O conceito de Igreja como organismo enfatiza a interdependência e a unidade entre os membros do Corpo de Cristo
A palavra "Igreja" surge no texto do Novo Testamento a partir da palavra grega ekklesia, que literalmente significa uma reunião por convocação, uma assembleia. O termo passou a ser utilizado pelos escritores cristãos como a reunião daqueles que adoram a Cristo, tanto localmente (Mateus 18.17; Atos 15.41; Romanos 16.16; 1 CorÃntios 4.17; 7.17; 14.33; Colossenses 4.15) quanto universalmente (Mateus 16.18; Atos 20.28; 1 CorÃntios 12.28; 15.9; Efésios 1.22).
A Igreja de Cristo é, antes de tudo, um organismo vivo, e
essa perspectiva é necessária para compreender seu verdadeiro propósito e papel
no mundo. Diferente de uma simples instituição, a Igreja é composta por pessoas
que creram em Jesus como seu salvador, são unidas pelo EspÃrito Santo e vivem e
atuam como Corpo de Cristo, movidos por uma missão celestial.
A compreensão da Igreja como um organismo vivo desafia as noções
daqueles que a veem meramente como uma organização estruturada e hierárquica, mostrando
que sua vitalidade está diretamente ligada à sua conexão com Cristo e Ã
liderança do EspÃrito. Ao longo dos séculos, essa visão tem sido fundamental
para a sobrevivência e o crescimento da Igreja, especialmente em tempos de
perseguição e adversidade.
Além de transcender as limitações humanas e organizacionais,
a Igreja como organismo vivo desempenha um papel vital na execução dos propósitos
de Deus na Terra: ela é uma agência do Reino. O conceito de Igreja como
organismo enfatiza a interdependência e a unidade entre os membros do Corpo de
Cristo, cada um contribuindo com seus dons e habilidades para o crescimento
mútuo e a edificação. Este entendimento nos leva a valorizar cada parte do
Corpo, reconhecendo que a vitalidade da Igreja não reside em suas estruturas formais,
mas em sua natureza espiritual, que é alimentada pela relação Ãntima com
Cristo. Como Corpo de Cristo, a Igreja é chamada a refletir os valores do Reino
de Deus em todas as suas ações e a cumprir a missão de ser sal e luz no mundo.
A metáfora do Corpo de Cristo utilizada por Paulo em suas epÃstolas
(1 CorÃntios 12.27) ilustra claramente que a igreja não pode ser limitada a uma
simples organização humana. Enquanto as organizações humanas buscam objetivos
temporais e concretos, a Igreja tem uma missão que transcende o tempo e o
espaço, sendo orientada por propósitos divinos. A verdadeira essência da Igreja
está em sua natureza espiritual e em sua ligação com Cristo, a Cabeça do Corpo,
que o guia e o sustenta em todas as circunstâncias. Quando a Igreja compreende e
vive essa realidade, ela se torna um agente transformador no mundo, capaz de
enfrentar qualquer desafio e de cumprir sua missão eficazmente.
Portanto, ao abordar a natureza da Igreja como um organismo
vivo, é importantÃssimo reconhecer que essa visão nos chama a uma compreensão
mais profunda de nossa identidade como cristãos e de nosso papel como parte do Corpo
de Cristo. A organização, embora necessária, deve sempre estar subordinada ao propósito
espiritual da Igreja, que é refletir a glória de Deus no mundo e avançar Seu
Reino. Este texto visa a explorar as diferenças entre a Igreja como organização
e como organismo, destacando a importância de manter a essência espiritual da
Igreja em meio à sua necessária estrutura organizacional.
Diferenças da Igreja como organização
A visão da Igreja como organização está centrada nos
aspectos estruturais e administrativos, que são necessários para a manutenção
da ordem e eficiência no funcionamento de suas atividades. Como uma
organização, ela deve estar de acordo com as leis que regem as organizações. No
entanto, um foco excessivo nessa perspectiva tende a enfatizar a institucionalização
da Igreja, focando em posições hierárquicas, normas e regulamentos que
delimitam como as atividades devem ser conduzidas. Embora esses elementos sejam
importantes para o funcionamento saudável da comunidade, há o risco de se
perder a essência espiritual da Igreja quando ela é vista meramente como uma
entidade burocrática.
De fato, organizações humanas são construÃdas e mantidas por
pessoas com um propósito especÃfico, visando a atingir objetivos temporais e concretos.
