Formando o caráter dos filhos pela Palavra

Formando o caráter dos filhos pela Palavra


Muitos são os exemplos bíblicos, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, da formação do caráter dos filhos pela Palavra

Segundo os melhores dicionários, o caráter é um conjunto de traços ligados à moral de um indivíduo. Assim sendo, suas ações e atitudes corresponderão à sua índole, natureza e temperamento. As qualidades que constituem o caráter de uma pessoa podem ser boas ou más. A expressão caráter vem do latim character e significa uma marca gravada, sulcada. Portanto, o caráter de alguém, é aquilo que está intrínseco em sua alma e que exterioriza-se mediante palavras e ações. Com a ajuda de Deus, veremos neste artigo o que podemos fazer para, como pais cristãos, contribuir com a formação do caráter dos nossos filhos.

Conforme as Sagradas Escrituras, a Queda de nossos primeiros pais deixou um profundo dano na alma do ser humano. O salmista disse: “Eis que em iniquidade fui formado” (Salmos 51.5). Iniquidade em hebraico é avon e refere-se a uma condição de perversidade, corrupção e depravação, portanto já nascemos com essa carga negativa. Se alguém, mesmo sem conhecer o Evangelho no poder do Espírito Santo, carrega em si algo bom em seu caráter, isso corresponde a uma ação divina chamada “graça comum”, que, generosamente, é dada por Deus a qualquer pessoa que lhe aprouver em qualquer nação ou cultura. Embora não garanta a salvação, essa graça dá beleza ao mundo e refreia o mal inerente à natureza humana. Não fosse essa dispensação bondosa de Deus no coração dos homens, o mundo já teria se autodestruído. Todavia, independente dessa generosidade divina, o projeto de Deus é que, mediante a Palavra de Deus implantada no coração das pessoas, lhes desenvolva paulatinamente o caráter, até que eles cheguem à imagem e estatura de Cristo (Tiago 1.21; Romanos 8.29; Efésios 4.13).

Meios da formação e do desenvolvimento do caráter

O ambiente cultural - Segundo Alfredo Bosi, historiador, a expressão “cultura” vem da palavra colo e significa em latim “eu moro”, “eu cultivo”. Essa expressão surgiu no século XIII para designar uma parcela de terra cultivada e, a partir do século XIV, ganhou um significado abstrato para designar um conjunto de ideias formativas que são cultivadas na sociedade e nas almas. As ideias, o modo de ver o mundo, os costumes de uma sociedade, podem ajudar ou não na formação do bom caráter das pessoas que nela estão.

O ambiente escolar - Foi dito com propriedade que “quem tem a escola governa o mundo”. Aconteceu assim no mundo greco-romano com sua Academia. Foi assim na Idade Média, quando as invasões bárbaras destruíram a civilização ocidental e a igreja da época assumiu a educação, primeiro com as escolas paroquiais e depois criando as universidades. Ocorreu também com o iluminismo, que, mediante a escola, infilltrou suas ideias anticristãs e revolucionárias na sociedade. É assim hoje, com o marxismo cultural, que invadiu as escolas e universidades, causando a destruição moral que vivenciamos, impregnando nas almas das crianças, jovens e adultos a normalidade do crime e do vício, e, desse modo, deformando o caráter de uma geração inteira. Quem tem um pouco mais de idade deve lembrar-se das aulas de religião e civismo, que impregnavam nas mentes a prática da virtude, do patriotismo, da civilidade, dos bons costumes e do bem de modo geral. Para ser aceito como professor de uma instituição educacional, necessário se fazia que o(a) professor(a) fosse uma pessoa não apenas competente para ensinar as disciplinas, mas principalmente que tivesse uma vida proba, pois, caso contrário, nenhum pai ou mãe queria ver seus filhos recebendo influência de pessoas que deformassem o caráter de seus filhos.

