Ganhando os canibais da Libéria para Cristo

Ganhando os canibais da Libéria para Cristo


A história dos missionários assembleianos Henry e Ruth Garlok

Henry Bruce Garlock (1897 - 1985) e sua esposa Ruth Trotter Garlock (1897-1997) estão entre os mais famosos missionários pentecostais do século 20. Membros das Assembleias de Deus nos Estados Unidos, algumas de suas histórias no campo missionário foram imortalizadas no livro Before We Will and Eat You (1974), escrito pelo casal e que se tornou rapidamente um clássico de missões em língua inglesa.

Nascidos em Nova Jersey (EUA), Henry e Ruth foram missionários pioneiros das Assembleias de Deus na Libéria, em Gana e em Malawi. A chamada de Ruth para missões ocorreu depois de ela ter sido batizada no Espírito Santo na AD em Newark, Nova Jersey, então dirigida pelo pastor Ernest S. Williams (1885-1981), que foi o único participante do Avivamento na Rua Azusa que se tornou superintendente-geral das Assembleias de Deus nos EUA – de 1929 a 1949. Williams era o líder da AD norte-americana quando esta enviou ao Brasil os missionários Orlando Boyer, Virgil Smith, Lawrence Olson, Leonard Pettersen, J. P. Kolenda e Gustavo Bergstrom.

Após ser batizada no Espírito Santo, Ruth sentiu um forte desejo de consagrar toda a sua vida ao serviço do Senhor. Então, certa noite, quando estava em oração, Deus mostrou à jovem Ruth um triângulo em que Ele estava na ponta superior, ela estava em uma das pontas inferiores e o continente africano estava na outra ponta inferior. Na visão, havia uma forte linha conectando Deus a ela e outra forte linha conectando Deus à África; porém, faltava no triângulo uma linha ligando Ruth à África. Logo que ela percebeu isso, ouviu Deus dizendo: “Eu já estou conectado à África, mas muitos ainda não sabem disso”. E então, na sequência, Deus lhe fez o chamado: “Você está disposta a ser a conexão para contar a eles isso e completar o triângulo?”. Ela respondeu positivamente e mais tarde contou à sua mãe a visão. Entretanto, esta resistiu fortemente à ideia. Ruth era sua única filha e a África era um lugar terrivelmente perigoso, mesmo para jovens fortes. Os pais de Ruth haviam se divorciado recentemente e a renda da moça era necessária para ajudar no sustento da família. No entanto, depois de ouvir o testemunho de um missionário na Índia, a mãe de Ruth foi tocada por Deus e deu total apoio ao chamado de sua filha para a África.

Em suas orações, Ruth havia pedido a Deus para casar-se com um homem que, além de ser um cristão firme em sua fé, tivesse um chamado sincero para a África. Conta uma biógrafa dela que “quando seus amigos souberam disso, previram que ela morreria solteirona, mas ela se manteve firme”. Foi quando seu irmão Alfred foi estudar na Escola de Treinamento Missionário de Beulah Heights em North Bergen, Nova Jersey. Nessa época, Ruth tinha um emprego de professora e de vez em quando visitava seu irmão, levando-lhe doces. Ali, em uma dessas visitas, conheceu um amigo de Alfred, chamado Henry Garlock, que era muito amigável e atencioso, de grande caráter como cristão e que se sentia fortemente chamado para trabalhar como missionário na África. Ao conhecê-lo, Ruth teve a convicção de que ele era a resposta às suas orações. Após a formatura de Henry em Beulah Heights em 1920, eles ficaram noivos e Henry recebeu a nomeação de missionário das Assembleias de Deus nos EUA para a Libéria, na África Ocidental. Ele embarcou para o continente africano ainda em 1920 e ela o seguiria oito meses depois, em outro navio, no ano seguinte, logo após terminar seu contrato de trabalho como professora.

Em Gropaka, Libéria, Henry encontrou uma estação missionária abandonada. Quando ele subiu os degraus da casa, eles desmoronaram devido aos danos causados pelos cupins. Lá dentro, ele encontrou também ratos, cobras, escorpiões e enormes lagartos. As chamadas formigas brancas haviam comido as persianas de bambu das janelas. Por um momento, Henry se perguntou se era certo levar sua jovem noiva a tal lugar. Conta uma de suas biografias que “depois de orar, ele sentiu a certeza de Deus de que o chamado de Ruth era tão real quanto o dele, e seu compromisso com a missão era tão sólido quanto”. Então, ele pôs-se a trabalhar, na casa para que ela estivesse pronta para quando ela quando ela chegasse meses depois.

Em 26 de junho de 1921, Henry levantou-se ao amanhecer para se dirigir à costa onde o navio de Ruth iria atracar. No dia seguinte, eles contrataram um barco para levá-los mais para o interior e, dois dias depois, se casaram tendo como testemunhas outro casal de missionários e os carregadores de rede. Para fazer o anel de casamento, Henry contratou um ferreiro local para derreter o ouro de uma moeda inglesa. “No dia seguinte ao casamento, eles se levantaram às 2 da manhã para começar a jornada de dois dias até sua casa, cavalgando em uma canoa por águas infestadas de crocodilos, caminhando quilômetros em trilhas na selva na chuva e em águas que batiam na cintura. Quando chegaram, Henry e Ruth foram abençoados ao descobrir que um chefe vizinho tinha ouvido falar de seu casamento e os parabenizou com um novilho e uma cabra para uma festa de casamento. Naquela noite, eles realizaram seu primeiro culto juntos na África”, conta a biógrafa Ruthie Edgerly Oberg.

