Brasil: evangélicos serão 35,8% em 2026

Brasil: evangélicos serão 35,8% em 2026


Quatro estados brasileiros já apresentam hoje maioria evangélica

A consultoria Mar Asset Management publicou em janeiro uma pesquisa intitulada “Vai na fé! O impacto eleitoral do crescimento dos evangélicos”, que abordou o crescimento da população brasileira e indicou também o crescimento da população evangélica em território nacional. As informações apuradas dão conta que no próximo ano 35,8% dos brasileiros serão evangélicos. A pesquisa ainda sugere que a crescente presença evangélica possa influenciar no cenário político brasileiro.

As informações sobre a quantidade de evangélicos em 2000 e 2010, armazenadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), serviram como fonte de informação pelo órgão consultivo, incluindo o aumento da quantidade de templos, para projetar o crescimento nos últimos anos. Em relação a hoje, o estudo apontou o aumento da população evangélica em todas as regiões do país, com Rondônia, Amazonas, Espírito Santo e Acre se tornando os primeiros estados majoritariamente evangélicos, segundo a estimativa dos pesquisadores. Segundo a pesquisa, desde 2022 foi constatado que 52% da população rondoniense era formada por evangélicos; e no Amazonas, 50%; no estado capixaba, 47%; e no Acre, 46%. Os coordenadores da pesquisa disseram que o número de estados brasileiros de maioria evangélica crescerá para oito em 2026. Os estados de Rondônia e Amazonas serão formados por 58% de evangélicos, seguidos pelo Amapá (53%), Espírito Santo (52%), Acre (51%) e Rio de Janeiro (46%). As informações apuradas assinalam que de 2010 a 2024 não houve estagnação nem diminuição do segmento evangélico em nenhum estado brasileiro. Até o final de 2024, as estatísticas mostraram que 74 milhões de brasileiros eram evangélicos. As regiões com mais evangélicos seriam Norte (48%) e Centro-Oeste (43%), seguidas pelo Sudeste (38%) e o Sul (31%). A região com menor crescimento será o Nordeste (29%).

O levantamento também registrou o aumento na quantidade de igrejas evangélicas. Nos últimos 10 anos, o número de santuários dobrou, chegando no ano passado a mais de 140 mil construções. Em média, cerca de 5 mil igrejas foram abertas anualmente. De acordo com os estudiosos, muito mais templos evangélicas serão inaugurados até 2026.

Ainda segundo a pesquisa, os evangélicos, seguindo uma posição política conservadora mais à direita, estão transformando o cenário eleitoral no país. Na arena política, o estudo salienta que o eleitorado evangélico adota uma opinião conservadora, alinhada a pautas relacionadas aos costumes tradicionais. Segundo o economista Raphael Santos, responsável pelo levantamento, “esses eleitores votam alinhados com pautas conservadoras e ligadas a costumes”, posicionamento que, por exemplo, os leva a evitar candidatos que defendam o aborto.

A análise apresentada pelo órgão consultor, além de reforçar a importância crescente da população evangélica na formação do eleitorado brasileiro, também destaca como essa expansão pode influenciar a direção política e social do Brasil, em um contexto religioso que dialoga com os princípios e a missão evangelística de propagar a fé de acordo com as Escrituras.

Na apuração do Censo de 1991, a população católica chegou a representar 83% do povo brasileiro. No total, a queda na quantidade de católicos foi pequena (1,7 milhão), mas, como aconteceu um aumento populacional, a dimensão de católicos encolheu no Brasil em 10 anos. Os católicos caíram de 124,9 milhões, em 2000, para 123,2 milhões em 2010.

De acordo com os números divulgados pelo IBGE, os evangélicos têm mais penetração entre os jovens da população. “A proporção de católicos é maior entre as pessoas com mais de 40 anos, decorrente de gerações que se formaram em períodos de hegemonia católica. Ao inverso, evangélicos têm maio proporção entre crianças e adolescentes”, informou a entidade.

O fenômeno do aumento dos evangélicos no Brasil chamou a atenção da imprensa internacional. O jornal norte-americano CBN News visitou o país para observar de perto a mudança espiritual do Brasil, que em breve não será mais considerado o maior país católico do mundo. “Estamos à beira de uma mudança religiosa no Brasil”, afirmou o sociólogo brasileiro José Alves, em entrevista à CBN News.

O cientista político Victor Araújo, da Universidade de Zurique, autor do estudo “Surgimento, trajetória e expansão das igrejas evangélicas no território brasileiro ao longo do último século”, informa que o êxodo rural ocorrido nas últimas décadas contribuiu para a conversão de católicos para evangélicos devido à escassez de paróquias nas periferias urbanas, o que levou boa parte dos migrantes a buscar outros espaços cristãos e, neste quesito, os evangélicos têm vantagem competitiva de abrir templos sem ter de enfrentar a burocracia e as estruturas de comando da Igreja Católica. “A descentralização facilita que as igrejas evangélicas se multipliquem e alcancem lugares onde o catolicismo não chega”, explica o analista. Outros fatores como a ausência de serviços públicos como educação e assistência psicológica em áreas mais vulneráveis gerou um hiato preenchido efetivamente pelos templos evangélicos locais, transformando o templo em local de alfabetização, tratamento de vícios e assistência psicológica. Em termos da realidade política, o professor Marcos Simas, doutor em Ciência da Religião, expressou sua opinião de que é difícil desenhar um prognóstico, mas ele reconheceu que a participação das igrejas evangélicas na sociedade tem sido a mais forte das últimas décadas. “Acredito que a sociedade em nosso país está se reconfigurando a partir da religião protestante (evangélica). Ainda é difícil entender a profundidade disso. Mas o fato inegável é que algo está mudando. E está mudando rápido demais para os observadores, pesquisadores, políticos e até mesmo para os próprios líderes cristãos conseguirem acompanhar. É um boom muito rápido e efervescente que ainda está em pleno processo de mutação. Daí ser tão difícil avaliar e delimitar enquanto a mudança está acontecendo. Mas, há um novo tipo de agente envolvido no sistema político do Brasil, com elementos e valores diferenciados em relação ao que era há 20, 30 anos”, afirma Simas.

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