O mundo jaz no maligno, afirma João em sua Primeira Epístola (1 João 5.19). O espírito do mundo, por ensejar o engano, conduz à confusão. Por esse motivo, esse mesmo apóstolo admoesta: “Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo”, 1 João 4.1. Para compreender a atuação dos espíritos, faz-se necessário atentar para o significado bíblico de mundo. No Novo Testamento, o significado negativo de mundo denota um sistema que se opõe à verdade de Deus. A sua operação acontece em consonância com Satanás, as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais (Efésios 6.12).
Para se contrapor ao espírito do mundo, Jesus enviou o Espírito
Santo, no intuito de desfazer as obras do Diabo (1 João 3.8). Enquanto os espíritos
do mundo induzem ao erro, o Consolador, prometido pelo Senhor, e que dEle testifica,
é o “Espírito de Verdade” (João 15.26). O mundo seduz os seres humanos através da
concupiscência da carne, da concupiscência dos olhos e da soberba da vida (1 João
2.16). Esse poder de sedução faz com que as pessoas assumam as práticas pecaminosas
do mundo como se fossem naturais. Em virtude da expansão do espírito do erro no
mundo, os crentes em Cristo devem averiguar a procedência dos espíritos.
Aqueles que não se tornarem aptos para discernir os
espíritos podem ser conduzidos pela correnteza e, como nos tempos do profeta Isaias,
chamam o mal de bem e, do mesmo modo, o bem de mal; fazem das trevas luz e da luz,
trevas; do amargo, doce e do doce, amargo (Isaías 5.20). Em decorrência disso, acontece
como nos dias que antecediam os juízes de Israel: o relativismo extremo, de modo
que cada pessoa fazia o que bem entendia (Juízes 2.10,11). O ápice dessa
filosofia é o pragmatismo, a partir do qual as pessoas fazem não o que é certo,
isto é, o que fora revelado pelo Senhor, mas o que acham que dá certo, buscando
apenas o prazer imediato, sem levar em conta as consequências futuras. A esse
respeito, aplica-se a máxima: os resultados, a qualquer custo, justificam os
meios.
Esse é o espírito do mundo ao qual o Espírito do Senhor resiste.
Este atua por meio da Escritura a fim de desconstruir as falácias contrárias ao
Evangelho de Cristo. O Espírito e a Palavra testemunham da verdade. Portanto,
cabe ao cristão buscar conhecer, em oração, a Verdade, a respeito da qual alguns,
semelhantemente a Pilatos, perguntam sem, contudo, esperar a resposta (Jo
18.38). A direção do Espírito Santo, para provar os espíritos, se dá também por
intermédio do dom espiritual do discernimento (1Co 12.10). A igreja precisa
buscar com zelo esse dom por meio do qual, sobrenaturalmente, é possível identificar
se os espíritos procedem ou não de Deus. A verdade do Espírito não é relativa,
pois o Senhor, o Deus da Bíblia, não muda. Os princípios universais da Palavra de
Deus transcendem as gerações e as culturas. O pecado, ainda que seja negado pelo
espírito do engano, é uma realidade tangível, comprovada até mesmo nas páginas dos
jornais. Quando olhamos para o mundo pelas lentes da Palavra de Deus, direcionados
pelo Espírito Santo, percebemos que os seres humanos seguem de mal a pior. O Espírito
convence do pecado, da justiça e do juízo vindouro (João 16.8), mas as pessoas,
ao optarem pelo espírito do engano, deixam de assumir suas culpas e, por não acreditarem
no pecado, fogem do arrependimento.
Esse, porém, é o passo fundamental na direção do novo nascimento.
A menos que o ser humano reconheça seus pecados, ele não poderá ver o Reino de Deus
(João 3.3). Com a vista voltada para o horizontal, controlada pelo visível, algumas
pessoas, semelhantemente a Nicodemos, não conseguem vislumbrar o espiritual, exercitar
a fé, o fundamento das coisas que se esperam, a prova das coisas que se não veem
(Hebreus 11.1). Isso acontece porque o Deus desse mundo cegou o entendimento dos
incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz do Evangelho da glória de Cristo
(2 Coríntios 4.4). Em face desses dias tão conturbados, nos quais Satanás aparenta
ser anjo de luz, o discernimento, a fim de distinguir os espíritos, tornou-se,
agora, como dantes, condição necessária à saúde espiritual do cristão e da
igreja.
por Martim Alves da Silva
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