Ter razão ou viver em paz?

Ter razão ou viver em paz?

Imagine um casal onde o marido está com óculos de lente totalmente azul e a esposa com lentes totalmente amarelas. Ao olhar ao redor, ele falará: “O mundo está bem azul hoje”. Ao que a esposa lhe dirá: “Você se enganou, o mundo está amarelo!”. Cada um de nós traz de nossas famílias de origem e de nossas histórias lentes que nos proporcionam viés no olhar. Talvez o objetivo deste texto seja ajudar você a tirar os óculos coloridos para ver o mundo multicolorido ao seu redor. Do ponto de vista do exemplo do casal acima, os dois são sinceros ao enxergar o mundo pela distorção de suas lentes, e é isso que deixa esse tema mais complexo.

Algumas pessoas acreditam que para se ter paz é necessário aceitar tudo o que o outro fala ou faz. As pessoas que acreditam assim acabam por anular em parte a sua personalidade. Outras pessoas não abrem mão de ter sempre a “palavra final”, e para isso defendem a sua razão ferrenhamente. Para estas pessoas, a vida é uma grande competição e sempre a sua forma de pensar ou agir tem que ser defendida para assim vencerem na vida ou se destacarem em seu ambiente.

Uma das grandes características das pessoas com baixa autoestima é que elas têm dificuldade para aceitar que nem sempre vão convencer alguém, até porque a outra pessoa pode estar usando lentes com cores diferentes. Ela quer ter a razão sempre, e isso não raramente a tornará uma pessoa vista pelos demais como de difícil trato. Esse tipo de pessoa normalmente se torna inflexível e pode perder a compostura em tons altos ou até utilizar o silêncio sepulcral como ferramenta que demonstre contrariedade ou vitimização por não ser “compreendida”.

A persistência exagerada em busca da razão pode acabar atrapalhando o real propósito do casamento e de uma família. Não apenas a razão tem o seu valor, sim, mas o diálogo, a empatia e o equilíbrio são importantes fundamentos para o relacionamento. É muito mais uma questão de entender o que a outra pessoa sente e o porquê pensa, vê ou diz de algum modo específico. Quando falta a empatia no casamento ou nas relações familiares, o relacionamento poderá ficar seriamente comprometido e poderão surgir grandes prejuízos em longo prazo. Não dá para ter razão o tempo todo e em tudo, assim como também não é saudável ceder sempre em tudo somente para evitar conflitos. Em ambos os casos, haverá consequências desastrosas no ambiente.

Em mais de duas décadas de atendimento a famílias, já observei incontáveis casais ou pais e filhos que vivem o dia-a-dia como um ringue de boxe ou de MMA. Alguns tornam essas brigas tão comuns e sistêmicas que por vezes nem sabem como iniciaram a discussão. São situações simples que poderiam ser resolvidas com um diálogo saudável. Mas, aí reside uma observação importante: um dos dois ou ambos já não estão saudáveis emocionalmente e também espiritualmente. Nesses casos, o “ter razão” é apenas um suporte emocional para tentar se sentir melhor no momento e assim costumam descarregar em quem está mais próximo: o cônjuge, um colega, um subordinado no trabalho, alguém no trânsito das ruas ou até no ambiente das igrejas. Uma pessoa doente emocionalmente poderá adoecer muitos que estão no convívio diário em sua volta. 

O casal jamais deve competir um com o outro, precisa caminhar unido, lado a lado. Não vão concordar sempre, mas também não precisam discordar sempre. Precisam buscar a maturidade do relacionamento, que não tem a ver com o tempo de casados, mas com o grau de maturidade pessoal trazida para o matrimônio.

Ao invés de dizer “Você está errado!”, que tal dizer “Você consegue entender porque eu penso assim?”. Ou tenha um diálogo leve e franco. Ao invés de falar “Você quer ser sempre a correta!”, troque por “Podemos tentar retirar nossas lentes coloridas e buscar uma forma de enxergarmos cores mais aproximadas?”. Já pensou na possibilidade de que podemos estar vendo algo de forma diferente a partir das nossas experiências passadas e nenhum de nós está errado?

O mundo é difícil e nem sempre justo. A vida é repleta de desafios e o casal precisa estar disposto a viver junto. Quem sabe este momento de leitura e reflexão leve você a pedir perdão ao outro pelos excessos que você cometeu ou tem feito. Como é nobre pedir perdão! Vai fazer um bem enorme para o outro e para você! Talvez esta seja uma das melhores maneiras de proporcionar ao cônjuge começar a retirar o viés da lente colorida, que afasta a possibilidade de convergência no relacionamento. A vida aqui na Terra é breve. Que tal viver tempos de harmonia, equilíbrio, tolerância, amor e paz?

Quem é que não quer viver em paz com Deus e com a pessoa amada? Creio que você também quer! Não dá para anular a própria opinião o tempo todo. Isso adoece! E vamos ser sinceros, nem a própria pessoa se aguenta ao querer ter razão o tempo todo! Isso é chato! Ela pode até se sentir momentaneamente bem, mas essa obstinação por ter razão não a fará feliz. Afinal, sempre podemos aprender algo novo, olhar por outro ângulo um mesmo assunto ou simplesmente discordar com cordialidade e com amor. 

A Palavra de Deus diz: “Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita a seu tempo” (Provérbios 25.11). Falar na hora certa e de forma certa pode fazer toda a diferença em um relacionamento e assim fazer com que o outro ouça e consiga aceitar o que lhe foi dito.

É importante que a pessoa desenvolva a habilidade em falar sobre o seu ponto de vista, sobre o que acredita ser certo, porém precisa entender que mesmo certa nem sempre o outro terá disponibilidade de aceitar o que está sendo proposto. Muitas vezes um cônjuge, um filho, um pai ou uma mãe pode errar na compreensão de algo, assim como pode estar com a razão. O importante é que se possa respeitar e entender o outro e aceitar a correção quando se está errado, assim como perdoar quem errou. Melhor do que forçar o outro a nos engolir é poder, com sabedoria dada por Deus, procurar viver em paz com todos, como diz a Palavra de Deus. “Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens” (Romanos 12.18). Quando conseguimos entender que cada pessoa tem uma experiência de vida, que cada um de nós vê a vida com a sua lente, evitamos muitos confrontos desnecessários. O importante é não abrir mão do seu caráter cristão, de seus princípios e de sua fé.

Quando o ser humano olha para a sua própria condição espiritual e tem a certeza de que foi alcançado pela graça redentora de Cristo Jesus, esta comunhão em torno de Cristo Jesus e a ação do Espirito Santo em nós proporciona-nos compreender e respeitar o outro, que também é, como eu, imagem e semelhança de Deus! O fruto do Espírito é “amor, alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (Gálatas 5.22).

Se colocar no lugar do outro é fundamental, não só para tentar entender a outra pessoa como para viver em paz. Também para procurar aceitar que o outro pode pensar diferente, sim! Isso lhe trará boas consequências e uma ajuda considerável em sua saúde emocional.

Qual o ponto de equilíbrio entre ter razão e ter paz? O ponto é o amor, pois somente com a decisão e atitude de amar é que o ser humano se torna capaz de compreender as verdadeiras necessidades de seu cônjuge e de seus familiares. Lembre-se que a sua família é o seu maior patrimônio e seus filhos, herança bendita do Senhor. Então, tire as lentes e coloque açúcar nas palavras! Afinal, ter razão ou ter paz? O que você pensa disso?

por Valquíria Salinas

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