Porém, a Igreja, embora possua caracterÃsticas organizacionais, não pode ser
reduzida a uma simples instituição como qualquer outra. Como observa Gregg Allison,
a igreja é “uma instituição com propósitos divinos e uma missão celeste que a
distingue de qualquer outra organização” (Allison, 2010, p. 56). Isso significa
que, embora a organização seja necessária, ela deve sempre estar subordinada Ã
natureza espiritual e ao propósito divino que definem a verdadeira essência da
Igreja.
O pastor Elienai Cabral, teólogo pentecostal, também destaca
a importância de se entender a distinção entre a Igreja como organização e como
organismo. Ele argumenta que “a igreja não pode ser vista apenas como um conjunto
de regras e estruturas, mas deve ser entendida como o corpo vivo de Cristo, que
é chamado para viver e manifestar a vontade de Deus no mundo” (Cabral, 2013, p.
87). Para Cabral, a organização é necessária, mas deve ser serva da missão
espiritual da Igreja, e não o contrário. A centralidade de Cristo como Cabeça
do Corpo (Efésios 1.22-23) é o que confere à Igreja a sua verdadeira identidade,
que transcende qualquer estrutura humana.
Além disso, a ênfase excessiva na organização pode levar Ã
institucionalização da fé, onde a vida espiritual e a experiência comunitária são
relegadas a segundo plano. “A Igreja não é uma mera organização, mas uma
comunidade de fé que vive sob a liderança de Cristo e a direção do EspÃrito
Santo” (Allison, 2010, p. 60). Isso ressalta a necessidade de equilÃbrio: a
organização deve servir ao propósito espiritual, facilitando a adoração, o
discipulado e a missão, sem sufocar a vida espiritual dos membros.
Outros teólogos, como o clássico Donald Gee, também
abordaram essa questão, argumentando que “o perigo de ver a igreja apenas como uma
organização é que isso pode resultar em uma estrutura morta, onde o EspÃrito
Santo é substituÃdo por sistemas humanos de controle” (Gee, 1955, p. 34). Gee,
ainda no século passado, na década de 1950, enfatiza que, embora a organização seja
necessária para manter a ordem, ela nunca deve substituir a liderança do EspÃrito
Santo na vida da Igreja. Assim, a Igreja precisa sempre buscar ser um organismo
vivo e vibrante, que está enraizado em Cristo e é movido pelo EspÃrito para
cumprir a sua missão no mundo.
A Igreja como organismo
A Igreja como organismo é uma realidade viva e dinâmica, composta
por crentes unidos em Cristo e movidos pelo EspÃrito Santo. O apóstolo Paulo descreveu
a Igreja como o “corpo de Cristo” (1 CorÃntios 12.27), uma metáfora que ilustra
a interdependência e a unidade entre seus membros. Cada crente, como parte desse
Corpo, tem uma função especÃfica, contribuindo para o crescimento e a edificação
mútua.
Esse entendimento de Igreja como organismo vivo enfatiza que
ela não é um edifÃcio ou uma instituição, mas, sim, um conjunto de pessoas
regeneradas que vivem e atuam sob a direção de Cristo, a Cabeça do Corpo (Efésios
4.15-16). A dinâmica da Igreja como organismo vivo implica em crescimento, adaptação
e multiplicação, caracterÃsticas que não se limitam à s estruturas formais de
uma organização.
Gregg Allison nos leva a compreender que a Igreja como organismo
está fundamentada em uma conexão vital com Cristo e em uma profunda dependência
do EspÃrito Santo. Isso significa que a Igreja não apenas sobrevive, mas prospera
e cresce, mesmo em meio a adversidades. Essa vitalidade não está vinculada à eficiência
de suas estruturas organizacionais, mas à sua natureza espiritual, que é alimentada
pela relação Ãntima com Cristo (Colossenses 1.18). A metáfora do Corpo de Cristo
utilizada por Paulo em suas epÃstolas destaca que cada membro da Igreja possui
uma função essencial, e o crescimento saudável do Corpo depende da atuação harmoniosa
e interdependente de todos os seus membros.
Quando a Igreja permanece enraizada em Cristo, ela está capacitada
a enfrentar as dificuldades, pois sua força não vem das estratégias humanas, mas
da presença e da ação do EspÃrito Santo. Allison coloca a prosperidade da
Igreja em tempos difÃceis como uma evidência de sua vitalidade espiritual, que
é sustentada pela comunhão com Cristo e pela obra contÃnua do EspÃrito
(Allison, 2010, p. 73).
