Às 20 horas do dia 11 de abril de 2010 Jerusalém ouviu o som da sirene conclamando seu povo para um momento de meditação. Corações contritos, judeus e amigos de Israel expressaram através dos dois minutos de silêncio dedicados na ocasião à dor pela lembrança dos 6 milhões dos mortos de seu povo, resultado do furor nazista por ocasião da Segunda Guerra Mundial. Trata-se do Yom Hashoah, dia marcado para o luto revivido de uma nação que não se permite esquecer a dor, na esperança de que ela jamais venha a se repetir.
Novas dores, no entanto, sempre rondam e assombram a alma
humana. No mesmo dia, Israel pode solidarizar-se ao povo polonês pela terrível
perda de seu presidente, Lech Kaczinsky, um dos líderes de governo mais
favoráveis à causa judaica. Morto na tentativa frustrada de aterrissar no
aeroporto próximo à cidade de Smolenk, Kaczinsky viajava com outras 97 pessoas,
muitas delas oficiais militares poloneses, o que levou a viúva a declarar que
os homens mais importantes da Polônia morreram nessa ocasião. À viagem dessa
delegação tinha por objetivo lembrar o 70. aniversário do massacre russo aos
prisioneiros de guerra poloneses na cidade de Katyn, quando 20.000 soldados e
civis foram executados durante o horror da Segunda Guerra Mundial.
Lembranças daquele tempo terrível têm sido registrada através
de pesquisas recentes empreendidas por fiéis da memória e, portanto, fiéis da
História, que jamais poderão ser chamados de rancorosos ou presos ao passado,
apesar das pretensões do revisionismo amnésico que, em nossos dias, nega os
anteriores, usando lábios cheios de intenções belicosas com o discurso da
negação da realidade do Holocausto. Diante dessa tentativa espúria, lembrar é
um precioso tesouro.
A mesma ótica revisionista parece nortear à antiga (pois
data dos tempos de Filon, de Alexandria) e sempre atual interpretação alegórica
das Escrituras Sagradas; porque acresce em forma de conclusão ou introito a
repetida expressão “não foi bem assim” a toda e qualquer narrativa bíblica; sua
atualidade condiz bem aos tempos de negação da veracidade do texto sagrado para
dar espaço às heresias que agradam os ouvidos dos pecadores impenitentes.
Apesar desse esforço, no entanto, a Bíblia, por ser verdade histórica além de
palavra revelada, prossegue sendo reafirmada por descobertas arqueológicas e
principalmente, por transformações que efetua nos corações dos que meditam em
suas palavras. Lembrar e crer no que ocorreu é hoje tesouro guardado em
preciosos corações assim, pois a preciosidade da palavra confere ao singelo
vaso de barro que a contém o valor de guardar tão precioso conteúdo, ainda que
sem pretender possuir a glória deste.
A lição foi poderosamente apreendida por Pedro na ocasião em
que foi, a ele e ao Senhor, conveniente pagar o tributo de duas dracmas ao Templo
em Jerusalém. Ainda que a Jesus, como objeto da adoração da casa, fosse dispensável
entregar a oferta, pareceu-lhe adequado entregar o valor e cumprir, assim, toda
a lei. Ordenou a Pedro uma pesca especifica: não de rede, mas com vara e anwl,
o pescador encontrou o peixe que trazia na boca a moeda para o pagamento de
ambos. Interessante que o animal não carregava à moeda no ventre. Ser-lhe-ia pesado,
mas, ao menos, estaria saciado. Não era o caso, o peixe nadava faminto. Assim
sendo, encontrar a isca que lhe jogara o discípulo resultou no esforço que
certamente fez para acomodar em sua boca a moeda que não soltou ao mesmo tempo
em que abocanhava o anwl. O tesouro encontrou seu lugar de destino nas mãos e
na ordem do Mestre, que o encaminhou ao depósito do Templo. Há tesouros assim,
incômodos até que lhe encontremos o lugar devido. Enquanto o momento não chega,
exige-nos adaptação, força e certa determinação para não perder, para não
desistir. Tesouros em recursos materiais, humanos, espirituais, são por vezes
confundidos com fardos apenas porque ainda não foram entregues ao seu lugar de
destino. Até mesmo filhos ou discípulos podem parecer moedas deslocadas, carentes
de valor, somente até que o Senhor os requeira e utilize para o louvor da Sua
Glória. Dons e talentos por vezes navegam em águas profundas aguardando, como
que em um depósito, o tempo em que haverão de ser usados; não estão sepultados,
mas reservados pelo próprio Senhor.
Dentre os tesouros existentes, os tesouros da memória
destacam-se como algo dos mais preciosos. Embora a lembrança possa reavivar através
da dor, a verdade que traz a supera embora não à anule. Lembra-nos para
aprender, lembra-nos para não errar, lembra-nos para que a história não passe
em vão, nem mesmo à história de nossas vidas. As histórias das nações ensinam.
A história de um homem, nascido no seio da nação de Israel ensina. À história
de um homem que morreu por seu povo não pode ser esquecida dentre a de tantos
outros que morreram, com a grande diferença de que este era justo e santo, Deus
encarnado, Messias de Israel, morto na casa de seus irmãos por algo que odiavam,
resgatador de seu povo e de toda a humanidade. No tempo de lembrar os mortos, avive
o Senhor, na memória de Israel, Aquele que foi morto, mas vive. Lembrar isto é
reconduzir o tesouro mais precioso da história do povo ao seu devido lugar ainda
a ser cumpridas no reino milenar literal de Cristo na Terra (Apocalipse
20.1-6).
por Sara Alice Cavalcante
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