O batismo em águas

O batismo em águas


Seu propósito, significado, forma de execução e fórmula, e outras questões relacionadas

Ao analisarmos a ordenança de Cristo Jesus sobre o batismo em águas, preliminarmente trazemos à memória o que diz o Cremos das Assembleias de Deus no Brasil, no seu item 9: “CREMOS no batismo bíblico efetuado por imersão em águas, uma só vez, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus Cristo (Mateus 28.19; Romanos 6.1-6; Colossenses 2.12)”. A seguir, recorremos ao capítulo XII da Declaração de Fé das Assembleias de Deus, transcrevendo ipsis literis o seu enunciado acerca do assunto: “CREMOS, professamos e ensinamos que o batismo em águas é uma ordenança de Cristo para a sua Igreja, dada por ordem específica do Senhor Jesus: ‘Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo’ (Mateus 28.19). Reconhecemos esse ato como o testemunho público da experiência anterior, o novo nascimento, mediante a qual o crente participa espiritualmente da morte e da ressurreição de Cristo: ‘Sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dos mortos’ (Co0ossensesl 2.12)”.

Ordenança da Igreja

O Cristianismo bíblico não é uma religião ritualista, nem sacramental. A essência do Cristianismo é o contato direto do homem com Deus por meio do Espírito. Sacramento, segundo o Catecismo da Igreja Anglicana, é um sinal exterior e visível de uma graça interior e invisível. Para a Igreja Católica, sacramento refere-se a um meio físico, material, através do qual a graça de Deus vem a nós. Para ela, os sacramentos são veículos da graça divina, do ministério do Espírito Santo e, por conseguinte, necessários à salvação espiritual, ao bem-estar e ao desenvolvimento do homem. Para os sacramentalistas, os sacramentos podem transmitir graça até mesmo quando não são acompanhados pela fé, como nos casos do batismo infantil e da extrema unção. Os sacramentos da Igreja Católica são sete: batismo, confirmação, eucaristia, penitência, casamento, ordenação e extrema unção. Entretanto, estes sete sacramentos só foram decretados pela igreja romana no ano de 1439. Até então, somente o batismo e a Ceia do Senhor eram observados pelos Pais da igreja, e estes dois são os únicos que se acham claramente ordenados por Jesus na Bíblia Sagrada.

A maioria dos grupos protestantes concordam entre si que Jesus deixou à Igreja duas observâncias ou ritos a serem incorporados no culto cristão, a saber: o batismo nas águas e a Ceia do Senhor.

O termo ordenança, do latim ordo, significa “uma fileira”, “uma ordem”, e quando relacionada ao batismo nas águas e à Ceia do Senhor, sugere que essas cerimônias foram instituídas por mandamento ou ordem de Cristo. O Senhor quis que elas fossem observadas na Igreja, não porque transmitem algum poder místico ou graça salvífica, como ensina o sacramentalismo, mas porque simbolizam o que já aconteceu na vida de quem aceitou a obra salvífica de Cristo, conforme destaca o teólogo Henry Orton Wiley. Não há, portanto, nenhum poder salvífico na realização mecânica desses atos, pois o recebimento da bênção divina depende do estado do coração.

Conquanto as ordenanças não envolvam eficácia que vá além de qualquer forma externa de adoração, vida e serviços cristãos, é importante ressaltar que os momentos do batismo em águas e da Ceia do Senhor são momentos muito especiais, em que a presença de Cristo é mais evidente, onde os crentes desfrutam de uma comunhão mais íntima com o Senhor. Entretanto, isso não significa que sejam meios de salvação ou de graça especial, sendo, portanto, “ordenança” o termo preferível a ser usado. Ordenança, portanto, é um rito simbólico que põe em destaque as verdades centrais da fé cristã.

O batismo nas águas é o rito do ingresso na igreja cristã e simboliza o começo da vida espiritual. A Ceia do Senhor, por seu turno, é o rito de comunhão e significa a continuação da vida espiritual. O primeiro está relacionado à fé em Cristo, enquanto que o segundo está intimamente ligado à comunhão com Cristo. O batismo nas águas é administrado somente uma vez, porque pode haver apenas um começo da vida espiritual; ao passo que a Ceia do Senhor é celebrada frequentemente, ensinando que a vida espiritual deve ser alimentada.

