreja Batista de Lidköping. Nessa época, ele já havia sido batizado no Espírito Santo com evidência física de falar em outras línguas – em uma série de reuniões em Lillestrand –, embora sem entender ainda o que era essa experiência. Pethrus só entrou em contato com o Movimento Pentecostal em 1907, através do ministério do líder pentecostal T. B. Barratt na Noruega (Falamos sobre Barratt na edição passada do Mensageiro da Paz). Pethrus viajou à Noruega para conhecer in loco o que Deus estava fazendo sob o ministério de Barratt e conversar com ele. Foi somente após esse contato e a leitura, em 1909 e 1910, de artigos do pentecostal norte-americano William Durham que Pethrus entendeu plenamente a doutrina do batismo no Espírito.

Em 1910, Pethrus havia se tornado pastor da 7ª Igreja Batista em Estocolmo, que tinha apenas 70 membros. Ali, começou a pregar a mensagem pentecostal e a igreja aderiu em peso ao seu ensino. Em 1911, o nome da igreja foi mudado para Igreja Filadélfia; e em 1913, mesmo ano em que se casou com a norueguesa Lydia Josefine Danielsen (1881-1966), Pethrus e sua igreja foram desligados da União Batista Sueca por sua adesão às doutrinas pentecostais. Este é, para muitos, o início oficial do Movimento Pentecostal sueco, com a Igreja Filadélfia sendo reconhecida como “A Igreja Mãe do Pentecostalismo Sueco”.

Com apenas dois anos da sua exclusão da União Batista Sueca, a Igreja Filadélfia, que na época da exclusão já tinha algumas centenas de membros, saltou para 2 mil membros, sendo 70% da membresia formada de crentes que vieram de outras denominações por terem aderido ao pentecostalismo e 30% de pessoas que haviam aceitado a Cristo através do trabalho evangelístico da Igreja Filadélfia, o que calou os críticos da igreja, que no início diziam que se tratava de uma igreja formada apenas por dissidentes.

O incansável Pethrus se notabilizou como homem de ação, grande ensinador, escritor, líder espiritual, compositor de hinos sacros e um apaixonado por missões. Em 1912, ele criou uma editora. Em 1913, logo após a saída da União Batista, criou o primeiro hinário pentecostal, o Segertoner, que incluía composições suas. Em 1915, criou uma Escola Bíblica de curta duração para obreiros e aspirantes ao ministério. Ela durava três meses e era sempre realizada no verão. Foi essa escola que inspirou a criação das Escolas Bíblicas de Obreiros no Brasil, implantadas pelos missionários suecos. Ainda em 1915, Pethrus criou uma revista semanal, chamada Evangelii Härold; e em 1916, enviou seus primeiros missionários, Samuel e Lina Nyström, que vieram ao nosso país auxiliar na formação da AD brasileira. Os pioneiros Gunnar Vingren e Daniel Berg se filiariam à Igreja Filadélfia em 1914. A igreja sueca enviaria ainda muitos missionários ao Brasil, a outros países da América Latina, à África e à Europa, além de manter laços com os pentecostais escandinavos norte-americanos.

Em 1921, um dos maiores romancistas e poetas da história da Suécia, Sven Lidman (1882-1960), que havia se convertido em 1917, ingressou no Movimento Pentecostal, formando com Pethrus uma parceria que fez dos dois os grandes líderes do pentecostalismo no país. Lidman dirigiu durante 27 anos a revista Evangelii Härold, criada por Pethrus e que se tornaria uma espécie de órgão oficial do Movimento Pentecostal sueco. Através das páginas do semanário, ele defendeu eloquentemente o nascente pentecostalismo na Suécia de todos os ataques que sofria das igrejas tradicionais e do meio secular.

Em 1930, em meio à crise econômica mundial (provocada pela quebra da bolsa de valores nos EUA em 1929), Pethrus surpreendeu o país ao conseguir inaugurar um novo e grande templo para a Igreja Filadélfia, com capacidade para 3 mil pessoas, o maior da Suécia. E durante a crise, a igreja ainda demonstrou compromisso social, distribuindo alimentos aos mais pobres e criando um orfanato. Com o passar dos anos, Pethrus se dedicou ainda mais à ação social, transformando o Castelo de Kaggeholm em uma escola secundária em 1942. Ele também criou o Banco Geral de Poupança e Crédito em 1951 e, em 1959, a instituição filantrópica Fundação Lewi Pethrus, que ganhou destaque internacional pela atuação na recuperação de alcoólatras e dependentes químicos. Paralelamente, ele trabalhou ainda na integração do Movimento Pentecostal no mundo, sendo um dos fundadores da Conferência Mundial Pentecostal em 1947.

