“Quem eram os nicolaítas, cujas obras foram condenadas por Cristo em uma das Sete Cartas à Igreja da Ásia registradas em Apocalipse?”
Mencionados no livro de Apocalipse (2.6,15), são muitas e divergentes as opiniões dos diversos autores — inclusive clássicos — acerca da verdadeira identidade dos nicolaítas. Irineu, bispo de Lion, em sua obra Contra Heresias, partilhava da opinião de que os nicolaítas eram seguidores de Nicolau, prosélito de Antióquia mencionado em Atos 6.5, porém não fez nenhuma consideração a respeito do comportamento reprovável desse grupo, ou seja, qual era origem de suas perversões e quais os exemplos dessa perversão no aludido diácono.
O historiador e também chamado “pai das enciclopédias e
dicionários bíblicos”, Eusébio de Cesaréia, informa em sua obra História
Eclesiástica que Clemente de Alexandria, um dos País da Igreja, em seu tratado
Stromata, defendia a tese de que Nicolau, mencionado em Atos 6.5, mesmo sendo a
pessoa na qual os nicolaítas inspiraram-se para criarem um grupo à parte, esta
não tinha nada a ver com suas práticas de perversão moral (como, por exemplo, oferecer
suas esposas para outros homens), pois eram uma distorção deliberada de uma
expressão, seguida de uma atitude indiscreta de Nicolau que, por sua vez, não
tinha nenhuma má intenção. Eusébio cita então o trecho da obra de Clemente onde
este explica a postura de Nicolau: “[diziam os nicolaítas que] possuindo uma
bela esposa e sendo acusado de ciúmes pelos apóstolos, após a ascensão de nosso
Senhor, ele a conduziu para o meio deles e permitiu que se casasse com qualquer
que desejasse. Dizem que isso era perfeitamente coerente com uma frase dele:
“Cada um deve ofender a própria came”. E, assim, os que adotavam sua heresia,
seguindo literalmente tanto seu exemplo como suas palavras, precipitavam-se com
ímpeto na formicação, sem se envergonhar. Mas me certifiquei de que Nicolau não
viveu com outra mulher, do, que suas filhas permaneceram em estado de
virgindade até idade avançada; que seu filho também permaneceu incorrupto”.
Outras duas posições são também conhecidas. Uma delas
defende que se tratava de uma facção do Gnosticismo que era muito popular no
primeiro século e que defendia o antinomismo.
Já o professor de Novo Testamento Simon Kistemaker apresenta
uma tese defendida por alguns — afirmando que “com base na exegese [...) os
nicolaítas eram pessoas que seguiam os ensinamentos dos falsos apóstolos e de
Balaio. Esse pressuposto desfruta de mérito, pois em estilo tipicamente
hebraico João escreve na forma de paralelismo para realçar um ponto. Os falsos
apóstolos buscavam escravizar a mente das pessoas com suas doutrinas enganosas;
os seguidores de Balaão tentavam conquistar pessoas através da fraude; e o nome
grego Nikolaos significa “ele conquista pessoas”. À guisa de comparação com o
que se diz sobre os seguidores de Balaio (2.14) e de Nicolau (2.6,15),
presumimos que esses enganadores pertenciam ao mesmo grupo. Não obstante,
admito que não há certeza sobre esse ponto.”
Finalmente, devido ao fato de os textos em que o Senhor, ao
dirigir-se às igrejas de Éfeso e Pérgamo através de João, fazerem menção aos
nicolaítas, sem, no entanto, fornecerem maiores detalhes, à única inferência
relativamente segura é que na carta enviada a Pérgamo, devido ao paralelismo
com a “doutrina de Balaão”, esposada no versículo 14, os nicolaítas são todas
as pessoas que seguem a “doutrina dos nicolaítas” que deve ser entendida como
imoralidade, perversão da verdade e o ritual de oferendas de alimento condenáveis
para a igreja anual (Atos 15.29) e que qualquer pessoa que seja crente, ao se
identificar com elas, é possível ser, ainda hoje, considerada “nicolaíta”.
por César Moises Carvalho
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