Como enfatiza Strong, o Batismo e a Ceia do Senhor são ritos que se tornaram ordenanças por ordem específica de nosso Senhor Jesus Cristo. Essas duas cerimônias instituídas ou ordenadas pelo Senhor devem ser compreendidas como ocasiões memoriais.

O batismo em águas

O termo “ batismo” é uma transliteração do substantivo grego baptizo, que significa “imergir” ou “submergir”, conforme utilizado no Novo Testamento e na Septuaginta.

O fato de baptizo significar geralmente “mergulhar” é corroborado pelo uso das preposições gregas “em” e “para dentro”, preposições estas usadas com a palavra baptizo.

A história da Igreja dá apoio inconteste ao batismo por imersão. Este era o modo do batismo de João e do batismo da Igreja Primitiva. O sétimo capítulo do Didaquê, livro escrito aproximadamente na virada do primeiro para o segundo século, dá instruções sobre o batismo que deve ser por imersão, em nome da Trindade, depois do ensinamento do catecismo. Somente a partir do segundo século é que começam a surgir práticas isoladas diferentes da prática inicial: começam a surgir o batismo por aspersão, o batismo por efusão e o batismo infantil. Aqueles que batizam por aspersão o fazem borrifando ou chuviscando a água sobre o batizando. Na efusão, a água é derramada sobre a cabeça do batizando. Na imersão, a pessoa é totalmente mergulhada em água. Embora essa ação possa parecer extremamente simples, faz muito sentido. Consiste em entrar dentro ou debaixo da água batismal em nome da Trindade.

Como já vimos, o batismo por imersão era a prática original. Mesmo os reformadores concordavam que a imersão ressaltava melhor o significado do batismo como morte e ressurreição. Os anabatistas, por sua vez, eram assim chamados porque eles batizavam apenas aqueles que se decidiam para Cristo na idade adulta, por isso eles rebatizavam todos os seus prosélitos que já tivessem sido batizados quando crianças, pois criam que o verdadeiro batismo só tem valor quando as pessoas se convertem conscientemente a Cristo. Logo, os anabatistas desconsideravam tanto o batismo católico quanto o batismo dos protestantes luteranos, reformados e anglicanos.

Embora alguns grupos cristãos batizem apenas “em nome de Jesus”, a fé cristã ortodoxa é trinitariana, ou seja, está firmada na crença na santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo; e é sob a invocação da Trindade que o cristão deve ser batizado, conforme o próprio Jesus ensinou em Mateus 28.19. Ademais, como ressalta o Dicionário Vine, “a expressão em Mateus 28.19, ‘batizando-as em nome’ (cf. At 8.16), indicaria que a pessoa ‘batizada’ ficou estreitamente relacionada ou tornou-se propriedade daquele em cujo nome foi ‘batizada’”.

Significado do batismo

O batismo em águas simboliza o começo da vida espiritual. Trata-se de uma declaração pública de nossa identificação com Jesus, em sua morte e ressurreição, que tornou possível a nova vida que temos nEle.

Sobre isso, lemos em Romanos 6.1-4: “Que diremos pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou não sabeis que todos quantos fomos batizados em Jesus Cristo fomos batizados na sua morte? De sorte que fomos sepultados com ele pelo batismo na morte; para que, como Cristo ressuscitou dos mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida”.

Um propósito importante do batismo em águas para os crentes é que ele simboliza a identificação com Cristo. Indica que o crente morreu para o velho modo de viver e entrou em novidade de vida mediante a redenção em Cristo. O batismo é considerado como algo necessário para que alguém se torne membro de uma igreja local, como consequência de sua inserção na Igreja universal e mística. Seria, portanto, um rito de iniciação no discipulado cristão, expresso mediante a comunhão com a igreja local. O batismo é um ato de obediência à ordem de Cristo para que fôssemos batizados, bem como uma declaração do intuito de sermos Seus discípulos (Mateus 28.18).

A ordem de Jesus de batizar, dada na Grande Comissão, é a base prática do batismo pela Igreja: “E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra. Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; Ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos. Amém” (Mateus 28.18-20).

O batismo cristão é ministrado da perspectiva da redenção obtida pela morte, ressurreição e ascensão de Cristo à glória, à Sua autoridade à destra de Deus. Jesus estabeleceu o modelo para o batismo cristão quando Ele mesmo foi batizado por João no início de Seu ministério público (Mateus 3.13-17). Posteriormente, Ele ordenou que Seus seguidores saíssem pelo mundo fazendo discípulos, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo (Mateus 28.19). O Senhor Jesus instituiu a ordenança do batismo, tanto pelo exemplo quanto pelo Seu mandamento.

