Simultaneamente às ações dos agentes políticos envolvidos e à manifestação popular, a Igreja no Brasil mantém-se em oração pelo nosso país
O Brasil passa por uma das maiores crises políticas e a maior crise diplomática de sua história. Até o fechamento desta edição, O impasse continuava, com cada dia reservando novas cenas dessa longa novela da crise brasileira. Desde o início da crise, a Igreja no Brasil tem acompanhado toda essa Situação com atenção e apreensão, assim como o resto do país, e também tem orado constantemente sobre o assunto. Algumas igrejas têm realizado nos últimos meses campanhas de oração e jejum pelo país, pois entendemos que só Deus pode sarar à nossa nação, como afirma a Palavra de Deus: “E se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei à sua terra” (2 Crônicas 7.14).
Não ignoramos a importância da iniciativa humana, mas todos os
agentes políticos envolvidos com algum poder de influenciar a situação - seja à
direita, à esquerda ou ao centro – já têm atuado a seu modo nos últimos tempos,
seja de forma equivocada ou correta, tentando dar uma saída a essa crise que
parece sem fim e que aparentemente chega ao seu ápice. O próprio povo já se
manifestou várias vezes nos últimos anos – naquelas que têm sido as maiores manifestações
de rua da história do país, contando, inclusive, com grande número de
evangélicos envolvidos - e mais recentemente grandes manifestações voltaram a ocorrer
em vários estados do Brasil. A iniciativa humana é importante e entendemos que
todos os atores envolvidos devem continuar a buscar a solução, mas cremos que
só Deus pode, de fato, salvar o nosso país do caos em que se encontra, que se
manifesta em três áreas: crise política, profunda crise em nossas instituições
e agora também uma gravíssima crise diplomática.
Crise diplomática com Israel, EUA e OTAN
Na área diplomática, o Brasil, antigo aliado dos Estados
Unidos, Europa e Israel, passou a se aliar, durante o governo Lula, ao bloco antiocidental
capitaneado por Rússia, China e Irã. Em 26 de julho, o Brasil saiu da Aliança
Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês), uma
organização internacional que visa combater o antissemitismo no mundo e preservar
a memória do Holocausto. Três dias depois, em 29 de julho, o Brasil formalizou
apoio à ação da África do Sul contra Israel na Corte Internacional de Justiça
acusando Israel de genocídio em Gaza. À acusação não procede, já que, além de a
guerra israelense ser contra o Hamas, e não contra os palestinos, o exército de
Israel - mesmo com o Hamas usando seu próprio povo como escudo humano – é
aquele que tem, proporcionalmente, menos baixas civis em suas operações em relação
a qualquer outro exército do mundo.
É verdade que acusações têm sido feitas de que o povo palestino
tem passado fome, mas fato é que Israel tem permitido várias ações humanitárias
em Gaza e há informações de que, quando esses carregamentos chegam ali, o Hamas
desvia grande parte deles. Não obstante o grupo terrorista dizer que “Israel
não tem provas do desvio”, o que é repetido por vários jornais, a imprensa
israelense já divulgou imagens em vídeo mostrando homens palestinos armados, supostamente
ligados ao Hamas, roubando suprimentos enviados são povo de Gaza. Em uma delas,
divulgada em dezembro do ano passado, os militantes do Hamas estavam roubando
caminhões que entregavam suprimentos a partir do Egito. E mais recentemente, em
2 de maio, Matthew Miller, porta-voz do Departamento de Estados dos Estados
Unidos, confirmou que o Hamas roubou um carregamento inteiro de ajuda
humanitária enviado pela Organização de Caridade Hachemita da Jordânia.