Outra área na qual Pethrus investiu muito foi a comunicação. Além da revista Evangelii Härold, ele criou em 1945 o jornal diário Dagen, de perfil secular, mas com cosmovisão cristã, sendo seu primeiro editor-chefe. E antes, em 1941, quando morou brevemente nos Estados Unidos para dirigir por apenas seis meses uma congregação escandinava pentecostal em Chicago, ligada à Igreja Filadélfia, viu a importância da rádio na comunicação do evangelho e, de volta à Suécia, resolveu investir em programas de rádio. A atividade radiofônica se estendeu para além do país e, em 1955, ele fundou, em Tânger, Marrocos, a Rádio IBRA, hoje chamada IBRA Media.

Se nas primeiras décadas de ministério Pethrus não deu importância à política, desde os anos 40, porém, em meio à intensificação do seu envolvimento com as questões sociais, ele começou a dar importância ao tema. Essa guinada, porém, seria uma das razões da separação pública entre os amigos Pethrus e Lidman em 1948, já que este era contrário à “preocupação excessiva” de Pethrus com questões organizacionais do Movimento Pentecostal e com sua transformação paulatina em “político comunitário” e “pastor líder empresarial”. Ele também criticava o que considerava um dogmatismo exagerado de Pethrus em várias questões. Segundo ele, tudo isso poderia afetar a espontaneidade e a espiritualidade do movimento. Por serem duas celebridades religiosas e culturais nacionais, a divergência repercutiu na imprensa secular sueca, com as páginas dos jornais chamando o episódio de “A Batalha de Lidman” (Lidmanstriden, em sueco). Ao final, cada um seguiu seu caminho, mas a maioria da igreja permaneceu ao lado de Pethrus.

Em 1955, Lewi Pethrus criou o movimento Kristet Samhällsansvar (“Responsabilidade Social Cristã”, KSA na sigla em sueco), um grupo de lobby que tinha por objetivo pressionar os partidos suecos a se importarem com questões morais cristãs e a colocar os candidatos cristãos no topo das cédulas dos partidos nas eleições gerais do país. A KSA tinha redes em toda nação e produzia seus próprios folhetos e cartazes. Embora o idealizador fosse Pethrus, o presidente do grupo, com o apoio e indicação do próprio Pethrus,  era o bispo luterano Sven Danell, que tinha ligações com o Partido de Centro. Pethrus ficou como seu vice, e o secretário do KSA era Birger Ekstedt, conservador do Partido de Direita e que mais tarde se tornaria o primeiro líder do Partido Democrata Cristão. No início dos anos 60, Jarl Hjalmarson, ex-líder do Partido de Direita, também esteve envolvido no trabalho do KSA, bem como o pastor luterano e social-democrata Åke Zetterberg.

Após algumas frustrações do KSA, que via seus candidatos angariarem muitos votos para os partidos, mas nem sempre sendo colocados no topo das cédulas dos partidos para conquistar um mandato próprio, Lewi Pethrus concebeu e fundou em 1964 o Partido Democrata Cristão da Suécia. Ele foi criado com uma linha conservadora na área da cultura, mas apoiando na economia a política europeia de estado de bem-estar social.

Lewi Pethrus esteve no Brasil duas vezes: em 1930, na 1ª assembleia da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), em Natal, com sua participação sendo importantíssima para o sucesso dos trabalhos; e em 1951, em outra assembleia da CGADB, desta vez em Porto Alegre. Mais informações no livro História da Convenção Geral dos Ministros das Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus no Brasil (CPAD). Detalhes sobre o pensamento teológico de Pethrus, especialmente nas áreas de Soteriologia e Pneumatologia, estão no livro A Glossolalia e a Formação das Assembleias de Deus no Brasil (CPAD). Em 1955, Lewi Pethrus foi nomeado Cavaleiro Comandante da Ordem de Vasa. No ano seguinte, sua esposa morreu. Até o final da sua vida, ele se manteve ativo, pregando seu último sermão na Convenção Pentecostal Anual Nyhem em 1974. Sua morte se deu em 4 de setembro daquele ano. Sua autobiografia foi publicada dois anos após sua morte e décadas depois no Brasil pela CPAD.

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