Coreia do Norte é 1ª em perseguição

Coreia do Norte é 1ª em perseguição

Mais de 360 milhões sofrem por ser cristãos, diz relatório Portas Abertas

A Missão Portas Abertas lançou no dia 18 de janeiro a já conhecida Lista Mundial da Perseguição (LMP), que exibe os países mais hostis aos seguidores de Jesus Cristo. A lista, que alcança a sua 30ª edição em 2023, monitora as nações onde as comunidades cristãs são hostilizadas, no intuito de oferecer ajuda e prestar serviços emergenciais, socioeconômicos, pós-trauma, sem esquecer a distribuição de material como Bíblias, alimentos, roupas, medicamentos e demais itens que os cristãos tiverem mais necessidade. A consulta para compor a LMP deste ano abrange o período de 1º de outubro de 2021 a 30 de setembro de 2022. O relatório é lançado no início de cada ano e utiliza extensa pesquisa, dados fornecidos por trabalhadores de campo da Portas Abertas, suas redes nacionais, especialistas externos e analistas de perseguição para quantificar e analisar a perseguição ao redor do planeta. Cada edição é certificada pelo International Institute for Religious Freedom

Para o secretário-geral da Portas Abertas no Brasil, Marco Cruz, a LMP 2023 é uma referência do que tem acontecido no cenário internacional. “O crescimento da violência, de guerras, fome e perseguição étnica e religiosa refletem pontualmente no trabalho da Portas Abertas, que utiliza das informações dos países em que atua para trabalhar e apoiar de forma efetiva ao cristão perseguido. Vale ressaltar que mais de 360 milhões de cristãos enfrentam altos níveis de perseguição e discriminação por causa de sua fé. Este número representa um em cada sete cristãos em todo o mundo”, explica.

Coreia do Norte no topo da lista Conhecida por sua crueldade à comunidade cristã, a Coreia do Norte voltou à primeira posição, onde – com exceção do último período do relatório – permaneceu desde 2002. Este ano, a sua classificação é a mais alta de todos os tempos. Isso significa que houve aumento nas prisões de cristãos e na descoberta e fechamento de mais igrejas clandestinas. Naquele contexto, a prisão quer dizer execução ou prisão perpétua em um dos campos terrivelmente desumanos para prisioneiros políticos, onde os internos sofrem tortura, violência sexual, enfrentam fome e trabalhos forçados.

A classificação vem após a aplicação no país da nova “Lei do Pensamento Antirreacionário”, que torna crime qualquer material publicado de origem estrangeira na Coreia do Norte, além da Bíblia Sagrada, que é proibida no país. “Os cristãos sempre estiveram na linha de frente de ataque promovido pelo regime. Seu objetivo é acabar com todos os cristãos do país. Só pode haver um deus na Coreia do Norte, que é a família Kim”, afirma Timothy Cho, fugitivo norte-coreano.

Violência praticada contra cristãos africanos

O relatório incluiu novidades impressionantes sobre as hostilidades aos cristãos no continente africano, destaque novamente para a África Subsaariana. A região é palco de uma onda de violência religiosa alimentada na Nigéria (7o) e alcançou as populações cristãs em uma velocidade alarmante em países como Burkina Faso (23o), Camarões (45 o), Mali (17o) e Níger (28 o). Há evidências da expansão dos radicais islâmicos claramente visíveis em Moçambique (32o), República Democrática do Congo (37o) e outros países (Os números entre parênteses representam as posições que ocupam na LMP).

A desestabilização na África Subsaariana é real e se intensifica à medida que os militantes islâmicos agem na região. A violência é mais exacerbada na Nigéria, país onde os militantes do Fulani, Boko Haram, Província do Estado Islâmico da África Ocidental (ISWAP, sigla em inglês) e outros perpetram ações violentas às comunidades cristãs resultando em mutilações, violência sexual, sequestros e mortes. A violência é dirigida principalmente às mulheres e meninas.

