À medida que a sociedade contemporânea enfrenta desafios em relação à sexualidade e à mutualidade, surgem novas maneiras de se relacionar consigo mesmo e com os outros, como é o caso da agamia. Esse termo se refere à ausência de responsabilidades com uma pessoa para compartilhar a vida. A palavra vem do grego: “a” (não ou sem) e gamos (união íntima ou casamento), cujo significado é a falta de interesse de um indivíduo em firmar um relacionamento romântico com outra pessoa, o que pode ainda incluir a intenção de não se desejar ter filhos. As pessoas que escolhem esse estilo de relacionamento querem, na prática, se relacionar com um não-relacionamento. A prioridade é a liberdade individual que este tipo de interação proporciona. Pessoas ágamas (que praticam a agamia) necessariamente não têm parceiros afetivos ou sexuais, mas relações que se desenvolvem de forma progressiva e consciente, procurando não se responsabilizar por quaisquer expectativas românticas que podem ser projetadas nos parceiros, o que eles chamam de “ilegítimas”.
Em alguns casos isolados, não é factível culpabilizar os jovens
por esta escolha, mas a influência do meio, pois têm ocorrido mudanças sociais
a partir da dialética entre movimentos sociais progressistas e proposições da
própria sociedade: daí surgirem as opções da agamia, em não querer se
relacionar afetiva e amorosamente, algumas vezes ocasionado por traumas de experiências
passadas: negação do crescimento pessoal que prioritariamente se dá a partir
das interações sociais e amorosas, inclusive no desencontro e no confronto: auto
rejeição que se projeta sobre o outro: medo de comprometimento emocional;
egoísmo e individualidade extremada; não tolerância ao fracasso próprio ou do
outro; não disposição para o diálogo. Vemos premissas anticristãs quanto ao
cuidado recíproco e o serviço abnegado em relação ao próximo.
No Brasil, em pesquisa divulgada pelo IBGE, constatou-se que
existem, na idade adulta, 81 milhões de solteiros e 63 milhões de casados (ZICARDI,
2024). Desse número de solteiros é que emerge o fenômeno da agamia, cujos indivíduos
têm como principais características: priorizar a independência valorizando a
liberdade individual e a autonomia em suas escolhas de vida: questionar os modelos
tradicionais de família, buscando relacionamentos mais flexíveis e personalizados;
e dar mais importância à carreira e à realização pessoal, investindo em projetos
pessoais e profissionais.
A agamia tem motivações das mais variadas origens, como: envolvimento
com a preservação do meio ambiente, aquecimento global e sustentabilidade; a
imersão digital dos jovens, que retarda o início da vida sexual; medo de se machucar
evitando a dor emocional associada a relacionamentos; falta de tempo e
dificuldade em conciliar uma vida amorosa com outras responsabilidades; aversão
a relacionamentos, portanto não sentem a necessidade de um parceiro; e insatisfação
com relacionamentos anteriores, dificultando a abertura para novos
relacionamentos.
Os defensores mais extremados e militantes da agamia chegam
a desacreditar do amor romântico como sentimento legítimo, chamando-o de
ideologia irracional que, segundo eles, gera expectativas irrealistas de vida
que limitam e ditam as escolhas individuais (ZICCARDI, 2024). A agamia, segundo
se diz, permitiria uma maior liberdade sexual, priorizando um desenvolvimento
individual e mais espaço para autoconhecimento e prazer, o que é uma
característica hedonista. Obviamente que existem gradações de envolvimento na agamia,
desde formas brandas e socialmente aceitáveis até as mais aviltantes.
Assim, agamia seria uma suspeita sobre a possibilidade de
amar, de se enamorar, de se entregar, pois se entende que o amor relacional é
uma ideologia alienante. O tema principal de um sítio da internet que faz
apologia à agamia traz a seguinte frase: “O amor não é um sentimento, nem uma experiência,
nem uma arte. O amor é a ideologia que determina como devem ser nossos
relacionamentos. E nós estamos contra ele [o amor]”. Esta frase é um
antagonismo à principal característica do Evangelho de Cristo, que é o amor.