“A igreja verdadeira é aquela que se mantém firmemente
ligada à videira, que é Cristo, e dela extrai a seiva espiritual que a faz
crescer e frutificar” (Cabral, 2013, p. 45). Essa seiva espiritual, ou seja, o
poder vivificante do EspÃrito Santo, é o que capacita a Igreja a não apenas
sobreviver em meio às tribulações, mas a florescer, expandir e cumprir a sua
missão dada por Deus. Quando a Igreja depende do EspÃrito e não apenas de suas capacidades
organizacionais, ela experimenta um crescimento genuÃno, que é tanto numérico
quanto espiritual.
A história da Igreja está repleta de exemplos nos quais,
apesar das limitações organizacionais ou da perseguição, a Igreja floresceu.
Isso ocorre porque, como organismo vivo, sua vitalidade não depende das circunstâncias
externas, mas da presença constante de Cristo em seu meio (Mateus 28.20). Quando
a Igreja mantém essa conexão, ela é capaz de ser uma testemunha poderosa da graça
de Deus no mundo, independentemente dos desafios que enfrenta. Esse crescimento,
alimentado pela vida em Cristo, reflete o caráter sobrenatural da Igreja como um
organismo que transcende as fronteiras do tempo e do espaço.
Além disso, Donald Gee argumenta que a verdadeira vitalidade
da Igreja se manifesta quando ela é movida pelo EspÃrito Santo, que a guia, a capacita
e a enche de poder para cumprir a sua missão (Gee, 1955, p. 47). Gee sugere que
a dependência do EspÃrito não apenas sustenta a Igreja em tempos difÃceis, mas
também a torna uma força transformadora no mundo. Quando a Igreja reconhece que
sua força reside em sua conexão com Cristo e em sua submissão ao EspÃrito, ela
se torna um farol de esperança e uma fonte de renovação espiritual para todos
ao seu redor.
A Igreja e a sua missão no mundo
A missão da Igreja no mundo é ser sal e luz (Mateus
5.13-14), refletindo o caráter de Cristo e proclamando o evangelho da salvação.
A Igreja, como organismo vivo, é chamada de participante ativa da obra
redentora de Deus, sendo um agente de transformação em um mundo caÃdo.
A Igreja, como organismo vivo, é chamada para ser uma luz no
mundo, cumprindo a missão dada por Cristo de fazer discÃpulos de todas as nações
(Mateus 28.19-20). No entanto, essa missão vai além de uma simples proclamação do
evangelho. Ela envolve também o discipulado, o ensino e o serviço, todos enraizados
no modelo de vida de Cristo. Ronaldo Lidório, em sua abordagem missiológica,
enfatiza que “a missão da igreja é integral, envolvendo tanto a proclamação do
evangelho quanto a transformação da sociedade por meio do serviço e da justiça”
(Lidório, 2014, p. 89). Isso reforça a ideia de que a missão da Igreja é abrangente,
tocando todas as esferas da vida humana.
A Igreja é enviada ao mundo, mas, como Jesus afirmou, não pertence
a este mundo (João 17.16-18). Isso significa que, embora a Igreja esteja inserida
em contextos culturais e sociais especÃficos, sua missão é transcender essas barreiras
e operar como uma embaixadora do Reino de Deus. Lidório também destaca que “a igreja
é a manifestação visÃvel do Reino de Deus na terra e, como tal, deve refletir os
valores do Reino em suas ações e palavras” (Lidório, 2014, p. 92). Portanto, a Igreja
deve estar profundamente engajada no mundo, mas sempre com uma perspectiva que
reflete os valores do Reino, como justiça, amor e compaixão.
Essa perspectiva de missão não se limita apenas à evangelização,
mas abrange o discipulado integral, onde os novos crentes são ensinados a
observar tudo o que Cristo ordenou (Mateus 28.20). John Stott, renomado teólogo
do século passado, também argumenta que “a missão da igreja não é completa sem
o discipulado, pois a evangelização sem discipulado resulta em conversões superficiais
que não transformam vidas” (Stott, 1975, p. 125). Assim, o discipulado é
essencial para que a Igreja possa cumprir a sua missão de forma plena, conduzindo
os crentes a uma maturidade em Cristo.
