Selo de servo do rei Josias, anel de Pilatos, assinatura do profeta Isaías e hebraico do Egito da época de Moisés estão entre os últimos achados
Do ano passado para cá, uma série de achados arqueológicos bíblicos aconteceram, dentre eles alguns que podem ser listados entre os maiores de todos os tempos: prova da Laquis bíblica nos dias de Roboão, filho de Salomão; o selo de um servo do rei Josias; o anel de Pôncio Pilatos; a assinatura do profeta Isaías; um subúrbio do tempo de Jesus; e textos em hebraico primitivo no Egito datados da época de Moises.
Provas da Laquis bíblica
Muitos arqueólogos questionavam se a cidade de Laquis era uma
cidade fortificada no tempo do rei Roboão, filho de Salomão. Novas descobertas,
anunciadas no final de abril, indicam que sim, corroborando a narrativa
bíblica.
A mais antiga menção conhecida de Laquis está nas cartas de
Amarna, que faziam parte do arquivo de correspondência do Egito com os seus
reis vassalos e governadores em Canaã no século 14 a.C. As cartas indicavam que
Laquis era uma cidade grande e poderosa em Sefelá. Porém, Laquis foi destruída
no século 12 a.C., mas voltou a aparecer nos livros de Crônicas, descrita como
uma das cidades fortificadas pelo rei Roboão, que governou Judá aproximadamente
no século 10 a.C., cerca de 4000 anos depois das cartas de Amarna.
Em todas as escavações de Laquis, não havia sinais de uma cidade
fortificada durante o reinado de Roboão. Até agora. Segundo o professor Yossi
Garfinkel, chefe do Instituto de Arqueologia da Universidade Hebraica de Jerusalém,
um muro anteriormente descoberto data exatamente ao tempo de Roboão.
“Descobrimos que Laquis era uma cidade fortificada e que foi
estabelecida por volta do ano 920 a.C.”, disse Garfinkel. Ele frisa ainda que
esta é uma forte prova de que, nos dias de Davi, o reino se estendia pelo menos
até o vale de Elá, como sugere a Bíblia. Garfinkel defende que o reino não
surgiu de repente, mas se expandiu ao longo do tempo. “Foi um processo gradual
e agora posso ver”, afirma.
A escavação em Laquis descobriu ainda outro achado
importante: um altar de quatro chifres de barro, descrito no livro de Êxodo.
Ele data aproximadamente no século 8 ou 7 a.C. e é o mais antigo altar conhecido
do gênero encontrado em Judá até agora. Isso atesta que os judeus de Judá não
confinaram seus rituais de adoração ao templo.
O selo do servo do rei Josias
Uma pequena impressão de argila do oitavo século a.C., que leva
uma inscrição mencionando um membro da corte do rei Josias, de Judá, foi
recentemente localizada em Jerusalém. As escavações, realizadas no
estacionamento de Givati, na Cidade de Davi, revelaram uma pequena impressão de
argila que incluía uma referência a Natã-Meleque, identificado no selo como
“Servo do Rei”. A descoberta foi anunciada no final de março.
O detalhe é que exatamente no 8º século a.C., quando Josias
era rei de Judá, havia um servo seu chamado Natã-Meleque, mencionado em 2 Reis 23.11:
“Também tirou os cavalos que os reis de Judá tinham dedicado ao sol, à
entrada da casa do Senhor, perto da câmara de Natã-Meleque, o camareiro, que
estava no recinto; e os carros do sol queimou a fogo”.
O Dr. Anat Mendel-Geberovich, da Universidade Hebraica de
Jerusalém, e o Centro para o Estudo da Jerusalém Antiga disseram ao jornal The
Jerusalem Post, edição de 31 de março, que o selo faz provavelmente
referência mesmo à figura bíblica. “Embora não seja possível determinar com
absoluta certeza que o Natã-Meleque mencionado na Bíblia era de fato o dono do
selo, é impossível ignorar alguns dos detalhes que os ligam”, explicou Mendel-Geberovich.
O arqueólogo Dr. Yiftah Shalev, da Autoridade de
Antiguidades de Israel, explicou ao jornal Times de Israel que as duas
inscrições no selo “pintam um quadro muito maior da época em Jerusalém”. Diz
ele: “O importante não é apenas que eles foram encontrados em Jerusalém, mas
que foram encontrados dentro de seu verdadeiro contexto arqueológico”, explicou
Shalev. “Não é uma coincidência que o selo e a impressão do selo sejam encontrados
aqui”, frisou.
Subúrbio dos tempos de Jesus
Também em março, escavações para a construção de novos edifícios
em Israel trouxeram ao lume vestígios de uma aldeia judaica da época de Jesus
no bairro de Sharafat, em Jerusalém. Hoje, a área se encontra dentro de
Jerusalém, mas foi, dois mil anos atrás, um subúrbio de Jerusalém. De acordo
com o líder das escavações no local, arqueólogo Ya’akov Billig, “a descoberta
mais espetacular aqui é uma grande propriedade funerária”.
