Arrebatamento da Igreja será secreto?

Arrebatamento da Igreja será secreto?

Um dos aspectos mais questionados da doutrina do Arrebatamento pré-tribulacional é a ideia de que este evento escatológico acontecerá de modo secreto (LADD, 2016). Alguns intérpretes afirmam que não há qualquer base bíblica para se propagar tal conceito escatológico. Contudo, o que, de fato, é ensinado pelas Assembleias de Deus sobre este evento? Há um arrebatamento secreto, como jocosamente alguns ensinam? E, se há arrebatamento secreto, qual o sentido desta expressão? Embora o assunto já tenha sido tratado em outro momento no Mensageiro da Paz, a seguir se responderá esta e outras questões que comumente são levantadas quanto o tema é Arrebatamento da Igreja.

Há um arrebatamento secreto em 1 Tessalonicenses 4.13-18?

Quando o tema é Arrebatamento da Igreja, pode-se afirmar que o principal texto sobre a questão se encontra em 1 Tessalonicenses 4.13-18. “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem, para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele. Dizemo-vos, pois, isto pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro; depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras”.

Nesta perícope, observa-se Paulo descrevendo inúmeros elementos sonoros e visuais que marcarão a volta de Jesus, especialmente no verso 16. Entre eles destacam-se: alaridos, voz de arcanjo e trombeta de Deus. Todos estes itens revelam uma altissonante comitiva que acompanhará a Vinda de Cristo para arrebatar a Sua Igreja (1 Tessalonicenses 4.15-17). Diante desta descrição há quem afirme que é impossível que haja um arrebatamento que seja visto e ouvido exclusivamente por um grupo de pessoas, como afirma a corrente escatológica pre-tribulacionista (LADD, 2016). Contudo, em qual sentido os pré-tribulacionistas compreendem a ideia de um arrebatamento secreto?

Em primeiro lugar, deve-se afirmar que o conceito de secreto é inadequado para descrever este evento. Na verdade, o que pré-tribulacionistas pretendem dizer é que neste primeiro evento, em que Cristo se manifesta para arrebatar a Sua Igreja, acontecerá uma sucessão de lances que serão contemplados exclusivamente pelos salvos (HINDISON, 2015). Para aqueles que serão arrebatados em todo mundo nada haverá de oculto ou secreto neste acontecimento.

Corroborando com tal entendimento tem-se a afirmação da Declaração de Fé das Assembleias de Deus do Brasil que ressalta: “Esse advento será invisível aos olhos do mundo, porém seus efeitos serão perceptíveis” (SOARES, 2017, p. 102). Não é que haverá um evento secreto o qual passará despercebido por todos na terra. Na verdade, os efeitos deste acontecimento serão duramente sentidos por todo o mundo. Todos sentirão a ausência de milhões de cristão. Todos que ficarem contemplarão os efeitos que o rapto inesperado de milhões de fiéis causará nesta terra. Contudo, tais pessoas não contemplarão a ação de Jesus ao chamar seus servos a desfrutarem com Ele neste abençoado encontro. Assim, para que se tenha uma visão mais clara sobre este tema se observará a intenção paulina ao descrever os eventos que seguirão a volta de Cristo para arrebatar a Igreja.

A descrição paulina da Volta de Jesus

A Volta de Jesus é descrita por Paulo como um evento teofânico (1 Tessalonicenses 4.16), similar a outros escritos no Antigo Testamento (e.g. Ezequiel 1-2). Seguindo o padrão veterotestamentário, tais manifestações/revelações de Deus tornavam-se visíveis exclusivamente para os agraciados por Yahweh, restando aos demais povos sofrer as consequências do juízo de Deus, como aconteceu, por exemplo, com o reino da Babilônia, bem como com outros povos que acabaram por experimentaram o “Dia do Senhor” (do juízo do Senhor).

Walvoord (2021, p. 255) aponta que um dos significados para a expressão “Dia do Senhor” é qualquer ação na qual Deus lida com o pecado humano, seja passado ou futuro, através de Seus juízos. Assim, até mesmo Israel quando era julgado pelo Senhor não via o que se passava no mundo espiritual, mas apenas sofriam as consequências do Dia do Senhor. Em contrapartida, para os profetas, como Ezequiel, as visões teofânicas eram a imagem do que estava acontecendo no mundo supra-humano (Ezequiel 10-11).

Diante desta observação, é pertinente compreender e aceitar a premissa de que o evento do Arrebatamento é distinto da vinda em Glória de Cristo, como apontam os pré-tribulacionistas (HINDISON, 2015, p. 149), sendo aquele um evento onde somente os salvos em Cristo participarão (e contemplarão). Já a vinda de Jesus em Glória de Cristo (Mateus 24.30; Apocalipse 1.7) – um evento que se dará no final da Grande Tribulação, segundo a posição dos pré-tribulacionistas – será distinta do Arrebatamento por diversos fatores, mas um torna-se especial: “todo olho verá” (Apocalipse 1.7). Jesus se manifestará em Glória juntamente com os crentes que foram arrebatados antes deste período.

Considerações finais

Encerra-se esta reflexão destacando que a vinda de Cristo para arrebatar os salvos será v ista por todos os salvos em odo o mundo. Quanto aos não salvos, eles também verão, mas a sua visão não será de Cristo descendo sobre as nuvens. Eles contemplarão as consequências da súbita retirada dos salvos da Terra e o consequente desencadear dos eventos que seguem ao período tribulacional. Assim, não se pode deixar de afirmar que as consequências da Vinda do Senhor serão sentidas por todo o mundo, como “as dores da mulher de parto” (1 Tessalonicenses 5.3,4).

Referências

HINDISON, Edward E. O arrebatamento e a segunda vinda: dois aspectos da volta de Cristo. In: ICE, Thomas; DEMY, Timothy (orgs). Quando a trombeta soar: esclarecendo a controvérsia sobre os tempos do fim. Tradução: Calos Osvaldo Pinto. Porto Alegre: Actual edições, 2015.

LADD, George E. Esperança abençoada: um estudo bíblico da segunda vinda de Jesus e do arrebatamento. São Paulo: Shedd Publicações, 2016.

PENTECOST. J. Dwight. Manual de Escatologia: uma análise detalhada dos eventos futuros. Tradução: Carlos Osvaldo Cardoso Pinto. São Paulo: Vida, 2006.

STANTON, Gerald B. Kept from the hour. Grand Rapids: Zodervan, 1956.

SOARES, Esequias (Org.). Declaração de fé das Assembleias. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.

WALVOORD, Jonh. O arrebatamento: fundamentos da escatologia pré-tribulacionista. Tradução: Ivan Santos. Natal: Carisma, 2021.

por Jefferson J. R. Rodrigues

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