A credibilidade do Cristianismo, bem como a continuidade de suas crenças, sempre esteve no centro de disputas no decorrer da história. Já fomos ameaçados, perseguidos, intimidados e até vitimados em razão de nossas convicções. Nos últimos séculos, porém, essas perseguições tornaram-se menos explícitas, porém não menos intensas. Uma forma “velada” de perseguição tem acontecido através da descredibilização da Bíblia, fonte doutrinária do Cristianismo.
Diante disso, neste trabalho, apresentaremos alguns argumentos
que mostram que, além de texto religioso, as Escrituras, especialmente os
Evangelhos, são documentos históricos confiáveis e capazes de mostrar que a nossa
fé vai além de um mero misticismo.
Os Evangelhos e a literatura greco-romana antiga
Com o propósito de mostrar a credibilidade dos Evangelhos, iniciaremos
fazendo um breve comparativo entre estes textos neotestamentários e algumas obras
literárias da Antiguidade.
Se formos comparar o Novo Testamento (e os Evangelhos) com
outras obras da Antiguidade, veremos que aquele tem muito mais segurança quanto
à sua historicidade do que quaisquer outros textos escritos no mundo antigo.
Infelizmente, essa verdade não tem sido relegada por muitos estudiosos que insistem
em tratar a Bíblia como mero relato mítico. Em contrapartida, obras da
Antiguidade Clássica não são questionadas quanto à sua fidelidade e autenticidade,
a exemplo das obras de Homero, Ilíada e Odisseia.
Ao estudarmos, por exemplo, as obras de Aristóteles, perceberemos
que quase não há questionamentos quanto à validade histórica daqueles textos.
Porém, da obra aristotélica Poética, que foi escrita por volta do ano 343 a.C.,
a cópia mais antiga que temos é do ano 1.100 d.C. Ou seja, essa cópia deixa uma
lacuna de 1.400 anos desde sua escrita até a cópia mais antiga, existindo
apenas 49 exemplares disponíveis dessas cópias. Esses dados revelam que mesmo
diante da fragilidade em relação à originalidade desse documento, ele não
sofreu os mesmos questionamentos que os textos bíblicos suportam desde o
surgimento dos métodos analíticos modernos.
Existem outros textos igualmente reconhecidos pelos historiadores,
mas que não apresentam muitos manuscritos a seu favor, tal como Anais da Roma
Imperial, do historiador romano Tácito, que escreveu em 116 d. C., entretanto a
cópia mais antiga é do ano de 850 d.C., existindo em um único manuscrito. Até mesmo
o largamente citado – por teólogos e historiadores cristãos – Flávio Josefo e
sua obra As Guerras dos Hebreus, escrita no século 1, tem as suas cópias mais antigas datadas
do século 10. Assim, apesar de um espaço de tempo tão extenso entre a escrita
original desses autores e suas cópias, poucos questionam a historicidade desses
documentos e eles são usados como fontes confiáveis por acadêmicos de todo mundo.
E quanto aos evangelhos, o que podemos afirmar?
A superioridade histórica dos Evangelhos
Se os documentos acima citados são confiáveis
historicamente, o que dizer do Novo Testamento e dos Evangelhos? Em comparação a
outros documentos históricos antigos, não há motivo algum para desconfiar da
veracidade histórica das Escrituras cristãs. Para justificar esta assertiva, começamos
apontando o espantoso número de cópias antigas encontradas deste documento. Atualmente,
existem cerca de 5 mil fragmentos de textos do Novo Testamento em grego. Esta quantidade
de cópias revela que esses escritos circularam em comunidades diversas, locais distintos
e tempos variados. Contudo, mesmo diante de tantas intempéries, esses textos mostraram-se
fieis nas variadas cópias catalogadas destes manuscritos. Lembrando que a
quantidade de cópias permite aos pesquisadores comparar as variantes textuais e
chegar a conclusões mais relevantes quanto aos textos escriturísticos.
Em relação à datação das cópias antigas, temos, por exemplo,
cópias do Novo Testamento em siríaco que alguns interpretes entendem ser do
século 2 (STROBEL, 2006). O especialista em Novo Testamento Robert P. Gundry
(1998, p. 46) confirma essa informação, ao dizer que “os mais antigos
manuscritos que estão nas mãos dos eruditos pertencem ao século II d.C.”. Gundry
ainda destaca que “o mais antigo, o Fragmento Rylands do Evangelho de João,
data de cerca de 135 d.C.”. Revela-se incomparável o número de cópias e
manuscritos antigos do Novo Testamento disponível hoje e que foi conservado em
bom estado para pesquisa. Craig Bloomberg (2009), professor do Seminário
Teológico de Denver, reafirma a confiabilidade do Novo Testamento e nos expõe
que, entre os documentos da Antiguidade, o Novo Testamento se destaca por sua vasta
quantidade de manuscritos preservados, permitindo uma reconstrução textual com
uma precisão que varia de 97% a 99%, não deixando dúvidas quanto à sua
credibilidade.
