O segredo revelado da cidade de Ein Gedi

O segredo revelado da cidade de Ein Gedi

São cinco os oásis encontrados nas terras do atual Estado de Israel. Sua importância, ainda que distanciada do conceito antigo de paragem e garantia de sobrevivência para os caminhantes do deserto, permanece como lugares de fontes de águas cristalinas, refúgio, descanso, lazer e de materialização, numa dimensão geográfica, do cuidado e proteção de Deus. O frescor do ambiente dessas paragens, em contraste com o calor das regiões vizinhas, revigora aquele que se encontra cansado, oferecendo a pausa necessária para recordar as bênçãos do Senhor e fortalecer a certeza de que Seu auxílio está sempre por perto, mesmo quando achamos que estamos perto de desfalecer. Um oásis é mais do que um lugar para descansar e dessedentar – é uma brecha aberta no tempo da existência para acalmar a alma, entender a caminhada, dela extraindo as mais profundas lições, reorganizar prioridades, avaliar forças e fraquezas e retomar, pronto, os desafios das regiões áridas. Encontramos hoje, em Israel, cinco oásis.

Ben Gurion, fundador do Estado de Israel, tendo assumido o governo nos períodos de 1948 a 1954 e 1955 a 1963, declarou certa vez que “é no Neguev que serão testados a criatividade e o vigor pioneiro de Israel”. Fazendo-se exemplo da própria declaração, em 1970 mudou-se para o kibutz Sde Boker, situado ao norte do oásis de Ein Avdat, onde trabalhou no intuito de ver seu maior sonho realizado, qual seja, ver o deserto florescendo. Ben Gurion faleceu em 1973, tendo trabalhado enquanto as forças lhe permitiram. Hoje, Ein Avdat, desfiladeiro oculto pelas formações rochosas da região central do Neguev, antiga habitação dos nabateus e lugar de parada servindo a antiga rota das especiarias, foi transformado no “Ein Avdat National Park”, atraindo muitos turistas para os seus ‘canyons’ repletos de pequenas fontes, enquanto seu entorno tornou-se celeiro de pesquisas agrícolas, suprindo de conhecimento e soluções a base da alimentação israelense, além de abençoar o mundo com o resultado de seus experimentos.

Einot Tzukim ou “nascentes do penhasco” fica ao noroeste do Mar Morto. Diferentemente das águas claras de Ein Avdat, nessa reserva de cerca de 2500 ha correm águas salobras e sulfurosas, ainda que possua uma área de águas minerais próprias para banhos; a região tem sua flora e fauna naturais preservadas. O lugar, que em árabe recebe o nome de Ein Feshkha, é procurado por famílias para aproveitarem um dia de lazer, mergulhando em suas piscinas e fazendo piqueniques.

Wadi Qelt fica entre Jerusalém e Jericó e desce das montanhas da Judeia as águas de três nascentes perenes. O local, de cerca de 15.000 ha, é um refúgio para as aves típicas da região. O ribeiro de Wadi Qelt é identificado como a corrente de Querite. Está citado em Josué 15.7 e 18.17, 1 Reis 17.3 e Jeremias 13.5. Segundo os estudiosos, essas águas inspiraram Davi para a composição do Salmo 23.

As águas de Nachal de Arugot atravessam um desfiladeiro próximo a Ein Gedi. Seu oásis, de rica vegetação e múltipla vida selvagem, com cabras, íbex, pássaros de espécies locais, além do mamífero hyrax sírio e de caranguejos de rio, possui nascentes e fontes de água fresca.

Ein Gedi, ou “nascente do cabrito” é uma reunião de grutas, nascentes, áreas mais planas e áreas montanhosas de difícil escalada. O filho de Jessé ocultou-se ali, fugindo da fúria do rei Saul. O local foi citado por Salomão no livro de Cantares: “O meu amado é para mim como um cacho de flores de hena nos vinhedos de Ein Gedi” (Cantares 1.14). A antiga cidade que leva o nome do oásis forneceu aos gregos e romanos o bálsamo que lhes aliviou as feridas, até ser destruída pelo imperador bizantino Justiniano I. Hoje, Ein Gedi conta com hotéis, parque ecológico, kibutz, e toda a infraestrutura necessária ao conforto de seus visitantes. Também é possível ver um importante achado arqueológico, a saber, uma antiga inscrição judaico-aramaica exortando seus habitantes a “não revelar o segredo da cidade”. Muito provavelmente o segredo é o conjunto de técnicas ligadas à extração e preparo da resina do bálsamo. O exercício do ministério balsâmico é, por vezes, desprezado pelos amantes das conquistas mais espetaculares. No entanto, mesmo um guerreiro como Davi necessitou do abraço curativo de um oásis. Talvez, inclusive, residam nas ministrações de conforto e de consolo as mais profundas revelações do amor do divino Esposo por Sua noiva. 

