O Dia Internacional da Mulher (8 de março) é uma data marcada por reflexões acerca dos direitos, conquistas e desafios enfrentados pelas mulheres na história da humanidade. No entanto, uma perspectiva cristã nos leva a analisar esse tema à luz de princípios bíblicos e da atuação do Espírito Santo na vida das mulheres. Esse artigo propõe uma abordagem sobre o empoderamento feminino fundamentado em quatro pontos centrais: (1) uma análise da ideia de empoderamento do feminismo contemporâneo; (2) a identidade e o valor da mulher cristã; (3) o papel do Espírito Santo no fortalecimento das mulheres; e (4) a contribuição cristã para a dignidade feminina na história.
Análise do empoderamento feminista contemporâneo
O protofeminismo remonta ao século 18, cujas ideias incluíam
o amor livre e a rejeição da sexualidade tradicional. No século 19, as mulheres
reivindicavam direitos iguais aos homens, e embarcaram na “cruzada para trazer
controle de natalidade e abortos ‘seguros’, [...] emancipação de seus próprios
corpos [...] e a defesa da eugenia e da esterilização compulsória dos inadequados”.
(1) No século 20, o feminismo passa a lutar pela emancipação da “domesticidade”,
direitos reprodutivos e liberdade sexual. No século 21, o ativismo se apropria
do termo “empoderamento feminino”.
Dessa forma, o feminismo contemporâneo tem buscado redefinir
o conceito de empoderamento da mulher, muitas vezes desvinculando-o de valores absolutos
e colocando ênfase na autonomia individual e na liberdade irrestrita. Apesar de
contribuir para importantes avanços nos direitos das mulheres, como o sufrágio
e o acesso à educação, a abordagem secular frequentemente falha em reconhecer a
dimensão espiritual do ser humano (1 Coríntios 2.11-15).
A perspectiva cristã oferece uma alternativa ao afirmar que o
verdadeiro empoderamento não reside apenas na busca por direitos ou na
independência de normas tradicionais, mas na submissão ao plano divino e na dependência
do Espírito Santo (Gálatas 5.16). Enquanto o feminismo pode enfatizar uma
autonomia que leva à exaltação do eu, o Cristianismo chama as mulheres a uma
identidade baseada em Cristo, que as liberta para viver em plenitude e
propósito (João 8.32).
Identidade e valor da mulher cristã
Desde a criação, a Palavra de Deus revela a dignidade e o
valor inerente à mulher. A Escritura declara que “Deus criou o homem à sua
imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1.27). Adão
e Eva foram criados iguais em pessoalidade, valor, honra, essência e respeito.
Dessa forma, tanto homens como mulheres refletem o caráter divino. Contudo,
essa igualdade não significa uniformidade de papéis (Gênesis 3.16-19).
A Bíblia ensina a igualdade de importância de ambos, mas com
funções e autoridade diferentes (1 Coríntios 11.11,12).
Porém, a cultura contemporânea frequentemente busca afirmar
o valor feminino pela conquista de posições sociais ou pela igualdade de
resultados em relação aos homens. Para o movimento feminista, a identidade de
uma mulher não deveria ser o papel de procriadora e administradora do lar, mas
o de autorrealização em busca da libertação dessa cultura opressora. (2)
Todavia, a identidade e o valor da mulher, segundo as Escrituras, estão
fundamentados em sua relação com o Criador. O livro de Provérbios destaca que o
empoderamento, a força e a dignidade de uma mulher virtuosa estão enraizadas em
sua fé, sabedoria e temor do Senhor (Provérbios 31.10-31).
