Os perigos de uma vida acelerada

Os perigos de uma vida acelerada


A vida acelerada tem trazido grandes males aos nossos dias. A aceleração é tão grande que muitas pessoas leem apenas o título e subtítulo dos textos, tão somente os versículos mais conhecidos dos capítulos dos livros da Bíblia e ouvem áudios e vídeos em velocidade acelerada para “ganhar tempo”. A aceleração começa desde a hora em que acordamos. Há correria para arrumar as crianças, no café da manhã, no trânsito, no trabalho etc. Das múltiplas tarefas que surgem para o dia, agendadas ou não, muitas se tornam um desafio quase impossível para serem realizadas em 24 horas. Isso afeta diretamente a saúde emocional. O que tem causado essa aceleração? Quais suas consequências e como devemos nos comportar ante esse problema? Sigamos nossa reflexão.

Prazos curtos

Um dos problemas está nos prazos mais curtos, além das críticas quando tentamos fazer algo no ritmo habitual. Com essa aceleração, ou a gente vai ou vai, e o sentimento de fracasso, de frustração pessoal, de autocobrança ou de não se sentir encaixado no mundo em que se vive, aumenta. Ao final do dia, muitos se sentem como um balão daqueles de aniversário ao término da festa, totalmente murchos. O estresse crônico vai tirando a pulsão de vida e muitas pessoas entram em uma robotização automática das tarefas.

Isso tudo gera conflitos, afastamento, desconexões interpessoais, sentimentos de solidão, isolamento e afastamento do casal, da família, dos amigos e da sociedade.

Bom e mau uso da tecnologia

Por um lado, vivemos o avanço da tecnologia, que teoricamente vem como facilitador de tarefas. Por exemplo, poder resolver coisas de banco em qualquer lugar pelo smartphone. Que bom! De outro lado, há uma cobrança de aceleração, respostas imediatas, nos deixando em alertas o tempo todo e ligados em mensagens e assuntos que nem sempre são produtivos e edificantes para nós. Levamos o smartphone com um mundo dentro dele para praticamente todos os ambientes, e com isso a gente quase não desliga para a mudança de tarefa, de ciclo do dia, mesmo em lugares diferentes.

Essa aceleração nunca vista antes leva muita gente a um número de compromissos acima do natural, aumentando a superficialidade das relações de afeto interpessoal e do conhecimento mais fiel dos tantos assuntos que permeiam o nosso dia. O sistema cobra imediatismo, rapidez, precisão, estar informado (mesmo que bem mal informado). Quem não entra no jogo parece “jurássico” e não pertencente.

Fuga das reais emoções

Muita gente mal acorda e, ao esticar os braços, já apanha o celular para acessar as redes sociais digitais, e-mails etc. Há tempos atrás, quando os aparelhos eram menos resistentes à água, atendi uma adolescente cujos pais já haviam comprado três smartphones diferentes em um curto período, pois ela não conseguia sequer tomar banho sem o aparelho ligado e as redes sociais conectadas, e a água danificou os aparelhos, um a um. Um nível enorme de dependência emotivo-tecnológica.

Tenho observado em consultório um grande número de pessoas que usam as múltiplas atividades como fuga de suas emoções, por vezes de forma inconsciente para não entrarem em contato com alguns sentimentos dolorosos.

Hoje é certo e sabemos que a utilização exagerada da tecnologia tem levado pessoas ao comprometimento da saúde mental. O ouvir áudios e vídeos em modo acelerado condiciona o cérebro e a pessoa tem dificuldade de ouvir familiares, cultuar a Deus em uma liturgia em ritmos normais, estudar em sala de aula com uma fala pausada do professor etc. Muitos pais não conseguem ouvir seus filhos ou cônjuge, porque perdem a paciência e o interesse rapidamente devido ao hábito da aceleração. Parece que tudo está lento fora das redes!

Efeito dopaminérgico

O excesso de estímulos é viciante e dopaminérgico. Ou seja, esse excesso acaba estimulando um neurotransmissor conhecidos como “hormônio da felicidade imediata”, chamado dopamina. A pessoa aumenta cada vez mais o consumo de redes, vídeos curtos, shorts, reels etc. e, como consequência, após um período mais longo de meses ou anos, vem o adoecimento.

De alguma maneira, a conta chega para as pessoas que acham que estão perdendo tempo e vivem um ritmo muito acelerado. As consequências podem ser muitas, como perda de foco naquilo que está fazendo ou aprendendo, estresse, cansaço mental, que faz como que a pessoa perca a compreensão das coisas e se torne uma pessoa doente, podendo desenvolver, em muitos casos, os transtornos ansiosos e até mesmo depressão. Muitas são as pessoas que já não conseguem dormir, pois a mente está tão acelerada que não conseguem relaxar e dormir um sono reparador.

