Teorias conspiratórias e saúde mental

Teorias conspiratórias e saúde mental


Desejar saúde a quem amamos deve fazer parte dos nossos votos e saudações. Assim lemos no versículo 2 da Terceira Epístola de João, em seu capítulo único:

Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma” (3 João v.2). Aqui, vemos o apóstolo amado expressando o seu amor e bom desejo de bênçãos para Gaio, fiel irmão e companheiro.

A nossa saúde também faz parte do propósito de Deus para a nossa vida. O que vem à sua mente quando você pensa em saúde? Muitas vezes somos tentados a pensar apenas na saúde física. Associamos saúde à ausência de doenças como gripe, câncer, diabetes, entre outras. Contudo, o conceito de saúde é muito mais amplo. Ele envolve três dimensões: o físico, o mental e o espiritual. Primeiramente, precisamos entender o que é ser saudável em cada uma dessas dimensões. Além da saúde física, temos a saúde mental que tem a ver com as nossas emoções e pensamentos. A nossa alma é onde estão as nossas vontades, as nossas lembranças, os nossos sentimentos, o nosso mundo emocional. Aqui, cabem mais perguntas: Como lidamos com os nossos sentimentos? Como encaramos e solucionamos os nossos problemas? Imaginamos, às vezes, que pessoas “mentalmente doentes” são apenas aquelas que possuem transtornos mentais graves, mas alguém que sofre de ansiedade, estresse ou depressão, ou alguém que não consegue dominar as suas emoções e não consegue se relacionar bem com as pessoas também está com problemas na dimensão mental da saúde. A nossa mente deve estar sob o governo de Cristo (Efésios 4.17; Colossenses 1.21).

E a saúde espiritual? O que seria estar espiritualmente saudável? A saúde espiritual tem a ver com o nosso relacionamento com Deus, nossa fé e as nossas práticas como filhos e servos do Senhor. É a porção imaterial, eterna, essência de Deus. Podemos estar aparentemente bem, mas quando nos distanciamos da comunhão plena com Deus ou somos orgulhosos e mesquinhos, por exemplo, a saúde espiritual vai mal.

Na Bíblia, encontramos a relação entre saúde física, mental e espiritual. Há dois textos no livro de Provérbios que exemplificam claramente essa relação. Quando uma dimensão não está bem, pode, em muitos casos, comprometer as outras: “Não sejas sábio a teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal. Isto será saúde para o teu âmago, e medula para os teus ossos” (Provérbios 3.7, 8); “O coração alegre é como o bom remédio, mas o Espírito abatido seca até os ossos” (Provérbios 17.22). No primeiro texto, vemos que “Temer ao Senhor e apartar-se do mal” (saúde espiritual) produz saúde mental (âmago, de acordo com o dicionário, significa, entre outras coisas, a essência do ser, seus sentimentos) e física (representada por “medula para os seus ossos”). No segundo texto é expressa a relação entre mente e corpo, em como nossas emoções podem afetar as nossas condições físicas.

Biblicamente, nossas dimensões física, mental e espiritual estão intimamente relacionadas. No desempenho dos nossos papéis como esposo, esposa, pai, mãe, irmãos, amigos; como profissionais, como servos do Senhor, na Igreja, e em outros inúmeros papéis, podemos enfrentar dificuldades. Algumas dessas dificuldades conseguimos resolver logo. Isto é uma benção! Outras podemos levar algum tempo para resolver e outras ainda, conviver uma vida inteira sem conseguir resolver. Temos, então, um grande desafio: saber que Deus pode permitir em algum momento de nossas vidas algum sofrimento, mas nunca além do que possamos suportar (1 Coríntios 10.13). Precisamos buscar a graça do Senhor todas as manhãs. Ela nos basta para podermos conviver com a situação sem nos machucar. Nunca estaremos sozinhos (2 Coríntios 12.9). As dificuldades foram previstas por Jesus, quando alertou aos seus discípulos. “Tenho-vos dito isso, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (João 16.33).

Temos vivido tempos difíceis. Muitas notícias falsas, além das más notícias verdadeiras, estão assolando as famílias de todo o mundo, sendo repassadas sem o devido critério, piorando as condições de preocupação e falta de controle da situação. Houve um aumento significativo dos sintomas de ansiedade, depressão, sensação de medo, estado de alerta e incertezas pós-pandemia. Ainda sentimos os efeitos nefastos na saúde mental e emocional de grande número de pessoas.

Nesse contexto, teorias da conspiração têm encontrado espaço amplo nos modernos meios de comunicação. Elas sempre existiram. Em todas as áreas do conhecimento humano, elas aparecem tentando explicar condições climáticas, sociedades secretas para dominar o mundo; na saúde, compostos de ervas para curar doenças; aparecem no popular “Elvis Presley não morreu”; outros, para ganhar popularidade e dinheiro através das quantidades de likes recebidos na internet, repassam com requintes de detalhes as mais absurdas teorias conspiratórias.

Com o advento da internet e do fácil compartilhamento de informações nas redes sociais, temos muitas informações confiáveis, mas muitas notícias falsas também. Ambas são espalhadas rapidamente, tanto aquelas que chegam de fontes confiáveis quanto as fake news, que se tornaram mais criativas e de grande alcance.

Há efeitos psicológicos nas teorias da conspiração?