O papel do Espírito Santo no fortalecimento das mulheres
O verdadeiro empoderamento feminino, segundo a perspectiva cristã,
provém do Espírito Santo, que habita e capacita todos os que creem. No Dia de
Pentecostes, o apóstolo Pedro, ao citar o profeta Joel, declarou: “Nos últimos
dias, diz Deus, derramarei do meu Espírito sobre todos os povos. Os seus filhos
e as suas filhas profetizarão” (Atos 2.17,18). Essa promessa demonstra que Deus
concede dons espirituais igualmente a homens e mulheres, equipando-os para
cumprir Sua missão no mundo. O Espírito Santo é o grande comunicador divino e o
capacitador no cumprimento dessa tarefa. (3)
Na Bíblia, destaca-se a missão de Débora, juíza e profetisa
de Israel, que liderou o povo em tempos de crise. Ela é relacionada às virtudes
de liderança e sabedoria (Juíz 5.7). No Novo Testamento, a distinção é para Maria,
mãe de Jesus, que aceitou com coragem e fé o chamado divino para dar à luz o
Salvador (Lucas 1.30-38). Ambas demonstraram que a verdadeira força de uma
mulher não vem de status ou reconhecimento social, mas da disposição em
obedecer e confiar em Deus. Em nossos dias, o Espírito Santo continua a
capacitar mulheres para que possam exercer seus talentos em diferentes esferas:
no âmbito familiar, na igreja, no trabalho e na sociedade como um todo (2 Coríntios
1.21,22). O empoderamento cristão não se orienta pelas pautas militantes de
desconstrução da família tradicional, de libertação da maternidade ou da
legalização do aborto, mas é voltado ao serviço do próximo, refletindo o
caráter de Cristo em todos os relacionamentos interpessoais.
Contribuição cristã para dignidade feminina na história
Nas culturas antigas, as mulheres eram frequentemente marginalizadas.
Ela era culturalmente tratada como objeto e como um ser inferior ao homem. As
ciências sociais retratam que as mulheres eram vistas como um ser de segunda
categoria e até mesmo como propriedade do seu marido ou do pai (Gênesis 31.14,15).
Entre os gregos, eram tratadas como indignas, e eram escravizadas pelos seus
maridos. Na sociedade romana, eram excluídas da vida política e religiosa. Do
ponto de vista da valorização pessoal, a mulher era equiparada aos escravos e
sem direito de acesso à educação. (4)
Apesar de toda essa influência ultrajante e negativa, o
Cristianismo emerge com uma mensagem de igualdade e liberdade (Gálatas 3.28).
No decurso da história, a fé cristã desempenhou um papel crucial na promoção da
dignidade das mulheres. O ensino de Jesus Cristo provocou uma revolução cultural.
Ele tratou as mulheres com respeito e compaixão, como no caso da mulher
samaritana (João 4.9-10) e da mulher adúltera (João 8.10-22). Cristo se opôs ao
preconceito e à discriminação resgatando-as de contextos de vulnerabilidade e
vergonha.
A influência dessa perspectiva é evidente no Cristianismo.
No contexto da Idade Média, instituições cristãs proporcionavam educação e
oportunidades para as mulheres. A história demonstra que a fé cristã, à luz da
verdade divina, sempre buscou exaltar as mulheres, notadamente com a ênfase de
que não há acepção de pessoas em Cristo (Romanos 2.11). Desse modo, a fé cristã
promoveu não apenas igualdade, mas uma vida digna baseada na graça e no amor (1
Coríntios 11.11,12; Efésios 5.25). Portanto, a mulher cristã desfruta de plena
liberdade em Cristo e não está sujeita a nenhum sistema de escravidão (Gálatas
5.13).
Conclusão
O empoderamento de mulheres pelo Espírito Santo é uma visão que
transcende limites sociais e culturais, oferecendo um fundamento eterno para a
dignidade e o propósito femininos. Enquanto o Dia Internacional da Mulher
celebra conquistas e desafia desigualdades, para a fé cristã o verdadeiro valor
da mulher é encontrado em sua identidade como filha de Deus. O empoderamento
cristão não se limita às conquistas terrenas. A mulher cristã é instruída a glorificar
a Deus por Sua soberania (Provérbios 31.10-31).
Notas
1 MERKLE, Rebekah. Eva no Exílio: a restauração da
feminilidade. São Paulo: Trinitas, 2020, p. 61.
2 Ibidem, p. 69.
3 FERGUSON, Sinclair B. Novo Dicionário de Teologia.
São Paulo: Hagnos, 2011, p. 234.
4 HENRY, Matthew. Comentário Bíblico Novo Testamento –
Atos a Apocalipse. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 600.
por Dirlei da Silva da Costa Baptista
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