Nas últimas instruções antes de Sua ascensão, Jesus ordenou que Seus discípulos batizassem os novos convertidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mateus 28.19), prometendo que quem cresse e fosse batizado seria salvo (Marcos 16.16). Apenas dez dias depois, na primeira pregação de Pedro no Pentecostes, ele exortou a multidão a se arrepender e ser batizada (Atos 2.38). Como resultado, cerca de três mil pessoas se entregaram a Cristo e foram batizadas imediatamente. Sem dúvida, a Igreja Primitiva era consciente sobre a necessidade urgente do batismo em águas.
A Bíblia continua relatando outros batismos importantes,
como o do eunuco etíope (At 8.36), de Paulo (Atos 9.18), de Lídia (Atos 16.15)
e o do carcereiro de Filipos com toda a sua casa (Atos 16.33). Esses relatos
não estão registrados de forma casual, mas denotam o compromisso profundo e
público de seguir a Cristo adotado por essas pessoas, abandonando o mundo e
suas concupiscências.
Embora alguns possam subestimar a importância do batismo por
falta de compreensão teológica, as Escrituras são claras: Deus valoriza esse
ato. Vale ressaltar que o ministério público de Jesus começou após Seu batismo
no rio Jordão, para que se cumprisse “toda a justiça” (Mateus 3.15). Além
disso, os próprios discípulos de Jesus batizavam em águas, até mais do que João
e seus seguidores.
No Novo Testamento, como observado, o batismo ocorria
geralmente logo após a conversão, pois simboliza não apenas um sinal de
pertencimento à igreja, mas a disposição do crente em entregar a sua vida ao
Evangelho, até à morte, se necessário. Isso demonstra a relevância, a
indispensabilidade e a glória do batismo para todo aquele que nasceu de novo.
Surge, então, a pergunta: por que alguns adiam tanto o
pedido para serem batizados? Será por falta de uma conversão genuína? A
resposta não é tão simples. Vários fatores podem influenciar essa hesitação e é
precipitado atribuí-la exclusivamente à falta de compromisso com Cristo. Em
muitos casos, pais sentem receio de que seus filhos adolescentes ainda não
estejam preparados para assumir publicamente um compromisso tão importante. No entanto,
essa preocupação pode ser injustificada, pois o desejo de ser batizado
geralmente vem do Espírito Santo. É preciso buscar, com instância, o
discernimento do Alto caso a caso. Observe-se que se Ana e Elcana, por exemplo,
tivessem tido esse tipo de temor em relação a Samuel participar da vida
religiosa, provavelmente eles teriam prejudicado a realização do plano de Deus
na vida dele. Os pais têm a responsabilidade de proteger seus filhos, mas não devem
bloquear o cumprimento dos propósitos divinos, sob o risco de estarem
resistindo à vontade do Senhor.
A Bíblia indica que, ao atingir a idade da razão — quando alguém
é capaz de discernir entre o certo e o errado e entender o compromisso com
Cristo —, ela deve pedir o batismo. Isso reflete uma compreensão madura da necessidade
de seguir a Cristo de maneira plena e comprometida, como aconteceu com o eunuco
que foi batizado por Filipe (Atos 8.36-39).
Matthew Henry, ao comentar essa passagem, vaticinou: “Ele (o
eunuco) não estava disposto a adiar isto (o batismo). Note que, ao nos
dedicarmos e nos consagrarmos solenemente a Deus, é bom nos apressarmos e não
nos determos, pois o melhor tempo é agora (Salmos 119.60). Os que receberam a
coisa significada pelo batismo não devem postergar o recebimento do sinal. O
eunuco temia que os bons sentimentos que agora operavam nele esfriassem e
enfraquecessem. Ele estava inclinado a ligar imediatamente sua alma ao Senhor pelos
laços batismais” (HENRY, Matthew. Comentário Bíblico do Novo Testamento, volume
6, Rio de Janeiro: CPAD, 2010, p. 90).