“Por suas características, a propriedade de sepultamento
pertencia a uma pessoa muito importante e de família rica, possivelmente por várias
gerações”, explicou Billig, que é especialista da Autoridade de Antiguidades de
Israel à CBN News.
Os arqueólogos também identificaram um local de banho ritual
judaico e muito mais na área descoberta. Billig explicou que os moradores do
complexo se dedicavam à agricultura e que um dos principais produtos cultivados
foram, provavelmente, os vinhedos. “Temos provas do lagar com um piso muito
grande, onde colocaram as uvas. Também temos uma prensa de azeite. Pelo vinho e
o azeite, eles provavelmente tinham um padrão de vida bastante alto aqui”, completou
Billig. Um pombal também foi descoberto pelos escavadores nesta área de
Jerusalém.
O anel de Pôncio Pilatos
Em dezembro do ano passado, foi anunciada ao mundo a
descoberta do anel do procurador romano da Judéia nos tempos de Jesus, Pôncio
Pilatos, representante oficial do Império Romano na região. Há alguns anos, a
comprovação arqueológica de sua existência já havia sido confirmada pelo achado
da Estela Dedicatória a Pilatos, que foi encontrada nas escavações de Cesareia
Marítima, a maior cidade portuária romana na costa do Mediterrâneo. Seu nome
esculpido estava nas bases de um pilar dedicatório. Esta pedra encontra-se hoje
no Museu de Jerusalém em Israel, entre outras exposições do tempo de Jesus e
dos primórdios do cristianismo. Porém, a descoberta atual é ainda mais direta,
deixando arqueólogos e historiadores de queixo caído.
Logo após a Guerra dos Seis Dias, em 1968, o arqueólogo israelense Gideon Förster
encontrou um anel, em uma escavação na Colina do Herodium, ao leste de Belém,
onde hoje está parte do Parque Nacional de Herodium. Exatos 50 anos após a descoberta, o anel foi
devidamente limpo e, graças a câmeras especiais, ele revelou seu segredo: além
da imagem de uma embarcação de vinho, o nome de Pôncio Pilatos estava gravado
lá no metal, em escrita grega.
Como o anel data da época de Cristo, nenhum outro Pilatos na
região é conhecido e o anel era símbolo de alta posição, os pesquisadores
israelenses acreditam que este anel deve ter pertencido ao famoso Pôncio
Pilatos, o quinto governador romano da Judéia, que governou a Judéia nos anos 26
a 36 d.C. “Eu não conheço nenhum outro Pilatos da época e o anel mostra que seu
dono era uma pessoa de estatura e riqueza”, diz o professor Danny Schwartz, da
Universidade Hebraica.
Segundo o Israel Exploration Journal, “a descoberta
do anel em um buraco com milhares de outras pequenas descobertas no Herodium não
é por acaso. O rei Herodes era um vassalo dos romanos e, portanto, bastante
impopular entre a população. A leste de Belém ele tinha uma colina
artificialmente montada onde construiu sua fortaleza. No flanco norte, uma
espécie de templo foi construído, além de um teatro e um banho romano. Em maio
de 2007, o arqueólogo israelense
Ehud Netzer encontrou o túmulo do rei Herodes e o sarcófago vandalizado.
Herodes escolheu o lugar para ficar a salvo de seus captores. Além disso, a localização
do túmulo permitiu uma visão de Jerusalém. Como Herodes mantinha relações
estreitas com os ocupantes romanos, não é de surpreender que o anel de sinete do
procurador também fosse encontrado no mesmo local. A parte superior do
complexo, com uma poderosa fortaleza construída, continuou a ser usada pelos
oficiais romanos que governaram a Judéia na época. É provável que Pilatos tenha
usado o Herodium como o centro administrativo do governo central, já que este
está bem mais próximo de Jerusalém do que Cesareia”.
Assinatura do profeta Isaías
No ano passado, foi encontrado um selo de argila do século 8
a.C., em uma escavação de Jerusalém, contendo o nome do profeta bíblico Isaías.
A descoberta foi divulgada no Biblical Archaeology Review.
No artigo, intitulado Esta é a Assinatura do Profeta
Isaías?, a autora, a arqueóloga Eilat Mazar, sugere que o antigo texto
hebraico impresso no objeto oval de argila de meia polegada pode ter
“pertencido ao profeta Isaías”. Se a interpretação do texto encontrado no selo
de 2.700 anos estiver correta, seria a primeira referência a Isaías fora da Bíblia.
O profeta hebraico pertencia à nobreza judaica, sendo descrito no texto bíblico
como um conselheiro do rei Ezequias, de Judá, que governou do final do século 8
a.C. ao início do século 7 a.C.