Os assassinatos por motivos religiosos na Nigéria aumentaram de 4.650 no ano passado para 5.014. Esse ambiente forçou centenas de milhares de pessoas ao deslocamento interno ou a refugiarem-se em outros países. A violência se espalhou para a maioria cristã no sul da Nigéria. A violência e a crescente islamização impõem extrema pressão sobre os cristãos em seu cotidiano. Apesar do quadro social aterrador, o governo nigeriano não tem cumprido o seu papel de combater esses crimes, de modo que as violações aos cristãos são cometidas impunemente. “A Nigéria é – pelo segundo ano consecutivo – o país com o maior número de cristãos assassinados por sua fé”, destaca Cruz.

O que aconteceu no Afeganistão em 2022

Já o Afeganistão, ao ocupar a primeira posição 2022, caiu para o número 9 na lista deste ano. A primeira posição em 2022 se deu porque, após o golpe ocorrido em 2021, muitos cristãos foram assassinados, enquanto os radicais talibãs batiam nas portas das casas a fim de erradicar os cristãos que se mantiveram fiéis a Jesus. Muitos se esconderam ou fugiram para o exterior. Porém, o ano de 2022 ficou marcado mais pelo esforço do Talibã em erradicar as pessoas ligadas ao antigo regime do que em perseguir o agora ainda mais diminuto número de cristãos remanescentes. Porém, a situação dos cristãos que fugiram para as nações vizinhas é muito insegura: “A nossa situação é desesperadora. Minha mãe e eu conseguimos cruzar a fronteira para outro país. Peço a Deus para poder deixar este país e me deslocar para algum outro lugar seguro. Posso ter que me esconder ou serei deportada para o Afeganistão. Se isso acontecer, posso ser morta”, declarou Zabi, cristã afegã refugiada. Por sua vez, o Talibã tenta manter o funcionamento do país e estimula que trabalhadores expatriados, como médicos ou engenheiros, atuem no país islâmico. Como a afiliação religiosa de expatriados não tem monitoração rigorosa, este detalhe afeta a pesquisa de perseguição. 

O secretário-geral explicou que a queda do primeiro ao 9º lugar no ranking da perseguição no país asiático não significa uma melhora na situação do cristão autóctone. Pelo contrário: até mesmo a ajuda oferecida pelas Portas Abertas à comunidade cristã tem sido afetada. “A queda do primeiro para o 9º lugar na Lista não quer dizer que a perseguição melhorou no país. Pelo contrário, com a tomada do Talibã, cristãos foram mortos, fugiram do país ou estão escondidos, vivendo secretamente. O que nos preocupa muito, pois a ajuda que sempre chegou a eles, precisa continuar sendo entregue”.

Panorama social na América Latina

Quanto aos países da América Latina que já compunham a Lista Mundial de 2022, todos aumentaram em muito a sua colocação: Cuba teve destaque no ranking, subindo de 37ª para 27ª posição. A mudança se deu por causa do aumento da pressão e violência como resultado da intensificação das ações repressivas contra os líderes cristãos e demais ativistas que se opõem ao Partido Comunista. A Colômbia subiu oito posições, passando da 30ª para a 22ª colocação; e México, de 43º para 38º. A novidade na Lista coube à Nicarágua, cujo governo tem mostrado hostilidade aos cristãos, vistos como opositores ao regime. As lideranças acabaram sendo detidas sem julgamento por sua participação nas manifestações de 2022. A Nicarágua ocupa a 50ª posição, 14 acima da 64ª que ocupava no ano passado. “A América Latina também é uma região que merece atenção especial este ano. A opressão direta do governo contra os cristãos vistos como vozes da oposição é comum nos países com regimes autoritários na América Latina. Além disso, o crime organizado se instalou, especialmente nas áreas rurais, onde se opõem aos cristãos, que se manifestam contra as atividades dos cartéis”, conclui Marco Cruz.

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