Existem cerca de 2,3 mil línguas diferentes em todo o mundo e que pertencem a várias famílias linguísticas. Qual ligação essa variação linguística tem com Gênesis 11.7-9?
O incidente da Torre de Babel explica a dispersão dos grupos de pessoas (Gênesis 11.8) e a diversidade das línguas (Gênesis 11.9). Ambos são manifestações do juízo divino sobre o homem cujo orgulho atingiu uma altura nova e imponente na forma de um arranha-céu de tijolos de barro. Bruce Waltke divide a cena em dois atos. Ato 1, “A Tábua das Nações”; e Ato 2, “A Torre de Babel”. É provável que os eventos do capítulo 11 antecedam cronologicamente os eventos do capítulo 10. No capítulo 10, temos a descrição das nações sendo separadas; já no capítulo 11, encontramos uma explicação do motivo pelo qual elas foram separadas. Em Gênesis 10, temos o relato de 70 nações, indicando, de forma simbólica, a totalidade das nações existentes, apontando, inclusive, genealogicamente, para a unidade da família humana decorrente dos três filhos de Noé: Sem, Cam e Jafé, os pais de todas as nações. a) Sem: povos semitas (judeus, árabes, assírios, arameus, fenícios); b) Cam: povos camitas (etíopes, egípcios, cananeus, filisteus, babilônios e, possivelmente, os povos da África e do Oriente, embora muitos estudiosos considerem os orientais descendentes de Jafé); c) Jafé: povos jaféticos (medos, gregos, cipriotas etc., provavelmente incluindo os povos da Europa e norte da Ásia. Muitos estudiosos também incluem os povos orientais aqui) (MACDONALD, 2011, p. 22).
Nos capítulos 10 e 11 de Gênesis, Moisés mostra como a
civilização, que a princípio era mono-linguística e monocultural, veio a dividir-se
em idiomas e dialetos. A narrativa bíblica indica que a diversidade linguística
existente hoje advém de uma única língua. Alguns estudos na área da linguística
comparada têm corroborado a afirmativa bíblica (OLLER, 2008, pp. 52-55).
Lourenço Stelio Rega e Johannes Bergmann afirmam que a grande família de
línguas indo-européias, que se estende por quase toda Europa e parte da Ásia,
particularmente o Irã e parte da Índia, envolvendo o grego, sânscrito, latim,
armênio, germânico, báltico, eslavo, albanês, bem como outras línguas menores,
provêm de uma raiz comum, uma língua que era falada por um primitivo povo que
teria habitado na Ásia Ocidental, com firmes convicções monoteístas (2014, p.
9; Cf. BOMHARD, 2018, pp. 33-35) e atividade pastoril (2023, pp. 11-60; 1971,
pp. 253-266.). Notamos parentesco entre as línguas mencionadas ao observar, por
exemplo, os seguintes vocábulos:
Pai: no grego é
patér, no latim pater, no sânscrito pita, no antigo persa pitar, no gótico
fadar, no inglês father, no alemão Vater.
Mãe: no grego é
méter, no latim mater, no sânscrito matar, no báltico mate, no inglês mother, no
alemão Mutter.
A revista Scientific American, em sua edição de maio
de 2016, afirmou que embora o período e o local exato de origem da língua protoindo-européia
(PIE) ainda esteja em debate, linguistas geralmente concordam, em linhas gerais,
que ela descendeu de uma língua mãe. Todas as pesquisas apontam o leste da
bacia do Mediterrâneo, a mesma região da narrativa bíblica, como a qual se originou
a língua protoindo-europeia (RODOVALHO e SCHOEDER, 2017). Winfred P. Lehmann e
Patrick C. Ryan, renomados especialistas linguísticos, fizeram uma análise comparativa
das várias línguas conhecidas, concluindo que há fortes indícios de uma origem monogênica
de todas as línguas, ou seja, uma só deu origem a todas as outras. O resultado
dessa pesquisa linguística está em sintonia com o relato bíblico da Torre de
Babel (Ibid., 2017, p. 159). Embora os estudos no campo da linguagem ainda não
obtenham uma resposta definitiva sobre a “língua mãe”, nós seguimos acreditando
no que a Bíblia diz: “No mundo todo havia apenas uma língua” (Gênesis 11.1),
mas Deus, em Babel, fez com que houvesse várias línguas. E as línguas surgidas
em Babel serviram de base para todas as famílias linguísticas existentes na
atualidade (LIENHARD, 1994).
Referências bibliográficas
BOMHARD, Allan R. A Comprehensive Introduction to Nostratic Comparative Linguistics:
With Special Reference to Indo-European. 2018
GOODENOUGH,
Ward H.. “The Evolution of Pastoralism and Indo-European Origins”.
Indo-European and Indo-Europeans: Papers Presented at the Third Indo-European Conference
at the University of Pennsylvania, edited by George Cardona, Henry M. Hoenigswald
and Alfred Senn, Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1971, pp.
253-266.
KRISTIANSEN
K, Kroonen G, Willerslev E, eds. Early Indo-European and the Origin of
Pastoralism. In: The Indo-European Puzzle Revisited: Integrating Archaeology,
Genetics, and Linguistics. Cambridge University Press; 2023:11-60.
LIENHARD,
John H. Tower of Babel. In Search of the First Language, Nova, aired on KUHT,
Houston, December 27, 1994.
MACDONALD,
William. Comentário bíblico popular – Antigo e Novo Testamento. São Paulo:
Mundo Cristão, 2011.
OLLER, John. More
than PIE (Proto-indo-European): Babel explains distinct language families.
AnswersMagazine, 3 (2). 2008.
REGA, Lourenço Stelio; BERGMANN, Johannes. Noções do grego
bíblico: gramática fundamental. 3. ed. rev. – São Paulo: Vida Nova, 2014.
RODOVALHO, Robson; SCHROEDER, Egerald. Comentários científicos
de Gênesis. Tradução e organização: Maria Inês Leão. SBE Edições e Publicações,
Brasília, DF. 2017.
WALTKE, Bruce K. Comentário do Antigo Testamento: Gênesis.
Traduzido por Valter Graciano Martins. – São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
por Jonas Mendes
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