Vivemos um tempo de crises. Talvez a principal tensão que enfrentamos é aquela que recai sobre a família. Para além dos Projetos de Lei que procuram atacar o ideal familiar, e da influência dos complexos midiáticos que desejam distorcer as mais elementares práticas familiares, parece-nos que o grande dilema que as famílias contemporâneas enfrentam é o estabelecimento das prioridades.
Somos todos multifuncionais, possuímos múltiplas
atribuições, e é nesse contexto que nossas famílias estão sendo desenvolvidas.
Diferente de modelos sociais anteriores, no qual a figura do pai saía ao
trabalho enquanto a mãe cuidava da educação dos filhos até a chegada da vida
escolar que se dava por volta dos cinco ou seis anos de idade, nossa sociedade hoje
tem produzido uma família que sai de casa coletivamente ao amanhecer – pai e
mãe ao trabalho, filhos (cada vez mais cedo, alguns apenas com meses) à escola
– e retornam apenas ao anoitecer, na maioria dos casos apenas para dormir.
É da seguinte maneira que este modelo familiar enfrenta um
dilema: o que deve ser priorizado? A carreira profissional dos pais, a formação
educacional dos filhos (com escola em tempo integral, cursos de línguas, esportes
e atividades culturais) ou o afeto familiar? Mais que isso, num mundo
absolutamente pragmático ainda há espaço para cultivar relações de amor e
carinho na família? Nossa resposta não pode ser outra: Sim! Mais ainda, cuidar
de nossa família deve ser nossa absoluta prioridade. O nosso desafio, enquanto
família comprometida com o Reino de Deus, é implementar, de maneira eficaz e
saudável, ações que nos conduzam a priorizar nossas famílias. A Bíblia
demonstra em suas páginas alguns exemplos desastrosos de pessoas que ao invés de
priorizarem suas famílias, decidiram lutar por sua suposta honra ou interesses
egoístas. Um clássico exemplo é Abrão, que por duas vezes – diante do Faraó
egípcio e de Abimeleque Rei de Gerar – nega ser esposo de Sara por medo de ser
morto, expondo-a assim a situações de grande risco. O pseudo “instinto de
sobrevivência” de Abrão, nada mais é que a manifestação de uma atitude egoísta
que negligencia o cuidado com o outro em nome do benefício próprio.
Há, todavia, na Bíblia um belo relato sobre um pai que
resolutamente decide priorizar sua família em detrimento de todas as
consequências que isso poderia acarretar.
Seu nome é Jairo, e a narrativa de parte de sua vida é
registrada nos Evangelhos Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas). Jairo era o líder
de uma sinagoga, em virtude de sua proeminência na esfera religiosa,
provavelmente também era um homem bem-sucedido financeiramente. Conta-nos o relato
bíblico que sua filha adolescente foi acometida de uma terrível doença,
exauridas todas as possibilidades acessíveis, este pai toma uma fundamental
decisão: ele foi ter com Jesus.
Imaginemos o impacto da atitude de Jairo diante da
comunidade judaica daquela época, a qual tinha vários fariseus como seus partícipes.
Jairo poderia ter evitado o encontro com o Mestre por vários motivos: sua
liderança religiosa, seu status social, seu patamar econômico. Contudo, em nome
do amor e cuidado com sua filha, o pai prescindiu de todo sentimento de
autopreservação. Diz-nos o texto que Jairo humilhou-se diante de Jesus, e
clamou por sua ajuda.
O resultado da postura desprendida do pai da adolescente foi
a imediata comoção de Jesus, sua ida a casa deste e finalmente a ressurreição
da garota.
Quantos pais teriam hoje a mesma atitude de Jairo? Quantos são
capazes de expor sua honra, nome ou reconhecimento social por amor a seus
filhos? O personagem bíblico corria o risco de perder a liderança da sinagoga –
afinal de contas quantos fariseus aceitariam ser liderados por alguém que foi
buscar auxílio no polêmico Rabi de Nazaré? Contudo, Jairo demonstrou a todos,
com tal atitude, que sua família era muito mais importante que qualquer título
social. Em suma, Pai, Mãe, Esposo, Esposa, Filho e Filha, são os títulos mais
importantes com os quais devemos nos importar.
Quando decidimos lutar por nossas famílias, a despeito de
nossos interesses individuais egoístas, recebemos o apoio direto de Cristo. Ele
vem a nós, entra no íntimo de nossos lares e realiza o inimaginável. É
fantástico compreender que todos os anos como religioso piedoso nunca
propiciaram a Jairo um privilégio tão grande como presença do Deus vivo em sua
casa. Foi quando ele resolveu priorizar sua família que finalmente esteve o
mais próximo possível de Deus.
Lembremos, o principal da sinagoga ainda foi orientado a
desistir. Para alguns contemporâneos de Jairo a presença de Jesus em seu lar
não faria diferença alguma, a morte já reinava ali. No ápice da crise Jesus
declarou ao atormentado pai: Não tenha medo, somente acredite. Não tenhamos medo,
quem reina em nossos lares não são as doenças, tristezas ou a morte; Cristo é o
Rei!
Jairo decide parar todas suas atividades, deixar de ouvir
todas as vozes contrárias, e crer somente em Jesus. O resultado não podia ser
outro: sua filha morta volta à vida. Assim como o pai da adolescente, abramos
mão de tudo por nossas famílias. Paremos de escutar os apelos consumistas e
mesquinhos de nosso tempo, os quais dizem que devemos dedicarmo-nos
exclusivamente a nossas carreiras profissionais, freneticamente a nossas
ambições pessoais e ininterruptamente a nossos sonhos individuais, mais que a
nossas famílias.
Se nossos casamentos ou famílias já estão sofrendo os
efeitos do maligno, por meio de brigas, discussões, e já estão como que mortos
– acreditemos, somente um encontro reservado com Cristo no íntimo de nosso lar
poderá transformar tal situação.
Assim, creiamos que tudo o que nossas famílias precisam é de
nós mesmos. Muito mais importante do que podemos dar, comprar ou fazer por
nossos familiares é aquilo que somos para eles. Naquele dia Jairo não foi o pai
omisso ou o pai ocupado demais para preocupar-se com o que acontecia com sua filha,
pelo contrário ele foi capaz de tomar a decisão que mudou o destino de sua
família, ele veio a Cristo. É sempre para Cristo que nós e nossa família
devemos prioritariamente ir.
por Thiago Brazil
Compartilhe este artigo. Obrigado.
Postar um comentário
Seu comentário é muito importante