Pesquisa desnuda a intrigante origem dos inimigos de Israel
A revista Science Advances publicou na sua edição de 3 de julho, volume 5, número 7, a notável informação de que pesquisadores descobriram os restos mortais de uma criança sepultada na antiga cidade portuária de Ashkelon e que os especialistas responsáveis pela descoberta explicaram que o cadáver contendo o DNA está ajudando-os a traçar as origens dos filisteus, um povo belicoso que, de acordo com a BÃblia Sagrada, demonstrava hostilidade contra Israel, sem nunca conviver em paz com o povo eleito.
Os estudiosos disseram que o esqueleto da criança remonta ao
século 12 a.C., e que a famÃlia
trocou a inumação no cemitério da cidade por uma sepultura simples, no chão de
terra, no lugar onde moravam. Mas os pesquisadores informaram ainda que
extraÃram o DNA também dos restos de 10 indivÃduos, incluindo quatro bebês, devidamente
sepultados em Ashkelon durante a Idade do Bronze e a Idade do Ferro. Os
resultados da pesquisa foram publicados na revista e sugerem que este povo migrou
para o Oriente Médio, vindo da Europa Meridional.
“Este é um excelente exemplo de um caso em que avanços na
ciência nos ajudaram a responder a uma questão que tem sido debatida há muito
tempo por arqueólogos e historiadores da Antiguidade”, informou Eric Cline,
professor da Universidade George Washington e diretor do Instituto de
Arqueologia do Capitólio que não estava envolvido no estudo.
Mas, afinal quem eram os filisteus? A BÃblia ainda continua sendo
a melhor fonte de informações sobre este notável povo e suas páginas dão conta
de que os filisteus habitavam nas cidades antigas de Ashkelon, Ashdod e Ekron,
mencionadas como suas fortalezas. Mais tarde, já nos séculos 19 e 20, os
pesquisadores começaram a formalizar um registro arqueológico distinto da cultura
filistéia. As escavações mostraram registros arquitetônicos e demais artefatos
de cerca de 1200 a.C., época na
qual os filisteus desembarcaram no Oriente Médio e implantaram a sua cultura
nessas cidades. Foram encontradas olarias nos sÃtios arqueológicos cuja
semelhança apontava para culturas do mar Egeu, como os micênicos, cuja civilização
evoluiu e corresponde hoje à Grécia continental. Não por acaso, nas páginas
bÃblicas, a palavra “Caftor” ou Creta é in dicada como o local de origem dos
filisteus.
Os historiadores disseram que essas mudanças ocorreram em um
perÃodo conturbado para as civilizações do Mar Egeu e do Mediterrâneo Oriental.
Os egÃpcios também registraram a passagem dos filisteus em sua região. Nos
hieróglifos, eles são identificados como os Peleset, entre as tribos de “povos
do mar”. O narrador dá conta de que os filisteus lutaram contra o faraó Ramsés
3º por volta de 1180 a.C.. Simultaneamente, outros estudiosos afirmam que os filisteus
eram uma tribo local, ou mesmo oriunda da atual Turquia ou SÃria.
Em 2013 foi descoberto um cemitério com mais de 200 indivÃduos
do assentamento filisteu em Ashkelon, próximo das antigas muralhas da cidade. O
local remonta aos séculos 1 e 8 a.C., no final da Idade do Ferro, e foi o
primeiro já encontrado. Os arqueólogos observaram que o ritual funerário era distinto
dos povos cananeus: perto da cabeça do falecido havia, em vários casos,
pequenos jarros de perfume. Os estudiosos exultaram na possibilidade de
encontrar DNA nos restos humanos filisteus, de modo a reunir mais informações acerca
deste antigo povo. “SabÃamos da revolução na paleogenética e da forma como as
pessoas conseguiam reunir de um único indivÃduo centenas de milhares de dados”,
diz Daniel Master, diretor das escavações e professor de arqueologia do Wheaton
College, em Illinois (EUA). Entretanto, os cientistas encontraram dificuldade
em obter DNA dos restos humanos recém-descobertos em Ashkelon, isto porque, o
sul do Levante não oferece um clima favorável para a preservação do DNA.
“Existe o risco de quebrar o DNA quando está muito quente ou úmido”, diz
Micheal Feldman, que estuda arqueogenética no Instituto Max Planck para a
Ciência da História Humana na Alemanha, e principal autor do novo relatório.
Contudo, os cientistas conseguiram sequenciar todo o genoma de pelo menos três indivÃduos
do cemitério.
A equipe estabeleceu uma linha de base para o perfil
genético local, por isso eles também sequenciaram as informações de três
cananeus sepultados em Ashkelon durante a Idade do Bronze, antes do suposto
desembarque dos filisteus no Oriente Médio. Os especialistas também extraÃram
DNA dos restos de quatro bebês encontrados anteriormente nas casas onde os filisteus
habitavam - isto aconteceu durante escavações entre 1997 e 2013. As crianças
foram sepultadas no perÃodo da Idade do Ferro, no século 12 ou 11, logo após a suposta chegada dos filisteus na
região.
Os resultados obtidos das amostras recolhidas dos quatro bebês
da Idade do Ferro indicavam algumas assinaturas genéticas comparáveis àquelas
obtidas em populações da Idade do Ferro da Grécia, Espanha e Sardenha. “Houve
algum fluxo gênico, não estava lá antes”, diz Feldman.
Após as análises, os pesquisadores disseram que esses resultados
servem como evidências da migração ocorrida no final da Idade do Bronze ou
durante a Idade do Ferro. Caso haja consistência nessa interpretação, os bebês
podem ter sido os netos ou bisnetos dos pioneiros filisteus a se estabelecerem
em Canaã.
Mas os cientistas acrescentaram que o DNA analisado já
apresentava amálgama de assinaturas locais e do sul da Europa, e isso sugere que,
logo depois, os filisteus iniciaram o processo de miscigenação com a população
autóctone. Os indivÃduos sepultados alguns séculos depois não apresentavam mais
as assinaturas europeias. Até então, geneticamente, os filisteus pareciam
cananeus. “Quando eles vieram, não manifestaram nenhum tipo de tabu ou
proibição de se casarem com outros grupos ao redor deles”, disse Daniel Master.
A BÃblia registra diversos conflitos entre hebreus e filisteus, incluindo casos
isolados. Como esquecer de Dalila, a
amante de Sansão, que o entregou aos seus compatriotas em troca de ganhos pessoais
(JuÃzes 16.4-21)? E o embate de Davi com o gigante Golias, supostamente fruto
da miscigenação com os povos de elevada estatura, naturais de Canaã (Números 13.33;
1 Samuel 17.4.
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