É no contexto bíblico que encontramos a base para a apresentação das crianças a Deus (Gênesis 4.1, 2; Números 3.12, 13; 1 Samuel 1.20, 24, 27, 28; 3.19; Marcos 10.13-16; Mateus 19.13-15; Lucas 2.21, 22, 25, 28-30, 33, 40). Os termos para o ato podem ser variados nesse tempo contemporâneo da Igreja. Alguns chamam de “dedicação de crianças”, outros de “apresentação de crianças”. Nós, assembleianos, bem como a maioria das igrejas evangélicas, não batizamos crianças, pois não encontramos base bíblica para batizá-las. A dedicação ou apresentação é uma tarefa que pertence aos líderes das igrejas. Em alguns lugares, é até realizado um culto voltado para a ação dedicatória.
Dentre todos os textos relacionados ao tema, poderíamos tomar
três envolvendo personagens influentes do mundo bíblico. O primeiro e mais
emblemático caso no Antigo Testamento é Samuel. Ele nasceu a partir de um ato
de fé e pelo poder de Deus. Sua mãe diz que se o Senhor lhe desse um filho, ela
o devolveria a Ele. “E votou um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos! Se
benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da
tua serva te não esqueceres, mas à tua serva deres um filho varão, ao SENHOR o darei
por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha” (1 Samuel
1.11). Deus realmente ouviu a oração sincera de Ana e lhe concedeu o seu
primeiro filho, que, ao ser desmamado, foi entregue ao sacerdote no Tabernáculo
e se tornou, com o passar dos anos, sacerdote (1 Samuel 2.18; 7.9), juiz (1 Samuel
7.15, 16; 12.11) e profeta (1 Samuel 3.20; 9.9).
Os outros dois personagens de grande influência estão no Novo
Testamento, que colocamos aqui em ordem cronológica e não de grandeza: João, o
Batista, e Jesus de Nazaré. O nascimento de João, como é narrado na Palavra de
Deus, é, em parte, semelhante ao texto de 1 Samuel 1. É que sua mãe era
estéril. Só que havia também o fato de seus pais serem idosos. Porém, mais uma
vez o Senhor Deus intervém com o Seu poder. Assim, faz com que Zacarias e
Isabel sejam pais de um filho. A vida de João foi inteiramente dedicada a Deus e
ele se tornou o precursor de Jesus, sendo, inclusive, chamado pelo Filho de
Deus de “o maior entre os nascidos de mulheres” (Mateus 11.11; Lucas 7.28). Antes
de João nascer, o Senhor falou a Zacarias por meio do anjo: “...não temas,
porque a tua oração foi ouvida, e Isabel, tua mulher, dará à luz um filho, e
lhe porás o nome de João. E terás prazer e alegria, e muitos se alegrarão no
seu nascimento, porque será grande diante do Senhor, e não beberá vinho, nem
bebida forte, e será cheio do Espírito Santo, já desde o ventre de sua mãe” (Lucas
1.13-15). As expressões “Não dado ao vinho, e nem a bebida forte, mas cheio do
Espírito Santo”, revelam o quanto os pais de João deveriam entregá-lo a Deus.
O outro personagem é Jesus, o Cristo. A narrativa da infância
de Jesus é encontrada em Mateus 1–2 e Lucas 1–2. No Evangelho de Lucas, o
Senhor é levado para ser apresentado no Templo de Jerusalém (Lucas 2.21-39).
Jesus era tão ligado a Seu Pai que aos 12 anos já estava na Casa dEle pregando
a Palavra, e os seus pais naturais não compreenderam a cena: “E ele lhes disse:
Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de
meu Pai?” (Lucas 2.49). Enfim, todo esse percurso até aqui serve para demarcar
o quanto é importante a apresentação dos filhos ao Senhor Deus.