Numa tentativa de minimizar a denúncia israelense, foi
divulgado um relatório em 25 de julho que afirma ter analisado mais de 150 supostos
incidentes de desvio de suprimentos pelo Hamas desde o início da guerra e
declara que, após analisar cada denúncia, concluiu que não há evidências de desvios
“generalizados” do Hamas. O relatório, é importante frisar, não conseguiu negar
que tenha havido desvios promovidos pelo grupo, mas afirmou que não são “generalizados”
como afirmam os governos de Israel e dos EUA. Em resposta, as Forças de Defesa de
Israel (FDI), em uma declaração à ABC News, apontaram falhas no relatório,
dizendo que ele “não apenas ignora evidências claras e explícitas de que o
Hamas explora ajuda humanitária para sustentar suas capacidades de combate, mas
também chega a criticar as FDI por decisões tomadas especificamente para
proteger equipes e remessas humanitárias”. As FDI acrescentaram que, quando
“direcionam entregas de ajuda por rotas específicas, isso se baseia na
realidade operacional e em avaliações de inteligência, visando proteger tanto a
ajuda quanto os agentes humanitários – precisamente a questão que o relatório
alega que não está sendo abordada”. Quanto às acusações de que, durante uma
confusão em uma entrega de alimentos em Gaza, que teria resultado em gente
pisoteada, militares israelenses teriam, para deter o avanço agressivo da
multidão esfomeada, atirado em palestinos. O governo israelense afirmou que “as
informações são conflitantes”, mas que estava investigando o caso e que, se
confirmada culpa dos soldados, estes seriam punidos.
Além de tudo isso, há também a propaganda de guerra. Uma
foto reproduzida em todo o mundo e publicada originalmente pelo jornal The New
York Times mostrando uma Além de tudo isso, há também a propaganda de guerra.
Uma foto reproduzida em todo o mundo e publicada originalmente pelo jornal The
New York Times mostrando uma mãe com uma criança esquelética de Gaza,
supostamente nesse estado devido à fome, mostrou-se uma manipulação dos fatos:
em 29 de julho, o jornal norte-americano publicou uma errata - no jornal e nas
suas redes sociais – afirmando que a criança esquelética, chamada Mohammed
Zakaria al-Mutawag, “tinha problemas de saúde preexistentes”. No início de
agosto, os jornais alemães Bild e Siiddeutsche Zeitung denunciaram que a mídia divulgou
fotos manipuladas e encenadas de fotógrafos palestinos.
Isso não significa dizer que não haja muitas pessoas em Gaza
passando fome, mas (1º) Israel não tem impedido o povo palestino de receber qualquer
ajuda humanitária, (2º) o Hamas tem desviado muito dessa ajuda (o grupo exige que
qualquer ajuda passe por ele e grande parte das entidades humanitárias se
submete a isso) e (3º) há muita campanha difamatória contra o exército de
Israel. Como se não bastasse tudo isso, Israel comprovou, através de documentos
(listas de pessoal e salarial, registros de treinamento, fotos e movimentação
financeira), que os correspondentes da rede Al-Jazeera em Gaza, Anas al-Sharif
e Mohamed Qreigeh, mortos por Israel em um ataque a uma célula terrorista na
região e que municiavam a imprensa internacional na Sua narrativa contra
Israel, eram não apenas membros do Hamas como líderes da célula terrorista.
Infelizmente, o governo brasileiro autorizou, em fevereiro
de 2023, dois navios de guerra iranianos de atracar em portos brasileiros mesmo
após pedidos dos governos britânico e norte-americano que não o fizesse; se
negou a reconhecer o Hamas como grupo terrorista em outubro de 2023; afirmou,
em fevereiro do ano passado, que Israel promovia “genocídio” em Gaza; acusou
Israel de “vitimismo” e outra vez de promover “genocídio” em 3 de junho deste
ano e de novo no início de agosto; condenou em 13 e 22 de junho o ataque de
Israel e dos EUA que destruíram as instalações nucleares do Irã, país cuja liderança
reiteradamente afirma que seu objetivo é apagar Israel do mapa; e, como já
dito, saiu da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto e formalizou 0
apoio a uma ação penal contra Israel por acusação de genocídio.
Além disso o governo brasileiro burlou as sanções contra a
Rússia, ajudando a financiar o esforço de guerra russo contra a Ucrânia ao comprar
bilhões de dólares de diesel russo nos últimos dois anos e meio, o que levou o
porta-voz da Organização do Atlântico Norte (OTAN) - entidade político-militar
que reúne EUA, Canadá e 29 países da Europa - a afirmar, em 15 de julho, que
nosso país sofrerá sanções da organização por causa disso. Para piorar, em 10
de agosto, o governo brasileiro autorizou O avião cargueiro russo Ilusyon 1L-76,
sancionado pelo governo dos EUA, a pousar no aeroporto de Brasília, vindo de
Moscou. O governo brasileiro também negou, em maio deste ano, o pedido dos Estados
Unidos de reconhecer as organizações criminosas PCC e Comando Vermelho como
“grupos terroristas”. Finalmente, há ainda o fato de que o governo Lula tem capitaneado
a proposta, lançada no BRICS, atualmente presidido pelo Brasil, de criar uma
moeda internacional nova para competir com o dólar norte-americano, o que
causou atritos com os EUA.
