Evangelho decresce no Hemisfério Norte, mas avança no Hemisfério Sul

Evangelho decresce no Hemisfério Norte, mas avança no Hemisfério Sul

Em meio à queda, as igrejas que mais crescem na Europa e nos EUA são a pentecostais e as igrejas de imigrantes latinos, brasileiros, africanos e asiáticos

O Cristianismo não está encolhendo no mundo, mas deslocando-se. Diferentemente do que parece sugerir o avanço da Europa pós-cristã e o declínio constante dos evangélicos nos Estados Unidos, o Cristianismo continua crescendo a cada ano no mundo, mas com a diferença de que a sua balança deixou já há algum tempo de pender demograficamente para o Hemisfério Norte para pender para o Hemisfério Sul.

Se em 1910 a Europa e os Estados Unidos detinham 81% de todos os cristãos do planeta, sendo que 66% estavam na Europa e 15% nos EUA, a verdade é que, pelo menos desde 2015, segundo relatório do Pew Research Center, a maioria dos cristãos do mundo já se encontrava no Hemisfério Sul e, hoje, segundo levantamento de 2019 do Estudo do Cristianismo Global no Seminário Teológico Gordon-Conwell (EUA), estima-se que 67% dos cristãos do mundo já estariam no Hemisfério Sul.

Outro ponto importante é que é absolutamente equivocado tomarmos o aumento do ateísmo e do agnosticismo no Ocidente – e especialmente no Hemisfério Norte – como uma tendência global. O relatório Cristianismo em seu Contexto Global, 1970–2020: Sociedade, Religião e Missão, publicado em 2013 pelo Centro para o Estudo do Cristianismo Global no Seminário Teológico Gordon-Conwell, já mostrava que se 20% da população mundial era agnóstica ou ateia em 1970, no ano de 2010 esse número havia caído para 11,8%. Principalmente na África e na Ásia, inclusive na China comunista, o ateísmo tem caído abruptamente.

Por falar de China, os cristãos têm crescido vertiginosamente em muitos lugares mesmo sob perseguição. Além do caso chinês, há o caso do Irã, onde estaria, segundo relatório de 2016 da Agência Portas Abertas, a igreja que mais cresce no mundo, superando percentualmente o crescimento estimado da igreja chinesa. Detalhe: ela é quase que totalmente clandestina e de maioria feminina e pentecostal, segundo o documentário Sheep Between Wolves – Volume II (“Ovelhas entre Lobos”) de 2019. Há sete anos, a estimativa é de que havia cerca de 1 milhão de cristãos no Irã. Hoje, esse número deve superar em muito 1 milhão, isso em um país super fechado ao Evangelho.

Outro detalhe é que o segmento cristão que mais cresce no mundo há décadas é o pentecostalismo. Enquanto as igrejas históricas estão decrescendo fortemente na Europa e nos Estados Unidos, as pentecostais estão crescendo. Por exemplo: como foi divulgado pelo jornal Mensageiro da Paz em outras edições, a igreja que mais cresce nos EUA em meio ao declínio evangélico geral que vive o país é a Assembleia de Deus. Matéria publicada em 11 de agosto de 2021 no site da principal revista evangélica norte-americana, The Christianity Today, intitulada “Assembleia de Deus crescendo com persistência pentecostal”, afirma que “as Assembleias de Deus têm crescido silenciosamente nos Estados Unidos por décadas, contrariando a tendência de declínio denominacional vista pela maioria das outras tradições protestantes”. A matéria destaca ainda o fato de que a AD norte-americana é a denominação que mais alcançou a diversidade racial nos EUA: “44% dos membros [das Assembleias de Deus] nos Estados Unidos são minorias étnicas”.

No âmbito mundial, como destacou matéria de 20 de maio de 2015 do jornal The Washington Post, se em 1970 os pentecostais representavam 5% de todos os cristãos no mundo, em 2015 eles já representavam 25% – ou, como declarou o jornal à época, “uma em cada 12 pessoas vivas [no mundo]” tinha “uma forma pentecostal de fé cristã”. A matéria também destacava que o país com a maior população de pentecostais do mundo é o Brasil. Ademais, há décadas a maior denominação evangélica do Brasil tem sido, pela graça de Deus, as Assembleias de Deus.