Foram 60 anos de ministério, abrindo trabalhos em lugares na Libéria, Gana e Malawi onde hoje há grandes igrejas pentecostais. Mas, talvez a história mais conhecida sobre o casal é como eles ganharam uma tribo de canibais na Libéria para Cristo.

Era já o ano de 1922 quando Henry e Ruth Garlock montaram um acampamento em uma tribo na Libéria que fazia fronteira com as terras da temida tribo canibal Pahn. Até então, nenhum missionário havia tentado evangelizar aquela tribo temida, mas o casal de missionários estava orando a respeito. Conta-se que, quase imediatamente após a chegada deles àquele lugar, Ruth contraiu malária. Como os suprimentos médicos, que eram escassos, logo acabaram, e Ruth só piorava, Garlock pediu aos nativos que fossem o mais rápido possível na costa para conseguir mais remédios. Para isso, eles precisavam pegar o caminho mais curto. O problema é que o caminho mais curto passava pela região dos Pahn. Logo, os nativos relutaram em fazer esse trajeto. Porém, após muita insistência, um grupo deles aceitou o trabalho, na esperança de conseguir contornar a área de perigo de tal forma que não fossem percebidos. Entretanto, algumas horas depois, o líder do grupo apareceu de repente na tenda de Garlock com a notícia de que um de seus homens havia sido capturado pelos canibais. A menos que o homem fosse resgatado, certamente seria comido.

Providencialmente, a febre de Ruth havia diminuído desde a partida do grupo, de maneira que Henry, ao ouvir o relato e sentindo-se culpado pela situação, decidiu partir para a terra dos Pahn, porém levando consigo alguns guerreiros selecionados da tribo que os recebera. Ele ia tentar trazer o homem de volta antes que ele fosse devorado pelos canibais naquela noite. Antes de escurecer, Henry e os guerreiros chegaram à aldeia Pahn. Segue-se o relato do que aconteceu:

“Uma das cabanas tinha dois homens carregando lanças guardando-a e Garlock imaginou que era ali que o carregador estava sendo mantido. ‘Vou entrar’, ele sussurrou para seus homens. ‘Se houver confusão, faça o máximo de barulho que puder e tentarei escapar na confusão’. Garlock contava com dois fatos para ajudá-lo. O primeiro era que os Pahns nunca tinham visto um homem branco antes e isso daria a ele a vantagem da surpresa. O segundo era que ele acreditava em um Deus de milagres que forneceria ajuda sobrenatural em um momento como este. Então, orando como nunca antes, ele entrou no complexo canibal”.

“Andando o mais alto que pôde, Garlock caminhou corajosamente até a cabana da prisão. Os guardas ficaram surpresos demais para detê-lo, e ele conseguiu entrar e soltar as amarras do prisioneiro. No entanto, do lado de fora, ele ouviu gritos e o som de muitos pés correndo. Enquanto tentava arrastar o carregador apavorado para fora, Garlock se viu cercado por uma multidão barulhenta de Pahns, armados com lanças, facas e machados”.

Garlock esperou por seus homens para começar uma distração, mas não ouviu nada e rapidamente percebeu que eles haviam abandonado a causa e o deixaram lá sozinho. Sem saber o que fazer, ele começou a orar, enquanto se sentava sobre o crânio de um elefante perto da porta da cabana. A multidão, então, começou a se agitar, até que finalmente fez silêncio e se curvou formando um grande semicírculo ao seu redor. Foi quando o feiticeiro da tribo “se levantou e balançou uma varinha de junco para Garlock”. Por cerca de uma hora, ele proferiu palavras sem parar contra o missionário diante da multidão e do chefe da aldeia. Embora não entendesse uma palavra do idioma, Henry Garlock presumiu que estava sendo julgado. Então, ao final de sua longa fala, o feiticeiro olhou o missionário nos olhos, colocou a sua varinha aos pés dele e deu um passo para trás em meio aos aplausos da multidão, que foi seguido por um silêncio. Henry percebeu que era a hora de ele fazer sua defesa. Mas, o que ele diria? Ele não conhecia ainda a língua daquela tribo. Mesmo assim, ele pegou a vara e começou a andar de um lado para o outro orando, enquanto a multidão ficava cada vez mais inquieta.

Em meio à oração, o missionário começou a tremer sentindo a presença de Deus e a paz do céu inundou seu coração. Nesse instante, ele lembrou as palavras de Jesus em Mateus 10.19: “Não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que haveis de dizer”. Cheio do Espírito Santo e tomado de grande ousadia celestial, Henry começou a falar em línguas estranhas. Ele não compreendia nada do que estava falando, apenas deixou fluir a linguagem que lhe era dada pelo Espírito naquele momento. O que aconteceu foi assim descrito: “O efeito sobre os Pahn foi surpreendente. Eles se inclinaram para frente, fascinados, atentos a cada palavra do missionário. Garlock percebeu que devia estar falando na língua dos Pahn”. Por 20 minutos ele falou em línguas com aqueles nativos. Ao final desse tempo, as línguas cessaram e ele se sentou e esperou.

O chefe da tribo e o feiticeiro se consultaram por alguns minutos, então o feiticeiro trouxe um galo branco, torceu seu pescoço e aspergiu o sangue dele no missionário e no prisioneiro. Era como se o galo fosse morto no lugar deles. Em seguida, foram libertos e o chefe da tribo de canibais ainda colocou dois homens para guiá-los na volta. Pouco tempo depois, os Pahn se abriram à mensagem do evangelho e foram convertidos a Cristo, abandonando o canibalismo. Eis um grande exemplo da assistência do Espírito Santo na obra missionária.

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