Quatro estados brasileiros já apresentam hoje maioria evangélica
A consultoria Mar Asset Management publicou em janeiro uma pesquisa intitulada “Vai na fé! O impacto eleitoral do crescimento dos evangélicos”, que abordou o crescimento da população brasileira e indicou também o crescimento da população evangélica em território nacional. As informações apuradas dão conta que no próximo ano 35,8% dos brasileiros serão evangélicos. A pesquisa ainda sugere que a crescente presença evangélica possa influenciar no cenário político brasileiro.
As informações sobre a quantidade de evangélicos em 2000 e
2010, armazenadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
serviram como fonte de informação pelo órgão consultivo, incluindo o aumento da
quantidade de templos, para projetar o crescimento nos últimos anos. Em relação
a hoje, o estudo apontou o aumento da população evangélica em todas as regiões
do país, com Rondônia, Amazonas, Espírito Santo e Acre se tornando os primeiros
estados majoritariamente evangélicos, segundo a estimativa dos pesquisadores. Segundo
a pesquisa, desde 2022 foi constatado que 52% da população rondoniense era
formada por evangélicos; e no Amazonas, 50%; no estado capixaba, 47%; e no
Acre, 46%. Os coordenadores da pesquisa disseram que o número de estados
brasileiros de maioria evangélica crescerá para oito em 2026. Os estados de
Rondônia e Amazonas serão formados por 58% de evangélicos, seguidos pelo Amapá (53%),
Espírito Santo (52%), Acre (51%) e Rio de Janeiro (46%). As informações
apuradas assinalam que de 2010 a 2024 não houve estagnação nem diminuição do
segmento evangélico em nenhum estado brasileiro. Até o final de 2024, as
estatísticas mostraram que 74 milhões de brasileiros eram evangélicos. As
regiões com mais evangélicos seriam Norte (48%) e Centro-Oeste (43%), seguidas pelo
Sudeste (38%) e o Sul (31%). A região com menor crescimento será o Nordeste
(29%).
O levantamento também registrou o aumento na quantidade de igrejas
evangélicas. Nos últimos 10 anos, o número de santuários dobrou, chegando no
ano passado a mais de 140 mil construções. Em média, cerca de 5 mil igrejas
foram abertas anualmente. De acordo com os estudiosos, muito mais templos
evangélicas serão inaugurados até 2026.
Ainda segundo a pesquisa, os evangélicos, seguindo uma posição
política conservadora mais à direita, estão transformando o cenário eleitoral
no país. Na arena política, o estudo salienta que o eleitorado evangélico adota
uma opinião conservadora, alinhada a pautas relacionadas aos costumes tradicionais.
Segundo o economista Raphael Santos, responsável pelo levantamento, “esses
eleitores votam alinhados com pautas conservadoras e ligadas a costumes”,
posicionamento que, por exemplo, os leva a evitar candidatos que defendam o
aborto.
A análise apresentada pelo órgão consultor, além de reforçar
a importância crescente da população evangélica na formação do eleitorado brasileiro,
também destaca como essa expansão pode influenciar a direção política e social
do Brasil, em um contexto religioso que dialoga com os princípios e a missão evangelística
de propagar a fé de acordo com as Escrituras.
Na apuração do Censo de 1991, a população católica chegou a
representar 83% do povo brasileiro. No total, a queda na quantidade de
católicos foi pequena (1,7 milhão), mas, como aconteceu um aumento
populacional, a dimensão de católicos encolheu no Brasil em 10 anos. Os
católicos caíram de 124,9 milhões, em 2000, para 123,2 milhões em 2010.
De acordo com os números divulgados pelo IBGE, os
evangélicos têm mais penetração entre os jovens da população. “A proporção de católicos
é maior entre as pessoas com mais de 40 anos, decorrente de gerações que se
formaram em períodos de hegemonia católica. Ao inverso, evangélicos têm maio proporção
entre crianças e adolescentes”, informou a entidade.
O fenômeno do aumento dos evangélicos no Brasil chamou a atenção
da imprensa internacional. O jornal norte-americano CBN News visitou o país
para observar de perto a mudança espiritual do Brasil, que em breve não será
mais considerado o maior país católico do mundo. “Estamos à beira de uma
mudança religiosa no Brasil”, afirmou o sociólogo brasileiro José Alves, em
entrevista à CBN News.
O cientista político Victor Araújo, da Universidade de
Zurique, autor do estudo “Surgimento, trajetória e expansão das igrejas
evangélicas no território brasileiro ao longo do último século”, informa que o êxodo
rural ocorrido nas últimas décadas contribuiu para a conversão de católicos
para evangélicos devido à escassez de paróquias nas periferias urbanas, o que
levou boa parte dos migrantes a buscar outros espaços cristãos e, neste quesito,
os evangélicos têm vantagem competitiva de abrir templos sem ter de enfrentar a
burocracia e as estruturas de comando da Igreja Católica. “A descentralização
facilita que as igrejas evangélicas se multipliquem e alcancem lugares onde o
catolicismo não chega”, explica o analista. Outros fatores como a ausência de
serviços públicos como educação e assistência psicológica em áreas mais
vulneráveis gerou um hiato preenchido efetivamente pelos templos evangélicos
locais, transformando o templo em local de alfabetização, tratamento de vícios
e assistência psicológica. Em termos da realidade política, o professor Marcos
Simas, doutor em Ciência da Religião, expressou sua opinião de que é difícil desenhar
um prognóstico, mas ele reconheceu que a participação das igrejas evangélicas
na sociedade tem sido a mais forte das últimas décadas. “Acredito que a sociedade
em nosso país está se reconfigurando a partir da religião protestante
(evangélica). Ainda é difícil entender a profundidade disso. Mas o fato
inegável é que algo está mudando. E está mudando rápido demais para os
observadores, pesquisadores, políticos e até mesmo para os próprios líderes cristãos
conseguirem acompanhar. É um boom muito rápido e efervescente que ainda está em
pleno processo de mutação. Daí ser tão difícil avaliar e delimitar enquanto a
mudança está acontecendo. Mas, há um novo tipo de agente envolvido no sistema
político do Brasil, com elementos e valores diferenciados em relação ao que era
há 20, 30 anos”, afirma Simas.
Compartilhe este artigo. Obrigado.
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante