A identidade do pregador pentecostal

A identidade do pregador pentecostal

Lembro-me nitidamente como em minha adolescência fiquei admirado por ver e ouvir um grande expositor pentecostal do meio assembleiano. Em fase de construção de identidade e grande propensão às influências externas dos mais velhos, fiz daquele grande ensinador um dos meus referenciais. Eu jamais havia visto alguém ensinar e expor as Escrituras daquela forma, e, como um peixe atraído pela isca, fui despertado pelo Espírito Santo para dedicar-me ao ensino e pregação da Palavra. Tudo que eu ansiava era ter as mesmas marcas espirituais que aquele grande homem de Deus possuía. 

Ao ingressar com afinco nos estudos teológicos, descobri que havia muitos outros grandes ensinadores e pregadores pentecostais. Pensei ser apenas um “Elias”, quando descobri que havia mais “sete mil”. Ao ouvi-los, notei que havia entre eles um padrão, um estilo, uma forma pentecostal de ser. 

À medida que conhecia esses grandes homens e me aprofundava nos estudos bíblicos e teológicos, descobri que havia uma identidade do pregador e do ensinador pentecostal, identidade esta enraizada nas páginas das Sagradas Escrituras. Ou seja, aquilo que observei neles achei também nos ensinadores e pregadores do Novo Testamento. Se não, vejamos. Há duas coisas que se destacam na identidade do ensinador e do pregador pentecostais: o estilo e a hermenêutica.

Estilo é a maneira particular de se expressar, um modo característico de ser. O estilo pentecostal é um conjunto particular e característico que distingue o ensinador e o pregador carismáticos dos demais. Esse estilo apareceu nos primeiros ministros da Palavra no período apostólico e continua até hoje. Mas, afinal, qual o estilo esboçado pelos primeiros ensinadores e pregadores em Atos dos Apóstolos que ressoam nos ministros do evangelho ainda hoje?

Após a narrativa do Pentecostes em Atos 2, temos alguns adjetivos que o autor sacro Lucas utiliza para expressar o estilo pentecostal. Primeiro, ele enfatiza que eles eram cheios do Espírito Santo (Atos 4.8). Depois, ele menciona algumas outras marcas. Na verdade em todo o livro de Atos, temos a menção de oito características que remetem ao estilo carismático. São elas ousadia, poder (enérgico), fé, sinais e prodígios, autoridade, eloquência, fervor e poderoso nas Escrituras (Atos 6.8; 18.24-28). Essas marcas caracterizavam os obreiros pentecostais nos tempos bíblicos e os da atualidade, de modo que negar isso seria negar nossas raízes. O pregador e o ensinador pentecostais possuem essas marcas comuns porque elas advêm do fluir do Espírito. O agir do Consolador na vida do ministro o conduz a ter esse estilo pneumático. Esse perfil expressado por Lucas demonstra que o expositor pentecostal possui uma coragem incomum gerada pelo Espírito, uma capacidade enérgica que não provém de si mesmo, uma fé de que a Palavra será eficaz e que Deus fará tudo que lhe apraz; e a confiança de que os sinais sobrenaturais irão suceder, tais como batismo com Espírito Santo, com evidência inicial do falar em línguas; cura divina; libertação etc. Acresce-se a isso o fato do Paracleto gerar nas palavras ditas uma autoridade e um fervor não humanos, além de uma capacidade de entender e expor as Escrituras mediante a iluminação do Espírito Santo. 

Contudo, além do estilo pentecostal, os ministros da Palavra carismáticos têm uma hermenêutica peculiar. De uma forma geral, os pentecostais leem as Escrituras de forma diferente. Talvez o traço distintivo de nossa forma de interpretar a Bíblia seja a forma como entendemos o texto. A hermenêutica pentecostal entende o texto sacro como modelo para a vida. A visão interpretativa do ministro cheio do Espírito Santo é que a Bíblia toda pode ser usada como um modelo a ser seguido. Entendemos que o que Deus fez nas Escrituras é capaz de fazer ainda hoje. Ou seja, fazemos das Sagradas Letras como um todo um livro onde podemos extrair lições para nosso dia a dia.

A hermenêutica pentecostal baseia-se essencialmente em três pontos. Primeiro, respeitamos a intenção do autor. Entendemos que o autor pressupunha um objetivo ao escrever e procuramos captar esta ideia original do autor. Segundo, procuramos entender a passagem à luz do contexto histórico, cultural e literário. Como bem dizia o saudoso mestre pastor Antônio Gilberto, “texto sem contexto é pretexto para heresia”. Terceiro, procuramos aplicação prática. Como escreveu sabiamente Robert Menzies: “As histórias bíblicas são as nossas histórias”. Construímos pontes para conectarmos nossos ouvintes aos textos sagrados. Esse tripé da hermenêutica pentecostal é uma marca registrada dos nossos expositores, ou ao menos deveria ser.

Essa é a nossa identidade. Infelizmente, atravessamos um tempo onde estamos sendo tentados a negar nossas características. Muitos dos nossos ministros estão caindo na artimanha maligna de rejeitar o estilo e a hermenêutica pentecostais para abraçar as novas tendências. Não podemos desconfigurar a identidade pentecostal. Notamos certa tendência pragmática de nossos ensinadores e pregadores. Muitos estão deixando de pregar e ensinar o que é certo para ensinar e pregar o que dá certo. Não podemos passar de uma identidade pentecostal para uma identidade neopentecostal. Fujamos da armadilha do pragmatismo deste século. Sejamos o que Deus nos chamou para sermos: ministros cheios do Espírito Santo. Somente assim faremos com que o que aconteceu comigo em minha juventude continue acontecendo nos corações hoje. 

por Weder Fernando Moreira

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