Inteligência Artificial gera preocupação no mundo e levanta questões éticas

Inteligência Artificial gera preocupação no mundo e levanta questões éticas

Especialistas na área de tecnologia destacam benefícios e riscos; cristãos devem estar alertas em relação a certos usos da nova ferramenta

Em 14 de março deste ano, a empresa norte-americana OpenAI tornou acessível a todo o mundo o GPT-4, um chat de inteligência artificial (IA) criado em novembro de 2022 e que, desde então, tem gerado uma série de discussões e preocupações na sociedade. O programa de IA funciona como um assistente virtual online 24 horas que responde a perguntas, escreve histórias, descreve e cria imagens, cria slogans, cria campanhas, cria roteiros etc. Em suma, é uma ferramenta que não é má em si mesma, podendo trazer imensos benefícios à humanidade. Entretanto, alguns problemas também têm se levantado após a sua criação.

Os principais problemas e perigos da IA hoje

O primeiro problema é que o GPT, como toda inteligência artificial, tem sido programado para seguir determinadas linhas de pensamento, mais especificamente as ideologias dos seus criadores. Vários usuários do GPT já exploraram a ferramenta com questões ideológicas e rapidamente evidenciaram seu viés claramente progressista, idêntico ao de seus criadores do Vale do Silício.

O segundo problema é que há casos em que o programa simplesmente afirma coisas absolutamente inexistentes, como também já relatado por usuários. Por exemplo: em certos casos, o programa chega a mencionar, dentre os títulos de livros de um determinado autor que está sendo pesquisado pela ferramenta, alguns que nunca foram escritos por ele. Isso se deve justamente ao fato de que a IA se baseia apenas em informações que circulam na internet sobre aquele assunto pesquisado, e essas informações são muitas vezes desencontradas ou misturam dados certos com errados. Além do que, por ser uma inteligência artificial, o programa, ao pegar essas informações, organiza e desenvolve o resultado solicitado de forma própria, de uma maneira que ele considera mais adequada, o que faz com que eventualmente sua resposta possa fugir totalmente da realidade. A IA não faz uma curadoria e uma análise criteriosas da informação. É preciso que nós façamos isso ao receber dela os resultados solicitados.

O terceiro problema é que, por não ter travas morais e éticas, a IA pode fornecer a seus usuários, como já ressaltado pela imprensa, muitas informações potencialmente nocivas, como ensinar a fazer bombas e ensinar formas de automutilação.

Ele também ensina as pessoas a mentir. Logo, é um perigo na mão de pessoas más e para crianças, adolescentes e adultos sugestionáveis. A verdade é que esse tipo de recurso tecnológico não deveria ser colocado à disposição do grande publico sem receber antes, em sua programação, uma série de travas e regulações as quais periodicamente teriam que ser revisadas e ampliadas.

Outra crítica que tem sido feita diz respeito aos efeitos do GPT no mercado de trabalho, mas talvez isso esteja sendo superdimensionado. Haverá um impacto, sim, mas não tão generalizado como se pensa. Por exemplo, a IA com certeza ajudará na automação de processos, na otimização de operações e no atendimento virtual entre as marcas e os seus clientes, respondendo a dúvidas frequentes, criando conteúdos personalizados para cada perfil e atendendo às demandas dos usuários como e quando precisarem. Mas, no que tange à área da criatividade, ela ainda é limitada. Ela pode dar a impressão de ser muito criativa, mas na verdade não é.

A rigor, o GPT não cria nada, no sentido de fazer algo realmente novo. Tudo o que a IA entrega já está disponível em algum lugar da internet. A plataforma apenas acessa a imensa base de dados e, em cima das solicitações feitas pela pessoa, cruza as informações para entregar o conteúdo esperado. Como a coisa é muito bem feita, dá a impressão de ser algo novo. Esse trabalho da IA é útil de várias maneiras, mas quando uma empresa quiser realmente algo original e novo, vai precisar recorrer ao trabalho humano.

Preocupações já em 2014

Em dezembro de 2014, em entrevista à BBC, o físico britânico Stephen Hawking (1942-2018), que usava um programa de inteligência artificial para se comunicar com as pessoas devido ao seu problema de saúde, afirmou que “o desenvolvimento completo da inteligência artificial pode significar o fim da raça humana”.

Hawking disse que embora “as formas primitivas de inteligência artificial desenvolvidas até agora” tenham “se mostrado muito úteis”, ele temia “eventuais consequências de se criar máquinas que sejam equivalentes ou superiores aos humanos”. Segundo ele, essas máquinas “avançariam por conta própria e se reprojetariam em ritmo sempre crescente”. Assim, os seres humanos “não conseguiriam competir e seriam desbancados”.

