A credito que o discipulado é o caminho para a solução de vários problemas que surgirão na caminhada da liderança. Segundo John Maxwel, discipulado é “uma experiência de relacionamento onde uma pessoa capacita outra ao compartilhar os recursos que Deus tem lhe dado”. Na Bíblia, temos alguns exemplos dessa relação, tais como Moisés e Josué, Elias e Eliseu, Jesus e os discípulos, e Barnabé e Saulo. Todos são casos incríveis de aprendizado. Nesse recorte textual, quero olhar mais de perto a relação de Paulo e Timóteo como um exemplo de uma liderança sadia, que cresce levando vidas ao Reino de Deus.
O relacionamento entre o apóstolo Paulo e Timóteo é um dos exemplos
mais ricos e inspiradores de discipulado no Novo Testamento. Essa relação não
só moldou a vida e o ministério de Timóteo, como também nos fornece princípios valiosos
para o discipulado na igreja do nosso tempo, perpassando os tempos, forjando
não apenas as pessoas e as instituições, mas também comunidades.
O texto de 1 Timóteo 4.14 expõe claramente a essência do
discipulado, reforçando os vínculos e encorajando a usá-los para o Reino. “Não
seja negligente para com o dom que você recebeu, o qual lhe foi dado mediante
profecia, com a imposição das mãos do presbitério” (NAA). A relação entre eles
é uma referência para obreiros, líderes e professores. Fica bem claro que o discipulado
não é uma via de mão única, mas um movimento que visa ao crescimento através do
aprendizado mútuo. Veja como o apóstolo Paulo apresenta a prática desse
aprendizado. Veja como ele pensa que deve ser o ensino: ativo, intencional e
dinâmico. Ele diz: “E o que você ouviu de mim na presença de muitas
testemunhas, isso mesmo transmita a homens fiéis, idôneos para instruir a outros”
(2 Timóteo 2.2 – NAA).
Essa é a forma que ele sugere para a multiplicação, passando
as instruções adiante, criando uma cadeia ininterrupta de ensino e orientação,
fortalecendo na mesma medida as relações. Ou seja, na perspectiva de Paulo, o
discipulado, além de formar cristãos equilibrados, também é uma poderosa ferramenta
no crescimento do Reino de Deus.
É uma ótima imagem ver Paulo expressando amor pelo “filho” Timóteo,
chamando-o de “meu verdadeiro filho na fé” (1 Timóteo 1.2), mostrando que através
desse vínculo o discipulado é fortalecido e frutífero. Esse diálogo respeitoso tem
enorme potencial, forjando o olhar e o comportamento dos discípulos. Essa
expressão do olhar pastoral sobre seus liderados tem a orientação de Jesus.
Vejamos: “Nisto todos conhecerão que vocês são meus discípulos: se tiverem amor
uns aos outros” (João 13.35 – NAA).
É nesse sentido que, como líderes e educadores, somos encorajados
a seguir o exemplo de Paulo de não apenas ensinar, mas transferir valores para
o decurso de uma vida, formando caráter e inspirando a fé.
Também precisamos considerar o aspecto do suporte emocional
dessa relação tão parceira do apóstolo com seu discípulo. Isso porque liderar
por si só é um enorme desafio e isso acentua quando não tomamos tempo no discipulado,
porque é nessa troca que percebemos a importância desse canal fluido de
confiança. Não dá pra liderar sozinho, precisamos desses vínculos, até porque o
dia a dia da liderança apresenta alguns desgastes, que o apóstolo reconhece no
texto a seguir: “Eu de muito boa vontade gastarei, e me deixarei gastar pelas
vossas almas, ainda que, amando-vos cada vez mais, seja menos amado” (2 Coríntios 12.15).
No caso de Paulo e Timóteo, essa influência tem início
durante a segunda viagem missionária do apóstolo. “Paulo chegou também a Derbe
e a Listra. Havia ali um discípulo chamado Timóteo, filho de uma judia crente,
mas de pai grego. Os irmãos em Listra e Icônio davam bom testemunho dele. Paulo
queria que Timóteo fosse em sua companhia e, por isso, circuncidou-o por causa
dos judeus daqueles lugares; pois todos sabiam que o pai dele era grego” (Atos 16.1-3 – NAA).
