Por ocasião da primeira deportação para Babilônia no ano de 597 a.C., entre os judeus levados ao exílio estavam também falsos profetas. A comunicação por cartas entre os que foram para a Babilônia e aqueles que permaneceram em Jerusalém ampliou um horizonte de controvérsias e incertezas quanto ao cumprimento da profecia de Jeremias. No entanto, mais do que a distância física, o maior risco para os exilados era a desconstrução de sua identidade como povo de Deus. Imersos em uma cultura completamente estranha, cercados por novos costumes, religiões e influências políticas, os judeus enfrentavam o perigo da assimilação, que poderia dissolver sua fé e desintegrar sua identidade nacional, ameaçando até mesmo a continuidade da nação. No entanto, esse desafio não era inédito.
Desde os tempos de José no Egito (Gênesis 41.41-43) e
passando também agora por Daniel na corte babilônica (Daniel 1.8,9) e Ester no império
persa (Ester 4.14), a história bíblica demonstra um padrão familiar de
transculturalidade: a necessidade de habitar terras estrangeiras sem perder os
valores espirituais. Diante dessa ameaça, a carta de Jeremias tornou-se um
marco essencial: mais do que uma orientação prática, ela era um chamado à
preservação da fé e da esperança, reafirmando que, mesmo em terra estrangeira,
Deus ainda governava sua história. Ao invés de encorajar a resistência ou o
isolamento, Ele os convidava a construir, plantar e prosperar, garantindo que,
apesar do exílio, a promessa divina de restauração permanecia viva (Jeremias
29.11).
Sua pregação possuía uma estrutura precisa, com datas e
tempos estabelecidos. Essa clareza reforçava a esperança na fidelidade de Deus
à Sua Palavra. No entanto, em meio ao desterro, profecias conflitantes semearam
dúvidas e desestabilizaram espiritualmente uma geração desesperada por direção.
A carta aos exilados do reino, no capítulo 29 de Jeremias, transcende um mero relato
histórico, oferecendo-nos um paradigma de fé, esperança e ação em meio às
provações. Ele orienta o povo a construir casas, plantar pomares, formar
famílias e buscar a paz da cidade para onde foram levados. O aparente paradoxo revela a
sabedoria divina em tempos de adversidade.
Pensando na construção de um lar com alicerces de esperança,
em meio à hostilidade semelhante ao exílio, podemos seguir a mesma exortação de
Jeremias ao povo: “Tomai mulheres, e gerai filhos e filhas” (Jeremias 29.6).
Essa ordem divina não se limita à perpetuação da linhagem, mas reafirma a também
importância da família como um núcleo de esperança e fé. Construir lares
significava criar espaços onde o amor e os valores pudessem ser transmitidos às
futuras gerações. Assim, o lar se tornava um símbolo da presença de Deus, um
lembrete constante de que Ele não os abandonara.
Dessa forma, a família é vista como espaço de refúgio. Sendo
uma unidade básica da sociedade, ela é um abrigo em tempos de crise. Durante o
exílio, os lares proporcionavam segurança emocional e apoio. Os laços afetivos
fortaleciam a identidade individual e coletiva, auxiliando-os a enfrentar os desafios
com esperança (Salmos 127.1).
É correto pensar no fortalecimento da identidade na formação
de famílias, ligada à preservação da identidade cultural e religiosa. Criar um
lar era reafirmar-se como um povo escolhido por Deus nos tempos de Jeremias. As
tradições cultivadas no lar se tornavam um legado, auxiliando a enfrentar adversidades
com esperança: “Ensina a criança no caminho em que deve andar, e até quando
envelhecer não se desviará dele” (Provérbios 22.6).
Sendo assim, plantando pomares e cultivando o futuro com esperança
e ação, o profeta instruiu os exilados: “Edificai casas e habitai-as; plantai
jardins e comei o seu fruto” (Jeremias 29.5). Esse mandamento representa um
convite à ação proativa e ao investimento no futuro, pois plantar pomares é um ato
de fé e paciência, refletindo a confiança nas promessas de Deus.
Plantar é um ato que exige dedicação e esperança no futuro. Para
as famílias, isso representa investir em relacionamentos e valores que podem
não trazer retorno imediato. Como o agricultor que cuida do seu plantio, as
famílias devem cultivar vínculos e tradições, confiantes de que a colheita virá
no tempo certo.
A colheita dos frutos era uma renovação de esperança, pois a
instrução para “comer de seus frutos” simboliza a importância de desfrutar dos
resultados do amor e do cuidado cultivados na família. A comensalidade era uma
tradição celebrada após os momentos de colheita, onde a esperança se tornava
tangível: “Mas para vós, que temeis o meu nome, nascerá o sol da justiça” (Mateus
4.2). Então, a cultivação era um legado de esperança, pois plantar e colher não
se restringe ao presente, mas também envolve a responsabilidade de deixar um
legado. Cada ação positiva e ensinamento são sementes plantadas para um futuro
melhor.
Jeremias 29 nos deixa lições importantíssimas para os dias
atuais, devido à sua contínua relevância. Em tempos de incerteza, somos chamados
a construir esperança, cultivar a fé e agir com sabedoria em Deus. Assim como
os exilados, devemos construir lares segundo os princípios de Deus, plantar sementes
de esperança e buscar a paz de nossa cidade. “Segui a paz com todos e a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12.14).
Que a carta de Jeremias nos inspire a viver com esperança e
fé, confiantes nas promessas divinas até que Cristo volte. Sua orientação
profética para construir lares e plantar pomares enfatiza a importância da
família e da ação proativa na construção de um futuro esperançoso. Que
plantemos as sementes do amor e da fé em nossos lares, preparando o caminho para
futuras gerações colherem os frutos de uma vida plena em Deus.
por Marcos Veríssimo
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