Na Antiga Aliança, a terceira pessoa da Trindade era conhecida como Espírito do Senhor. Porque Ele passou a ser denominado de Espírito Santo somente no Novo Testamento?
Qualquer pessoa que tomar a Bíblia em suas mãos deve ser cônscia de que há dois Testamentos adstritos: o Antigo e o Novo. Isso é relevante para que se entenda que a revelação se deu de modo progressivo, sendo que o Antigo Testamento contém a promessa, já o Novo Testamento traz o cumprimento. No Antigo Testamento, estão presentes a criação do mundo e do homem, as alianças firmadas com Israel, bem como a promessa da vinda do Messias para restaurar o homem caído (Gênesis 3.15).
Folheando as páginas do Novo Testamento, encontramos o cumprimento
das promessas que foram feitas no Antigo Testamento, as quais se concretizam em
Cristo, que veio na plenitude dos tempos (Gálatas 4.4). Por meio de Sua morte,
começa uma nova história, isto é, a nova aliança, a qual foi feita com Seu sangue
(Lucas 22.20). Apesar de a Bíblia conter dois Testamentos, há uma plena
unidade, uma harmonização do todo; porém, é imperioso que o leitor atente para
essas duas divisões, para compreender que, na primeira, ou seja, no Antigo
Testamento, tem-se a promessa, enquanto no Novo, seu cumprimento.
Não se pode pensar nesses dois Testamentos como antípodas,
de modo que é oportuno fazer uso das palavras do renomado teólogo Agostinho,
que, no tocante à revelação progressiva, disse: “O Novo Testamento está oculto
no Antigo, e o Antigo está revelado no Novo” (Novo Testamentum in Vetere latet,
Vetus Testamentum in Novo patet). Em suas colocações, ele estava afirmando que
havia uma interdependência entre os dois Testamentos, mostrando que o Novo
Testamento não pode ser plenamente compreendido sem a base do Antigo, e o
Antigo só se revela completamente à luz do Novo.
No Antigo Testamento, a terceira pessoa da Trindade, o
Espírito Santo, era conhecido como Espírito do Senhor ou Espírito de Deus. Tal designação
visava destacar a ação divina em diversas circunstâncias, situações
específicas, cuja finalidade era evidenciar a capacitação da parte divina em
indivíduos para ações ou obras extraordinárias. Há muitas passagens
veterotestamentárias que mostram homens sendo escolhidos e capacitados pelo
Espírito do Senhor para exercerem inúmeras funções, como, por exemplo,
sacerdotes, reis, juízes e profetas (Juízes 6.34; 1 Samuel 16.1; 16.14).
Compreende-se que a atividade do Espírito Santo no Antigo
Testamento era circunscrita, de modo que, por meio dessa designação, tem-se a
compreensão da atuação temporária e limitada, para ocasiões especiais, em
relação à pessoa do Espírito Santo. Assim, como já dito, cremos que o uso dessa
expressão é porque nosso Deus eterno resolveu revelar Seus atributos de modo progressivo
no aspecto histórico, sendo que a plenitude do Espírito Santo se concretizará
no Novo Testamento.
Destarte, com a Nova Aliança pelo sangue de Deus, houve a
alteração dessa nomenclatura de Espírito de Deus para Espírito Santo, porque aquilo
que outrora era uma promessa teve seu cumprimento cabal (Joel 2.28), posto que
desde então Ele não será apenas para capacitar, mas haverá de permanecer nos
cristãos para manter relacionamento e lhe ensinar as verdades divinas (João
14.26).
Portanto, através das páginas do Novo Testamento, compreendemos,
por meio da revelação progressiva, que depois da morte e ressurreição de
Cristo, quando o Espírito haveria de ser enviado, Ele iria tanto capacitar os
crentes para darem testemunho com poder do Evangelho de Cristo Jesus (Atos 1.8)
quanto guiar e dirigir a Igreja do Senhor. Como afirma o teólogo J. I. Packer,
o Espírito Santo tem o poder de animar a Igreja de Cristo, guiá-la e
capacitá-la a perseverar na verdade e na missão.
por Osiel Gomes
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