O físico ainda ressaltou que “os computadores devem ser treinados para se alinhar com os objetivos humanos” e que “não levar a sério riscos associados à tecnologia pode ser nosso pior erro de todos os tempos”.

Carta de especialistas aponta preocupação com IA

Oito dias após o lançamento mundial do GPT-4, o bilionário Elon Musk e mais de 2.600 líderes e pesquisadores do setor de tecnologia se uniram para assinar uma carta aberta pedindo uma pausa temporária no desenvolvimento da inteligência artificial, temendo o que eles acreditam ser “riscos profundos para a sociedade e a humanidade” ligados a essa tecnologia. O documento foi publicado pela Future of Life Institute (FOLI, na sigla em inglês), uma instituição de pesquisa sediada nos Estados Unidos. O principal signatário, Elon Musk, é fundador e dono de empresas inovadoras, como a montadora de carros Tesla e a exploradora espacial SpaceX, e é também o atual proprietário do Twitter, além de forte defensor da liberdade de expressão. Além de Musk, assinam o documento o cofundador da Apple, Steve Wozniak, e uma série de CEOs e pesquisadores.

Na carta, todas as empresas de inteligência artificial são convocadas a “pausar imediatamente” o treinamento de sistemas de inteligência artificial mais poderosos que o GPT-4 por pelo menos seis meses, sob o argumento de que “a competição de inteligência com os humanos pode representar riscos profundos para a sociedade e a humanidade”. A carta continua: “A IA avançada pode representar uma mudança profunda na história da vida na Terra e deve ser planejada e gerenciada com cuidado e recursos proporcionais. Infelizmente, esse nível de planejamento e gestão não está sendo adotado”.

A carta denuncia que há uma “corrida fora de controle” entre as empresas de inteligência artificial para desenvolver a IA “mais poderosa”, cujo resultado “ninguém – nem mesmo seus criadores – pode entender, prever ou controlar de forma confiável”. O documento ressalta que as máquinas poderiam inundar os canais de informação com “propaganda e falsidade” e também levanta a possibilidade de que as máquinas “automatizem” todas as oportunidades de emprego – ou pelo menos a maioria delas.

O documento vai além, asseverando que o desenvolvimento sem controle da IA pode levar a humanidade a uma ameaça existencial: “Devemos desenvolver mentes não humanas que possam eventualmente nos superar em número, ser mais espertas, tornando as nossas mentes obsoletas e nos substituir? Devemos arriscar perder o controle sobre a nossa civilização?”. E enfatiza que não podemos fazer com que decisões importantes sejam “delegadas a líderes tecnológicos não eleitos” pelo povo. A carta conclui concordando com a declaração recente do fundador da OpenAI, Sam Altman, de que uma revisão independente é necessária antes do treinamento de futuros sistemas de inteligência artificial.

No final de abril, em entrevista à Fox News, o canal de notícias de maior audiência nos EUA, Elon Musk afirmou que um dos fundadores do Google queria aprimorar a inteligência artificial ao ponto de transformar essa tecnologia em um “deus digital”. Musk disse ao apresentador Tucker Carlson que Larry Page, cofundador do Google e primeiro diretor-executivo da empresa, contou a ele que trabalhava com o objetivo de construir uma inteligência artificial que extrapolasse todos os parâmetros. A conversa teria ocorrido durante uma visita feita por Musk à casa de Larry Page em Palo Alto, Califórnia, quando os dois eram “amigos íntimos”. Musk declarou que “falava com ele tarde da noite sobre segurança de IA, e pelo menos minha percepção era que Larry não estava levando a segurança de IA a sério o suficiente”. O relato de Musk coincide com o de Mo Gawdat, líder da divisão de IA do Google, que, após deixar a empresa, declarou que estava assustado com os projetos que já estavam sendo desenvolvidos. “A realidade dos fatos é: nós estamos criando deus”, disse ele à época.