Somado a tudo isso, há as denúncias de perseguição política
contra cidadãos do espectro político conservador em nosso país, e também contra
brasileiros com cidadania norte-americana e empresas de mídia social dos Estados
Unidos, além de denúncias de violação de direitos humanos por autoridades
brasileiras – alertadas por políticos e jornalistas brasileiros de direita
exilados nos EUA. Tudo isso chamou a atenção do governo norte-americano, resultando
em sanções pesadíssimas contra autoridades brasileiras e à aplicação de tarifas
de 50% sobre vários produtos de nosso país, os quais representam 43% de tudo exportamos
para os EUA, dentre eles carne, café e frutas. Lembrando que os Estados Unidos
representam cerca de 15% das exportações do Brasil, enquanto os produtos brasileiros
representam apenas 1,3% de todas as importações norte-americanas – ou seja,
somos mais dependentes economicamente deles do que eles de nós.
Esta é, de longe, a maior crise diplomática de nosso país.
Ataque recente aos evangélicos
É mais do que sabido que a maioria dos evangélicos no Brasil
tem convicções políticas alinhadas à direita, mais especificamente de linha
conservadora. Pesquisas nas últimas duas décadas corroboram isso, razão pela qual,
mesmo não concordando com toda retórica e políticas do ex-presidente Jair
Bolsonaro, a maioria dos evangélicos votou nele em 2018 e 2022 – segundo
pesquisas, cerca de 80% dos eleitores evangélicos que foram às urnas nos dois
últimos pleitos presidenciais votaram em Bolsonaro. De todos os candidatos, ele
era visto como tendo mais posições que se coadunam com aquilo que pensa a
maioria dos evangélicos – mais concordâncias que discordâncias em relação a pontos
considerados centrais para eles. Por isso, muitos apoiadores do ex-presidente
são evangélicos.
O Partido dos Trabalhadores, sabendo disso, tem tentado fazer
uma aproximação com os evangélicos nos últimos tempos, mas tem tido dificuldade
devido a algumas pautas tradicionais da esquerda consideradas inamovíveis pelo
grupo e que se chocam com os valores cristãos. Essas pautas ficaram ainda mais
evidenciadas ao grande público nas últimas décadas, inclusive para os evangélicos,
que acabaram se afastando ainda mais da esquerda. Logo, em contrapartida,
alguns setores da esquerda começaram até mesmo a atacar os evangélicos.
Um exemplo é um documentário lançado há dois meses estereotipando
os evangélicos e apontando-os como um mal para o país. Na película Apocalipse
dos Trópicos. A cineasta brasileira Petra Costa, de esquerda e filha de militantes
de esquerda, apresenta os evangélicos como um perigo para nossa nação. Como
afirma a própria sinopse da película, “o documentário é focado em como o
movimento evangélico abriu caminho para a presidência de Jair Bolsonaro e
representa à ameaça de uma teocracia nacional”.
Segundo o documentário, a esquerda é boa e democrática, a direita
no Brasil é extremista e antidemocrática, e os evangélicos são o movimento que
alimenta a “extrema direita” e que tem como projeto e anseio existencial o
poder político. Por evangélicos entenda-se aqui, no documentário, explicitamente,
os pentecostais. A produção aponta ainda “os católicos da teologia da
libertação” como redentores e os evangélicos como vilões; e afirma que a
teologia evangélica/pentecostal seria a tal “teologia do domínio”, que funcionaria,
segundo a película, como uma teoria da conspiração. Absurdo total. Até mesmo a
colunista Magali Cunha, da revista de esquerda Carta Capital, em artigo publicado
em sua coluna em 24 de julho tratando sobre o filme, reconhece: “O resultado,
infelizmente, é mais desinformação e intolerância do que debate sobre o lugar
da fé na esfera pública”. Um desserviço. Ainda bem que, aparentemente, tais
ataques parecem não ter ganhado ressonância. Diante da atual situação que vive
o nosso país, continuemos orando para que o Brasil saia dessa turbulência da
melhor forma possível e tome o rumo certo.
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