O ambiente religioso - Mediante a evangelização e o ensino das Escrituras, o caráter dos alcançados pode progredir para melhor de forma maravilhosa, uma vez que a “palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até a divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hebreus 4.12). A escola bíblica dominical surgiu no século XVIII com meninos de rua que em poucos anos seriam os delinquentes que infestariam as cidades britânicas. Sua influência foi tão grande no caráter daquela nação que, dali até metade do século XX, aquela sociedade tornou-se uma potência espiritual na economia e na geopolítica, enquanto a vizinha França, que rejeitou o ensinamento puro das Escrituras e assimilou as ideias liberais do iluminismo, foi banhada pelo sangue derramado pela Revolução Francesa.

O ambiente familiar – Certamente, é aqui que inicia-se a formação do caráter, e este núcleo, agindo o mais cedo possível, dentro dos parâmetros das Escrituras, obterá o maior êxito na formação do caráter dos seus membros, pois podem ser alcançados desde a mais tenra idade, e as boas sementes ali plantadas ocuparão o espaço do campo de suas almas; quando chegarem ao convívio social e à escola, os bons frutos da primeira plantação já estarão brotando e não haverá espaço para a erva daninha. É sobre o ambiente familiar e a formação do caráter que nos deteremos nas linhas adiante.

A formação do caráter dos filhos no Pentateuco

Adão e Eva conheceram a Deus pessoalmente antes da Queda, bem como o Seu santo caráter, e observamos que, depois do pecado, após serem expulsos do jardim do Éden, eles ensinaram o temor do Senhor aos seus filhos, haja vista que, apesar de Caim e seus descendentes não terem absorvido as preciosas lições ministradas por seus pais acerca de Deus e seus planos para os seres humanos, a linhagem de Sete desenvolveu o bom caráter e produziu bons frutos. Com Enos, o culto a Deus ofi­cializado com uma liturgia bem definida. Enoque andou com Deus e Noé preservou a verdadeira fé e o bom caráter, mesmo em meio a uma geração corrompida e má (Gênesis 4.26; 5.22; 6.9). Não fora o ensino dos progenitores da humanidade e tudo estaria perdido. Noé, que achou graça aos olhos de Deus e, com certeza transmitiu a fé aos seus três filhos, evitando assim que fossem alcançados pela corrupção, sendo desse modo os progenitores da nova geração. Observamos que, como não se pode colher 100% do que semeamos nas almas, vemos que Sem e Jafé acolheram com mais facilidade os ensinamentos de seu pai e deram sinais de bom caráter, o que não foi o caso de Cam, que, zombando irreverentemente da nudez do seu pai, demonstrou ser mau caráter (Gênesis 9.20-29).

No tocante a Abraão, em Gênesis 18.19 vemos Deus revelando o principal motivo pelo qual o elegeu: “Porque eu o tenho conhecido, e sei que ele há de ordenar a seus filhos e à sua casa depois dele, para que guardem o caminho do SENHOR, para agir com justiça e juízo”. Não fora os ensinamentos do patriarca, sua descendência teria se perdido em meio às nações por onde passou até receberem a Lei de Deus dada a Moisés. Apesar das fraquezas que são inerentes a toda a raça humana, a descendência de Abraão foi o único povo da Terra que conservou o culto ao Deus único e verdadeiro e as suas leis, as quais quando observadas produzem na pessoa um bom caráter.

Recebida a lei divina, registrada nas pedras pelo dedo de Deus e consignada por Moisés sob a égide do Espírito Santo nos livros sagrados, Deus é enfático e ordena aos israelitas o que deveriam fazer para criar um bom caráter nos filhos: “Estas palavras que hoje lhe ordeno estarão no seu coração, você as “inculcará” a seus ­filhos, e delas falará quando estiver assentado em sua casa, andando pelo caminho, ao deitar-se e ao levantar-se” (Deuteronômio 6.6,7, NAA). Inculcar no hebraico é shanane significa perfurar, ensinar de forma incisiva. Como diríamos no linguajar provinciano, “meter dentro da cabeça”. Isso deve ser feito com os filhos, porque o ensino apostólico diz-nos que “toda a Escritura Sagrada é inspirada por Deus e é útil para ensinar a verdade, condenar o erro, corrigir as faltas e ensinar a maneira certa de viver” (2 Timóteo 3.16, NTLH). Observamos aqui que, além do culto doméstico, culto infantil e EBD, os pais devem aproveitar todas as oportunidades para ministrar a seus filhos os santos padrões da Palavra de Deus, mostrando para eles os erros da sociedade hodierna e apresentando-lhes as verdades eternas da doutrina de Cristo. Temos a promessa divina de que, se assim o fizermos, não perderemos o tempo: “Eduque a criança no caminho em que deve andar, e até ao fim da vida não se desviará dele” (Provérbios 22.6, NTLH).