O relacionamento com Jesus Cristo naturalmente leva o crente
a desejar aprofundar essa relação, como em qualquer ocorrência de um grande
amor. Isso envolve a renúncia a tudo o que desagrada ao Amado, incluindo as
paixões e os desejos mundanos. Nesse sentido, o batismo se torna um poderoso
meio de pregação. Inegavelmente, quando se compreende a profundidade do
significado do batismo, nasce no coração do cristão genuíno um desejo irresistível
de se submeter a esse ato sagrado.
Portanto, o pedido pelo batismo deve ser feito pelo cristão assim
que ele atingir a idade da razão e, mais importante, crer de todo o coração (Marcos
16.16; Atos 8.37). Mister registrar, entretanto, que, por vezes, alguém se batiza
sem ser convertido — sem crer de todo o coração, como foi o caso de Simão, o
mágico (Atos 8.13). Filipe, entretanto, não teve nenhum sentimento de culpa por
tê-lo batizado, mas seguiu seu ministério utilizando o mesmo padrão para
batizar o eunuco: a simples profissão de fé!
Significado do batismo cristão
Na Declaração de Fé das Assembleias de Deus, afirma-se que o
batismo constitui-se no “testemunho público da experiência anterior, o novo nascimento,
mediante a qual o crente participa espiritualmente da morte e ressurreição de
Cristo (Colossenses 2.12)”, e que também se traduz como “um ato de compromisso
e profissão de fé [...] em confirmação daquilo que já possuimos — a salvação pela
fé Jesus” (SOARES, Esequias [Organizador], Rio de Janeiro: CPAD, 2017, pp. 127
e 129).
O batismo de João Batista tinha o propósito de
arrependimento, contudo o batismo cristão, instituído após a morte e
ressurreição de Jesus, tem um significado muito mais profundo: a identificação
com Cristo em Sua morte e ressurreição, como descrito em Romanos 6.3,4. No
versículo 3, o apóstolo Paulo usa o termo grego βαπτίζω (baptizo), que
significa mergulhar, submergir repetidamente, até afundar completamente — como uma
embarcação que é levada ao fundo das águas. O versículo 4 reforça esse conceito
utilizando a palavra βαπτισμα (baptisma), que também significa imersão. Portanto,
ao ser imerso nas águas do batismo, o cristão simboliza sua morte para o pecado
e sua ressurreição para uma nova vida em Cristo. Esse ato não é um ritual religioso
vazio, mas uma representação divina e significativa da transformação operada
pelo Evangelho. O batismo é, assim, uma oportunidade de adoração e uma poderosa
pregação visual da força do Evangelho.
Na teologia católica, o batismo é considerado um sacramento,
ou seja, uma ação complementar à salvação, o que contradiz o ensinamento
bíblico de que a salvação é concedida pela graça mediante a fé (Efésios 2.8). O
batismo em águas, na verdade, trata-se de uma ordenança, ou seja, uma ordem de
Cristo, mas não um requisito essencial para a salvação. Um exemplo claro é o ladrão
na cruz, que foi salvo por sua fé, mesmo sem ser batizado em águas. Claro que,
havendo oportunidade, o cristão deve buscar o quanto antes ser batizado.
Conclusão
Diante de tudo isso, emerge cristalino que o batismo em
águas se destaca como um ato de profunda importância espiritual e teológica,
pois, embora não seja um pré-requisito para a salvação, é uma ordenança de
Cristo, sendo um poderoso testemunho público de fé, a exteriorização do ato de
regeneração que Deus operou no crente.
Portanto, todo aquele que crê deve buscar o batismo como um passo
natural de obediência e compromisso com o Reino de Deus, demonstrando
publicamente sua fé e identificação com a obra redentora operada no Calvário, constituindo-se
no selo visível do novo nascimento. Assim, cada crente deve compreender o
batismo não como uma mera formalidade, mas como uma experiência espiritual
significativa que reflete sua nova vida em Cristo, o qual deve ser solicitado, em
regra, tão logo se crê de todo o coração.
por Reynaldo Odilo Martins Soares
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