Ansiedade pela aceleração

O Brasil ocupa o 1º lugar no ranking de pessoas diagnosticadas com Ansiedade Patológica, chegando a 9,3% da população, segundo a OMS. Além disso, 72% dos trabalhadores ativos no mercado de trabalho apresentam alto nível de estresse. Desses, 32% sofrem com a síndrome de Burnout, segundo a Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse (Isma-BR).

Pessoas com carência afetiva, que recebem ou receberam pouca atenção, são as que vivem a vida de maneira mais acelerada, procurando fazer muitas coisas o mais rápido possível, tudo com um simples motivo, às vezes inconsciente, de se sentir aceitas.

A sociedade migrou de forma muito forte do ser para o ter. O parecer ser ou ter cria na exposição das redes sociais muitos ideais ou referências superficiais, e até enganosas para as pessoas. Há pessoas que aparentam ser não sendo e outras aparentam ter por vezes não tendo. Vivemos em um mundo um tanto artificial que se entrelaça e afeta o mundo físico e real. Muitos olham para o próximo como ameaça, como competidor e até como inimigo. As relações sociais reais e profundas vão se esfriando. A ditadura da aparência e do crescimento a qualquer custo tem dominado muitas pessoas.

Cultive o equilíbrio

Uma das grandes premissas da vida é o equilíbrio! Em todas as áreas da vida e na relação entre as áreas, precisamos de equilíbrio! Você já experimentou acordar, mesmo que alguns minutos antes do habitual, e fazer seu alongamento de braços e pernas ainda na cama; fazer o seu devocional com Deus, lendo um trecho, mesmo que curto, da Bíblia; respirar profundamente por alguns minutos para oxigenar bem o cérebro; orar a Deus e seguir para sua higiene e café da manhã, mesmo que muito simples, com gratidão por mais um dia? Precisamos de equilíbrio entre a nossa comunhão com Deus, família, trabalho, igreja, estudos e lazer. Precisamos de equilíbrio nas finanças, entendendo como elas funcionam e equacionando ganhos, gastos, despesas, consumo etc. Precisamos executar bem e com eficiência as tarefas do dia, separando urgências, prioridades, em curto, médio e longo prazos, identificando o que pode ser delegado à outra pessoa, de modo a planejar passos futuros, evitando também a procrastinação ou o imediatismo de tudo.

Deus quer, sim, que sejamos prósperos, que possamos ter uma casa arrumada, um bom carro, dentre outros bens dessa terra, mas com gratidão pelo que o Senhor já é em nossa vida, sem o apego doentio às coisas daqui. Como lemos em Hebreus 13.5, “Que o seu modo de vida seja livre do amor ao dinheiro; fiquem satisfeitos com as coisas que têm”.

Em atendimentos, tenho observado pessoas, não poucas, que trabalham de maneira frenética em uma vida extremamente acelerada para adquirirem coisas, que muitas das vezes nem usam ou desfrutam. São pessoas que compram os melhores equipamentos domésticos, enquanto outros moram em grandes e lindas casas, mas ambos não dormem porque têm a “síndrome do pensamento acelerado”. Há quem tem tanto, mas não tem o principal: paz interior e paz no lar.

Você é importante para Deus

A sua força e o seu valor não estão naquilo que você adquiriu, mas, sim, na beleza de uma vida cristã, onde você tem o privilégio de viver em paz, amor e alegria. Mesmo com alguns problemas ou com períodos pontuais de maior aceleração, mas centrado em Deus e nos propósitos dEle para a sua vida, busque o equilíbrio na vida. Saiba quem você é em Deus e na sociedade. Importe-se um pouco menos com os outros ou com comparações. Ame-se e se respeite. Você tem valor pelo que você já é no Senhor! Deus e as pessoas que realmente importam te conhecem e sabem disso. O melhor ritmo para a vida é aquele no qual você é útil, produtivo, grato e que não te faz adoecer.

Convido você a olhar para si mesmo, se conhecer melhor e lembrar-se de que Jesus deu a vida por ti. Você tem valor! Você é filho e filha de Deus, um ser único e com muito valor para Ele! Viva a vida de maneira mais leve. Sim, há problemas que você precisa resolver com urgência. Para outros problemas, Deus porá a mão e você nem precisará perder a paz e a saúde. Assim nós lemos em 1 Pedro 5.7: “Lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós”. Se você conseguiu ler este texto até o final, parabéns! Que seja útil à sua vida diária! Deus te abençoe mais e mais, em nome de Jesus!

por Valquíria Salinas

Compartilhe este artigo. Obrigado.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem