Lemos na Bíblia que Deus confiou o julgamento a Jesus (João 5.22, 27,30; Atos 10.42; 2 Coríntios 5.10). Jesus, porém, disse que não julga ninguém (João 8.15; 12.47). Como explicar a aparente contradição?
Em duas passagens joaninas, Jesus afirma: “Eu a ninguém julgo” e “Eu não o julgo”. No entanto, ainda no Evangelho de João, no livro de Atos do Apóstolos e na Segunda Carta aos Coríntios claramente o Filho do homem é apresentado como juiz: “Deu ao Filho todo o juízo”; “poder de exercer o juízo”; “o meu juízo é justo”; “por Deus foi constituído juiz”; e “o tribunal de Cristo”.
Nestes fragmentos textuais, pode-se perceber uma aparente contradição.
Porém, ao buscarmos uma interpretação mais criteriosa, claramente percebemos que
a inerrância e a harmonia textual bíblicas se mantêm. Para afastarmos qualquer
dúvida sobre essa questão, faz-se necessária uma abordagem que perceba as implicações
contextuais. Quando se lê uma passagem bíblica distante de seu contexto
imediato, pode-se chegar a interpretações equivocadas e, assim, alterar todo o
sentido da mensagem.
Veremos primeiro as duas passagens que, se mal
interpretadas, podem lançar dúvida quanto ao “juiz”. Em João 8.15, Jesus afirma
“Vós julgais segundo a carne, eu a ninguém julgo”. Nessa frase, fica evidente a
natureza distinta do julgamento a que Jesus se refere. O julgamento dos homens
é segundo a carne, repleto de fragilidades interpretativas limitadas pela mentalidade
imperfeita, pecaminosa e egoísta. O julgamento de Jesus era diferente, pois não
era segundo os padrões carnais, de forma superficial, equivocada ou impiedosa.
O julgamento de Jesus era alicerçado em padrões elevados e consciente de Sua
natureza e missão. Mais adiante (João 12.47), o contexto é novamente a chave interpretativa:
há dois mil anos, Jesus não veio ao mundo como juiz, mas, sim, como o Salvador da
humanidade. Embora tenha a autoridade para julgar, naquele contexto estava em
uma missão bem definida: salvar o mundo.
Contemplemos agora passagens que evidenciam Jesus como juiz.
Em João 5.22,27, Jesus declara-se Filho de Deus com o direito de julgar a
todos: o Filho de Deus foi investido do poder para revivificar e possibilitar o
acesso à vida eterna. É um julgamento vinculado ao destino eterno dos homens.
Jesus deixa evidente que o julgamento dEle é justo, pois é envolto na vontade eterna
de Deus (v.30).
Em Atos 10.42, encontramos referência à missão de Jesus na terra:
pregar e testificar que Ele é o que por Deus foi constituído juiz dos vivos e
dos mortos. Veja bem: pregar e testificar! Esse texto também aponta para o
ministério de Jesus após a ressureição, referindo-se à Sua glorificação e à Sua
atribuição de juiz com todo o poder e autoridade à direita do Pai.
Paulo faz referência ao papel de juiz atribuído a Jesus (2 Coríntios
5.10). Trata-se do Tribunal de Cristo, onde os crentes serão julgados após o
Senhor buscar a Sua igreja. Nesse julgamento, nosso caráter e nossas obras serão
avaliados por Cristo e a sentença indicará a recompensa merecida.
Enfim, nos dias de Seu ministério terreno, Jesus anunciou as
boas novas e tornou-se o Salvador da humanidade (João 3.16). Era tempo de
anunciar um novo tempo e salvar os que se haviam perdido, levando-os a Deus.
Referências:
Bíblia de Estudo Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD,
1995.
HORTON, Stanley M. I e II Coríntios: os problemas da
igreja e suas soluções. Rio de Janeiro: CPAD, 2003.
Teologia Sistemática Pentecostal. Rio de Janeiro:
CPAD, 2019.
ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento. Rio de
Janeiro: CPAD, 2008.
por Marcos Tedesco
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