Cristãos são contra o desperdício

Cristãos são contra o desperdício


Defendemos que a teologia tem a sua voz e que essa voz precisa ser ouvida no mundo; que a teologia não só pode como deve ser ouvida nos vários debates existentes no mundo. Alguns cristãos, teólogos conservadores, acabaram silenciando (ou foram sumariamente silenciados!) e alguns temas acabaram sendo sequestrados por movimentos políticos ou cristãos progressistas que se “apossam” de qualquer discurso que vise ao cuidado com a criação. O resultado disso acaba sendo uma teologia subordinada a uma militância que, por fim, nega a Verdade da Palavra de Deus. Em relação a essas dificuldades, podemos fazer algumas observações preliminares.

Diversidade de perspectiva teológica. A questão, que não pode ser ignorada, é que a teologia cristã é diversificada, com diferentes tradições interpretativas e teológicas dentro do Cristianismo. Isso leva a uma variedade de pontos de vista sobre questões sociais e ambientais.

Instrumentalização política. É verdade que algumas questões, como o cuidado com a criação, foram politizadas e podem ser associadas a movimentos específicos. Além do que, essa instrumentalização, geralmente, pode levar a uma relutância por parte de alguns teólogos conservadores em se envolverem por medo de serem associados a agendas políticas que não estão totalmente alinhadas com a sua fé.

Foco na Escritura e verdade teológica. Os teólogos conservadores enfatizam a importância de manter o foco na interpretação fiel das Escrituras e na verdade teológica. Isso pode envolver um esforço consciente para separar a mensagem teológica essencial do contexto político ou social.

Participação Responsável. Em vez de se afastar dos debates mundiais, teólogos conservadores podem procurar participar de maneira responsável, destacando uma perspectiva bíblica sólida e equilibrada, sem se alinhar totalmente a movimentos que possam divergir de suas crenças fundamentais. John Stott enfatizou a importância da evangelização e da missão da igreja na sociedade. Em obras, como Cristianismo Equilibrado, lançado pela CPAD, ele destacou a responsabilidade de os cristãos serem agentes de transformação no mundo.

Reafirmação dos princípios teológicos. É importante que os teólogos conservadores reafirmem constantemente os princípios teológicos fundamentais em suas abordagens dos temas contemporâneos. Isso ajuda a evitar distorções e assegura que a teologia permaneça centrada nas Escrituras.

A teologia e o desperdício. A perspectiva teológica oferece direcionamentos valiosos sobre como os cristãos devem abordar a questão do desperdício. Ao considerar o planeta como uma criação de Deus e reconhecer o mandato cultural para cuidar dessa criação, torna-se imperativo que os cristãos vivam de maneira responsável, consumindo com sabedoria e evitando desperdícios. Neste pequeno ensaio, trataremos alguns textos bíblicos que fundamentam como os cristãos podem aplicar esses princípios em suas vidas diárias.

Entre tantos temas da teologia, podemos citar os dois mandatos: o Redentivo e o Cultural.

Textos como o de Mateus 28.19,20 nos falam da Grande Comissão como uma expressão fundamental do Mandato Redentivo, onde os discípulos são chamados a proclamar o Evangelho e fazer discípulos de todas as nações. O texto de 2 Coríntios 5.18-20 nos fala do Ministério da Reconciliação, onde o apóstolo Paulo destaca o papel dos cristãos sendo embaixadores de Cristo para trazer as pessoas de volta a Deus. Já o texto de Lucas 4.18,19 deixa muito claro a missão de Jesus, ao citar o profeta Isaías, de que Sua missão redentiva traz libertação espiritual e física aos necessitados.

O Mandato Redentivo claramente se relaciona como o Mandato Cultural, que por sua vez está relacionado ao chamado de Deus para que a humanidade cuide da e governe a criação. Em Gênesis 1.28, Ele instrui os seres humanos a serem mordomos responsáveis da terra, promovendo o desenvolvimento cultural, administrando os recursos com sabedoria e cuidando da criação divina. Esse mandato destaca a responsabilidade de exercer influência positiva em todos os aspectos da vida humana e na relação com o ambiente ao nosso redor. Neste pequeno texto, ao tratar de consumo consciente, o faremos a partir do Mandato Cultural.

Mandato Cultural e Criação Responsável

A responsabilidade dada ao homem neste mandato inclui a administração sábia dos recursos que Deus proporcionou. Não é uma autorização para destruir, mas para cuidar. O Mandato Cultural inicia com a chamada à multiplicação, mas isso não deve ser interpretado como uma justificativa para o consumo desenfreado. Cristãos são desafiados a multiplicar com moderação, reconhecendo que a multiplicação responsável não apenas respeita o equilíbrio posto por Deus na criação, mas também evita o desperdício de recursos preciosos.

O Salmo 24.1 declara que a Terra pertence a Deus: “Do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam”. Reconhecer a propriedade divina da terra implica em cuidar dela como mordomos responsáveis. Jesus nos orienta sobre a diferença entre tesouros no céu (que são eternos) e tesouros na terra (que são passageiros): “Não acumulem para vocês tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam. Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu coração” (Mt 6.19-21). Jesus não está condenando “ter posses”, mas traz o ensino de que o foco deve ser a eternidade e não o que é passageiro. Ou seja, o ensinamento de Jesus destaca a importância de direcionar nossos recursos para o que é eterno, evitando excessos e desperdícios na busca por bens materiais.

Pode parecer um contrassenso, mas a Bíblia nos ensina a glorificar a Deus também no consumo. Paulo nos diz: “Portanto, quer comam, quer bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31). Isto nos fala da consciência que devemos ter de que cada ato, incluindo o consumo, pode ser uma oportunidade para glorificar a Deus, e destacamos aqui a importância de um consumo responsável.

Romanos 8.22-23 nos fala da Redenção da Criação, a qual está intrinsecamente ligada à nossa própria redenção, enfatizando a importância de cuidarmos da criação enquanto aguardamos a restauração completa. Para facilitar a compreensão, coloco alguns pontos simples abaixo. O assunto é muito complexo, porém esses pontos podem auxiliar para que, como cristãos, possamos desenvolver o consumo consciente dentro dos princípios bíblicos, especialmente no contexto do cuidado da criação e da responsabilidade cristã.

Aumente a cada dia o seu conhecimento bíblico. Baseie suas decisões de consumo nos princípios bíblicos. Entenda o Mandato Cultural e a responsabilidade de cuidar da criação (Gênesis 1.28), bem como os ensinamentos de Jesus sobre a moderação e o desapego material.

Reflita sobre necessidades e desejos. Avalie as suas necessidades reais versus os seus desejos. Pergunte a si mesmo se uma compra é realmente necessária ou se é movida por impulsos consumistas.

Compreenda as questões sobre qualidade em detrimento da quantidade. Prefira investir em itens de qualidade que tenham uma vida útil mais longa, em vez de optar por produtos descartáveis que contribuem para o desperdício.

Conclusão

Ao adotar uma postura de responsabilidade e consciência nas escolhas diárias, os cristãos podem se destacar como defensores do ambiente, honrando o Mandato Cultural e reconhecendo a responsabilidade de serem mordomos fiéis da criação divina. O combate ao desperdício é, portanto, não apenas uma prática ecológica, mas uma expressão tangível do amor e respeito pelos dons generosos de Deus.

por Eduardo Leandro Alves

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