Essa ordenança também significa que os crentes se identificam com o Corpo de Cristo, que é a Igreja, através do testemunho público de Sua lealdade a Cristo, juntamente com o povo de Deus.

Julgo oportuno voltar à Declaração de Fé da nossa denominação, quando diz que batismo não é sinônimo de regeneração. O batismo não é salvação. Somos salvos pela graça mediante a fé (Efésios 2.8,9). O perdão dos pecados está em conexão com o arrependimento que precede o batismo. A frase “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados” (Atos 2.38) é muitas vezes interpretada erroneamente, como essencial ao perdão, como fazem as principais seitas unicistas. No sermão seguinte, o apóstolo Pedro nem sequer menciona o batismo; a ênfase é dada ao arrependimento, à conversão e à aceitação de Cristo: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos de refrigério pela presença do Senhor. E envie ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado” (Atos 3.19,20).

O contexto bíblico mostra que o batismo não salva: “Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Marcos 16.16). Não há menção de batismo na segunda cláusula; isso mostra que a simples falta de fé leva à condenação, e não à falta de batismo. Nós fomos batizados porque já somos salvos e não para sermos salvos. João Batista só batizava quem manifestava “frutos dignos de arrependimento” (Mateus 3.9; Lucas 3.8). Os primeiros candidatos ao batismo recebiam antes a palavra e depois se submetiam ao batismo: “De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três mil almas” (Atos 2.41). Assim sendo, é possível uma salvação sem batismo, como aconteceu com o malfeitor crucificado ao lado do Senhor Jesus – ele arrependeu-se e não teve tempo para ser batizado (Lucas 23.43).

Em suma, o batismo é uma ordenança divina; é, em si, um ato de compromisso e profissão de fé; é um ato público em confirmação daquilo que já possuímos – a salvação pela fé em Jesus.

Por que somos batizados em águas?

Embora ninguém perca a salvação por não ter se batizado nas águas, fato é que a experiência do batismo está ordenada para todos os salvos.

As duas ordenanças cerimoniais que Cristo deixou para Sua Igreja foram apenas estas: batizar nas águas (Mateus 28.19) e cear em sua memória (Lucas 22.19,20). Não há nenhum crente no Novo Testamento que não tenha desejado o batismo nas águas. Até mesmo Jesus, sendo Filho de Deus encarnado, julgou que devia batizar-se para cumprir toda a justiça de Deus (Mateus 3.13-15). No batismo, nos identificamos com a morte e ressurreição de Cristo, além de declararmos publicamente estarmos ligados ao Cristo vivo, ao Cristianismo histórico e à Igreja do Senhor, que é universal e espiritual, e que celebra esse ritual cristão em todo mundo e em todas as épocas. Afinal, esta é a vontade de Deus, que todo aquele que crê seja batizado (Marcos 16.16).

O batismo em águas, enfatizemos, foi ordenado aos crentes (Mateus 28.19). Ninguém põe isso em dúvida. Jesus ordenou que Seus discípulos fizessem discípulos e os batizassem. E nunca os ensinou a batizarem infantes ou não convertidos.

O texto de Atos 2.38 nos mostra que o batismo em águas seguiu-se à pregação e à conversão dos ouvintes. A maioria das pessoas batizadas havia recebido a circuncisão, mas isso nem foi levado em consideração. Se o batismo equivale à circuncisão, por que o batismo foi aplicado a circuncisos? Lemos que o eunuco etíope desejou ser batizado e recebeu essa bênção com base em sua fé em Cristo, após ouvir a exposição do evangelho por parte de Filipe (Atos 8.36ss).

A teologia do batismo encontra-se em Romanos 6.3,4. É nesses trechos que chegamos a entender o sentido básico desse rito. O batismo simboliza a identificação com Cristo, em sua morte e ressurreição. Logo, o batismo só pode ser aplicado a quem já foi convertido.

