Contrassenso da “festa junina evangélica”

Contrassenso da “festa junina evangélica”


No contemporâneo, é crescente o número de igrejas evangélicas que promovem festividades conhecidas como “festas juninas evangélicas”, muitas vezes denominadas “arraiais gospel” ou “festa jesuína”. Embora essas celebrações pareçam inofensivas, ou mesmo vistas como alternativas culturais para integração social, elas carregam elementos e origens que conflitam com os princípios fundamentais da fé cristã. Este artigo propõe uma reflexão crítica sobre essa prática, abordando os antecedentes históricos das festas juninas, seus vínculos com a idolatria católica, suas raízes pagãs e as refutações bíblicas que devem nortear a conduta dos que professam o nome de Cristo.

Antecedentes históricos das festas juninas

As chamadas festas juninas têm uma origem milenar e remontam aos ritos agrários de fertilidade celebrados por diversos povos da Antiguidade. Entre os povos europeus, destacam-se os celtas e os romanos, que realizavam festivais ao redor do solstício de verão — que ocorre no hemisfério norte por volta de 21 a 24 de junho — para marcar a chegada do período mais longo do ano e celebrar a fertilidade da terra e a abundância das colheitas.

Entre os celtas, celebrava-se o festival de Litha do calendário pagão Wicca (magia), em homenagem aos deuses da natureza e da fertilidade. O ritual era marcado por fogo cerimonial, danças circulares e cânticos ao redor das fogueiras, com o objetivo de “reforçar o poder do Sol” e garantir colheitas frutíferas. Muitas pessoas tentavam pular sobre as fogueiras para dar sorte. (1)

Os romanos festejavam, durante o mês de junho, diversos ritos voltados à fertilidade da terra e à proteção do lar. Nas celebrações das Vestalia, realizadas entre os dias 7 e 15 de junho, a deusa Vesta era reverenciada como guardiã do fogo sagrado e protetora da vida doméstica. Já Fortuna, deusa da sorte e da abundância, era homenageada com oferendas e procissões, buscando-se sua benevolência para garantir prosperidade nas colheitas e estabilidade familiar. (2)

A idolatria católica nas festas juninas

A partir do Édito de Tessalônica (380 d.C.), com a cristianização do Império Romano, o catolicismo passou a ressignificar as práticas pagãs, incorporando tais celebrações ao calendário litúrgico como estratégia de transição cultural. Assim, os festivais solares e agrários de junho passaram a ser celebrados como festas religiosas em adoração a santos populares, como Santo Antônio (13 de junho), São João Batista (24 de junho) e São Pedro (29 de junho).

Ao ser trazida ao Brasil pelos portugueses no século XVI, a festa junina passou a incorporar elementos da cultura local e da religiosidade popular, unindo folclore europeu, idolatria católica e expressões culturais indígenas e africanas. O uso de fogos de artifício, danças como a quadrilha e comidas à base de milho refletem a fusão religiosa e cultural. Nesse aspecto, “as festas juninas são combinações de tradições populares com elementos religiosos e mitos locais”. (3)

Em nosso país, a festa tornou-se uma das maiores expressões da religiosidade popular, com características regionalizadas de veneração e adoração aos santos católicos. Contudo, é importante reconhecer que, apesar de sua roupagem festiva e cultural, a origem das festas juninas é sincrética e está enraizada em tradições pagãs e idólatras, sendo, portanto, conflitante com a fé cristã evangélica, que defende a pureza do culto ao único Deus verdadeiro (Deuteronômio 6.4).

O sincretismo pagão nas celebrações

Além da idolatria das festas juninas, é importante considerar o profundo sincretismo envolvido nas celebrações. A tradição pagã do acendimento de fogueiras foi incorporada a uma lenda católica, onde Isabel teria acendido uma fogueira para avisar Maria sobre o nascimento de João Batista. Essa simbologia foi amplamente difundida na Idade Média. Outro simbolismo é a lembrança de São Pedro aquentando-se na fogueira na noite em que negou a Jesus.