EUA e Europa: igrejas de imigrantes entre as que mais crescem

Mas, essa queda acentuada no Norte Global acompanhada por esse crescimento vertiginoso no Sul Global tem provocado também um outro fenômeno: se no passado os cristãos europeus e norte-americanos evangelizaram o mundo, hoje eles são um grande campo de evangelização, especialmente a Europa. Dados mostram que as igrejas que mais crescem hoje nos Estados Unidos e na Europa são as nativas pentecostais e as igrejas evangélicas de imigração – brasileiras, hispanas, africanas e asiáticas –, tanto as que evangelizam imigrantes quanto as que evangelizam nativos mesmo. Tal fato já chega a repercutir até na imprensa secular lá fora e aqui.

Em uma matéria de 3 de junho de 2014, intitulada “Frequência à igreja tem sido sustentada por imigrantes, diz estudo”, o tradicional jornal britânico The Guardian noticiava que “cristãos da Europa Oriental e da África ajudaram a conter a queda no número de congregações”, de acordo com pesquisa da época feita pelo UK Church Statistics. Segundo o levantamento, “como muitos imigrantes vieram de países cristãos, o fluxo de novas pessoas para as congregações existentes foi notável, bem como resultou na formação de centenas de novas igrejas. A explosão de igrejas de maioria negra foi significativa, particularmente em Londres, onde das 700 novas igrejas, principalmente pentecostais, que começaram entre 2005 e 2012, pelo menos 400 eram do grupo. Somente a Redeemed Christian Church of God iniciou 296 novas igrejas no Reino Unido nos últimos 5 anos, o maior número para qualquer denominação”. A matéria destacava de forma geral “os pentecostais e as muitas igrejas protestantes estrangeiras que normalmente têm raízes na África”.

O problema é que, anos depois, a queda entre as igrejas nativas históricas no Reino Unido foi tão grande que mesmo o crescimento ininterrupto das igrejas pentecostais e de imigração não foi suficiente para deter o declínio geral por lá.

Mais recentemente, na imprensa secular brasileira, foi publicada uma matéria de página inteira no jornal O Globo de 18 de dezembro de 2022, página 22, intitulada “Multiplicando-se: igrejas evangélicas crescem e furam bolha do catolicismo na Espanha”. Ela mostra que – impulsionado pelas igrejas de imigração – houve um crescimento de mais de 300% nos últimos 20 anos das igrejas evangélicas na Espanha, que pularam de cerca de mil templos no país para 4.348 em 2022, segundo dados da ONG Observatório de Pluralismo Religioso, que compila dados do governo espanhol e das igrejas no país. Agora, os evangélicos são o segundo maior grupo religioso em templos na Espanha – há 22 mil templos católicos no país e 1.751 muçulmanos (terceiro maior grupo).

Se em 1945 o número de evangélicos na Espanha era tão pequeno que sequer eles eram contabilizados, com 98,2% se declarando católicos, hoje eles são mais de 1,5 milhão em um país de 47,4 milhões de pessoas, o que representa quase 3,5% da população, sendo esse crescimento vertiginoso justamente nos últimos 20 anos, impulsionado pelas igrejas de imigração. Diz a matéria de O Globo que “a responsável pelo fenômeno que está mudando a cara dos cristãos” na Espanha é “sobretudo” a “robusta chegada de imigrantes vindos da América Latina e de outras regiões com forte presença evangélica [isto é, África e Ásia], e que se traduz na presença de cultos evangélicos regulares em línguas tão variadas como português, chinês, romeno ou inglês africano, com toques de idiomas como o iorubá [da região da Nigéria, um dos países mais evangélicos da África]”.

Reino Unido: Cristianismo cai e ateísmo e paganismo crescem

O Escritório de Estatísticas Nacionais do Reino Unido emitiu um relatório que traz uma inusitada informação: pela primeira vez desde o primeiro censo realizado no Reino Unido em 1801, as pessoas que se declaram cristãs não são mais a maioria da população. Os dados do Censo 2021 foram anunciados no dia 29 de novembro do ano passado e mostram que somente 46,2% – ou 27,5 milhões dos mais de 67 milhões de pessoas do Reino Unido – se identificam com o Cristianismo. No até então último censo, de 2011, 59,3% da população – ou 33,3 milhões de pessoas – afirmavam ser cristãs.

Enquanto isso, os números contabilizados dão conta de que cerca de 22,2 milhões de pessoas ou 37,2% da população confessaram não ter “nenhuma religião”. Dez anos antes, somente 14,1 milhões de pessoas, ou 25,2% da população, informaram que não seguiam “nenhuma religião”.