Qualquer pessoa que se dê ao trabalho de examinar um léxico grego descobrirá que a palavra traduzida por “batismo” denota imersão ou, pelo menos, o uso de grande quantidade de água, do qual obtemos outros sentidos como “avassalar”, “ensopar” etc. Tentar ignorar a palavra baptizo de seu sentido básico, que é “imergir”, é ridículo, uma violência à língua e à história do termo. A maioria dos eruditos admite isso, mesmo quando não são membros de denominações evangélicas que batizam por imersão.

Batismo e banhos judaicos

A Lei mosaica enfatizava a necessidade de o povo de Deus ser limpo em sentido espiritual e físico. Os israelitas estavam sujeitos a várias formas de impureza das quais tinham de se purificar por banharem o corpo e lavarem as roupas (Levítico 11.28; 14.1-9; 15.1-31; Deuteronômio 23.10, 11). Deus é totalmente puro e limpo. Por isso, os sacerdotes e os levitas tinham de lavar as mãos e os pés antes de se aproximarem de Seu altar, sob pena de morte (Êxodo 30.17-21).

Jesus criticou os fariseus por exagerarem nos rituais de limpeza. Eles obviamente praticavam “vários batismos”, incluindo o “de copos, de jarros e de vasos de cobre”. Jesus disse que os fariseus atropelavam os mandamentos de Deus para impor suas próprias tradições (Hebreus 9.10; Marcos 7.1-9; Levítico 11.32,33; Lucas 11.38-42).

Diante dessas tradições, muitos pensam que o banho ritual judaico deu origem ao batismo cristão. A Bíblia Sagrada, a inerrante Palavra de Deus, mostra que banhos rituais judaicos não deram origem ao batismo cristão. Os judeus realizavam rituais de limpeza em si mesmos. O batismo que João realizava, por exemplo, que não era o mesmo que o batismo cristão, não era o tipo de banho ritual que os judeus conheciam. O fato de João ter ficado conhecido como Batista (ou Batizador) indica que o ato de imersão realizado por ele era diferente. Os líderes religiosos judeus até mesmo enviaram uma delegação para perguntar-lhe: “Por que batizas?” (João 1.25).

A limpeza exigida pela Lei mosaica tinha de repetir-se sempre que o adorador se tornasse impuro. Isso não acontecia com o batismo que João realizava nem com o praticado mais tarde pelos cristãos. O batismo de João indicava arrependimento e rejeição do anterior modo de vida. O batismo cristão simboliza o fato de que a pessoa se dedicou a Deus. Ela faz isso uma vez, e não repetidamente.

Os banhos ritualísticos realizados nas casas dos sacerdotes judeus e nas piscinas públicas próximas ao monte do Templo só superficialmente se assemelhavam ao batismo cristão. O batismo cristão representa “a solicitação de uma boa consciência, feita a Deus” (1 Pedro 3.21). Simboliza que uma pessoa se dedicou totalmente a Deus para servi-lO como discípulo de Seu Filho. A completa imersão em água é um símbolo apropriado de tal dedicação. Ela representa que a pessoa morre para seu anterior modo de vida. Ser erguido da água simboliza reviver para fazer a vontade de Deus.

O batismo de João Batista

Alguns supõem que João Batista fazia parte do grupo dos essênios. Sabe-se que os essênios consideravam apóstata o resto do judaísmo. João apareceu em cena como o novo Elias, para chamar um remanescente fiel. Ele os chamava ao arrependimento e à renovação espiritual; pregava que em breve viria o Reino de Deus e a necessidade de os homens prepararem-se para o mesmo (Mateus 3.1ss). João também surgiu em cena como o precursor do Messias, cônscio de que teria de haver um novo movimento religioso para a missão do Messias tivesse de alcançar bom êxito. O arrependimento era atitude necessária, e era simbolizado pelo batismo em água. Não há dúvida de que João Batista imitava o batismo judaico de prosélitos, que requeria imersão em água, representando a purificação da anterior vida pecaminosa. Enquanto a pessoa imergia na água, trechos da Lei eram lidos, dando a entender que ele tencionava fazer da lei o guia da nova vida na qual a pessoa estava entrando.

