Os prejuízos causados pela vaidade (Parte 1)

Os prejuízos causados pela vaidade (Parte 1)

O hedonismo é uma filosofia surgida no 4º século a.C. preconizando que os prazeres da vida são suficientes para promover a tão almejada felicidade. É possível, por inferência, identificar o sintoma do hedonismo implícito na expressão “Alma minha, come, bebe e folga”, proferida pelo rico insensato da parábola emitida por Jesus em Lucas 12.16-21. Não obstante ter sido considerado como “louco”, isso não significava que o personagem da parábola fosse um débil mental, mas, sim, alguém sem alguma razão que justificasse sua atitude egoísta perante Aquele que faz a terra produzir. O fazendeiro orgulhoso e destilando vaidade ao esnobar o resultado do seu trabalho não reconheceu, com a devida humildade, que sem a providência divina não haveria abundante colheita. Ele demonstrou um sentimento ganancioso ao não considerar que “do Senhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam” (Salmos 24.1); e ao ser-lhe pedido contas, foi considerado baldado, não obstante o sucesso do seu investimento.

Se referindo ao comportamento hedonista do homem natural atiçando sua própria valorização, Laurence Richard, doutor em Educação Religiosa e Psicologia Social, afirmou que “o indivíduo hedonista que vive pelos prazeres do momento presente falha em não perceber que os seres humanos foram colocados neste mundo para servir a Deus e que deverão prestar contas quando Cristo voltar” (Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento, CPAD). Tal conclusão corrobora com a pergunta do rei Salomão alusiva aos que se locupletam, envaidecidos, com o sucesso resultante dos seus interesses materiais, em detrimento da humildade: “Tudo é vaidade! Que vantagem tem o homem de todo o seu trabalho, que ele faz debaixo do sol?” (Eclesiastes 1.2,3). Ele encerra o livro de Eclesiastes com uma declaração contundente: “Porque Deus há de trazer a juízo toda obra e até tudo o que está encoberto, quer seja bom, quer seja mau” (Eclesiastes 12.14).

Contextualizando o sumário da parábola do rico insensato aplicado, por analogia, ao exercício do ministério cristão, entendemos que a oportunidade dada por Deus para alguns atuarem na Sua obra, ocupando o espaço nas respectivas condições e proporções confiadas pelo Senhor da seara (Mateus 9.38), não significa aproveitar a ocasião para apropriação do sagrado ou exibição vaidosa, pois uma das falhas que um obreiro pode cometer é se autopromover, utilizando-se dos resultados do seu trabalho, ao contrário daqueles que reconhecem que o Senhor “dá a semente ao que semeia e pão para comer” e “também multiplicará a vossa sementeira e aumentará os frutos da vossa justiça, para que em tudo enriqueçais para toda beneficência, a qual faz que por nós se deem graças a Deus” (2 Coríntios 9.10,11). Ou seja, na seara santa, tudo é provido por Deus: a chamada, o lugar, os resultados e o galardão, valendo lembrar que “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Salmos 126.6).

Entre os fatores que contribuem para que Deus reprove alguns na Sua obra se inclui o espírito exaltado dos que elogiam-se a si mesmos, além da exibição dos seus atos, buscando promover-se de alguma forma, crendo que os resultados do seu empenho significam o troféu da sua aptidão e capacidade pessoal, o que difere do testemunho de João Batista, quando afirmou: “Importa que Ele cresça e que eu diminua” (João 3.30). A atitude negativa do rico insensato da parábola serve de advertência para quem almeja, por quaisquer meios, ser elogiado pelo que faz no ministério. Alguém galgar sucesso ou ser famoso fazendo a obra de Deus não é pecado, desde que tal situação se manifeste normalmente, mediante crescente reverberação que põe em destaque um personagem na Seara do Senhor, sem que o mesmo usufrua do sucesso (Vide o próprio Jesus, a respeito de quem está escrito: “E correu dele esta fama por toda a Judeia e por toda a terra circunvizinha”, Lucas 7.17).

Consequentemente, quem, por acaso, alcançar boa repercussão no ministério não deve se orgulhar da situação, devendo sempre se portar com humildade e submetido à aprovação de Deus; caso contrário, a obra realizada será considerada uma ação meramente egoísta. Por oportuno, vale ressaltar que a chamada para o ministério cristão é uma concessão proveniente da misericórdia divina, independente de méritos pessoais ou exclusividade do ator, como está escrito: “Pelo que, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos; antes, rejeitamos as coisas que, por vergonha, se ocultam, não andando com astúcia nem falsificando a Palavra de Deus; e assim, nos recomendamos à consciência de todo homem, na presença de Deus, pela manifestação da verdade. [...] Temos, porém, esse tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus e não de nós” (2 Coríntios 4.1,2 e 7).

Considerando que o rico da parábola não agiu ilicitamente investindo na sua fazenda, seu erro foi a falta de humildade expressada na sua própria afirmação: “Não tenho onde recolher os meus frutos. Farei isto: derribarei os meus celeiros, e edificarei outros maiores, e ali recolherei todas as minhas novidades” (Lucas 12.17,18). Notório é que a proposital repetição do pronome possessivo na primeira pessoa denunciou o “ego” do investidor, visivelmente estimulado pela vaidade alojada no coração, mergulhado na sua própria exaltação, a exemplo de Senaqueribe, rei da Assíria, insultando o povo de Judá (2 Crônicas 32.13), manifestando uma atitude arrogante, destilando a vaidade pessoal de tal forma que provocou a intervenção divina contra o exército da Assíria (2 Crônicas 32.13).

por Kemuel Sotero Pinheiro

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