Elon Musk enfatizou na entrevista que “todo o objetivo do Google é o que é chamado de AGI: Inteligência Artificial Geral ou Super Inteligência Artificial”. Musk disse ainda que durante o diálogo com Page este teria reagido de forma negativa, afirmando que o dono da Tesla seria um “especista”, termo usado de forma pejorativa para definir pessoas que entendem que a humanidade tem supremacia sobre outras espécies animais. “Havia testemunhas, eu não era o único lá quando ele me chamou de ‘especista’. E então, eu fiquei tipo ‘OK, é isso, sim. Eu sou um especista, OK? Você me pegou’”, contou Musk. “Concordo com ele que há um grande potencial [na inteligência artificial] para o bem, mas também para o mal. E então, se você tem alguma nova tecnologia radical, você quer tentar tomar um conjunto de ações que maximizem a probabilidade de que ela faça coisas boas e minimizem a probabilidade de que ela faça coisas ruins”, alertou Musk.

O cristão e a IA

A Bíblia afirma que Deus criou o homem à sua “imagem e semelhança” (Gênesis 1.26-28) e Ele é o Criador, logo o ser humano herdou de Deus a capacidade criativa, um tanto debilitada após a Queda, mas que ainda é capaz de criar muita coisa. A Bíblia afirma ainda que o homem recebeu de Deus o mandato cultural, de “dominar” e “sujeitar” a Terra e todo o mundo animal (Gênesis 1.28), e tal atividade, para ser exercida, exige a capacidade criativa, pois implica o desenvolvimento da agricultura, da pecuária e de outras tecnologias. De início, o homem já deveria “lavrar e guardar” o Jardim do Éden (Gênesis 2.15) – ou seja, o trabalho não foi criado para o homem após a sua Queda, mas antes dela, tornando-se apenas sofrido depois da Queda, em decorrência do pecado (Gênesis 3.19). O próprio Livro de Gênesis também declara que Deus deu a Adão, como mordomo de Sua criação, a tarefa de nomear os animais de todo o mundo, o que mostra a criatividade dada por Deus ao homem sendo incentivada pelo seu Criador desde o início (Gênesis 2.19,20).

Mesmo após a Queda, vemos a agropecuária, a arte musical, a tecnologia de caça e a engenharia civil sendo desenvolvidas (Gênesis 4.20-22; 10.9,11; 11.1-4), e o propósito de cuidar da Terra e do mundo animal sendo exercido criando-se uma nova tecnologia: a Arca (Gênesis 6.14-16). O problema é quando essa capacidade dada por Deus é usada para o erro (Gênesis 11.4-8). Ora, como qualquer tecnologia, a IA não é má em si mesma, mas, dependendo da forma como será usada e de como foi programada pelo ser humano, pode ser uma bênção ou um mal. Todas essas ameaças e perigos que têm sido pontuados em relação à IA devem ser considerados para que se persiga um aperfeiçoamento dessa ferramenta para o bem, evitando-se seu uso para o mal. Nós, cristãos, defendemos esses alertas e a aplicação desses cuidados e travas na IA, pois levamos em conta a natureza humana caída que usará esse recurso e os riscos para a humanidade de uma programação errada dessa tecnologia.

Em relação ao uso nas igrejas, entendemos que a IA pode ser eventualmente usada como suporte criativo nas áreas de comunicação, organização e planejamento, seja no caso de planejamento de eventos, seja no caso de planejamento de postagens em redes sociais. Entretanto, pedir a IA para, por exemplo, fazer um sermão para você pregar é um erro, porque o sermão deve ser elaborado se buscando antes de tudo a orientação divina. Você pode usar a IA até para, em meio ao seu estudo bíblico, levantar uma informação ou fontes sobre algo que você precisa, mas nunca para definir o que você vai pregar, pois isso quem faz é o Espírito Santo falando ao seu coração – seja através da oração, seja através da sua leitura devocional das Escrituras, seja até mesmo através de uma situação que Ele use para trazer a você alguma passagem bíblica ou princípio bíblico que Ele quer que você pregue. Além do que, a IA muitas vezes traz erros; e mesmo que o conteúdo do sermão que ela produziu, cruzando as trilhões de informações na internet, seja perfeito, a IA não traz unção nem direção de Deus, e nem tem o testemunho de vida com Cristo que você tem para transmitir às pessoas.

Que usemos as novas tecnologias sempre para o bem (1 Coríntios 10.31; Filipenses 4.8) e de forma temperante (Gálatas 5.22). E que não nos deixemos ser tão envolvidos com o mundo digital ao ponto de nos tornarmos ansiosos (Filipenses 4.6) ou de entregarmos a ele todo o trabalho, deixando de exercer a nossa criatividade dada por Deus e deixando de ouvir a voz do Espírito Santo (Romanos 8.14). Enfim, que não mergulhemos no mundo digital ao ponto de perdemos a nossa identidade como seres humanos e esquecermos a nossa total dependência da graça de Deus (João 15.5).

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