Igreja é relacionamento com Deus e o próximo

Igreja é relacionamento com Deus e o próximo

A igreja que todos nós conhecemos ou a igreja que somos tem como proposta oferecer um relacionamento ou servir como religião? Como deve ser a conduta dos seguidores de Jesus Cristo na sociedade? Relacional ou relativa? Estes são questionamentos que nos levam à reflexão. A fase inaugural da Igreja acontece em Atos dos Apóstolos, com a descida do Espírito Santo, ao revestir de autoridade e poder nossos irmãos que participaram daquele culto de oração. Contudo, percebo que o modelo de igreja relacional, cuidadora, ocorre momentos antes, exatamente aos pés da cruz. Podemos observar uma atitude do Senhor que demonstra “como Seus seguidores deveriam agir neste mundo. Assim lemos: “Ora, Jesus, vendo ali sua mãe e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois, disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa” (João 19.26,27). São estas palavras que, ainda pronunciadas na cruz, me levam a compreender o que a Igreja de Cristo, nos tempos atuais, deve ser: uma comunidade de relacionamento, pois o discípulo recebe uma mulher que não fazia diretamente parte de sua família, mas a recebe como se fosse, e a partir daquele momento ela começa a desfrutar de todas as benesses que o seio familiar pode proporcionar a alguém. Maria estava sozinha e vulnerável, sujeita aos olhares preconceituosos, sem descartar o luto e o vazio que a morte traz. A mãe do Nazareno é recebida, abraçada e amada. Este deve ser o comportamento de nós, crentes, ao recepcionarmos as pessoas que não fazem parte da nossa família. Os recebidos devem sentir o amor e serem aceitos em nosso convívio.

Durante Seu ministério, o Senhor gerava relacionamento. Conseguimos observar o modelo de Igreja sendo apresentado aos Seus discípulos que posteriormente aplicariam o mesmo método. Jesus demonstrava uma maneira de relacionar-se com as pessoas que chamava a atenção de Seus contemporâneos, principalmente Seus discípulos, os fariseus (religiosos da época), os pobres e as autoridades eclesiásticas e políticas. Jesus ensina a diferença de uma Igreja religiosa de outra que mantém o relacionamento.

Quando o Senhor iniciava Seu ministério, grande multidão O acompanhava. Em um de Seus principais discursos, o “Sermão do Monte”, observamos a seguinte descrição: “Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; e, abrindo a boca, os ensinava” (Mateus 5.1,2 – grifos meus). Observe que as palavras em destaque demonstram o que Jesus almejava para Sua Igreja: um relacionamento de proximidade, característica inexiste na religião da época. Na verdade, o que acontecia era bem diferente: os líderes religiosos eram separatistas, intocáveis, irrelacionáveis, e julgavam-se superiores aos demais. Diante da apatia espiritual dos judeus daquele período, o Senhor contou uma parábola, registrada em Lucas 19, que narra a oração do fariseu e do publicano, e denuncia a hipocrisia dos religiosos da época. As lideranças sentiram-se atingidas e perseguiram Jesus, os discípulos e a Igreja Primitiva. O Mestre se relacionava com Seus discípulos de forma muito próxima, pois era dessa maneira que os ensinava, conhecia e discipulava. A proximidade do Mestre com Seus seguidores mostrava as necessidades daqueles homens. Era dessa forma que o Filho de Deus percebia quando estavam com fome (Marcos 6.37; 8.1,2), cansados (Mateus 11.28; Marcos 6.31), com medo (Mateus 14.16,27; Lucas 20.19), frustrados (Lucas 5.5; João 21.3-6), sem fé (Mateus 8.26; 14.31), tristes (Marcos 16.10; Lucas 24.17; João 16.22).

Outra informação relevante do ministério de Jesus, em se tratando de gerar relacionamento e não religiosidade, é que o estar próximo e se relacionar não se dava apenas com os Seus discípulos, mas com todos. Em outra passagem bíblica, percebemos como era o relacionamento de Jesus com o povo. Em Marcos 2.14-16, observamos a indignação dos escribas e fariseus, contrastando com a atitude de Jesus. Diz o texto: “E, passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado na alfândega e disse-lhe: Segue-me. E, levantando-se, o seguiu. E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e com seus discípulos muitos publicanos e pecadores, porque eram muitos e o tinham seguido. E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?” (grifos meus). É nítida a indignação dos religiosos pelo fato de Jesus estar à mesa, comer e beber com os pecadores. Eles interpretaram a atitude do Senhor como inadmissível. Jesus era Mestre e aproveitava as oportunidades para ensinar aos Seus discípulos. Nessa ocasião, vemos Ele ensinar através da prática da comensalidade (do latim mensa, que significa conviver à mesa, ou seja, a pratica de ensinar enquanto se faz as refeições), prática comum naquela época e principalmente da parte de Jesus. Em diversas passagens, vemos o Mestre lhes ensinado enquanto se alimentavam (Mateus 26.7, 26; João 21.15,). Jesus dá uma lição aos religiosos, dividindo o mesmo ambiente, permitindo estar rodeado ou se assentando ao lado de pecadores, e o texto deixa muito claro que “eram muitos”.

A Igreja de hoje não pode se tornar religiosa, mas, sim, relacional. Jesus fez uma promessa: “...e eis que Eu estou convosco todos os dias, até à consumação dos séculos”. Jesus, em Suas últimas palavras, declara que estaria se relacionando conosco sempre. E isso não é mera religiosidade; é relacionamento. Amém!

Por Marco Aurélio Acioli.

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