4. razões bíblicas da morte
Inevitavelmente, nos deparamos com a morte, que é a cessação da existência física. A brevidade da vida humana é fato indiscutível. O salmista Davi deixou patente essa verdade quando declarou: “Faze-me conhecer, Senhor, o meu fim, e a medida dos meus dias qual é, para que eu sinta quanto sou frágil” (Salmos 39.4). Esse texto revela a ansiedade da mente de Davi quanto à fragilidade de sua vida física, mas ao mesmo tempo ele se preocupava com o que vai além da morte.
A primeira razão é necrológica. A morte é um fato. A palavra
nekros (grego) quer dizer “morto” e refere-se àquilo que não tem vida, seja um cadáver
ou matéria inanimada. Essa palavra grega tem na sua raiz nek o sentido de
“calamidade”, “infortúnio”. Essa palavra passou a fazer parte do vocabulário
médico para indicar o estado de morte de uma pessoa, ou então para significar o
processo de morte d’alguma parte do corpo, devido a alguma doença. Do ponto de
vista da Bíblia, o fato necrológico indica a parte física do homem, isto é, o
seu corpo (soma, em grego).
O autor da carta aos Hebreus fala da separação que a morte
faz entre o corpo e a parte espiritual do homem, quando diz: “E como aos homens
está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso o juízo” (Hebreus 9.27).
Esse texto indica que há algo que sobrevive no homem após a morte, ou seja,
após a necrose do seu corpo material.
A segunda razão é antropológica. Esta se refere ao grego
antropos, que quer dizer “homem”, para fazer diferença com os animais
irracionais. Antropos refere-se ao homem criado por Deus com a capacidade de
pensar, sentir e realizar (Gênesis 1.26,27; 2.7). Na antropologia bíblica, o
corpo do homem é visto como uma dádiva de Deus ao homem e, por isso, o corpo tem
a sua própria dignidade. Logo, Paulo o dignifica como templo do Espírito de
Deus (1 Coríntios 3.16; 6.19). Portanto, a razão antropológica nesse sentido
refere-se ao que o homem é e pensa acerca da morte. Como ele a enfrenta? O que
sobrevive dele depois da morte física?
A terceira razão é pneumatológica. Essa é a parte espiritual
do homem. A palavra grega pneuma refere-se ao espírito. Em primeiro lugar, nós
valorizamos o corpo físico e a sua dignidade na existência humana; em segundo
lugar, tratamos do homem como ser racional; em terceiro lugar, nos preocupamos
em revelar o milagre da transformação do corpo físico do crente em corpo espiritual.
Nossos corpos materiais e mortais serão ressuscitados soma pneumatikon, isto é,
“corpo espiritual” (1 Coríntiod 15.54). A nossa esperança é que Cristo
ressuscitou primeiro e definitivamente, e assim Ele é o “primogênito dentre os
mortos” (Colossenses 1.18; Apocalipse 1.5). Ele ganhou a vitória final sobre a
morte, o túmulo e o Diabo (Atos 2.24).
A quarta razão é escatológica. Nesse ponto, reside a
preocupação com a esperança. Qual é a esperança cristã? É a ressurreição de nossos
corpos na vinda do Senhor e a transformação dos mesmos, inclusive para os que
estiverem vivos no Arrebatamento da Igreja (1 Coríntios 15.54).
A ideia bíblica da morte
Para termos uma compreensão clara acerca da morte,
precisamos defini-la do ponto de vista bíblico. Algumas palavras específicas
definem o sentido de morte. Em primeiro lugar, a morte como separação. No grego
do Novo Testamento, a palavra morte é thanatos, que quer dizer separação. A
morte separa as partes materiais e imateriais do ser humano. A parte material
volta ao pó e a imaterial separa-se e vai ao mundo dos mortos, que é o Sheol-Hades.
O que é o Sheol-Hades? Refere-se ao estado intermediário entre a morte e a
ressurreição. Um lugar provisório (Mateus 10.28; Lucas 12.4; Eclesiastes 12.7;
Gênesis 2.7).
