Reflexões sobre as chuvas temporã e serôdia

Reflexões sobre as chuvas temporã e serôdia


Na Bíblia, as chuvas têm um simbolismo especial, sendo frequentemente associadas a bênçãos, novidades e crescimento. A ideia das chuvas temporã e serôdia está enraizada em referências bíblicas encontradas no Antigo e no Novo Testamentos (Deuteronômio 11.14; Jeremias 5.24; Joel 2.23; Oseias 6.3; Zacarias 10.11; Tiago 5.7), especialmente nos profetas e particularmente no livro de Joel, que é relevante para essa reflexão. Essas chuvas são vistas como dádivas de Deus derramadas sobre o Seu povo, representando bênçãos espirituais e a manifestação do Espírito Santo.

As palavras “temporã” e “serôdia” são usadas na Bíblia para se referir a dois períodos de chuvas que ocorriam na região da Palestina, onde viviam os antigos israelitas. A chuva temporã era a que caía no outono, logo após a semeadura das sementes, e a chuva serôdia era a que caía na primavera, antes da colheita dos frutos. Essas chuvas eram essenciais para a agricultura e para a vida do povo, pois este dependia delas para ter alimento e prosperidade.

Antecedente histórico

Como expressão pentecostal, o termo Latter Rain Movement (Movimento Chuva Serôdia) surgiu no Canadá a partir de 1948 e logo se difundiu para os Estados Unidos da América, embora nesse país o termo “chuva serôdia” já fosse citado desde o início do Moderno Movimento Pentecostal (1900-1909). O Movimento Chuva Serôdia teve início com relatos de curas, milagres e grande manifestação de experiências pentecostais, que, segundo seus líderes, contrastava com os anos imediatamente anteriores de seca espiritual e falta de experiências com Deus nos EUA no intervalo entre o início do pentecostalismo (1900) e o Movimento Chuva Serôdia (ou seja, décadas de 1920 a 1940). A renovação carismática ocorrida nos Estados Unidos nos anos 1960 e 1970 teve seus princípios fundamentados no Movimento de Chuva Serôdia.

O Movimento Chuva Serôdia iniciou-se logo após a Segunda Guerra Mundial e foi um alento para milhões de pessoas que estavam desorientadas, confusas e amedrontadas em relação ao que poderia acontecer com o mundo com o início da guerra fria e as ameaças nucleares. No cerne do Movimento Chuva Serôdia estava o fato de que os Estados Unidos seriam o novo Israel de Deus com a missão de salvar o mundo. Talvez por este motivo o movimento tem sido criticado por alguns cristãos, inclusive nos EUA, por supostamente ter uma interpretação errada da Bíblia, uma hermenêutica tipológica e alegórica exagerada, uma ênfase na revelação extrabíblica e alguns ensinos duvidosos.

A figura da chuva serôdia no Pentecostalismo

Na Bíblia, as chuvas temporã e serôdia são usadas como símbolos da ação de Deus na história e na vida do Seu povo. A chuva temporã representa o início da obra de Deus, a preparação para o crescimento e o desenvolvimento do Seu Reino. A chuva serôdia representa o fim da obra de Deus, a consumação e a plenitude do Seu Reino. Figurativamente, é possível afirmar que a chuva temporã é a atuação de Deus no Antigo Testamento, enquanto que a chuva serôdia é a implantação do Seu Reino no Novo Testamento através de Jesus Cristo e do envio abundante do Espírito Santo.

O texto de Joel 2.23-32, que usa essa linguagem, é onde o profeta anuncia que Deus iria restaurar a sua terra depois de uma grande calamidade causada por uma invasão de gafanhotos. Ele prometeu que Deus enviaria as chuvas temporã e serôdia, trazendo abundância e alegria ao povo e que isso seria um sinal de que Deus iria derramar o Seu Espírito sobre toda a carne, profetizando sobre o Dia de Pentecostes, quando os discípulos de Jesus receberam o Espírito Santo e começaram a pregar o evangelho a todas as nações, conforme a interpretação do profeta Joel utilizada pelo apóstolo Pedro em Atos 2.

