“Os povos indígenas estão sendo alcançados no Brasil pelo Evangelho”

No dia 9 de agosto, é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, instituído em 1982 pela Organização das Nações Unidas (ONU), por ocasião da primeira reunião do Grupo de Trabalho das Nações Unidas sobre Populações Indígenas, realizada em Genebra. Uma vez que o Evangelho de Jesus Cristo alcança povos de todas as tribos, línguas e nações, com os índios não é diferente. Existem milhões deles servindo a Deus pelo mundo a fora. No Brasil, milhares de várias etnias professam a fé em Jesus e o servem com alegria, inclusive muitos deles são pastores e missionários. Convertidos, com os corações ardendo pela paixão evangelística e com a visão de ver Deus glorificado entre as tribos do país, o sonho comum levou pastores e líderes evangélicos indígenas à criação, em 22 de março de 1991, do Conselho Nacional de Pastores e Líderes Evangélicos Indígenas (CONPLEI), do qual nosso entrevistado nesta edição do Mensageiro da Paz, pastor Henrique Dias Terena, é o presidente nacional.

Índio da etnia Terena, Henrique Dias Terena é pastor evangélico, casado com Corina Terena e pai de Elianai e Eliel. Ele reside em Campo Grande (MS), onde coordena todos os projetos do CONPLEI, atuando em projetos no campo missionário juntamente com a família, com ênfase em plantação de igrejas e fortalecimento das igrejas evangélicas indígenas e formação de lideranças autóctones.

Pastor Terena, como foi a sua conversão e chamada ao ministério?

Eu me converti aos 9 anos de idade, numa comunidade Terena onde meus pais já eram crentes. Ali, cresci nesse ambiente cristão. Minha chamada mesmo, de verdade, foi a partir dos 12 anos de idade, quando então entendi que a mensagem de Deus pode ser alcançada por todas as pessoas, todas as comunidades indígenas, a partir da minha igreja, da minha comunidade. Isso foi muito forte! Eu me preparei e fui para uma escola bíblica, onde fiquei estudando a Palavra de Deus e entendendo a missão de Deus e a visão que Ele tinha para a minha vida. Então, a partir dessa minha ida ao seminário, pude olhar um pouquinho mais e entender os caminhos de Deus para Missão.

Como se encontra hoje a igreja evangélica indígena no Brasil?

A igreja indígena no Brasil tem crescido grandemente. Nós temos visto as agências missionárias trabalhando com os povos indígenas. O meu povo específico, os Terena, foi o primeiro grupo a ser alcançado pelo Evangelho, em 1912. Então, já estamos aí com mais de 100 anos de evangelização. As igrejas estão crescendo, graças a Deus, dentro das comunidades indígenas, com lideranças próprias e procurando também, da mesma forma, alcançar outros vizinhos que precisam do amor de Deus. Por ser uma igreja autóctone, ela tem as suas deficiências, porém, juntos com o CONPLEI, estamos dando a eles treinamento, capacitação para que as igrejas cresçam cada vez mais. 

Quais são os principais desafios que a igreja evangélica indígena no Brasil enfrenta?

Um dos maiores desafios que nós temos enfrentado como igreja indígena é a questão geográfica. As tribos, em sua maioria, ficam muito distantes. Apesar dos desafios ao longo dos anos no Brasil, temos visto a igreja indígena brasileira crescer, e a comunidade indígena em nosso país tem mais de um milhão de indígenas, com 380 etnias e 185 línguas. Temos visto isso gradativamente crescendo, e isso me dá uma alegria muito grande. Os desafios são enormes! A questão linguística, a questão geográfica e também o entendimento da cosmovisão de uma etnia para a outra têm trazido grandes desafios, tanto para nós indígenas quanto para os não-indígenas.

E a comunidade indígena como um todo, que problemas enfrenta hoje?

Nós estamos vivendo momentos muito difíceis, especialmente nesses últimos dias com relação à pandemia, que tem nos afetado, mas, graças a Deus, o trabalho das agências missionárias e dos órgãos competentes da área da saúde no Brasil tem dado respaldo muito grande para as comunidades indígenas. Temos visto realmente que esses problemas tendem a diminuir ao longo do tempo. Outro problema que temos visto com relação à comunidade indígena como um todo, lembrando que a igreja está inserida nela, é a falta também de recursos humanos. Pelo fato de as tribos estarem tão distantes, o trabalho traz desafios de recursos humanos para poder avançar dentro das comunidades indígenas. Esse material humano vindo de fora, para capacitar os irmãos indígenas na área de educação, da saúde, da produtividade, é o que temos visto como um dos grandes desafios dentro das comunidades indígenas no Brasil.

Há algum testemunho especial que o irmão poderia compartilhar conosco sobre o que Deus está fazendo entre os indígenas?

Uma das grandes alegrias que temos visto é o avanço do Evangelho em lugares tão distantes como entre os povos Yanomamis, por exemplo. Dezenas de pessoas entendendo o amor de Cristo, aceitando Jesus como seu Salvador e descendo às águas do batismo glorificando a Deus. Isso para nós é um testemunho muito enorme. Além dos encontros do CONPLEI, que têm sido assistidos por centenas de irmãos indígenas. Os nossos encontros têm trazido uma alegria muito grande e têm sido referência aqui no Brasil de unidade e trabalho em parceria. Então, essas coisas têm nos dado muita alegria. Temos visto a mão de Deus trabalhando fortemente dentro da população indígena, evangélica ou não. O CONPLEI, com seus encontros reunindo de 4 a 5 mil líderes vindos de várias partes, dissemina isso para outras comunidades. Aí temos como testemunho as vidas sendo transformadas, tendo uma nova visão, um novo olhar para as questões deles próprios enquanto indígenas, mas também das agências missionárias que cercam e as entidades federais que estão aí para ajudar à população indígena. Isso para nós é uma alegria muito grande: poder ver os nossos irmãos indígenas entendendo que eles também são especiais perante a população ao redor e muito mais ainda para Deus.

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