O Livro de Apocalipse é uma obra fascinante. Ele foi escrito no primeiro século d.C., mas causa, ainda nos tempos modernos, a curiosidade e a vontade de conhecê-lo. Esse escrito joanino (o Apocalipse foi escrito pelo apóstolo João), pode ser dividido em três partes: as coisas que vistes; as que são; e as que depois hão de ser, como pode ser visto em Apocalipse 1.19: “Escreve as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer”. Além disso, o último livro da Bíblia traz revelações escatológicas que irão definir o futuro de toda a humanidade, tanto para os que ficarão nessa terra como para aqueles que estarão com Cristo nos céus.
Os oito primeiros versículos de Apocalipse trazem três
frases que nortearão este nosso estudo: a primeira é a frase: “daquele que é,
que era e que há de vir” (Apocalipse 1.4); a segunda frase é: “Eu sou o Alfa e
o Ômega” (Apocalipse 1.8); e a terceira frase é: “o Todo-poderoso” (Apocalipse
1.8). A frase “daquele que é, que era e que há de vir” é uma qualificação de
Deus e aparece cinco vezes em Apocalipse, com algumas variações: “daquele que
é, que era e que há de vir” (Apocalipse 1.4); “que é, e que era, e que há de
vir” (Apocalipse 1.8); “que era, e que é, e que há de vir” (Apocalipse 4.8);
“que és, e que eras” (Apocalipse 4.8); “que és, e que eras” (Apocalipse 16.5).
É possível perceber que há o uso de três tempos verbais por três vezes e dois
tempos verbais por duas vezes. Essa designação é uma interpretação do
Tetragrama Sagrado YHWH, que é o nome do Senhor. No Antigo Testamento,
ele aparece em Êxodo 3.14: “Eu sou o que sou”, que também pode ser traduzido
como “Eu serei o que serei” e “Eu fui o que fui”, e está ligado ao verbo “ser”.
Os judeus do passado compreenderam que essa estrutura
sinaliza a eternidade de Deus. Ela também pode ser entendida, como o Targum
Palestino declara, em um aspecto da existência divina passada, presente e
futura. É evidente que a defesa do nome divino em três tempos verbais já
circulava e o Apocalipse reconhece a divindade eterna do Senhor Jesus como a
mesma divindade de Deus Pai, usando a frase “aquele que é, que era e que há de
vir” (Apocalipse 1.4,8). O autor do Apocalipse descreveu o que Deus iria fazer ao
mundo em termos de salvação e condenação futuras, e os textos
veterotestamentários lhe dão suporte (Salmos 96.13; 98.9; Isaías 40.10; 66.15;
Zacarias 14.5).
A segunda frase emblemática em Apocalipse está em 1.8: “Eu
sou o Alfa e o Ômega”. Ela não foi colocada no início do livro sem motivo, pois
a expressão é a primeira das duas aparições em que o próprio Deus fala
pessoalmente. A outra está em Apocalipse 21.5-8, mais precisamente no versículo
6: “Eu sou o Alfa e o ômega, o princípio e o fim” (ἐγώ
[εἰμι) τὸ ἄλφα καὶ
τὸ ὦ, ἡ ἀρχὴ καὶ τὸ
τέλος). A
presente afirmação de Deus se autodenominando, em Apocalipse 1.8 e 21.6, como
“O Alfa e o Ômega” é a mesma titulação que Cristo faz de Si mesmo. Nas quatro
aparições da frase “Eu sou o Alfa e o Ômega”, duas se referem a Deus Pai como o
falante: “Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim” (Apocalipse 1.8) e “Eu
sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim” (Apocalipse 21.6); e as outras duas
quem fala é Jesus: “Eu sou o Primeiro e o Último” (Apocalipse 1.17) e “Eu sou o
Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim, o Primeiro e o Derradeiro” (Apocalipse
22.13). A intenção do Apocalipse nessa estrutura é demonstrar que o único
epíteto que o Senhor arroga sobre Si é a mesma designação dada a Jesus Cristo.
Ao analisar as expressões: “Eu sou o Alfa e o Ômega”; “o
Princípio e o Fim” e “o Primeiro e o Derradeiro”, percebe-se que há uma
equivalência entre elas. As letras alfa e ômega são, respectivamente, a
primeira e a última letras do alfabeto grego e significam, nos textos
apocalípticos, “o Princípio e o Fim”, “o Primeiro e o Derradeiro”.
Essa designação divina também remonta às profecias
registradas pelo profeta Isaías. Escreveu ele: “Assim diz o SENHOR, Rei de
Israel e seu Redentor, o SENHOR dos Exércitos: Eu sou o primeiro e eu sou o
último, e fora de mim não há Deus” (Isaías 44.6). E mais: “Dá-me ouvidos, ó
Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu sou o mesmo, eu o primeiro, eu também o
último” (Isaías 48.12).
Por fim, tem-se a designação divina em Apocalipse “O Senhor
Deus, Todo-Poderoso”. Ela aparece sete vezes em todo o livro (Apocalipse 1.8;
4.8; 11.17; 15.3; 16.7; 19.6; e 21.22).
Algumas estão em aproximação (Apocalipse 4.8; 11.17 – uma
com grande semelhança em 1.5-7). Duas vezes há uma expressão bem resumida:
“Deus, Todo-Poderoso” (Apocalipse 16.14; 19.15). É evidente que esse epíteto
divino se vincula a Deus, porque é uma tradução clara do hebraico, de uma forma
mais extensa e veterotestamentária desse título (YHWH, o Deus dos
exércitos – 2 Samuel 5.10; Jeremias 5.14; Oséias 12.5; Amós 3.13; 4.13).
O uso que João faz do presente título em Apocalipse 4.8 é
como se segue: “E os quatro animais tinham, cada um, respectivamente, seis asas
e, ao redor e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia
nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso,
que era, e que é, e que há de vir”. Isso equivale ao mesmo utilizado em Isaías
6.3: “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o SENHOR
dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória”.
Essa denominação divina sinaliza a grandiosidade do poder de
Deus sobre todas as coisas e como Ele tem autoridade e o domínio para guiar
todo o curso da história. Ao aparecer em Apocalipse, vê-se uma continuidade dos
ideais de fé do Deus dos profetas do Antigo Testamento. O Senhor Todo-Poderoso
do último livro da Bíblia, o “παντοκράτωρ/Todo-Poderoso”,
sinaliza não somente o poderio intangível de Jesus Cristo, mas também o Seu
poder real sobre todas as coisas.
Portanto, o livro do Apocalipse precisa ser um texto que
traga esperança e não medo, pois nele está presente “aquele que é, que era e
que há de vir”, o Cristo, o Todo-Poderoso, que tem o controle de todas as
coisas em Suas mãos – presente, passado e futuro – e que prometeu vir buscar a
Sua Igreja. Ele é a esperança daqueles que cantarão o hino da vitória
(Apocalipse 19.1-10) e daqueles que lavaram as suas vestes no sangue do
Cordeiro.
Os epítetos relacionados tanto a Deus Pai como a Jesus
Cristo evocam a intenção da revelação do Apocalipse de apresentar a unidade
divina entre o Pai e o Filho, bem como a presença do Espírito em partes do
livro, apontando para a presença das três pessoas divinas na história salvífica
da humanidade no contexto escatológico.
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