A morte é referida como saída ou partida. A morte física é
como a saída de um lugar para outro (Lucas 9.31; 2 Pedro 1.14-16). A morte
significa também cessação. O que cessa na morte física? Cessa a existência da vida
animal, física (Mateus 2.20; João 12.25; 13.37,38; Atos 15.26; 20.24).
A morte significa um rompimento. Indiscutivelmente a morte física
rompe as relações naturais da vida material. Não há como relacionar-se com as
pessoas depois que morrem. A ideia de comunicação com pessoas que já morreram é
uma fraude diabólica.
Finalmente, a morte faz distinção entre o que é temporal e o
que é espiritual. Qual é a distinção que a morte faz? Ela distingue o temporal do
eterno na vida humana. Indiscutivelmente, toda criatura humana não pode fugir
ao seu destino eterno: salvação ou perdição (Mateus 10.28).
Sentido bíblico e doutrinário
A Bíblia fala da morte como salário do pecado (Romanos
6.23). O pecado, no contexto dessa escritura, é representado pela figura de um
cruel feitor de escravos que dá, como pagamento a seus escravos, a morte. O
salário requerido pelo pecado é merecidamente a morte. Como pagamento, a morte
não aniquila o pecador.
A ideia que a Bíblia nos passa é que a morte não é a simples
cessação da existência física, mas é uma consequência dolorosa pela prática do
pecado. Quando alguém morre sem Deus e sem salvação, o problema da morte não é
porque o homem sendo feito do pó da terra volte ao pó, mas, sim, porque o homem
não pode fugir à culpa do pecado que está intrínseca à sua natureza pecaminosa
e morre como tal. Ora, a consequência do pecado é a morte, é o seu pagamento, o
seu salário, é a sua justa retribuição. É nesse aspecto que a morte nada tem de
natural na existência humana. Portanto, a morte física é o primeiro efeito
externo e visível da ação do pecado. Ela é antinatural porque veio em função do
pecado do homem e foi introduzida no mundo como castigo positivo contra o
pecado (Gênesis 2.17; 1 Coríntios 15.21; Tiago 1.15).
A morte foi vencida por Cristo no Calvário
O apóstolo Paulo escreveu aos romanos: “Porque, se, pela
ofensa de um só, a morte reinou por esse, muito mais os que recebem a
abundância da graça e do dom da justiça reinarão em vida por um só, Jesus
Cristo” (Romanos 5.17). O poder da morte sobre a vida do pecador é desfeita
quando Jesus Cristo entra para reinar.
Tipos distintos de morte
Há, pelo menos, três tipos distintos de mortes na Bíblia: a
física, a espiritual e a eterna.
1. Morte física (2 Samuel 14.14)
O que acontece com o corpo morto quando é sepultado? Depois
de alguns dias, o corpo terá se desfeito e se esvaído como águas derramadas na
terra. Assim é o que faz a morte física literalmente.
2. Morte espiritual
Esse tipo de morte tem dois sentidos na perspectiva bíblica:
negativo e positivo. Antes de tudo, a morte espiritual é real, mas é figurada.
No sentido negativo, esse tipo de morte pode ser identificado pela expressão bíblica
“morte no pecado”. É um estado de separação da comunhão com Deus. Significa
estar debaixo do pecado, sob o seu domínio (Efésios 2.1,5). O efeito desse tipo
de morte é presente e futuro. No presente, refere-se a uma condição temporal de
quem está separado da vida de Deus (Efésios 4.18); no futuro, refere-se ao
estado de eterna separação de Deus que acontecerá no Juízo Final (Mateus
25.46).
No sentido positivo, morte espiritual pode ser um tipo de
morte para o pecado que envolve tempo, estado e destino. Em relação à estado, a
morte espiritual para o cristão indica que ele tem uma nova posição que o
coloca acima do pecado. Em relação ao destino, os que estão mortos para o
pecado herdarão a vida eterna.