Ele enxergou potencial, sinceridade e vida com Deus no jovem
Timóteo, além de seu bom testemunho na comunidade. Esse olhar do apóstolo nos
ensina a enxergar talentos promissores dentro da igreja, gente que leva a sério
sua relação com Deus. Daí por diante Paulo se dedicou a ensinar o seu discípulo,
dando-lhe instruções claras sobre as questões basilares da fé cristã e o
emprego disso no trabalho ministerial. Paulo fala sobre esse aprendizado
contínuo. Ele diz: “Mas você tem seguido de perto o meu ensino, a minha conduta,
o meu propósito, a minha fé, a minha paciência, o meu amor, a minha
perseverança, as minhas perseguições e os meus sofrimentos, os quais tive de
enfrentar em Antioquia, Icônio e Listra. Quantas perseguições sofri! Porém o
Senhor me livrou de todas elas” (2 Timóteo 3.10,11 – NAA).
Não era apenas transferir conteúdo teológico. Paulo compartilhava
vivências, não escondia nada sobre os desafios que o evangelho lhe apresentou.
Sim, foi teoria e prática, preparando Timóteo para o dia-a-dia de sua
liderança.
Esse preparo foi importante no processo de confiar a Timóteo
responsabilidades ministeriais significativas. “Quando eu estava de viagem,
rumo à Macedônia, pedi a você que ainda permanecesse em Éfeso para admoestar
certas pessoas, a fim de que não ensinem outra doutrina, nem se ocupem com
fábulas e genealogias sem fim. Essas coisas mais promovem discussões do que o
serviço de Deus, na fé” (1 Timóteo 1.3 – NAA).
No texto acima, vemos Paulo encarregando Timóteo de combater
falsas doutrinas. Isso é mais do que uma missão de Timóteo, é Paulo ensinando a
todos nós conceitos importantes do discipulado, fazendo o discípulo desenvolver
competência, ativar habilidades e assumir seu papel na liderança. Delegar a
Timóteo essa missão não só o encorajou, mas também abriu caminho para novos
lideres. Esses encorajamentos ficam claros quando em sua carta Paulo o confrontava
a avançar a despeito dos seus temores. Veja isso: “Por esta razão, venho
lembrar-lhe que reavive o dom de Deus que está em você pela imposição das
minhas mãos. Porque Deus não nos deu espírito de covardia, mas de poder, de
amor e de moderação” (2 Timóteo 1.7 – NAA).
Sim, o exercício ministerial é desafiador, meus irmãos. Custa
caro, cobra na pele o peso da liderança, por isso o discipulado foi um bálsamo
para que Timóteo permanecesse firme em sua fé e missão. Encorajo-te a partir
dessa perspectiva e encontrar e valorizar um amigo na sua jornada que lhe permita
ser ombro fiel.
As orientações de Paulo também tocavam no caráter de
Timóteo, fazendo-o entender que existe um peso a partir do olhar dos outros.
Leia isso: “Ninguém o despreze por você ser jovem; pelo
contrário, seja um exemplo para os fiéis, na palavra, na conduta, no amor, na fé,
na pureza” (1 Timóteo 4.12 – NAA).
Não se tratava apenas do que Timóteo havia aprendido sobre
os escritos bíblicos, mas do emprego desses valores no seu caráter e integridade.
Esse confronto que visa à construção do caráter cristão é o tema central do
discipulado.
Fica muito claro que essa relação entre Paulo e Timóteo é um
importante parâmetro para a igreja, porque ela abrange de forma ampla aspectos
doutrinários, o cotidiano do líder, o exemplo de vida, a exortação, o senso de missão
e a formação de caráter. Paulo mostrou que a relação de discipulado pode moldar
líderes saudáveis. Esse modelo é, numa última análise, referência para esse tempo
tão trabalhoso, sobretudo na formação intencional de novas lideranças. Que
possamos, como Paulo, identificar, ensinar, encorajar e capacitar às novas
gerações de líderes cristãos.
Que esta relação de parceria e discipulado nos encoraje a
dedicar tempo ao discipulado, entendendo a importância da grande comissão, construindo
o corpo de Cristo, uma pessoa de cada vez.
por Jader Cruz
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