Como já mencionamos, o batismo de João, estritamente falando, não era cristão. O batismo cristão simboliza principalmente a nossa união com Cristo, em sua morte e ressurreição (Romanos 6.3,4). Os motivos pelos quais João batizava nada tinham a ver com as razões dos judeus, porque ele estava iniciando um novo movimento religioso, que eventualmente proveu o núcleo para a emergente Igreja cristã. João tratava os judeus como se fossem pagãos, requerendo um batismo condicionado à conversão, a um novo caminho. João impunha esse tipo de batismo para reforçar sua mensagem de que a verdadeira espiritualidade não depende do legalismo e nem da identificação com alguma nacionalidade. João censurava os fariseus por dependerem de sua nacionalidade, como garantia da salvação (Mateus 3.8,9; Lucas 3.7,8). Por igual modo, o batismo cristão, sem importar o grupo cristão que o esteja administrando, se for considerado como institucional, não se revestirá de qualquer valor, pois esse valor depende da espiritualidade autêntica.

Contudo, o movimento de João Batista não era apenas o rompimento com um antigo sistema. Também era um palco onde teria início um novo sistema, fundamentado sobre Jesus Cristo. Sem dúvida, João tinha consciência de que algo de extraordinário estava acontecendo e que um povo especial precisava ser preparado para isso. João predisse o aparecimento de Alguém que viria após ele, que batizaria no fogo, e não na água; e assim antecipou um notável avanço no plano de Deus (Mateus 3.11; João 1.26). Podemos estar certos de que a maioria dos discípulos de João não foi rebatizada quando começaram a seguir a Cristo, mas aqueles que não tinham tomado conhecimento da vinda do Messias e da Sua obra foram rebatizados como uma instrução no verdadeiro discipulado cristão, conforme se vê em Atos 19.1-7.

A fórmula batismal

Quando observamos a ordem expressa de Jesus para batizar, observamos claramente a forma como Jesus mandou que fosse o batismo daqueles que abraçassem a fé, vejamos: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:19). A ordem de Jesus é clara e todos concordam que não há margem alguma para interpretações.

Na Declaração de Fé das Assembleias de Deus, item 2, assim está escrito: “A fórmula batismal. A ordem dada por Jesus foi de batizar ‘em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo’ (Mateus 28.19). Cremos e praticamos a fórmula que ele mesmo ordenou. Uma ordem dada por Jesus deve ser cumprida. Sobre a expressão que aparece quatro vezes no Novo Testamento: ‘em nome de Jesus Cristo’ (Atos 2.38), ‘em nome do Senhor Jesus’ (Atos 8.16; 19.5) e ‘em nome do Senhor’ (Atos 10.48), significa somente que o batismo é realizado na autoridade do nome de Jesus”.

Logo após o discurso de Pedro no Dia de Pentecostes, os ouvintes, compungidos em seus corações, perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: “Que faremos, varões irmãos?”. Então Pedro respondeu-lhes, dizendo: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2.37,38).

Quando Pedro diz que “seja batizado em nome de Jesus Cristo”, não estava ao lado da água fazendo naquele momento o batismo daqueles que entregaram suas vidas a Jesus. Na realidade, Pedro estava de forma resumida respondendo à pergunta daquelas pessoas. O apóstolo focou sua resposta na pessoa de Jesus, pois o sermão que ele havia pregado foi centrado na pessoa e ministério de Jesus Cristo. Logo, Pedro de forma alguma estava batizando aquelas pessoas somente em nome de Jesus ou orientando seus batismos de uma forma diferente da que Jesus havia orientado em Mateus 28.19.

Situação análoga, ocorreu em Atos 10.48, quando Pedro “ordenou que fossem batizados em nome do Senhor”. Então, lhe pediram que permanecesse com eles por alguns dias”. Nessa oportunidade, Pedro estava pregando a um grupo de gentios, na Casa do Centurião Cornélio, sobre Jesus e Seu ministério. Da mesma forma, Pedro não estava à beira da água realizando o batismo deles, mas usando da autoridade do nome de Jesus para ordenar que procedessem o batismo daqueles que ali estavam e haviam crido em Jesus Cristo.

Dessa forma, fica claro que não existe na Bíblia qualquer conflito a respeito da fórmula de batizar. O modo é aquele que Jesus ensinou, ou seja, o batismo deve ser realizado em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Isso evidencia a doutrina da Trindade divina, ou seja, aqueles que são batizados o são em nome do Pai, pois têm Deus como seu Pai; em nome do Filho, pois recebem todos os benefícios do ato redentor do Filho; e em nome do Espírito Santo, porque recebem o poder e a presença do Espírito, que concedem e sustentam a vida. O batismo cristão, por seu turno, está fundamentado sobre essa instituição.

