Faça o seu melhor para o Reino de Deus

Faça o seu melhor para o Reino de Deus

O apóstolo Paulo, ao escrever a passagem bíblica de 1 Coríntios 9.19-22, em determinado momento pergunta: “Não sou livre?”. Paulo defende que, mesmo sendo livre, utiliza a liberdade da qual é dotado para se fazer “escravo de todos”. A amplitude da renúncia do apóstolo dos seus direitos por causa do interesse do Evangelho é trazida à lume. O apóstolo era um homem livre que orgulhava-se de sua cidadania romana, mas se fez escravo de todos para poder ganhar o maior número possível de pessoas.Ao dizer que é livre de todos (gr. ekpántôn), o “Apóstolos dos Gentios” quer dizer que é livre daqueles que desejavam manipular o seu ministério. Uma vez que é escravo de Cristo, “não pertence a ninguém”. O apóstolo Paulo afirma não ser propriedade de nenhum outro; ele é responsável, em última instância, apenas diante de seu próprio Senhor, na melhor acepção de Kyrios (Mestre/dono/proprietário).

O apóstolo, contudo, usa essa liberdade para trabalhar em prol da salvação dos demais. Faz uso dessa liberdade para fazer o melhor para o Reino de Deus. Uma vez que é financeiramente independente de todas as pessoas, o missionário consegue, livremente, se colocar à disposição de todos por causa do Evangelho. Na sua liberdade, ele se mantém “escravo de todos”. É fácil observar a repetição quase monótona da expressão “para ganhar” como sentido de finalidade: “para ganhar ainda mais”, “para ganhar os judeus”, “para ganhar os que estão debaixo da lei”, “para ganhar os que estão sem lei”, “para ganhar os fracos”, “para [...] chegar a salvar alguns”, “para ser também participante dele”.

Donald S. Metz, ao citar Godet, destaca que para Paulo “nenhuma prática [...] parecia demasiadamente cansativa, nenhuma exigência era demasiadamente estúpida, nenhum preconceito era demasiadamente absurdo; ele cuidava ternamente de cada assunto com o objetivo de salvar as almas”, e prossegue lembrando que o apóstolo “livre com respeito a tudo, [...] se fez um escravo de todos, por amor”.

Assim, temos diante de nós o alvo de todo o ministério do apóstolo Paulo. Enquanto os mestres em Corinto e outros locais da época, que o apóstolo observa com preocupação, almejam no serviço a própria grandeza e a glória pessoal, Paulo tem apenas um objetivo: conquistar pessoas para Cristo. A salvação do ser humano é mais importante do que a liberdade pessoal. Não é à toa que Paulo utiliza-se com frequência da palavra “servo” (gr. doulos, “escravo”) para falar de seu próprio ministério (2Cor 4.5, p. ex.) e, da mesma maneira, esse se torna o vocábulo perfeito, a expressão básica da relação dos crentes entre si (Gl 5.13, p. ex.): “Servi-vos uns aos outros pelo amor”.

Portanto, o texto nos ensina que, sem violar a moralidade bíblica, o “‘Apóstolo dos Gentios’ deslocava-se onde quer que fosse necessário para entrar no ‘mundo’ dos outros a fim de conduzi-los à salvação que há em Cristo Jesus”. Não se trata de adaptar a mensagem para agradar o auditório. Contudo, é preciso sermos sensíveis à cultura das pessoas para quem pregamos, no intuito de não criarmos obstáculos ao progresso do Reino. Somos edificadores de pontes e não construtores de muros. Não devemos mudar a mensagem, mas também não precisamos engessar os métodos. Não se trata de mera maleabilidade e habilidade; tampouco de uma encenação para aliciar os incautos. Ao contrário, Paulo defende uma flexibilidade e certa adaptabilidade metodológica para apresentar o Evangelho nos mais diversos contextos, às mais diversas pessoas. Aqui, Paulo aprofunda o tema da incondicionada disponibilidade à causa do Evangelho; trata-se de fazer o melhor para o Reino de Deus. Morris lembra que toda a conduta de Paulo era determinada pelo Evangelho. “Era isso que importava, não o pregador”.

Precisamos aprender com Paulo, que é um autor inspirado da Palavra de Deus. Não devemos nos esquecer disso. Esquecemo-nos de fazer o melhor para o Reino de Deus. Como nos achamos importantes! Fazemos apenas a nossa obrigação (Lucas 17.10) e ainda assim, queremos os “louros da fama”. Nossa cultura egocêntrica da gratificação muitas vezes nos impede de fazermos o dever com prazer. Muitas vezes aquilo que fazemos para Deus tem de resultar em alguma celebração de nós mesmos. Paulo simplifica a questão: “Ai de mim, se eu não fizer o que devo fazer”. Se ele não obedecesse, sua vida não teria sentido algum. Ai de nós, quando não fazemos o melhor para o Reino de Deus! Ai de mim, se eu retiver comigo! Se o retenho só para mim é por causa do meu egoísmo ou por achar que o Evangelho não é suficientemente bom ao ponto de levá-lo aos outros. A Igreja não existe para nós mesmos, mas para aqueles que não conhecem a Cristo.

Com Paulo, somos convocados a fazer o melhor para o Reino de Deus. Abrir mão de muitas coisas, renunciar status, seguir o exemplo de Paulo, que segue o modelo de Cristo, que “esvaziou-se” de si mesmo. Somente assim poderemos cumprir nosso ministério segundo a vontade de Deus. Embora o apóstolo seja intransigente em questões teológicas e comportamentais (1 Coríntios 1.18-25; 5.1-5, p. ex.) que afetam o Evangelho em si, ele demonstra essa mesma preocupação com o poder salvador do Evangelho de Cristo, e isso faz com que ele se torne tudo para todos em assuntos que não são importantes. Agindo assim, no poder do Espírito, também poderemos fazer o nosso melhor para o Reino de Deus.

Por Sandro Pereira.

Compartilhe este artigo com seus amigos.

Comentário

Seu comentário é muito importante

Postagem Anterior Próxima Postagem