3. Morte eterna.
É chamada segunda morte, porque a primeira é física (Apocalipse
2.11). É identificada como punição do pecado (Romanos 6.23). É também
denominada de castigo eterno, que representa a eterna separação da presença de Deus
e a impossibilidade de arrependimento e perdão (Mateus 25.46).
Algumas teorias
A teoria universalista ensina que Deus é bom demais para
excluir alguém. Ensina que Jesus morreu por todos, por isso todos serão salvos.
A teoria restauracionista ensina que Deus, ao final de todas
as coisas, restaurará todas as coisas e todos, afinal, serão salvos. A teoria
do purgatório ensina que quando uma pessoa morre neste mundo, será dada a ela a
oportunidade de recuperação num período probatório. Nesse período, a culpa dos
pecados cometidos poderá ser aliviada enquanto aquele pecador purga por seus
pecados, tendo ainda a ajuda das orações pelos mortos da parte dos amigos e
parentes.
Por último, existe a teoria da aniquilação. Os adeptos dessa
teoria tomam por base uma escritura de 2 Tessalonicenses 1.8,9. Destacam a
expressão “eterna perdição” e a traduzem por “eterna extinção”. A palavra
“extinguir” no lugar de “aniquilar” dá uma ideia que contraria a doutrina do
castigo eterno como ensinada na Bíblia. De fato, o sentido real da expressão é
de banimento da presença de Deus, e não de extinção, como uma folha de papel ao
fogo.
O que a Bíblia ensina sobre a morte eterna é que os ímpios,
depois de julgados no Juízo Final, receberão a punição da rejeição que fizeram
à graça de Deus e serão lançados no Geena (Lago de Fogo) (Apocalipse 20.14,15; Mateus
5.22,29,30; 23.14,15,33). A Bíblia faz distinção entre a primeira morte e a
segunda morte. A primeira morte é física e morre-se uma só vez (Hebreus 9.27).
A primeira é temporal; a segunda é espiritual e eterna. A segunda morte
restringe-se apenas aos ímpios. A Bíblia declara: “Tendo esperança em Deus,
como estes mesmos esperam, de que há de haver ressurreição de mortos, tanto dos
justos como dos injustos” (Atos 24.15).
O crente e a morte
Como cristãos verdadeiros, devemos encarar a morte pelo prisma
da Bíblia. Lamentavelmente, muitos evangélicos, advindos de outros segmentos do
Cristianismo, trazem consigo ideias e conceitos falsos de doutrina sobre a
questão da morte. Na verdade, a morte é a prova máxima da fortaleza da fé cristã,
que produz no crente uma consciência de vitória quando algum ente querido
falece (1 Pedro 4.12,13).
A morte na vida cristã é uma forma de santificação efetuada nas
almas e espíritos daqueles que morrem em Cristo. A Bíblia revela que esses
cristãos que morrem se convertem nos “espíritos dos justos feitos perfeitos” (Hebreus
12.23; Apocalipse 21.27). Os sofrimentos e aflições que conduzem um cristão à
morte física se constituem em bênçãos para o cristão. Ela se constitui num trampolim
que salta para a vida eterna. Ela se torna a porta que abre o Céu de glória.
Quando um cristão morre, de fato, ele descansa, ele dorme (2 Tessalonicenses
1.7). Ao invés de derrota, ela significa vitória, ganho (Filipenses 1.21).
Conclusão
A Bíblia consola o cristão acerca dos mortos em Cristo
quando declara que a morte do crente “é agradável aos olhos do Senhor” (Salmos
116.15). Diz também que morrer em Cristo é estar “presente com o Senhor” (2 Coríntios
5.8). Por isso, o cemitério apenas recebe os restos mortais dos nossos queridos,
os quais aguardam o dia em que a Trombeta do Arcanjo fará o chamamento dos
remidos e salvos, e, num abrir e fechar de olhos, serão transformados. Não há
espaço para orações pelos mortos. A Salvação é uma obra completa e definitiva
para os fiéis em Cristo. Juízo e punição são para os que rejeitaram a graça salvadora
de Cristo.
por Elienai Cabral
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