Diversidade de perspectiva teológica. A questão, que
não pode ser ignorada, é que a teologia cristã é diversificada, com diferentes
tradições interpretativas e teológicas dentro do Cristianismo. Isso leva a uma variedade
de pontos de vista sobre questões sociais e ambientais.
Instrumentalização política. É verdade que algumas
questões, como o cuidado com a criação, foram politizadas e podem ser associadas
a movimentos específicos. Além do que, essa instrumentalização, geralmente,
pode levar a uma relutância por parte de alguns teólogos conservadores em se
envolverem por medo de serem associados a agendas políticas que não estão
totalmente alinhadas com a sua fé.
Foco na Escritura e verdade teológica. Os teólogos
conservadores enfatizam a importância de manter o foco na interpretação fiel
das Escrituras e na verdade teológica. Isso pode envolver um esforço consciente
para separar a mensagem teológica essencial do contexto político ou social.
Participação Responsável. Em vez de se afastar dos
debates mundiais, teólogos conservadores podem procurar participar de maneira
responsável, destacando uma perspectiva bíblica sólida e equilibrada, sem se
alinhar totalmente a movimentos que possam divergir de suas crenças
fundamentais. John Stott enfatizou a importância da evangelização e da missão
da igreja na sociedade. Em obras, como Cristianismo Equilibrado, lançado pela
CPAD, ele destacou a responsabilidade de os cristãos serem agentes de
transformação no mundo.
Reafirmação dos princípios teológicos. É importante
que os teólogos conservadores reafirmem constantemente os princípios teológicos
fundamentais em suas abordagens dos temas contemporâneos. Isso ajuda a evitar
distorções e assegura que a teologia permaneça centrada nas Escrituras.
A teologia e o desperdício. A perspectiva teológica
oferece direcionamentos valiosos sobre como os cristãos devem abordar a questão
do desperdício. Ao considerar o planeta como uma criação de Deus e reconhecer o
mandato cultural para cuidar dessa criação, torna-se imperativo que os cristãos
vivam de maneira responsável, consumindo com sabedoria e evitando desperdícios.
Neste pequeno ensaio, trataremos alguns textos bíblicos que fundamentam como os
cristãos podem aplicar esses princípios em suas vidas diárias.
Entre tantos temas da teologia, podemos citar os dois
mandatos: o Redentivo e o Cultural.
Textos como o de Mateus 28.19,20 nos falam da Grande Comissão
como uma expressão fundamental do Mandato Redentivo, onde os discípulos são chamados
a proclamar o Evangelho e fazer discípulos de todas as nações. O texto de 2
Coríntios 5.18-20 nos fala do Ministério da Reconciliação, onde o apóstolo Paulo
destaca o papel dos cristãos sendo embaixadores de Cristo para trazer as
pessoas de volta a Deus. Já o texto de Lucas 4.18,19 deixa muito claro a missão
de Jesus, ao citar o profeta Isaías, de que Sua missão redentiva traz libertação
espiritual e física aos necessitados.
O Mandato Redentivo claramente se relaciona como o Mandato
Cultural, que por sua vez está relacionado ao chamado de Deus para que a
humanidade cuide da e governe a criação. Em Gênesis 1.28, Ele instrui os seres humanos
a serem mordomos responsáveis da terra, promovendo o desenvolvimento cultural, administrando
os recursos com sabedoria e cuidando da criação divina. Esse mandato destaca a
responsabilidade de exercer influência positiva em todos os aspectos da vida
humana e na relação com o ambiente ao nosso redor. Neste pequeno texto, ao tratar
de consumo consciente, o faremos a partir do Mandato Cultural.
Mandato Cultural e Criação Responsável
A responsabilidade dada ao homem neste mandato inclui a administração
sábia dos recursos que Deus proporcionou. Não é uma autorização para destruir,
mas para cuidar. O Mandato Cultural inicia com a chamada à multiplicação, mas
isso não deve ser interpretado como uma justificativa para o consumo
desenfreado. Cristãos são desafiados a multiplicar com moderação, reconhecendo
que a multiplicação responsável não apenas respeita o equilíbrio posto por Deus
na criação, mas também evita o desperdício de recursos preciosos.
O Salmo 24.1 declara que a Terra pertence a Deus: “Do Senhor
é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam”. Reconhecer a
propriedade divina da terra implica em cuidar dela como mordomos responsáveis. Jesus
nos orienta sobre a diferença entre tesouros no céu (que são eternos) e
tesouros na terra (que são passageiros): “Não acumulem para vocês tesouros na
terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam.
Mas acumulem para vocês tesouros no céu, onde a traça e a ferrugem não
destroem, e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois onde estiver o seu tesouro,
aí também estará o seu coração” (Mt 6.19-21). Jesus não está condenando “ter
posses”, mas traz o ensino de que o foco deve ser a eternidade e não o que é passageiro.
Ou seja, o ensinamento de Jesus destaca a importância de direcionar nossos
recursos para o que é eterno, evitando excessos e desperdícios na busca por
bens materiais.
Pode parecer um contrassenso, mas a Bíblia nos ensina a
glorificar a Deus também no consumo. Paulo nos diz: “Portanto, quer comam, quer
bebam ou façam qualquer outra coisa, façam tudo para a glória de Deus” (1Co
10.31). Isto nos fala da consciência que devemos ter de que cada ato, incluindo
o consumo, pode ser uma oportunidade para glorificar a Deus, e destacamos aqui
a importância de um consumo responsável.
Romanos 8.22-23 nos fala da Redenção da Criação, a qual está
intrinsecamente ligada à nossa própria redenção, enfatizando a importância de
cuidarmos da criação enquanto aguardamos a restauração completa. Para facilitar
a compreensão, coloco alguns pontos simples abaixo. O assunto é muito complexo,
porém esses pontos podem auxiliar para que, como cristãos, possamos desenvolver
o consumo consciente dentro dos princípios bíblicos, especialmente no contexto
do cuidado da criação e da responsabilidade cristã.
Aumente a cada dia o seu conhecimento bíblico. Baseie
suas decisões de consumo nos princípios bíblicos. Entenda o Mandato Cultural e
a responsabilidade de cuidar da criação (Gênesis 1.28), bem como os
ensinamentos de Jesus sobre a moderação e o desapego material.
Reflita sobre necessidades e desejos. Avalie as suas
necessidades reais versus os seus desejos. Pergunte a si mesmo se uma compra é
realmente necessária ou se é movida por impulsos consumistas.
Compreenda as questões sobre qualidade em detrimento da quantidade.
Prefira investir em itens de qualidade que tenham uma vida útil mais longa, em
vez de optar por produtos descartáveis que contribuem para o desperdício.
Conclusão
Ao adotar uma postura de responsabilidade e consciência nas
escolhas diárias, os cristãos podem se destacar como defensores do ambiente,
honrando o Mandato Cultural e reconhecendo a responsabilidade de serem mordomos
fiéis da criação divina. O combate ao desperdício é, portanto, não apenas uma
prática ecológica, mas uma expressão tangível do amor e respeito pelos dons
generosos de Deus.
por Eduardo Leandro Alves
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