O mastro conhecido como “pau de sebo” é erguido durante a festa junina para celebrar os três santos católicos. No Brasil, no topo de cada mastro são amarradas três bandeirinhas simbolizando as datas de nascimentos de Santo Antônio, São João e São Pedro. Nas tradicionais festas, também são comuns os “levantamentos de mastro” com a imagem de São João, ocasião em que orações em sua homenagem e promessas são feitas a ele.

As comidas típicas são para venerar São Pedro, que, segundo a tradição católica, é o santo responsável pela chuva. Em virtude da abundância de chuvas, a colheita do milho ocorre no mês de junho. Assim, São Pedro é venerado na festa junina com comidas derivadas do milho: pamonha, curau, milho cozido, milho assado, canjica, cuscuz, pipoca e bolo de milho são apenas alguns exemplos.

Na festa junina, ainda se celebra o casamento caipira para venerar Santo Antônio, considerado o santo casamenteiro. Nesse período, são comuns as simpatias feitas por mulheres solteiras que querem se casar, como comer o “pãozinho de Santo Antônio”. Portanto, essa festa é uma mescla de paganismo, sincretismo religioso, superstições e mitologia. Para além da aparência inofensiva, existe uma profunda incoerência com os princípios cristãos. (4)

Refutações bíblicas às festas juninas

As Escrituras oferecem uma base sólida e inquestionável para a rejeição de práticas que, mesmo sob a aparência inofensiva de manifestações culturais, entram em conflito com os princípios doutrinários, éticos e espirituais da fé cristã. As festas juninas — especialmente quando reconfiguradas como “arraiais evangélicos” — representam uma tentativa de conciliação entre o sagrado e o profano, que compromete a pureza do culto ao Deus verdadeiro.

A Palavra de Deus chama o povo eleito à separação dos padrões do mundo, evidenciando que o compromisso com a santidade não admite concessões que relativizem a obediência a Cristo: “Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento” (Romanos 12.2). Também adverte contra a participação em festas e práticas ligadas à idolatria: “Portanto, meus amados, fugi da idolatria” (1 Coríntios 10.14).

A tentativa de “cristianizar” elementos claramente comprometedores com os fundamentos da ortodoxia bíblica revela tendências preocupantes: a secularização progressiva das doutrinas e a tentativa de relativizar a fé cristã. A Igreja deve promover valores do Reino e não reproduzir os moldes e a cultura do mundo. O apóstolo Paulo leciona: “Que concórdia há entre Cristo e Belial? Ou que parte tem o fiel com o infiel?” (2Co 6.15). E ainda: “Não comuniqueis com as obras infrutuosas das trevas, mas antes condenai-as” (Efésios 5.11).

Conclusão

As “festas juninas evangélicas” revelam-se problemáticas do ponto de vista bíblico, histórico e doutrinário. Suas origens pagãs, sua associação com a idolatria e seu sincretismo religioso são práticas incompatíveis com a fé cristã autêntica. A Igreja é chamada à santidade e separação, e não à adaptação às festividades do mundo. Em tempos de relativização dos valores bíblicos, é urgente que o cristão reafirme sua fidelidade exclusiva ao Senhor e rejeite toda prática que comprometa a pureza do Evangelho. O nosso Deus adverte: “Eu sou o Senhor; este é o meu nome; a minha glória, pois, a outro não darei” (Isaías 42.8).

Referências Bibliográficas

BEARD, Mary; NORTH, John; PRICE, Simon. Religião Romana: uma introdução. São Paulo: Odysseus, 2004.

BHAGAT, Dhruti. As origens e práticas de Litha. Boston Public Library, 2019.

BÍBLIA SAGRADA. Almeida Revista e Corrigida. 4ª Ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil; Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Festas populares no Brasil. São Paulo: Ática, 1990.ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em Crise. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.

Notas

(1) BHAGAT, Dhruti. As origens e práticas de Litha. Boston Public Library, 18 jun. 2019.

(2) BEARD, Mary; NORTH, John; PRICE, Simon. Religião Romana: uma introdução. São Paulo: Odysseus, 2004, p. 122.

(3) MEIHY, José Carlos Sebe Bom. Festas populares no Brasil. São Paulo: Ática, 1990, p. 52.

(4) ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em Crise. Mundo Cristão, São Paulo, 1999, p. 116.

por Douglas Roberto de Almeida Baptista

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