A literatura da Igreja Primitiva, tanto no primeiro como no segundo séculos, testemunha claramente que a Igreja sempre manteve a ordenança de Jesus em Mateus 28.19, batizando “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Um dos exemplos clássicos é o Didaquê, também chamado de “O Ensino dos Doze Apóstolos”, escrito em torno do ano 110 d.C., que afirma categoricamente que a Igreja Cristã deveria batizar “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”, comprovando que a prática cristã era feita conforme a ordem de Cristo em Mateus 28.19.

O batismo de crianças

É óbvio ululante que o batismo de crianças não é ensinado na Bíblia Sagrada, em nenhuma parte dela. O próprio Louis Berkhof, teólogo sistemático reformado, cujas obras têm sido muito influentes na teologia calvinista da América do Norte e da América Latina, um defensor da prática do batismo infantil, reconhece que a Bíblia não ensina sobre isso. Os teólogos católicos, defensores do batismo infantil, afirmam que as crianças devem ser batizadas para serem salvas. Mas, vejamos a posição teológica das Assembleias de Deus, na Declaração de Fé, item 4:

“Não aceitamos nem praticamos o batismo infantil por não haver exemplo de batismo de crianças nas Escrituras e por não ser o batismo um meio da graça salvadora, ou sinal e sela da aliança, que substitui a circuncisão dos israelitas. Também por não ser possível à criança ter consciência de pecado, condição necessária para que ocorra arrependimento. As crianças, em estado pueril, não preenchem esses requisitos. Sobre a circuncisão, o pensamento cristão bíblico é: ‘em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura’ (Gálatas 6.15). Cremos e ensinamos que o batismo é apenas para os que primeiramente se arrependem dos seus pecados e creem em Jesus, sendo também necessário pedir para ser batizado: ‘Eis aqui água; que me impede que eu seja batizado? E disse Filipe: É lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou’ (Atos 8.36-38). Assim, os candidatos ao batismo precisam exercer o arrependimento e a fé. O Novo Testamento mostra o batismo posterior à fé. Isso é visto no dia de Pentecostes e na campanha evangelística de Filipe em Samaria: ‘como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres’ (Atos 8.12). Esses fatos não deixam margem para o batismo infantil”.

O batismo de Jesus

No verbete “Batismo de Jesus”, na Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã (Vida Nova), encontramos uma sucinta análise do relato do batismo de Cristo:

“O batismo de Jesus realizado por João Batista é narrado com detalhes em Mateus (3.13-17), contado de modo mais breve em Marcos (1.9-11), simplesmente mencionado em Lucas (3.21-22), e não registrado, embora provavelmente pressuposto, em João (1.29-34). Em todos os quatro relatos, a unção de Jesus com o Espírito e a declaração da Sua filiação estão diretamente ligadas com o batismo. Marcos e Lucas contam-nos somente que Jesus foi batizado no Jordão por João, mas Mateus acrescenta que João Batista estava hesitante e que sentia que não era digno. Jesus, porém, insiste na obediência da chamada de Deus para ‘cumprir toda a justiça’”.

“Marcos sugere que Jesus foi batizado durante o ministério de João a todo o povo, ao passo que a estrutura do texto em Lucas indica que o batismo de Jesus feito por João foi o ponto culminante (‘E aconteceu que, ao ser todo o povo batizado, também o foi Jesus’) do ministério de João. O Quarto Evangelista diz somente que João viu a Jesus vindo para ele, e então seguem-se certas declarações cristológicas feitas por João”.

“A característica fundamental de todas as narrativas é que Jesus, na ocasião do Seu batismo, é ungido com o Espírito (Mateus 3.16; Marcos 1.10; Lucas 3.22; João 1.32). É esta unção com o Espírito que inaugura o ministério de Jesus, caracterizado nos Evangelhos Sinóticos pelo poder do Espírito da nova era (Mateus 12.18,28; Lucas 4.18; 11.20; cf. Atos 10.38)”.