No passado, o Reino Unido abrigou grandes avivamentos e levou muitos missionários a anunciar o Evangelho mundo afora. Hoje, porém, além de o Cristianismo ter diminuído, o ateísmo, o islamismo e o paganismo têm crescido entre a população.

O detalhe é que a pesquisa mostra não apenas uma queda percentual, mas numérica do número de cristãos nesses países. Foi detectado um declínio numérico de 5,5 milhões (17%) na quantidade de cristãos e um aumento de 1,2 milhão (43%) no número de muçulmanos, alavancando o segmento maometano para 3,9 milhões. O budismo também se desenvolveu: a quantidade de adeptos saltou de 249 mil, em 2011, para 273 mil em 2021. Em termos percentuais, os cristãos caíram 13,1%, os muçulmanos aumentaram 1,7% e os sem religião cresceram mais de 22 pontos percentuais. Ao todo, 37,2% dos entrevistados (22,2 milhões) disseram não ter religião, tornando esse grupo o maior segmento depois do segmento cristão, tendência idêntica a dos últimos censos nos Estados Unidos.

O recuo do Cristianismo na Inglaterra abriu espaço para o avanço também do paganismo. Segundo matéria publicada no jornal The Guardian de 29 de novembro próximo passado, o resultado do censo da Inglaterra e do País de Gales, mostrou que o paganismo e a bruxaria se transformaram em uma nova tendência nos dois países. O noticioso revelou que o xamanismo se desenvolve mais rápido do que qualquer outro grupo religioso na Inglaterra e no País de Gales. Em 2011, o xamanismo contava apenas com 650 adeptos; já em 2021, a quantidade saltou para 8 mil pessoas nos dois países. Os religiosos afirmam que o xamanismo não é uma religião. Apesar disso, existe um conjunto de rituais antigos para evocar espíritos, por meio de substâncias psicoativas, incenso e danças entre os xamanistas.

Os pagãos e seguidores da wicca também aparecem no censo e estão mais consolidados na Inglaterra e País de Gales. Os pagãos somam 74 mil pessoas; em 2011, eram 57 mil. Os wiccanos somam 13 mil adeptos. Wicca é uma religião moderna baseada em antigos rituais pagãos e pode ser considerada bruxaria, fazendo parte do neopaganismo.

Evangélicos já são maioria na América Central

Enquanto isso, na contramão do que se vê na Europa e nos Estados Unidos, o instituto de pesquisa M&R Consultores emitiu um relatório acerca do panorama religioso da América Central que revela que 37% de sua população declara ser evangélica, configurando esse segmento como o maior segmento religioso da região, maior inclusive do que o catolicismo, que caiu para 32,6%. Aqueles que se declararam de outra religião são 29,1% e os sem religião são 1,3%. Somando evangélicos e católicos, os cristãos representam praticamente 70% da população da América Central.

A pesquisa também mostra que dos 32,6% de católicos, 19,3% são devotos, isto é, fiéis que marcam presença às reuniões mais de uma vez por semana e são ativos na agenda religiosa. Quanto aos evangélicos, 58,4% participam quase três vezes mais que os católicos das atividades de suas igrejas. A pesquisa foi realizada de 7 de outubro a 15 de novembro de 2022, com participação de 4 mil pessoas da Guatemala, Honduras, El Salvador, Costa Rica e Nicarágua.

“Os chamados protestantes estão gradualmente assumindo essa liderança e esse segmento está crescendo cada vez mais na América Central. Deve-se levar em conta que o catolicismo partiu de praticamente 100% da população e está em um processo de declínio que se acentua desde os anos de 1990 em toda a região centro-americana”, destacou Raúl Obregón, presidente da M&R Consultores. Segundo os pesquisadores, o que se vê é que os católicos decidiram migrar de sua comunidade de origem para a evangélica em toda a América Central. A pesquisa mostra que, na região centro-americana, 61,5% das pessoas foram criadas na fé católica, mas 29,9% deixaram de acreditar na Igreja Romana. O analista Raúl Obregón acredita que “a religião católica está sendo muito ritualística” e que “os pastores têm se mostrado mais próximos nos últimos anos dos fiéis, visitando-os pessoalmente”.

Os princípios bíblicos também foram apurados na pesquisa, com 83,9% discordando de relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo. Em relação ao aborto, para 61,3% dos centro-americanos, o procedimento é justificável caso a vida da gestante estiver em risco. Para 46,8% dos entrevistados, homens e mulheres devem se guardar para o casamento, evitando relações íntimas.

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