O serviço, como parte integrante da missão da Igreja, reflete
o próprio ministério de Cristo, que “não veio para ser servido, mas para servir
e dar a sua vida em resgate por muitos” (Marcos 10.45). “A missão da igreja
inclui o serviço sacrificial em favor dos necessitados, que é uma expressão
concreta do amor de Deus em um mundo quebrado” (Lidório, 2014, p. 98). Quando a
Igreja serve aos outros, ela manifesta o caráter de Cristo e avança o Reino de
Deus na terra.
Stanley Horton destaca que a missão da Igreja está intimamente
ligada à capacitação do EspÃrito Santo, que concede poder para testemunhar e
operar milagres (Atos 1.8). Segundo Horton, “o EspÃrito Santo é o motor que impulsiona
a missão da igreja, capacitando-a a alcançar os confins da terra com o evangelho”
(Horton, 1994, p. 112).
Finalmente, o ensino é outro aspecto crucial da missão da Igreja,
pois ela é chamada a ser uma comunidade de aprendizado, onde a Palavra de Deus
é ensinada, compreendida e aplicada à vida diária dos crentes. Como observa
Elienai Cabral, “o ensino bÃblico é o alicerce sobre o qual a igreja é edificada,
capacitando os crentes a viverem de acordo com a vontade de Deus e a cumprirem
sua missão no mundo” (Cabral, 2013, p. 57). Portanto, a missão da Igreja como organismo
vivo envolve uma combinação equilibrada de evangelização, discipulado, ensino e
serviço, todos realizados sob a liderança do EspÃrito Santo.
Conclusão
A compreensão da Igreja como organismo vivo nos convida a uma
reflexão mais rica e profunda de sua missão no mundo. Não se trata apenas de administrar
eficientemente uma instituição, mas de viver e manifestar a vida de Cristo em todas
as esferas de nossa existência. A Igreja, como Corpo de Cristo, é chamada a refletir
os valores do Reino de Deus, operando sob a direção do EspÃrito Santo e
cumprindo a missão de ser sal e luz no mundo. Quando a Igreja permanece conectada
a Cristo, ela não apenas sobrevive, mas prospera, mesmo em meio às maiores adversidades,
pois sua força e vitalidade vêm diretamente de sua relação com a Cabeça, que é
Cristo.
A verdadeira vitalidade da Igreja não pode ser medida apenas
pela eficácia de suas estruturas organizacionais, mas pelo seu compromisso com
a missão dada por Deus. Isso inclui a evangelização, o discipulado, o ensino e
o serviço, todos realizados com a capacitação do EspÃrito Santo. Como organismo
vivo, a Igreja é uma comunidade de fé dinâmica, onde cada membro desempenha um
papel essencial no cumprimento dessa missão. A dependência contÃnua do EspÃrito
e a centralidade de Cristo em todas as suas atividades são o que mantêm a
Igreja vibrante e capaz de ser um farol de esperança em um mundo em constante transformação.
Por fim, a Igreja, como organismo vivo, deve sempre lembrar
que sua verdadeira força reside em sua conexão com Cristo e em sua submissão ao
EspÃrito Santo. Quando a Igreja compreende e vive essa realidade, ela não só cresce
em número, mas também em profundidade espiritual, cumprindo fielmente a missão que
Deus lhe confiou. Ao manter essa visão, a Igreja estará preparada para enfrentar
os desafios do presente e do futuro, continuando a ser uma poderosa testemunha
da graça e do poder de Deus no mundo. A Igreja, em sua essência como organismo
vivo, é chamada a ser uma comunidade de transformação, refletindo a glória de Deus
e promovendo o avanço dos princÃpios do Seu Reino na terra.
Referências
ALLISON, Gregg. Eclesiologia: Uma teologia para
peregrinos e estrangeiros. São Paulo: Vida Nova, 2021.
CABRAL, Elienai. Manual da Igreja: Orientações bÃblicas e
práticas para o cotidiano da Igreja. Rio de Janeiro: CPAD, 2013.
GEE, Donald. O Caráter do Movimento Pentecostal. Rio
de Janeiro: CPAD, 1955.
HORTON, Stanley M. A Doutrina do EspÃrito Santo: uma
perspectiva pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1994.
LIDÓRIO, Ronaldo. Missão Integral: A Igreja e seu
propósito no mundo. São Paulo: Mundo Cristão, 2014.
STOTT, John. Cristianismo equilibrado. Rio de
Janeiro: CPAD, 2018.
por Eduardo Leandro Alves
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