O conceito mais radical de agamia envolve alguns pilares teóricos
que servem como balizas para as pessoas que adotam o modelo, quais são: rejeição
ao amor romântico; a razão como máxima autoridade decisória nas escolhas da
vida; acomodação das relações ao âmbito da ética que, nesse sentido deturpado,
se opõe ao amor; rejeição radical de gênero, acolhendo o gênero pelo qual a pessoa
é socialmente entendida para superar preconceitos; rejeição aos cânones
normativos de beleza e à hierarquias de valor sócio sexual; questionamentos à sexualidade
tradicional, procurando eliminar o conceito objeto de desejo, relacionando-se
com pessoas que acreditam em qualquer modelo relacional; e substituição da
família pelo agrupamento livre (SANCHES, 2018).
Os conceitos radicais de agamia questionam as tradicionais
formações familiares, já fragmentadas pela proliferação de ideologias modernas,
ou pelas novas demandas sociais, como famílias recompostas após separações e
rupturas familiares, ou ainda a necessidade de estabelecer famílias
monoparentais (compostas apenas pelo pai ou pela mãe, por abandono, separação
etc.).
A agamia é diferente de sologamia, que é casar consigo
mesmo, e da parafilia, que é um padrão de comportamento sexual em que a satisfação
sexual é obtida por meio de objetos, situações ou indivíduos que não são
considerados sexualmente normais. A parafilia seria o extremo da agamia, como transtorno
mental, sendo caracterizada pela angústia, prejuízo, dano ou risco para si ou
para os outros. É preciso diferenciar a agamia do celibato, que é a opção por não
se casar ou rejeitar relações sexuais e afetivo maritais com o fim específico
de servir a uma causa, como foi o caso de Jesus e de Paulo. Nesse sentido, não
se prescinde dos afetos relacionais, eles apenas são canalizados para a
comunidade de fé, onde todos os relacionamentos sadios tem seu lugar, apesar
das ambiguidades da vida amorosa e afetiva que sempre terá seus dilemas; mas,
nem por isso a solução é a agamia, pois a agamia traz novos problemas relacionais,
inclusive é geradora de solidão, transtornos e novos tipos de angústia,
contrariando os seus apologistas.
Que respostas a igreja tem para pessoas que optam por este estilo
de vida? A simples negação da possibilidade vai atraí-los à comunidade de fé?
Essas perguntas precisam ser respondidas levando em conta a maneira como dano
ou risco para si ou para os outros. É preciso diferenciar a agamia do celibato,
que é a opção por não se casar ou rejeitar relações sexuais e afetivo maritais
com o fim específico de servir a uma causa, como foi o caso de Jesus e de Paulo.
Nesse sentido, não se prescinde dos afetos relacionais, eles apenas são canalizados
para a comunidade de fé, onde todos os relacionamentos sadios tem seu lugar,
apesar das ambiguidades da vida amorosa e afetiva que sempre terá seus dilemas;
mas, nem por isso a solução é a agamia, pois a agamia traz novos problemas relacionais,
inclusive é geradora de solidão, transtornos e novos tipos de angústia,
contrariando os seus apologistas.
Que respostas a igreja tem para pessoas que optam por este estilo
de vida? A simples negação da possibilidade vai atraí-los à comunidade de fé?
Essas perguntas precisam ser respondidas levando em conta a maneira como Jesus
recebia pecadores e comia com eles (Lucas 15.1, 2), dando-lhes a oportunidade
de conhecerem o Seu amor, que afasta todo o medo, inclusive o medo de manter e
cultivar relacionamentos conforme preceituado na Palavra de Deus.
Referências Bibliografias
SANCHES, Israel. Agamia; princípios relacionais. Disponível
em: <https//www.contraelamor.com/>). Acesso em: 14 out 2024.
ZICCARDI, Victoria Vera. Agamia: a nova forma de se
relacionar que cresce entre os jovens. Disponível em: <https//ooglobo.globo.com).
Acesso em: 14 out 2024.
por Claiton Ivan Pommerening
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