“Deve ser notado que a vinda do Espírito sobre Jesus não é o batismo do Espírito que foi prometido, porque o próprio Jesus é Aquele que batizará. Além disso, o batismo no Espírito é um batismo de julgamento e de graça. A experiência do Espírito que Jesus teve no batismo é um revestimento que estabelece o caráter messiânico do Seu ministério. Isto é notado na voz do céu: ‘Tu és meu Filho, Meu Amado’ (ou: ‘escolhido’). O modo de Jesus entender Sua filiação com o Pai subjaz Seu ofício messiânico. A alusão veterotestamentária pode ser Isaías 42.1 ou Salmos 2.7, ou talvez os dois trechos. Relevância especial deve ser vista no fato de que Jesus Se submeteu ao batismo de João, que era um batismo de arrependimento para o perdão dos pecados. João chamou um povo pecaminoso que é justo aos seus próprios olhos para voltar-se rapidamente antes de descer o juízo iminente. ‘Já está posto o machado à raiz das árvores’”.

O batismo de Jesus feito por João foi extremamente significativo para o Seu ministério. Ele o identificou com as preocupações de João com a justiça (Mateus 3.15), ao mesmo tempo em que demonstrava sua solidariedade com a humanidade em pecado, a quem viera servir (2 Coríntios 5.21; Filipenses 2.7).

A descida do Espírito Santo em forma de pomba e a voz do céu – as palavras de aceitação do Pai que acompanharam o batismo de Jesus – representaram a aprovação de Deus do ministério que se seguiria, assinalando aquele momento como o início da obra de salvação de Deus por meio de Seu Filho Jesus e como a promessa da vinda do Reino de Deus à terra.

O batismo é um símbolo de nossa submissão a Jesus Cristo pela fé nEle como nosso Salvador pessoal. Ser submergido na água simboliza a morte do nosso antigo “eu”; levantar-se da água significa a nova vida concedida pelo Jesus ressurreto. Ao entrarmos na família de Deus pelo mesmo caminho, pela fé, somos unidos uns aos outros.

Para reflexão

A maioria da igreja, no afã de cumprir a Grande Comissão, tem procurado utilizar todas as estratégias possíveis de evangelização, principalmente através de cultos e cruzadas evangelísticas, sempre com o objetivo de ganhar almas para o Reino de Deus. Todavia, grande parte daqueles que se decidem a Cristo acabam abandonando a igreja, desistindo da fé, antes mesmo de serem batizadas nas águas e se tornarem membros em comunhão com a igreja. De cada 100 (cem) pessoas que aceitam Jesus, somente 10% são batizadas.

Na Parábola do Semeador (Mateus 13.1-23), Jesus mostra claramente, os motivos pelos quais uma pessoa pode ser levada a desistir da fé que foi semeada em seu coração. Fica claro que não basta, tão somente, semear a Palavra, mas é necessário também cuidar da semente germinada para que ela frutifique.

Se o novo convertido, desde o momento de sua conversão a Cristo, for bem acolhido, bem cuidado, bem instruído na Palavra, aprendendo a amar a casa do Senhor e a crescer na fé, dificilmente abandonará o Evangelho.

Portanto, urge voltar o nosso olhar pastoral, com mais atenção, a fim de cuidarmos melhor da integração dos neoconversos, para que tomem a decisão de se batizarem com plena convicção, firmando suas raízes em Cristo, para que cresçam espiritualmente, tornando-se crentes frutíferos na Seara do Senhor. Para tanto, é necessário que cada igreja se conscientize da importância do Discipulado, a começar da escolha de ensinadores preparados espiritual e biblicamente, conforme orienta o apóstolo Paulo: “E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fieis e também idôneos para instruir a outros” (2 Timóteo 2.2).

Referências bibliográficas

MENZIES, William e HORTON, Stanley M. Doutrinas Bíblicas – Uma perspectiva pentecostal, CPAD.

HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática – Uma perspectiva pentecostal, CPAD.

Manual Bíblico (Vida Nova)

PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia, Editora Vida.

O Novo Dicionário da Bíblia, volume I (Vida Nova).

Declaração de Fé das Assembleias de Deus (CPAD).

ROSAS, Tiago. Batismo nas águas: o que é e para que serve? (www.gospelprime.com.br/batismo-nas-aguas-o-que-e-e-para-que-serve).

CHAMPLIN, Russell Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, volume 1, Editora Hagnos (pp. 457-463).

BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática, Editora Luz para o Caminho.

DORETO, Marli. Manual de Integração do Novo Convertido, CPAD.

CARLESSO, Joary Jossué. A Importância do Discipulado (www.discipuladojoinville.com.br).

por Wagner Tadeu dos Santos Gaby

Compartilhe este artigo. Obrigado.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem