Israel denunciado na Corte Internacional

Israel denunciado na Corte Internacional


Marcadamente triste este primeiro dia de Shevat de ­5784 em Israel, o que corresponde ao nosso 11 de janeiro de 2024. Nele, contrapondo-se a toda uma trajetória de neutralidade na perspectiva do direito internacional, o Brasil, através do presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, e segundo uma rápida comunicação do Itamaraty quebrou uma das principais tradições da diplomacia brasileira, qual seja, a do caminho da conciliação e respeito à existência e coexistência dos povos. Diz o informe: “À luz das flagrantes violações ao direito internacional humanitário, o presidente manifestou seu apoio à iniciativa da África do Sul de acionar a Corte Internacional de Justiça para que determine que Israel cesse imediatamente todos os atos e medidas que possam constituir genocídio ou crimes relacionados nos termos da Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio” (Itamaraty). A nota à imprensa revela a postura do governo diante da ação, iniciada pela África do Sul, diante da Corte Internacional de Justiça, denunciando Israel por crime de genocídio em Gaza.

A acusação ignora alguns importantes aspectos. Em primeiro lugar, o termo genocídio sequer existia até o ano de 1944. Foi um judeu polaco, o advogado Raphael Lemken que o cunhou, na tentativa de descrever a mais sórdida e cruel campanha impetrada contra um povo, da qual os judeus foram vítimas, a saber, a matança operada pelos nazistas e seus cúmplices, no decorrer da Segunda Guerra Mundial. Nada expressava a enormidade dos crimes perpetrados num processo intencional, organizado e industrializado para o extermínio de inocentes. Diante de tal horror, a comunidade das nações decidiu, após a guerra, organizar-se para evitar a repetição de tais ações, estabelecendo as Nações Unidas como um baluarte contra tais crimes. Foi também estabelecida a Convenção para a Prevenção e Punição do Genocídio, em 1948, que definiu o crime como “o assassinato deliberado de um grande número de pessoas de uma determinada nação ou grupo étnico com o objetivo de destruir essa nação ou grupo”. É necessário ressaltar que o crime não pode ser caracterizado por uma ou várias práticas, mesmo que violentas ou recorrentes, mas que a culpabilidade é estabelecida segundo uma determinação mental específica, a prova ‘mens rea’, ou seja, a comprovação da ‘intenção’ do extermínio.

O órgão, estabelecido pela ONU, para julgar as questões apresentadas é o Tribunal Internacional de Justiça, regido pelo Estatuto de Roma. Apesar de Israel ter assinado a Convenção do Genocídio, não assinou o tratado fundador da Corte Internacional, não estando, portanto, sujeita aos seus ditames. As nações que assinam o Estatuto podem apresentar suas queixas, normalmente seguindo um processo que se inicia com a denúncia de crimes de guerra, crimes contra a humanidade (aqueles que chocam a consciência do mundo) e, posteriormente e necessariamente muito bem embasadas, as denúncias de genocídio. A África do Sul, ignorando o processo regular, apresentou sua acusação formal na última quinta-feira, dia 11 de janeiro, o primeiro dia de audiências públicas da Corte Internacional de Justiça, em Haia, pedindo à ONU que ordene o imediato fi m das operações militares israelenses e denunciando o país como genocida. Pouco depois, nosso país manifestou-se em concordância.

As reações ao apoio brasileiro à iniciativa da África do Sul não tardaram. A comunidade judaica no Brasil pronto expressou seu repúdio. Estudiosos das Relações Internacionais lamentaram a precipitação brasileira e organismos internacionais não cessam de criticar nosso posicionamento. A Embaixada Internacional Cristã em Jerusalém, através de seu vice-presidente e porta-voz sênior David R. Parsons declarou: “Quando ondas de terroristas do Hamas se infiltraram a partir de Gaza e começaram a massacrar, torturar, violar, mutilar e raptar israelitas no passado dia ‑ de Outubro, o Presidente Isaac Herzog descreveu-o [o ataque] corretamente como o dia mais negro para o povo judeu desde o Holocausto”. De posse de sua autoridade nacional e exercendo o pleno direito de defesa, Israel contra-atacou, entendendo que não poderia haver uma ação superficial, que apenas adiasse uma próxima investida, mas, que uma vez iniciada a ofensiva, esta deveria demorar o quanto fosse necessário para o desmantelamento de uma estrutura terrorista muito bem montada (porque abundantemente financiada) com a clara intenção de destruir a nação israelense. Rapidamente, porém, a propaganda antissemita transformou os papeis de tal maneira a fazer de Israel, mais uma vez, o vilão dos acontecimentos.

Estudiosos têm definido o atual movimento como uma “inversão do Holocausto”. O entendimento é o de que, em lugar de negar o Holocausto, exaustivamente comprovado, os antissemitas aderiram à postura de distorcer todas as ações contra Israel e contra o povo judeu de uma maneira geral. Mahmoud Abbas, por exemplo, advoga que cerca de 600 mil judeus morreram durante a Segunda Guerra, em lugar dos 6 milhões assassinados, mas que os ‘palestinos’ já teriam passado por ‘cinquenta holocaustos’. Ao invés de negar a proposta nazista de erradicar um povo, os modernos antissemitas relativizam os acontecimentos e deslocam os culpados e os termos marcadamente históricos, para carregar, com eles, a herança dos horrores impostos no passado. Sobre essa base lamacenta de distorções e desconhecimentos, guarnecida por ódio a um povo e ao Deus desse povo, construiu-se a atual acusação infundada de genocídio, com o triste (o termo é chamado à repetição pela ausência de outra forma de expressar nosso lamento) apoio do governo brasileiro.

O ministério Unidos por Israel transformou em oração o ensejo de todos nós, que amamos Israel e que não deixamos de interceder por nossa querida nação brasileira. Faço minhas suas doces palavras, que contrastam tão bem com os discursos de ódio e de mentira que bem podem – livre-nos o Senhor – colocar a nós, brasileiros, na condição daqueles que perdem a oportunidade de abençoar Israel, por quem o Eterno zela continuamente: “Senhor, em humildade nos dirigimos a Ti, buscando Tua presença e orientação em meio a situações desafiadoras. Hoje, erguemos nossos corações em oração pela nação de Israel, que enfrenta uma injustiça perante a comunidade internacional. Que a justiça e o bom senso prevaleçam, evitando prejudicar uma nação que busca a paz em meio a desafios complexos. Senhor, também suplicamos pela sabedoria e discernimento do governo brasileiro diante desse cenário. Que nossas autoridades reconsiderem seu apoio a esta farsa, buscando uma posição justa e equilibrada, alinhada aos princípios de paz e cooperação entre as nações”.

Oremos para que a verdade prevaleça. Clamemos por nossos governantes e não deixemos de expressar nosso amor por Israel, nosso desejo sincero de paz e de vitória sobre toda a iniquidade. Venham dias em que os corações dos mansos se alegrem pelo estabelecimento da justiça na Terra. Que venha o Justo.

por Sara Alice Cavalcanti

Compartilhe este artigo. Obrigado.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem