Contagem do ômer em dias de tristeza e de celebração em Israel

Contagem do ômer em dias de tristeza e de celebração em Israel


A partir da segunda noite de Pessach inicia-se a contagem do ômer, medida de cevada colhida e que era levada, em tempos antigos, ao Templo em Jerusalém. A contagem prosseguia, e ainda hoje prossegue, até que se completem os 49 dias (7 semanas) e culmina com as celebrações de Shavuot (semanas) ou Pentecoste (50º dia). Na ocasião, além da colheita, celebra-se a entrega da Lei no deserto. O período do ômer tem algo de expectativa de celebração, mas ficou historicamente marcado como um período de tristes lembranças, de tal maneira que evita-se fazer celebrações de casamentos e festas, exceto no 33º dia, pela recordação da revolta de Bar Kochba. O 12º dia da contagem – Yom HaShoah é especialmente marcado como a data do fim do levante do gueto de Varsóvia (1943), o dia da Recordação do Holocausto e das 6 milhões de vítimas daquela barbárie. Este ano, por todo o país, as pessoas pararam solenemente, onde quer que estivessem, ao ouvir o som das sirenes conclamando a dois minutos de contrição. Em Yom HaZicaron, véspera da celebração de sua Independência, Israel faz uma pausa para homenagear aqueles que tombaram na luta para criar e defender sua nação. Yom Hatzmaut traz a nota de alegria do período, este ano celebrando 71 anos da criação do moderno Estado Judeu.

A contagem do ômer deste ano, infelizmente, foi marcada por outra contabilidade que não a de cereais. Os dados são difíceis de acompanhar. Na sexta-feira, 3 de maio, teve início a nova onda de violência que lançou mais de 450 foguetes desde a faixa de Gaza sobre Israel. Cerca de 230 mil crianças ficaram impedidas de ir para a escola. Abrigos foram disponibilizados pelo KKL, cujo trabalho prioritariamente é a restauração de florestas e fontes de águas em todo o território israelense, mas que, nestes dias, organizou equipes de voluntários para aplicar atividades recreativas no intuito de minimizar o stress e os traumas nos pequeninos. Para Eduardo El Kobbi, presidente da instituição, os ataques somam-se a outros constantes, feitos através de balões e pipas incendiárias. Mais de 600 desses objetos já destruíram cerca de 20 km de plantações em Israel. “Eles queimam, nós plantamos” é o resumo de seu desabafo. As ações incendiárias por meio dos mísseis cresceram nos dias 4 e 5 de maio, chegando a 600 bombas lançadas e 150 interceptadas. Vídeo publicado pelos Christians United for Israel mostra o impacto de um desses projéteis sobre a cidade de Ashkelon. No dia 6, tinha-se a conta de 690 foguetes lançados desde Gaza e 350 alvos atingidos em retaliação. Dentre os alvos, foram destruídos um túnel de ataque da Jihad islâmica escavado sob a fronteira, duas plataformas de lançamento de foguetes e várias bases e fábricas de armas, bem como embarcações usadas pelos milicianos e um depósito de armamentos onde estavam vários membros da Jihad. Enquanto o Hamas e a Jihad lançam foguetes e granadas sobre alvos civis, a represália da aviação militar israelense tem por objetivo os centros de milícia, armamentos e inteligência de seus opositores. Para alguns observadores, 70% dos projéteis enviados desde Gaza caíram em descampados, enquanto dezenas de outros foram interceptados pelo Domo de Ferro – o sistema antimísseis israelense. O jornal El País classificou o dia 5 de maio como “o mais violento depois da devastadora guerra de 2014”.

A resposta internacional ao contra-ataque israelense não se fez por esperar. Diante da destruição de um edifício de escritórios em Gaza, onde ficavam localizados: um centro de inteligência do Hamas, outras instalações de segurança e uma sede da Anatólia, a agência estatal de notícias da Turquia, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan denunciou o “ataque desproporcional” de Israel e pediu ajuda às demais nações: “a Turquia e a agência Anatólia continuarão informando ao mundo sobre o terrorismo israelense e as atrocidades em Gaza e em outras partes da Palestina, apesar desses ataques”. Já o ex-assessor israelense de segurança nacional, Yacov Amidror, acusa o Irã de ter instigado os ataques com foguetes pela Jihad islâmica. “Os iranianos são os principais interessados em que Israel lance uma nova operação militar em Gaza para desviar sua atenção sobre o destacamento militar que eles mantêm na Síria”, disse ele ao centro informativo TPI. “Pensaram que [Israel] não se atreveria a desencadear represálias às vésperas do Dia da Independência e da Eurovisão [festival de música que atrai pessoas de vários países e repercussão internacional], mas cometeram um erro grave”. Segundo a inteligência militar israelense, mesmo a morte da palestina Salah Abu Arar, de 37 anos, e de sua filha Saiba, de 14 meses, amplamente divulgada pela imprensa, deveu-se à explosão de um foguete do Hamas disparado de forma equivocada.

Diante da tristeza desses dias, cujo desenrolar e consequências ainda não são passíveis de avaliação, soam como nota de esperança as palavras de Miguel Nocolaevsky para o Cafetorah, por ocasião das festividades da independência, este ano realizadas no dia 8 de maio, portanto, no calor do atual conflito: “Bem como o Patriarca Abraão enfrentou muitas adversidades em sua vida, o perigo de morte, a fome, a descida para o Egito a fim de comprar alimentos, o tempo que viveu em Gerar junto a Abimeleque, assim o povo de Israel passou por provações semelhantes ao longo de sua história na diáspora”. São palavras de recordações consoladoras apropriadas para os dias em que se contam sementes, em que as dores são lembradas, mas nos quais persiste uma crescente expectativa pelas celebrações que virão.

Também aguardam dias melhores os jovens Yonatam Winetramb, engenheiro espacial, Yariv Bash, especialista em segurança cibernética e Kfi r Damari, fabricante de drones, após a desastrada iniciativa de enviar uma nave espacial e pousá-la na Lua. Por mais ou menos 10 anos, o plano iniciado numa ‘lanchonete’ e que resultou na criação da Spacell, em 2011 conseguiu reunir esforços financeiros de filantropos judeus em vários países. As ofertas para a sonda Bereshit (mesmo nome do livro de Gênesis) alcançaram valores próximos aos 89 milhões de euros. Uma cápsula incorporada à sonda continha informações sobre Israel, sobre o povo judeu, memórias de um sobrevivente do Holocausto e uma cópia completa da Bíblia. Numa pequena bandeira, identificando a nave, as palavras: “small country, big dreams”. Os projetistas não contavam com a colisão do artefato com um satélite espacial, impedindo que o pequeno país realizasse um sonho tão grande quanto improvável, nestes dias em que todo o esforço em recursos e ideias precisaria ser direcionado para a defesa do país, a restauração daqueles que estão sendo atingidos pelos bombardeiros e estratégias legítimas de sobrevivência para um povo cercado de hostilidades.

Por outro lado, desmentindo aqueles que julgavam improvável uma continuidade para os partidos de direita em Israel, Benyamin Netanyahu foi eleito para seu quinto mandato. A vitória nas urnas calou os opositores e espantou aqueles que, quando muito, esperavam uma espécie de ‘empate técnico’ criando uma situação de verdadeira ingovernabilidade. O resultado final mostrou não apenas o desejo do povo pelo retorno de seu primeiro-ministro, como revelou a diminuição das formações moderadas e de centro, enquanto as forças ultraortodoxas aumentaram, chegando a 16 assentos no Knesset, três a mais do que a contagem anterior. No total, Netanyahu contará com uma coalizão de direita com 65 lugares, enquanto “os partidos de centro-esquerda e partidos árabes somam, agora, 55 assentos. A nova configuração do Knesset auxiliará as ações do líder eleito, tendo mostrado que, em sua maioria, a população israelense tende para a manutenção de uma política que não ceda às pressões internacionais, lide com a mídia sem a ignorância simpática da esquerda e não legitime organizações supranacionais que queiram obstar à soberania de uma nação.

O resultado da votação caminha em paralelo à divulgação das ações, cada vez menos ocultas, das organizações BDS (boicote, desinvestimento e sanções). Sob tais objetivos, existem atualmente mais. de 300 organizações, chamadas por Gil'ad Erdan, Ministro da Segurança Pública de Israel, de “terroristas de terno”. Em um relatório do Ministério de Assuntos Estratégicos de Israel ficam claras as conexões entre as chamadas organizações BDS e conhecidos grupos terroristas. Levantando simpatizantes, promovendo manifestações, incentivando e influenciando a formação de professores de nível superior dentro de uma ideologia antissemita, esses grupos defendem a total aniquilação de Israel. Para eles, como acontece com os demais. grupos terroristas, essa é a única solução para o Oriente Médio.

Guardar os dias da contagem do ômer com aquela citada expectativa de celebração, mesmo diante das circunstâncias apresentadas, pode parecer utópico. Mas, em se tratando de um povo que já mostrou andar na contramão dos prognósticos a seu respeito, guardando apenas a verdade já registrada por Deus pela boca e pela mão dos profetas, tudo é possível. Além disso, aquEle que conta dá a semente ao que semeia, O mesmo que conta as sementes e. as pesa, aquEle que as recebe em Seu santuário, Ele mesmo vigia por Seu povo e recolherá os remidos em Seu celeiro.

por Sara Alice Cavalcanti

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