Arão morreu no monte Hor e depois disso os israelitas foram para Zalmona e camparam-se em Punom (Números 33.39-42), ou ele morreu em Moserá e depois os israelitas deslocaram-se para Gudgoda e Jotbatá (Deuteronômio 10.6,7)? Vemos em Deuteronômio 32.50 que o sacerdote morreu no monte Hor.
Ao lermos as narrativas bíblicas, parece haver uma contradição acerca do local onde morreu o primeiro sumo sacerdote de Israel. Mas é importante ressaltar que existe uma diferença de itinerário da travessia do povo hebreu conforme registro em Deuteronômio 10 e Números 33 por causa da ordem de suas paradas. Essa diferença na ordem dos fatos também acontece nos Evangelhos. Por exemplo, quanto à hora da crucificação de Jesus, os evangelistas Marcos e João relatam horas diferentes (hora terceira e hora sexta). Porém, devemos observar que um escritor utiliza a contagem judaica (Marcos 15.25) e o outro da romana (João 19.14-16) que, a partir do julgamento, ambas as passagens se ajustam às horas da manhã. Em Atos 10 e 11 também temos dois relatos da mesma história, porém com detalhes e fatos diferentes.
Uma forma razoável de compreender as passagens nos livros de
Números e Deuteronômio é assumir que este último, diferente de Números, não
está em forma de um itinerário técnico, por este motivo, deve ser visto como
uma mera lista de locais significativos sem uma atenção especial à uma sequência
espacial ou até cronológica. O objetivo de Moisés ao escrever o livro de
Deuteronômio, era evidenciar a mensagem incluída nos quatro livros anteriores, relacionando
os acontecimentos à lição espiritual que continham, a uma nova geração de
israelitas que entraria na Terra Prometida.
Mas podemos observar que o monte Hor estava localizado a
“uma parada” de distância de Cades (Números 20.22). Tanto Cades como o monte
Hor estavam na fronteira de Edom (Números 33.37). Os historiadores Flavio
Josefo e Eusébio acreditavam que o Jabal Hārūn (Montanha de Arão) em Petra,
Jordânia, era o Monte Hor. Eusébio localizou Beerote-Benê-Jaacã (Deuteronômio 10.6),
cerca de 16 quilômetros a oeste de Petra (E. Klostermann. Onomastikon de Eusébio de nomes e lugares
bíblicos. Leipzig: J. C. Hinrichs, 1904, p. 46, ll. 14-16).
Quanto a Moserá, referência indicada em 10.6,7 era a região próxima de onde Arão, de fato, morreu.
O teólogo norte-americano Gleason Archer afirmou que “é muito provável que
Moserá fosse o local do distrito em que se localizava o monte Hor, assim como Horebe
era o nome da cordilheira em que se inseria o monte Sinai” (Enciclopédia de
Temas Bíblicos, ed. Vida, 2001). Pode ser que Moserá seja a região e o monte
Hor a montanha específica. O registro em Números 20.22-29 oferece uma
informação mais detalhada sobre a morte de Arão. A passagem bíblica explica que
o monte Hor estava localizado nos confins de Edom, Arão seria “recolhido a seu
povo” como consequência de seu pecado nas águas de Meribá; Arão e seu filho
Eleazar subiram o monte e Moisés veste Eleazar com a roupa de seu pai e que, no
cimo do monte, Arão vem a falecer.
Portanto o relato em Deuteronômio indicando que Arão morreu
em Moserá não contradiz os textos de Números 20.22-29; 33.39-42 e Deuteronômio 32.50
de que o sacerdote morreu no monte Hor. A região de Moserá estendia seus
limites territoriais até o referido monte. Por nomear toda uma localidade,
Moserá, e não um local específico, como no caso do monte Hor, não há contradição
evidente.
por Henrique Pesch
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