A formação do caráter dos filhos nos livros históricos

As Escrituras nos mostram mães que deram mau exemplo aos filhos, como é o caso de uma mulher que, no período dos juízes, vivia com uma boca praguejadora e atitudes duvidosas. O resultado desse maléfico exemplo foi um filho mau caráter como Mica, que era larápio, idólatra e profano (Juízes 17 e 8). Todavia, temos o bom exemplo de Ana, mulher temente e devota a Deus, a quem, em resposta às suas orações, Deus deu um filho de um calibre espiritual e moral que se tornou um sacerdote, profeta e juiz. No final do seu ministério, ele desafiou toda a nação de Israel dizendo que se tivesse alguma acusação de mau caráter contra ele, o acusassem publicamente, e a resposta da multidão foi: “Em nada nos defraudaste” (1 Samuel 12.4). Em contrapartida, temos o mau exemplo de Eli, que, apesar de ser o sumo sacerdote de Deus, não corrigiu os seus filhos que viviam em descarada ofensa aos princípios divinos, pois dele está escrito: “O Senhor disse... Eu lhe disse que iria castigar a sua família para sempre porque seus filhos disseram coisas más contra mim. Eli sabia que eu ia fazer isso, mas não os fez parar” (1 Samuel 3.11,13, NTLH).

A formação do caráter dos filhos nos livros poéticos

Todos os leitores da Bíblia conhecem o salmista Davi, o homem de quem Deus declarou: “Achei a Davi, filho de Jessé, homem conforme o meu coração, que executará toda a minha vontade” (Atos 13.22). O mesmo, apesar de sua fraqueza humana, da qual foi restaurado pelo arrependimento e pela graça de Deus, era um homem de bom caráter. Basta ler sua biografia para observar a magnanimidade do seu coração; mas poucos observam um pequeno detalhe que nos é revelado e, Salmos 86.16 e 116.16. Nessas passagens está escrito que a mãe de Davi era uma serva de Deus, e no Salmo 22.10 Davi disse que “desde o meu nascimento, fui entregue aos teus cuidados; desde que nasci, tu tens sido o meu Deus” (NTLH). Quem o consagrou a Deus no dia do seu nascimento? Quem lhe ensinou tão preciosos princípios que o levaram a ser um homem conforme o coração de Deus? Certamente, a serva de Deus, sua mãe, cujo nome só saberemos na eternidade. Não olvidemos o exemplo da mãe do rei Lemuel, cujo nome significa “devotado a Deus” e que, apesar de outros pensamentos, a maioria dos intérpretes da Bíblia crê que é outro nome do rei Salomão. Está escrito assim: “Palavras do rei Lemuel, a profecia que lhe ensinou sua mãe” (Provérbios 31.1). Se o rei Lemuel for o mesmo Salomão, chegamos à conclusão que a sabedoria do tal, nos tempos que foi fiel a Deus, foi um produto da dádiva divina e dos ensinamentos que sua mãe lhe deu e formaram o seu bom caráter. Pena que, a certa altura da vida, Salomão afastou-se desses princípios para o seu próprio prejuízo.

A formação do caráter dos filhos nos livros proféticos

No livro do profeta Isaías, o rei Ezequias, em seu cântico em ação de graças pela cura recebida de Deus, disse: “O pai aos filhos fará notória a tua verdade” (Isaías 38.19). Vemos aqui uma boa formação de caráter dos filhos, visto que os pais estão passando a verdade eterna para os tais. Todavia, alguém já falou com precisão que “as palavras convencem, mas o exemplo arrasta”. É o que vemos no livro do profeta Jeremias, que enquanto os pais idólatras que apostataram da fé do Deus verdadeiro providenciavam massa de bolos de uvas para a deusa Astarte, também conhecida como Rainha dos Céus, os filhos eram os que iam buscar a lenha (Jeremias 7.18). O caso em apreço nos mostra que o mau exemplo dos pais indubitavelmente forjará um mau caráter nos filhos. Pais desonestos, mentirosos, blasfemadores, ébrios, etc., salvo raras exceções, formarão nos filhos um mau caráter e os levarão às suas mesmas práticas, ou a piores. Não foi sem razão que criou-se o velho adágio: “Casa dos pais, escola dos filhos”.

