Eutanásia aplicada em animais

Eutanásia aplicada em animais


Sabemos que a Eutanásia aplicada aos seres humanos constitui-se um assassinato, mas o mesmo princípio vale aos animais enfermos? O que a Bíblia fala a respeito?

Nos últimos anos, temos notado o crescimento vertiginoso da criação de animais de estimação no Brasil. Diante deste cenário, muitos cristãos se questionam: “O que devo fazer com um bichinho que esteja sofrendo em vias de morte?”. Esta pergunta pode ser feita de outra forma: é lícito amenizar o sofrimento daqueles seres vivos mediante a prática da eutanásia? Neste artigo, procuraremos responder a esta questão tendo como base os valores expostos nas Escrituras.

Para que nos aproximemos do caso central deste artigo, cabe-nos, primariamente, conceituar eutanásia. Etimologicamente, podemos definir eutanásia a partir da junção de duas palavras gregas: eu (boa) e thanatos (morte), dando a entender que se trata de uma “boa morte” (ERICKSON, 2011). Segundo Henry (2007, p. 286) eutanásia é “o ato de matar uma pessoa que esteja sofrendo de doença incurável e excessivamente dolorosa”. Eutanásia seria, portanto, uma resposta humanista que visa aliviar o sofrimento provocado a uma pessoa (e hoje a animais) em face da morte iminente.

Em segundo lugar, ressaltamos que a preservação da vida humana é matéria central em toda a Bíblia. Esta verdade é destacada a partir do mandamento que diz “Não matarás” (Êxodo 20.3). Além disso, a Bíblia enfatiza tanto a sacralidade da vida humana quanto o poder de Deus sobre ela. Yahweh é o único que pode decidir sobre a vida e a morte dos seres humanos (1 Samuel 2.6). Portanto, não cabe a nós decidir o momento de findar a vida de qualquer pessoa, em quaisquer circunstancias (GEISLER, 2010), de acordo com as Escrituras. Assim, eutanásia ativa ou passiva (não natural) é pecado contra o Senhor (Gênesis 9.6).

Em terceiro lugar, destacamos que a vida humana é biblicamente definida como superior à vida dos animais (GEISLER, 2010, p. 416-418). Esta verdade torna-se explícita a partir da expressão dita pelo próprio Criador: “Façamos o homem a nossa imagem, segundo a nossa semelhança” (Gênesis 1.26). Ao combater o homicídio em Gênesis 9.6, Deus destaca que o homem foi feito à “sua imagem”. O ser humano recebeu do Senhor características únicas e distintas de todos os demais seres vivos (BAPTISTA, 2018), tornando-se a “coroa da criação” (Gênesis 1.28; 1 Coríntios 11.7). Quanto à vida dos animais, as Escrituras não os tratam com a mesma sacralidade destinada à vida dos seres humanos. É permitido e recomendado, por exemplo, o abate de animais tanto para o consumo humano quanto para os ritos religiosos (Gênesis 9.2,3; Levítico 22.26-33). Contudo, notamos a proibição implícita de tratamento cruel contra estes seres criados por Deus, bem como a recomendação para que cuidemos afetuosamente dos animais (Números 22.27-32; Provérbios 12.10). Deste modo, o cristão tem o dever de zelar pela criação divina, evitando ao máximo expor os seres vivos a tratamentos degradantes.

Cônscios das verdades acima expostas, cabe-nos agora apresentar a resposta à questão sobre a prática da eutanásia em animais. Em primeiro lugar, ressaltamos que não há proibições bíblicas de retirar a vida de animais; em segundo lugar, enfatizamos a recomendação escriturística de tratar estes seres vivos com zelo e respeito; por fim, diante da síntese destas duas sentenças, parece-nos não haver qualquer impeditivo bíblico para que concordemos com a recomendação médica de uma possível eutanásia em animais que estejam diante de um sofrimento irreversível. Além disso, no Brasil, há a regulação de tal prática proposta pela Resolução de nº 1.000 de 11 de maio de 2012, expedida pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária, dando o suporte legal para tal ação. Deste modo, a eutanásia aplicada a animais tanto não é pecado de acordo com a Palavra de Deus como não é crime.

Reforçamos que o cristão tem a incumbência divina de ser mordomo da criação de Deus. Devemos amar os animais, zelar pelo seu bem-estar e proporcionar todos os cuidados necessários para que vivam bem. Contudo, tal sentimento não pode se tornar idolatria a estes bichinhos – como temos visto ultimamente. Assim, é preciso estar ciente que a escolha de sacrificar um animal em sofrimento (com suporte médico veterinário) é amparado tanto biblicamente quanto legalmente.

Referências

BAPTISTA, Douglas. Valores cristãos: enfrentando as questões morais de nosso tempo. Rio de Janeiro: CPAD, 2018.

ERICKSON, Millard. Dicionário popular de Teologia. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.

GEISLER, Norman. Ética cristã: opções e questões contemporâneas. 2ª Ed. São Paulo: Vida Nova, 2010.

HENRY, Carl F. H. Dicionário de Ética Cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 28.

por Jefferson J. R. Rodrigues

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