Após um tempo prolongado de lutas, campanhas, expectativas variadas, pela sobrevivência e saúde espiritual é bom encontrar um refúgio nas fendas das rochas, ir à fonte, sorver águas cristalinas e buscar nelas, quando quietas, o espelho onde fitamos nossa verdadeira face. Todo guerreiro sabe apreciar esse tempo, quando ainda traz consigo as feridas das batalhas recém-travadas. Busquemos em Deus nosso refúgio, sigamos em direção ao refrigério.

Na quietude do tempo de meditação, lembremos de nossos irmãos, judeus messiânicos, e do momento que atravessam. Miguel Nicolaevsky, diretor do Cafetorah, assim se manifestou sobre a atual situação, após Benjamin Netanyahu apenas ter conseguido ganhar as eleições aliando-se a vários partidos de direita e extrema direita, o que trouxe, como desvantagem, o recrudescimento das perseguições aos judeus cristãos: “O acordo assinado com o partido de direita, Yahdut HaTorah, tornou-se o pesadelo inesperado de muitas comunidades messiânicas que sentem o avanço do radicalismo religioso justamente agora que estavam gozando de liberdade e simpatia por uma boa parcela da população. A demanda geral e qualificada aparece também em relação ao combate ao trabalho missionário, tema delicado que o Likud tem medo de tocar – “O governo vai examinar as denúncias sobre a ampliação do alcance da atividade missionária ilegal em Israel e as providências necessárias para resolver isso, se necessário”. Para Miguel, o texto, embora pareça brando, poderá ser utilizado pelos radicais religiosos para justificar aqueles cujo pecado é serem judeus e acreditarem que Jesus é o Messias prometido.

O receio dos que acompanham o desafio que é ser judeu, ser cristão e viver em Israel é que a nova conjugação política ofereça a mentes preconceituosas a ideia de legitimação para atos indignos de uma nação formada por pessoas que sofreram as loucuras de uma cruel perseguição e que, ainda hoje, enfrenta as mais variadas formas de antissemitismo. Afinal, como Israel poderá comparecer diante do Pai sem a presença de seus irmãos? Não é isso que vemos relatado no momento em que Judá intercede por Benjamin, segundo o relato do livro de Gênesis? Pois, como poderia ele comparecer diante de Jacó sem seu irmão mais novo? O rabino Kalonymus Shapira, conhecido como Aish Kodesh, o Fogo Sagrado, morto no Holocausto, e cujos comentários alimentam os estudos da Torah até os nossos dias entendia, por essa passagem de Judá diante de José, que todos somos responsáveis uns pelos outros. Devemos nos importar, fazer o melhor, buscar o bem de nossos irmãos, mesmo, muitas vezes, discordando de sua maneira de pensar e, então, diante do Pai, podermos dizer que nos esforçamos por fazer o bem por cada um deles. Quando José ouviu a argumentação de Judá revelou, por fim, sua identidade. Ele já possuía a prova de que seus irmãos não agiriam com Benjamin com a mesma crueldade com que o trataram. Sua pergunta, feita a seguir, não é mais uma dúvida, mas revela seu espanto: “Meu pai ainda vive?” é mais uma declaração de sua surpresa do que um questionamento. “Ani Yosef, Ha’od avi chai?” – Eu sou José, meu pai ainda está vivo? – e nessa pequena interrogação encontramos várias declarações subjacentes: 1) Eu sou filho, ele é meu pai; 2) Tenho o mesmo pai que vocês; 3) Sendo irmão, vocês não poderiam ter-me tratado daquela maneira; 4) Que tipo de vida meu pai está vivendo diante da dor que sofreu?; 5) O que meu pai compreendeu acerca de meu desaparecimento?; 6) Vocês não agiram como filhos; 7) Se vocês tivessem agido como filhos, não o fariam sofrer assim.

Emprestando de José as palavras que marcaram o reencontro com seus irmãos, fica a pergunta àqueles que têm buscado o mal de irmãos cujo único ‘delito’ foi crer na promessa, aceitando Jesus como a resposta às profecias messiânicas: nosso Pai ainda está vivo? Pois, estando vivo, sofre com o ódio entre irmãos; ao mesmo tempo, diferentemente de Jacó, vê e sabe tudo o que sucede – deseja a sobrevivência do perseguido, a transformação do perseguidor em protetor de irmãos e quer o reencontro dos filhos. Ele é o bálsamo curador.

Meu Pai ainda está vivo! – é a certeza que deve servir de consolo aos judeus messiânicos em Israel. Meu Pai ainda está vivo! – é o oásis no qual devem buscar refúgio. Meu Pai ainda está vivo! – é a rocha na qual devem abrigar sua fé. Meu Pai ainda está vivo! – é o refrigério sustentado na esperança de que, um dia, todos retornem à Fonte e saciem suas almas com a Água da Vida. Como, então, muitos saberão o segredo da extração do bálsamo, a cura haverá de alcançar uma multidão, mesmo uma nação inteira.

por Sara Alice Cavalcanti

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