O selo de argila foi um dos 34 objetos encontrados nas
escavações de Mazar em Ophel em 2009 na base do muro sul do Monte do Templo de
Jerusalém, ou Haram al-Sharif. Os selos foram recuperados dos depósitos de lixo
da Idade do Ferro (1200-586 a.C.), do lado de fora dos muros do que Mazar
descreve como uma padaria real que foi assolada por volta de 586 a.C. na
destruição babilônica de Jerusalém.
O selo possui escrita hebraica antiga com menção a Yesha’yah
(o nome hebraico de Isaías), seguido do termo “nvy”. Como o selo está danificado
no final da palavra “nvy”, Mazar sugere que nossa leitura pode estar
incompleta. Se “nvy” fosse seguido pela letra hebraica aleph, o
resultado seria a palavra “profeta” e, hebraico, e a leitura do selo seria
exatamente que o objeto é de propriedade do profeta Isaías.
“O que reforça essa interpretação”, escreve Mazar, “é o
contexto arqueológico em que o selo foi encontrado”. Em 2025, foi anunciada a
descoberta de outro selo de argila nas escavações de Ophel, dessa vez o selo
pessoal do rei Ezequias, o qual virou notícia em todo o mundo. De acordo com o
artigo mais recente, o “selo de Isaías” foi encontrado a apenas 10 metros do
selo do Rei Ezequias, fruto da mesma escavação de 2009.
A estreita relação entre o profeta e o rei descrita na
Bíblia, juntamente com a proximidade dos dois selos, “parece deixar aberta a
possibilidade de que, apesar das dificuldades apresentadas pela área danificada
do selo, este selo pode ter pertencido mesmo a Isaías, o profeta, conselheiro
do rei Ezequias”, conclui Mazar.
Christopher Rollston, professor de línguas semíticas na
Universidade George Washington, fez duas objeções, no entanto. A primeira é que
a palavra “nvy” sem aleph ao final faz com que “nvy” provavelmente
seja apenas um nome pessoal – nesses casos, ou o nome do pai da pessoa ou o
nome do local de onde a pessoa veio. “A letra que seria essencial para
confirmar que a segunda palavra é o título ‘profeta’ é um aleph. Mas não
podemos ver um aleph neste selo, sendo assim esta interpretação não pode
ser confirmada. E se a palavra ‘nvy’ realmente for parte do nome do pai
de alguém, definitivamente não está associada ao profeta, cujo pai, de acordo
com a Bíblia, era Amoz”, frisa Rollston.
A segunda objeção é de que “ao fazer a leitura de ‘nvy’,
nota-se a falta do artigo definido ‘h’. “Na maioria das referências bíblicas, as
referências são a ‘O profeta’ em vez de simplesmente a ‘profeta’. Em suma, se
fosse a palavra ‘profeta’, eu gostaria de ter visto o artigo definido ‘o’, ou
seja, uma referência a ‘O Profeta Isaías’”, diz Rollston.
Mazar observa, porém, que o artigo definido estaria faltando
justamente porque ele deveria estar na área danificada acima da palavra “nvy”.
Ela lembra também que embora seja comum em casos assim o artigo definido, há
vários exemplos arqueológicos e textuais de usar da expressão do termo profeta
sem o artigo definido. Quanto à primeira objeção, Mazar ressalta que a área danificada
do selo pode ter contido também originalmente aleph. Sendo assim, o
texto completo do selo diria “Propriedade de Isaías, o Profeta”. Além disso, é
preciso lembrar que o “selo de Isaías” foi encontrado a apenas 10 metros do
selo do Rei Ezequias, data da mesma época e ambos – Isaías e Ezequias – viveram
na mesma época, tendo Isaías servido no palácio real.
Hebraico no Egito na época de Moisés
Uma peça de calcário muito antiga trazendo uma inscrição foi
descoberta em 1995 no Egito, em um túmulo ao longo da margem oeste do Nilo, em
Luxor. O egiptólogo britânico Thomas Schneider decifrou as inscrições e
anunciou ano passado que se trata de uma versão inicial do alfabeto semítico,
um abecedário em hebraico primitivo.
O túmulo escavado remonta ao ano 1450 a.C., período considerado por muitos
especialistas a época de Moisés, de acordo com a cronologia bíblica mais comum.
Ora, se o texto bíblico afirma que “Moisés anotou tudo o que o Senhor havia dito”
(Êxodo 24.4) para que o povo lê-se posteriormente, isso sugere que a escrita
hebraica já havia se desenvolvido bastante naquela época e, portanto, Moisés
não foi o único a escrever em uma escrita semítica no Egito naquela época.
Outro detalhe é que essa descoberta reforça ainda mais a
veracidade do texto bíblico quanto à presença judaica no Egito nesse período.
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