“A Jezabel que encontramos em Apocalipse 2.20 é uma metáfora ou um personagem real com o nome da antiga rainha de Israel?”
Jezabel é uma das personagens femininas mais intrigantes do Antigo Testamento. Inteligente, dominadora e hedonista, ela viveu contrária a tudo o que seu nome significa. No hebraico, ‘Iyzebel quer dizer “casta”, todavia essa rainha é conhecida na história bíblica como mulher impudica e idólatra. Jezabel era uma princesa sidônia, filha do poderoso Etbaal (no hb. “com Baal”) – um poderoso rei da Fenícia –, adoradora de BaalMelcarte, um falso deus fenício, e rainha de Israel durante o reinado de Acabe, cerca de 870 a 853 a.C. (1 Reis 16.29-31; 18.19). Jezabel era alta sacerdotisa da deusa Astarte, divindade que, conforme crido na época, era esposa de Baal. No culto a esses deuses, eram praticados todos os tipos de orgias, como explico em minha obra A Família no Antigo Testamento (CPAD).
Todavia, qual a identidade da mulher Jezabel de Apocalipse 2.20?
Vejamos as duas principais opiniões a respeito.
1) Se trata da esposa do pastor local – Essa posição baseia-se
em certas evidências textuais críticas que aceitam como válidos o testemunho
dos manuscritos A 046 1006 1854 e a tradição escritural atestada por Cipriano
que apresenta o pronome genitivo sou (sua/tua) antes do substantivo próprio Jezabel.
De acordo com esses manuscritos, o texto, em vez de dizer tēn gynaika Iedzabel
(“a mulher Jezabel”), diria tēn sou gynaika Iedzabel (“a tua mulher Jezabel”). O
pronome sou, nesse caso, refere-se ao sujeito do versículo 12, o angelō tēs
ekklēsias, isto é, o “anjo da congregação de Pérgamo”. Penso que a inserção do pronome
provavelmente deriva-se de um erro de ditografia ou então de uma percepção equivocada
do escriba que inseriu propositalmente o pronome, em função de o mesmo aparecer
repetidamente nos versículos 19 e 20. Todavia, caso essa posição esteja correta,
embora as evidências manuscritas, textuais e a própria tradição atestem o contrário,
significa que a Jezabel do referido texto é a esposa do pastor da igreja de Pérgamo.
Assim, o pastor da comunidade local admitia os erros, heresias e impudicícias dessa
mulher pelo fato de ela ser seu cônjuge. Aqueles que identificam Jezabel como
sendo a esposa do líder local baseiam-se também na possibilidade de que o
nominativo acusativo gynaika seja entendido como esposa em vez de apenas mulher,
uma vez que o vocábulo aparece várias vezes nas páginas do Novo Testamento com o
sentido de “mulher casada”, “esposa” – tradução possível, mas não necessária. Assim,
traduziriam o texto tēn sou gynaika Iedzabel como “a tua esposa Jezabel”. Todavia,
a maioria dos exegetas nega tal possibilidade. A inserção do pronome e a tradução
de gynaika Iedzabel, como tua esposa Jezabel, extrapola toda naturalidade do
texto.
2) Se trata de referência simbólica aos falsos ensinos pagãos
que adentravam na igreja – Essa corrente entende e aceita que a Jezabel do referido
versículo é uma figura ou símbolo da religiosidade pagã e dos falsos ensinos das
religiões de mistério que invadiram a igreja através dos falsos mestres. Lembremos
que Israel, a Igreja e a falsa igreja de Apocalipse são representadas nas Escrituras
pela figura da mulher. Em nossa obra Igreja: Identidade e Símbolo (CPAD),
apresento exemplos dessa simbologia nos escritos joaninos.
por Esdras Costa Bentho
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