Agora, como podemos tomar como exemplo estes três grandes
homens (Samuel, João e Jesus) para referenciarmos os que são entregues hoje nos
altares para serem apresentados? Os manuais de obreiros e ministros seguem um
rito que é peculiar e aceito na maioria das igrejas. Textos temáticos são lidos
e uma palavra é transmitida aos pais, tanto encorajando como exortando eles a
criarem os seus filhos no caminho em que devem andar. O próprio Jesus disse que
as crianças não deveriam ser impedidas de se aproximarem dEle: “... deixai os
pequeninos e não os estorveis de vir a mim, porque dos tais é o Reino dos céus”
(Mateus 19.14; Marcos 10.14; Lucas 18.16). Toda essa realidade é o que vivemos
hoje, mas precisamos nos perguntar por onde andam no presente tempo as crianças
que foram apresentadas nos templos evangélicos? O que realmente temos ensinado no
período pós-apresentação?
É aqui que precisamos fazer algumas reflexões, pois na Palavra
de Deus as três crianças acima citadas não foram apenas apresentadas ou
dedicadas ao Senhor no Tabernáculo ou Templo, mas foram entregues a Deus, como
se daquele momento em diante os filhos não fossem mais de seus pais terrenos,
mas inteiramente de Deus. Ana afirmou com as suas próprias palavras: “Ao Senhor
o darei por todos os dias da sua vida” (1 Samuel 1.11). Diante disso, será que
o pai e a mãe estarão dispostos a oferecer os seus filhos ao Senhor e agir como
Jó na perda de seus filhos? “Então, Jó se levantou, e rasgou o seu manto, e
rapou a sua cabeça, e se lançou em terra, e adorou, e disse: Nu saí do ventre
de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito
seja o nome do Senhor” (Jó 1.20, 21). Todos nós sabemos que o patriarca oferecia
sacrifício pelos seus filhos, caso eles tivessem cometido algum pecado (Jó
1.5).
A dedicação e a apresentação, ou como queiram denominar, precisam
fugir de qualquer ritualismo ou religiosidade. A entrega dos filhos a Deus
precisa ser total. Os pais devem ser sinceros ao máximo em suas orações, devem
falar com Deus de forma a expressarem: “Entregamos nosso filho completamente
aos Teus cuidados. Ele é Teu por toda a sua vida!”. É preciso ter coragem para
exclamar a Deus dizendo que se Ele quiser levar, que o leve, mas se Ele tem um propósito,
um chamado, que cumpra então na vida desse filho a vontade dEle. Todos os que
estão dispostos a isso poderão ver a grandeza que o Senhor fará em suas vidas e
na de seus filhos, pois Ele mesmo falou que João seria grande, que Samuel seria
um destaque entre os demais e assim aconteceu e também acontece com aqueles que
estão sendo entregues aos altares das igrejas a Deus.
Não podemos perder mais ninguém. A ação da entrega dos filhos
a Deus deve ser carregada de fé, pois é melhor ver essa criança que hoje é
apenas um ser tão pequeno, que tem a sua religiosidade influenciada pelos seus
pais, ter um futuro esplendido na vida, dentro da obra e do chamado do Senhor, em
missões e outros ministérios, do que ter que falar para essa mesma criança, que
agora está crescida, que não foi para isso que ela foi apresentada ou dedicada
na igreja. Deus tem o melhor para nossos filhos, para nossa família, mas é
preciso uma entrega total, uma escolha, como disse Josué: “Porém, se vos parece
mal aos vossos olhos servir ao SENHOR, escolhei hoje a quem sirvais: se os
deuses a quem serviram vossos pais, que estavam dalém do rio, ou os deuses dos
amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor”
(Josué 24.15). A escolha deve ser nossa, e estar com o Senhor é a melhor parte.
Todos nós queremos nossos filhos como “plantas de oliveiras,
à roda da tua mesa” (Salmos 128.3). Os filhos são herança do Senhor, e a bênção
dEle é que enriquece, e Ele não acrescenta dores (Provérbios 10.22). Os filhos
são “o ápice” do relacionamento amoroso dos pais.
Portanto, não podemos afirmar que os pais são culpados por aqueles
filhos que não permaneceram na presença de Deus. Duas coisas são totalmente diferentes:
culpa e responsabilidade. É aqui que precisamos entender o momento crucial de
nossas vidas e daqueles que estão nos observando como o modelo dos fiéis. É em
nossas casas que nossos filhos deverão ter o modelo de fidelidade a Deus e um
testemunho de fé e prática que permitirão a eles fazerem as suas escolhas com cuidado
e direcionados pela Palavra de Deus.
por Adalberto do Carmo Telles
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