Benny Hinn, maior ícone do movimento, renuncia-o e diz que seu ensino “prejudicou muitas pessoas” e “O Espírito Santo está farto disso!”
“O Espírito Santo está farto disso!”. Foi com essas palavras que o controverso evangelista norte-americano Benny Hinn, o maior defensor da Teologia da Prosperidade no mundo, anunciou, em ministração em sua igreja em 2 de setembro, com transmissão ao vivo para milhares de pessoas via Facebook Live, que estava renunciado totalmente à Teologia da Prosperidade. Rapidamente, o assunto ganhou as manchetes dos principais sites evangélicos do mundo.
O Evangelho da Prosperidade, como é conhecido nos Estados Unidos
(no Brasil, popularizou-se com o nome de “Teologia da Prosperidade”), consiste,
em linhas gerais, na crença de que todo crente tem direito sempre às bênçãos da
saúde e da riqueza, as quais podem ser obtidas através de confissões positivas
de fé e da “semeadura de sementes de fé” através do pagamento fiel dos dízimos
e de ofertas específicas.
No referido evento, Hinn, que até então se mostrava
totalmente fechado às críticas, declarou: “Lamento dizer que a prosperidade ficou
um pouco louca e estou corrigindo minha própria teologia e todos vocês precisam
saber disso. As bênçãos de Deus não estão à venda. E milagres não estão à
venda. E prosperidade não está à venda. Quando eu leio a Bíblia agora, não a
vejo com os mesmos olhos que via há 20 anos. Acho que é uma ofensa ao Senhor, é uma ofensa dizer ‘Dê mil dólares’. Eu
acho que é uma ofensa ao Espírito Santo colocar um preço no Evangelho. Para
mim, chega. Nunca mais vou pedir para você dar mil dólares ou qualquer quantia,
porque acho que o Espírito Santo está farto disso”.
“Você me ouviu?”, insistiu Hinn enquanto sua audiência reagia
com alegria. “Acho que isso prejudica o Evangelho, por isso estou fazendo essa
afirmação pela primeira vez na minha vida e, francamente, não me importo mais
com o que as pessoas pensam de mim. Quando eles me convidarem para os teletons,
acho que não vão mais gostar de mim. Porque, quando você olha para a Palavra de
Deus... Se eu ouvir mais uma vez ‘Ajude-nos com mil dólares”, vou
repreendê-los. Eu acho que estão comprando o Evangelho. Isso é comprar a bênção.
Isso está entristecendo o Espírito Santo... Se você não está dando porque ama a
Jesus, não se incomode em dar. Acho que dar se tornou um truque e esse truque
está fazendo meu estômago passar mal”, afirmou Benny Hinn.
A declaração de Hinn ocorre dois meses apenas depois que seu
sobrinho, pastor Costi Hinn, revelou em seu novo livro God, Greed, and the
(Prosperity) Gospel: How Truth Overwhelms a Life Built on Lies (“Deus, Ganância
e o Evangelho [da Prosperidade]: Como a verdade supera uma vida construída com
mentiras”), como sua família explorou milhões ao redor o mundo com a Teologia
da Prosperidade, trocando supostos milagres por dinheiro, em um caso clássico
de simonia (nome dado à prática de comprar bênçãos, que recebe esse nome em
referência à atitude similar de Simão, o Mago, registrada em Atos 8.18-23).
Novo entendimento sobre “não ter em falta
”Benny Hinn, que está agora com 67 anos, afirmou que, à
medida que envelhecia e passava a entender mais a Bíblia, percebeu que algumas
das coisas que aprendeu com os pregadores quando estava crescendo na fé não são
bíblicas, incluindo a Teologia da Prosperidade. “Quanto mais você conhece a Bíblia,
mais se torna biblicamente baseado e mais equilibrado em suas opiniões e
pensamentos, porque somos influenciados”, disse Hinn.
“Quando eu era mais jovem, fui influenciado pelos pregadores
que ensinavam todas essas coisas. Mas, como vivi mais, estava pensando e...
Espere um minuto! Você sabe que isso não se encaixa totalmente na Bíblia e não
se encaixa com a realidade. Então, o que é a prosperidade? Não sentir falta. Eu
já disse isso antes”, declarou Hinn. Em seguida, ele explicou o que ele entende
agora como sendo “não ter em falta”: “Elias, o profeta, tinha carro? Não. Nem
sequer tinha uma bicicleta. Mas ele não sentia falta. Jesus dirigia um carro ou
morava em uma mansão? Não. Ele não sentia falta. E os apóstolos? Nenhum deles
sentia falta”, disse Hinn. “Hoje, porém, a ideia de ‘sem falta’ é abundância e
casas palacianas, carros e contas bancárias. O foco está errado... Tão
errado!”.