Concordando com essa afirmação de Bloomberg, temos o especialista
em Novo Testamento D.A. Carson (2012), que nos aponta a tentativa fracassada de
alguns intérpretes em considerar Jesus e os Evangelhos como desprovidos de historicidade.
Carson (2012) nos faz entender que os evangelistas certamente reivindicaram
estar escrevendo a história e que os Evangelhos podem e devem ser entendidos “como
fontes históricas exatas”.
Diante disso, podemos fazer coro com o professor de Novo Testamento
J. Harold Greenlee (1954) e afirmarmos que os escritos do Novo Testamento são
incomparavelmente mais confiáveis que os escritos dos clássicos antigos, já que
estes últimos possuem cópias muito mais recentes que as do Novo Testamento.
Além disso, as cópias do Novo Testamento tornam-se superiores aos antigos
clássicos em virtude da quantidade elevada de cópias antigas existentes e da qualidade
que elas possuem, bem como da autenticidade comprovada através de modernas
técnicas de investigação arqueológica e manuscritológica.
Finalizando nosso argumento, acrescentamos um forte testemunho
dado pelo ex-ateu C.S. Lewis em um documento publicado no ano de 1954,
intitulado “What are we to make of Jesus Christ?”. Neste trabalho, Lewis
apontou para a originalidade dos relatos dos Evangelhos, fazendo-o não como um
crente, mas, sim, como um crítico literário. Lewis disse: “Agora, como
historiador de literatura, estou plenamente convencido de o que quer que sejam
os Evangelhos, lendas
eles não são. [...] Eles não são artísticos o bastante para serem considerados como
lendas. [...] Com exceção dos fragmentos dos diálogos platônicos, não há nenhum
diálogo que eu conheça, dentro da literatura antiga, como os que estão no quarto
evangelho. Não há nada parecido, mesmo na literatura moderna, até há uns cem
anos quando surgiu o romance realista” (LEWIS, 2020).
Assim, podemos concluir com a certeza de que os Evangelhos
são confiáveis, além de ser uma fonte histórica segura para falarmos sobre
Jesus. Não são criações da imaginação de homens, como ressaltou C. S. Lewis.
Eles são a Palavra de Deus revelada aos homens apontando a vida e a obra do
Salvador da humanidade: Jesus Cristo.
Considerações finais
Devemos lembrar que a fé cristã não precisa de comprovação
cientifica para manter-se de pé. Cremos em um Deus que está além da compreensão
humana. Contudo, é salutar que tenhamos subsídios que ajudem os incrédulos a
compreenderem que a base doutrinária de nossa fé – as Escrituras – é sólida,
não se tratando de mais um mito da Antiguidade.
Assim, neste artigo, mostramos que, em relação a textos da
cultura greco-romana que chegaram até nossos dias, os Evangelhos são
consideravelmente muito mais confiáveis, mostrando-se documentos superiores em relação
à quantidade de cópias, à antiguidade destas cópias e à confiabilidade das
mesmas. Deste modo, louvamos a Deus por nos conceder Sua Palavra e mostrar a
Sua fidelidade através da história.
Referências
BLOMBERG, C. L. Introdução aos Evangelhos: uma
pesquisa abrangente sobre Jesus e os 4 Evangelhos. São Paulo: Vida Nova, 2009.
CARSON,
D.A.; MOO, Douglas; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. Tradução:
Márcio Loureiro Redondo. Reimp. São Paulo: Editora Vida Nova, 2012.
GREENLEE.
J. Harold. Introduction to New Testament Textual Criticism. Baker
Academic: Michigan. 1954.
JOSEFO, Flavio. A história dos Hebreus: de Abraão à
queda de Jerusalém. 8ª ed. Rio
de Janeiro: CPAD, 2004.
Lewis. C.S.
What Are We to Make of Jesus Christ? Disponível em: <http://
www.christasus.com/letters/cslwhata-rewetomakeofjesuschrist.htm>. Acesso:
27 mar 2020.
por Jefferson J. R. Rodrigues
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