Formação do caráter dos filhos no Novo Testamento

Consideremos dois casos da influência dos progenitores na formação do caráter nos filhos. Em primeiro lugar, vamos observar a influência de Maria e José no caráter de Jesus. Alguém pode arguir: “E Jesus necessitava de influência para formação do caráter?”. De certa forma, sim, pois era 100% Deus e ao mesmo tempo 100% homem. Não esqueçamos o relato do evangelista sobre o desenvolvimento humano do Filho de Deus: “E crescia Jesus em sabedoria e em estatura e em graça para com Deus e os homens” (Lucas 2.52). Em sua natureza humana, Jesus precisou desenvolver-se fisicamente, aprender a ler, escrever, contar etc., precisava orar, ler e ouvir as Sagradas Letras. Vejamos o tipo de lar onde Deus colocou Jesus: de seu pai putativo, diz o evangelho: “Então José, seu marido, sendo justo” (Mateus 1.19). A expressão “justo” no Novo Testamento grego é dikaios e significa “justo”, “virtuoso”, aquele que guarda os mandamentos de Deus, aquele cujo modo de pensar e agir é inteiramente conforme a vontade de Deus e que, por esta razão, não necessita de retificação no coração ou na vida. Imaginemos o quanto José contribuiu para construir no Jesus-Homem, um caráter nobilíssimo e maravilhoso. Quanto à bem-aventurada Maria, dispensa-se comentário, pois o pouco que os evangelhos falam dela nos revelam o suficiente sobre o seu bom caráter. Basta salientar que o famoso comentarista William Hendriskesn notificou que no cântico de Maria há cerca de 30 referências extraídas das Escrituras do Antigo Testamento (Lucas 1.46-55). Desse modo, aquela jovem israelita, era uma verdadeira “arca do testamento”. Com um conhecimento bíblico desse naipe, quantos ensinos maravilhosos das Escrituras Maria não transmitiu a Jesus? Quanto não influenciou no Seu bom caráter como homem?

Outro caso inolvidável do Novo Testamento é Timóteo. O Apóstolo dos Gentios, em sua segunda viagem missionária, encontrou um jovem crente de excelente caráter, do qual dava testemunho toda a comunidade cristã de Listra e Icônio. (Atos 16.1-3). O caráter de Timóteo já estava impresso em sua alma desde a concepção? Ou houve uma influência benéfica exterior? A resposta está na segunda carta a Timóteo, onde Paulo nos informa que o bom caráter que Timóteo desenvolveu foi produto do aprendizado bíblico que recebeu de sua avó Loide e de sua mãe Eunice. O santo apóstolo nos revela: “Trazendo à memória a fé não fingida que em ti há, a qual habitou primeiro em tua avó Loide e em tua mãe Eunice... e que desde a tua meninice, sabes as Sagradas Letras, que podem fazer-te sábio” (2 Timóteo 1.5; 3.14,15).

Conclusão

O presidente Abraham Lincoln disse há mais de 150 anos: “As mãos que embalam o berço governam o mundo”. Muitas mães, mesmo no anonimato, forjam o caráter daqueles que vão ascender o poder e governar o povo. O capelão do senado norte-americano Peter Marshall disse: “As mães são as guardas das fontes”. Elas trabalham nos bastidores, longe dos holofotes, mas o resultado do seu trabalho se reflete publicamente na sociedade. Queridos pais, daqui a poucas décadas, se o Senhor Jesus demorar, não estaremos mais aqui. Que temos feito para inculcar em nossos filhos a boa ética, a moral, os bons costumes e, principalmente, os valores do Reino de Deus? Nunca é tarde para começar uma boa obra. Ad majorem Dei gloriam.

por José Orisvaldo Nunes de Lima

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