Hinn confessou, inclusive, que apesar de ter sido acusado de
viver nababescamente e pilotar jatos particulares no passado, não é mais assim
que ele vive hoje. “Quero dizer, me perdoem! Por outro lado, as pessoas me
acusaram de coisas que nem são reais. Um cara escreveu um comentário, dizendo:
‘Oh, ele vale 40 milhões de dólares!’. Oh, como eu desejaria! Eu daria todo esse valor ao Reino de
Deus, diante de Deus Todo-Poderoso! ‘Bem, ele voa em jatos particulares’,
dizem. Não, não sei nada disso. Querido Deus, não tenho voado em jato particular
há anos. Faço viagens comerciais como qualquer outra pessoa”.
“Esse ensino prejudicou muitas pessoas”
Em 7 de setembro, em sua primeira entrevista na TV desde que
renunciou publicamente à Teologia da Prosperidade, Benny Hinn reforçou sua nova
posição, admitindo que seus ensinamentos sobre a prosperidade “ficaram fora de
controle” e “prejudicaram muitas pessoas” e afirmou que dedicaria os últimos
anos de seu ministério no evangelismo, e não na “teologia da saúde e riqueza”.
Em entrevista ao apresentador David Diga Hernandez, da Encounter
TV, Hinn contou que quando ingressou no ministério aos 21 anos, seu objetivo
era compartilhar o Evangelho. Porém, logo que ganhou popularidade nos anos 90 com
milagres e curas, ele se “distraiu”, perdeu o foco, por isso, agora, aos 67
anos, vai concentrar os últimos anos de seu ministério “na mensagem da
salvação, apontando as pessoas para o Senhor que eu amo”.
“Quanto tempo tenho ainda nesta terra? O que vou fazer nos próximos
vinte anos? Isso é para eu decidir. Quero ter certeza de que, nos próximos 15 a
20 anos da minha vida, minha mensagem seja a cruz. O verdadeiro apelo da minha
vida. Eu quero ser conhecido por isso. Não quero ser conhecido como mestre da
prosperidade. Prosperidade é uma coisa na Bíblia, há muito mais na Palavra de
Deus do que prosperidade, mas tornou-se uma questão importante agora por causa
dos artifícios envolvidos nela. Isso precisa parar”.
Na entrevista, Hinn afirma que estava perturbado nos últimos
anos principalmente com a prática de solicitar um “dinheiro inicial”, uma
quantia específica, em troca de bênçãos.
“O que começou a ser preocupante pra mim é a menção de quantias
relacionadas a alguma bênção que deveria vir a você apenas porque você deu
aquele valor. Ficou fora de controle. ‘Dê mil dólares para conseguir o que quer
cem vezes’. Eu mesmo disse essas coisas enquanto meu coração estava dizendo
diferente. E se esses cem nunca virem? O que isso faz com a fé deles? O que
isso faz com o futuro dele e o futuro dela? E então, se não vier, a vida será
prejudicada. Pessoas me procuravam e diziam ‘Por favor, não diga de novo, não está
funcionando na minha vida’. Às vezes, você ignora; outras vezes, simplesmente
não sabe o que dizer ou fazer. Esse ensino prejudicou muitas pessoas”.
Ainda na mesma entrevista, Hinn confessou que esse processo em
seu coração começou há dois anos: “Isso já dura dois anos, talvez mais. O
Senhor está lidando comigo pessoalmente e não se trata apenas do ensino da
prosperidade; de fato, a prosperidade era um pequeno problema na minha lista de
coisas que eu queria ver mudadas em meu próprio coração. Hoje, quando olho para
a Bíblia, não a vejo da mesma maneira que vi quando comecei. Estou entrando na
Bíblia muito mais do que a maioria das pessoas imagina. Isso não aconteceu na
semana passada. Eu simplesmente não sabia na época como dizer. Como apresento?
Como eu falo sobre isso? Como eu falo com o povo de Deus sobre o que está
acontecendo na minha vida?”.
Hinn afirma que ele “não é o Benny Hinn” conhecido por
pregar a Teologia da Prosperidade e que, no começo de sua mudança, preferiu manter
suas crenças para si mesmo porque não queria “causar confusão” ou “magoar” seus
amigos. “O que foi dito há alguns dias atrás [em de setembro] eu já disse antes, mas ninguém parecia ouvir.
Pensei: ‘Talvez eles não se importem, talvez não queiram saber, talvez eu não tenha
a plataforma que acho que tenho’. Então eu renunciei”.