No entanto, a chuva serôdia se refere ainda ao movimento dentro do pentecostalismo mundial em que o Senhor está derramando o Seu Espírito novamente, como fez no Dia de Pentecostes. Portanto, os pentecostais possuem uma compreensão particular sobre as chuvas temporã e serôdia mencionadas nas Escrituras. Essas chuvas são entendidas de forma figurativa e têm um significado espiritual profundo.

A interpretação pentecostal das chuvas temporã e serôdia

Os pentecostais entendem que as chuvas temporã e serôdia têm um significado profético, relacionado ao derramamento do Espírito Santo e à manifestação dos dons espirituais, baseando-se em textos como Joel 2.23-29, Atos 2.17-21 e Tiago 5.7-8. A chuva temporã é vista como um derramamento inicial do Espírito Santo, que ocorreu no Dia de Pentecostes sobre a Igreja Primitiva, descrito no livro de Atos dos Apóstolos, que resultou em um grande avivamento e expansão do evangelho pelo mundo. A chuva serôdia, por sua vez, é interpretada como um derramamento final e abundante do Espírito Santo nos últimos dias, preparando a Igreja para a volta de Cristo e um período de avivamento espiritual, utilizando os crentes para preparar o mundo para a Vinda de Cristo, que resultará em um maior poder, unidade, santidade e testemunho dos cristãos, bem como em sinais e maravilhas que acompanharão a pregação da Palavra. Mas também é possível a interpretação de Joel 2.28 como uma interpretação dupla, que se refere tanto ao ocorrido no Dia de Pentecostes quanto ao início do Movimento Pentecostal no período inicial do século XX, no sentido, neste último caso, de que em Pentecostes ocorreu a chuva temporã e a partir do século XX, a chuva serôdia.

Dentro do Pentecostalismo, se busca receber os dons do Espírito Santo através da imposição de mãos e da oração fervorosa, e há a valorização do louvor e da adoração como formas de se introduzir na presença de Deus e de se preparar para receber a Sua bênção. Afirma-se que Deus restaurou todas as funções de ministério para a igreja, incluindo as de apóstolos e profetas, e que as mulheres têm um papel pleno e igual na obra de Deus. O fervor pela santidade e a disponibilidade para o mover do Espírito Santo são considerados elementos fundamentais para a recepção das bênçãos espirituais. A Igreja é vista como um corpo coletivo que deve se preparar e se purificar para receber essas chuvas, a fim de cumprir sua missão e impactar o mundo ao seu redor. Dessa forma, os pentecostais têm uma visão otimista da história, na qual a chuva serôdia concluirá a obra de Deus e a Igreja será vitoriosa sobre o mundo e inaugurará o Reino de Cristo.

A chuva serôdia está sendo derramada sobre a Igreja, preparando-a para o retorno de Cristo. Esse derramamento está presente nas manifestações espirituais anteriormente descritas. A compreensão dessas chuvas, em um mundo em constante mudança, figura como uma fonte de encorajamento, esperança e motivação, impulsionando a Igreja a buscar uma maior intensidade em sua caminhada espiritual, alimentando a fé e engajando-se na missão cristã e no serviço.

Essas duas chuvas, a temporã e a serôdia, nos ensinam sobre o plano de Deus para a nossa vida e para a Sua Igreja. A chuva temporã nos lembra do primeiro derramamento do Espírito Santo no Dia de Pentecostes, quando os discípulos de Jesus foram cheios de poder e começaram a pregar o Evangelho a todas as nações (Atos 2.1-4). Essa foi a sementeira do Reino de Deus na Terra. A chuva serôdia nos lembra do último derramamento do Espírito Santo nos últimos dias, quando Deus vai derramar o Seu Espírito sobre toda a carne e vai preparar a Sua Igreja para a Volta de Jesus (Joel 2.28-32).

Referência

ARAUJO, Isael. Dicionário do movimento pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.

por Claiton Ivan Pommerening

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