Quando as teorias da conspiração são desmascaradas, as pessoas que haviam colocado toda a sua credibilidade nelas, conseguindo momentaneamente ou por algum tempo a calma, segurança, o controle que precisavam, veem agora o seu emocional começar a desmoronar. O dia a dia da pessoa já não é o mesmo. Ainda vulnerável, a desconfiança pode permear os seus pensamentos: se aquelas explicações são mentirosas, o que pode ser então?

Dependendo do seu temperamento, a pessoa terá atitudes diferentes. Ela pode ter o seu comportamento comprometido, se afastando das pessoas pelo constrangimento de não ser compreendida, passando a achar difícil conversar e manter um convívio social saudável até com as pessoas mais próximas. Outra pessoa na mesma situação, mas com temperamento diferente, pode passar a demonstrar sentimento de superioridade, certa arrogância em relação aos que não estão na mesma linha de pensamento, pois acredita que tem conhecimento que elas não têm. Seria a detentora da verdade. Ela poderá tentar expandir a sua abordagem convencendo pessoas que expressam a mesma opinião a formar um grupo e convencimento ou fixação de ideias radicais, onde o diálogo não tem lugar.

Alguns sintomas podem sinalizar que a saúde emocional precisa de cuidados: preocupação excessiva, ansiedade, medos sem sentido, estado de alerta, ingestão exagerada de calmantes, estado emocional caracterizado por um sentimento de insegurança, aparecimento de doenças psicossomáticas (sintomas físicos em consequência dos problemas emocionais), gastrite, tensões e dores musculares, e situações de estresse excessivo provocando agitação emocional que pode afetar órgão e sistemas do nosso organismo e provocar doenças físicas ou mentais.

Como devemos lidar

Ao receber mensagens, vídeos cujos conteúdos impactantes de informações parecem convincentes, não dê crédito de imediato e pesquise mais informações a respeito. A verificação dos fatos e a capacidade de um pensamento crítico ajudarão a combater a desinformação e a saúde mental debilitada. Sempre questione antes de compartilhar com os outros. Devemos passar boas novas! Devemos aproveitar de maneira sábia os nossos modernos meios de comunicação, repassando a Palavra de Deus, que sempre edifica!

A Bíblia Sagrada, como nosso manual de funcionamento, nos orienta em como manter a saúde física, mental, emocional e espiritual. “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança” (Lamentações 3.21). Então, vejamos mais:

- Cuidar da saúde faz parte das responsabilidades que temos enquanto filhos de Deus. É o nosso dever preservar nosso espírito, alma e corpo saudáveis, lembrando sempre que somos importantes para Deus e que um dia prestaremos contas a Ele da boa ou má administração da nossa vida (1Co 6.19,20).

- Devemos preservar a saúde física, cuidando de forma preventiva para evitar doenças. A Bíblia é rica em ensinamentos sobre a forma como podemos manter a qualidade de vida em todas as esferas da nossa existência. Temos orientações sobre alimentação saudável e equilibrada para nossa saúde e boa disposição (Provérbios 23.20, 21).

- Saúde espiritual: a reconciliação com Deus através do sangue de Jesus e frequente comunhão com Ele garantem saúde espiritual (Isaías 53.4, 5; Romanos 5.1,10). O pecado e as suas consequências têm levado milhões à morte espiritual (Marcos 2.17).

- Saúde da alma: pensar com a mente de Cristo! A mente carnal e a consciência moral corrompidas levam as pessoas a sérias doenças (Romanos 1.28; Provérbios 24.9; Isaías 66.18; Mateus 15.19). Os maus pensamentos levam a ações contrárias à vontade de Deus, mas os que possuem a mente de Cristo desfrutam de uma vida saudável que reflete Cristo (Filipenses 2.5). Os nossos pensamentos devem ser motivados pelo Espírito Santo, assim produziremos o fruto do Espírito que reflete a saúde da alma (Gálatas 5.22).

- Saúde emocional: Interpretamos afetivamente as experiências vivenciadas conforme o nosso grau de confiança em Deus. Devemos reagir corretamente aos sentimentos de alegria, tristeza, frustração, raiva, medo, preocupações, amor, ciúme, egoísmo e muitos outros.

O nosso equilíbrio e saúde emocional estão diretamente ligados a uma dinâmica. Quanto mais intenso o sentimento vivenciado, tanto maior os seus efeitos, sejam eles positivos ou negativos. Inúmeras doenças são desenvolvidas a partir de sentimentos ou emoções intensas que levam ao estado de tensão emocional ou ansiedade (Filipenses 4.6; Salmos 46.1-3,10,11). Lamentações e autopiedade roubam a alegria e comprometem a saúde (Salmos 31.9,10). O inimigo da nossa alma trabalha na esfera da nossa mente e emoções, tentando roubar a saúde e a paz (1 Pedro 5.8). Deus fica conosco em qualquer situação (Salmos 23.4; Isaías 43.2). Devido à certeza do Seu cuidado conosco (1 Pedro 5.7), devemos encarar cada fase da nossa vida com a ajuda da Palavra de Deus, sabendo que os momentos de dor não duram para sempre (Salmos 30.5; Eclesiastes 3.1-4). Quando perdemos a alegria, junto perdemos também a energia. Devemos sempre lembrar que “A alegria do Senhor é a nossa força” (Neemias 8.10b).

por Sonia Pires Ramos

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