Sobre os relatos de que teria um patrimônio líquido de ° milhões e vários jatos particulares, afirmou: “Se eu tivesse esse
tipo de dinheiro, daria a Deus. É loucura! Isso é ridículo. Nem sei como isso
começou”. Segundo Hinn, tudo agora “será diferente”, apesar de saber que seus ensinamentos
anteriores provavelmente ainda circularão na internet. Porém, disse ele: “Vou
lhe dizer isso: acredito na Bíblia, acredito no que a Bíblia diz de Gênesis ®
até a última página da Bíblia. A prosperidade e as bênçãos de Deus estão na
Bíblia. Mas como a apresentamos? É com isso que tenho que lidar. Como é apresentado?”.
Ao ser perguntado por Hernandez se as pessoas podem dar dinheiro em troca de
bênçãos e cura, Hinn declarou: “Não!”.
“Prosperidade é Deus abençoando seu povo, cuidando dele. Jesus
deixou bem claro que se Deus se importa com os pássaros no ar e os lírios no
campo, Ele se importará conosco. Mas, devemos buscar primeiro o Reino de Deus e
a sua justiça, e todas as coisas que precisamos não apenas virão, mas serão
adicionadas. Isso é prosperidade”, afirmou Benny Hinn.
Esperar para ver
Pastor Costi Hinn, sobrinho de Benny Hinn, disse ao jornal Christian
News que vai aguardar mais um pouco para saber se as declarações de seu tio são
mesmo arrependimento genuíno ou mero remorso, já que tempos atrás Hinn havia
lamentado seus ensinamentos errados e depois retomado seu comportamento.
A precaução de Costi procede, pois, nos anos de 1990, no
auge da fama, Benny Hinn chegou a anunciar o abandono de suas heresias ao se
filiar à Assembleia de Deus dos Estados Unidos. Nessa época, ele, inclusive,
retirou seus ensinos espúrios das reedições seguintes de seus livros. Porém, um
ano depois, voltou a seus ensinos errados, saiu da denominação e republicou
seus livros com as heresias antigas.
Por outro lado, Hinn demonstrou recentemente uma disposição real
de voltar atrás em seus erros. A esposa de Hinn, Suzanne, com quem ele estava
casado desde ® ́± ́ e tem quatro filhos, havia se divorciado dele em 2010,
alegando “diferenças irreconciliáveis”, mas, no ano seguinte, Hinn reatou o relacionamento
com a ex-esposa, confessou publicamente que a culpa pela separação era dele e
se devia ao seu vício em medicamentos prescritos e antidepressivos e à falta de
tempo para a esposa e os filhos por causa de suas agendas; e eles se casaram
novamente em 2012, estando juntos até
hoje.
“O arrependimento genuíno da Bíblia é sempre acompanhado por
ações que provam que realmente é arrependimento. Jesus foi para casa de Zaqueu,
fez uma refeição com ele e mostrou-lhe amor e graça apesar de seu passado e seu
pecado. Zaqueu pulou de alegria, animado para retribuir às pessoas, animado
para fazer o que era preciso para seguir Jesus e mostrar seu genuíno
arrependimento por meio de suas ações. Meu desejo é que a declaração do tio
Benny não seja apenas um remorso público para salvar a imagem ou proteger seu
ministério do declínio, mas, sim, um arrependimento genuíno, mostrando-se
disposto a abandonar tudo se isso significa ganhar a Cristo e o evangelho completo”,
disse Costi em entrevista ao Christian News.
Seja o arrependimento de Hinn sincero ou não (esperamos que seja
sincero), as suas declarações já se constituem um grande golpe no ensino da
Teologia da Prosperidade, tão grande quanto foi para os seguidores da chamada “Bênção
de Toronto” (hoje já no ostracismo) a declaração dada há alguns anos – e que
também foi capa do jornal Mensageiro da Paz à época – de Paul Gowdy, ex-pastor
da Igreja Vineyard em Toronto, de que a tal “Bênção de Toronto”, disseminada
pelo mundo afora por sua igreja, era, na verdade, uma grandíssima farsa.
Há poucos anos, uma pesquisa sobre a Teologia da Prosperidade
nos Estados Unidos, principal centro difusor desse ensino, mostrava que, embora
cerca de dois terços dos crentes que frequentam igrejas naquele país congregam em
igrejas que pregam a Teologia da Prosperidade abertamente ou sutilmente, apenas
®±% dos evangélicos nos EUA se declaravam apoiadores dessa doutrina. Ou seja, mais
de 17% dos evangélicos nos Estados
Unidos já não defendem esse ensino, e o fato de o número de igrejas que pregam
esse ensino sutilmente ser maior do que o número daquelas que o pregam abertamente
já é um indício da perda de força.
Lembrando que as Assembleias de Deus, principal ramo do
Pentecostalismo Clássico no mundo, sempre combateram oficialmente a Teologia da
Prosperidade, a “Bênção de Toronto” e outros modismos neopentecostais.
(Com informações do jornal Christian Post, dos Estados
Unidos)
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