De ex-gerente do tráfico a diácono na Assembleia de Deus

De ex-gerente do tráfico a diácono na Assembleia de Deus

Jailson Ferreira viu a morte de perto, mas Deus o resgatou das drogas e do crime

O testemunho desta edição do jornal Mensageiro da Paz é a história de libertação das drogas e do tráfico de Jailson Ferreira, morador do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro (RJ). Ainda muito jovem, aos 13 anos, ele começou a andar na companhia de um rapaz envolvido no tráfico. Dessa “amizade”, não demorou muito para que o garoto ocupasse seu primeiro cargo no mundo do crime. O agora fogueteiro, responsável dentro da comunidade por soltar fogos para alertar os demais sobre a presença da polícia, iniciava a sua escalada rumo à perdição.

Na época, o Complexo do Alemão era comandado pelo traficante Orlando Jogador, morto pelo também traficante Uê numa emboscada. Por causa da situação conflituosa, Jailson teve que ficar refugiado em outra comunidade até as coisas se acalmarem. Depois de um tempo, ele voltou ao seu local de origem, agora assumindo a gerência de bocas de fumo nas comunidades Nova Brasília e Morrão.

Em sua trajetória como traficante, foram muitos os confrontos, tanto com policiais como com bandidos de facções rivais. “Enfrentei situações de muito perigo. Teve vezes as balas passaram perto do meu corpo e estilhaços pegarem minha cabeça ao ponto de eu ficar cheio de pedaços de chumbos, aqueles pedacinhos de chumbo. Quando a bala bate, ela espalha aquilo e fica no couro cabeludo”, lembra.

Certa ocasião, chegando em Nova Brasília pela madrugada, Jailson se deu conta de que o Bope estava invadindo a comunidade. Tentando fugir daquela situação, ele entrou numa vila. “Quando corri com o Bope passando e procurando, pude ver a morte de perto. Nesse dia, foi um dos grandes livramentos que o Senhor me deu, porque se o policial olhasse para o lado eu seria visto tentando me esconder. Se ele tivesse me visto, podia ter tirado a minha vida. Ali tinha um quarto, aqueles cômodos que ficam vazios, onde geralmente as pessoas colocam bicicleta, aquelas coisas que não vão usar dentro de suas casas. Consegui entrar num lugar desses, em uma casa, um cômodo desses. Estava tudo muito escuro. Eu não podia dar um suspiro porque os policiais podiam me achar”, conta Jailson, que acredita ter sido guardado pela misericórdia do Senhor. No escuro, ele, cuidadosamente, levantou a mão para o alto e pegou um colchão que estava ali amarrado. Conseguiu desamarrá-lo devagarzinho e se deitou. Passado aquele pavor, conseguiu dormir, ainda com muito medo, porque o coração estava acelerado.

Jailson conta que sempre estava bem armado. Ele andava com fuzil, pistola e muita munição, com suporte de mochila para transportar o material. Como ele diz, “andava bem pesado”. “Nesse dia, a arma que eu estava usando, quando eu pulei uma barranceira, que era nessa vila, o pente dela ficou para um lado e eu vim para o outro. Eu fiquei sem nada”, recorda.

Quando o Exército invadiu a comunidade nos anos de 1990, mais uma vez ele viu a morte de perto. “Estávamos mais de 10 dentro de uma casa e a gente não tinha para onde correr. Não tinha, pois já estava tudo cercado. Lembro-me muito bem. A gente estava dentro dessa casa e a senhora, moradora, falou assim: ‘Fica aí, meu filho!’. Ela saiu e deixou a gente dentro da casa dela. Ficamos escutando os passos e as falas dos homens do Exército. Todos nós apontando sua arma para a porta. Nós no lado de dentro e eles no lado de fora. Se eles mexessem no trinco, todos nós iríamos morrer. Foi muito tenso. Eu não sei o que ia acontecer, mas ia ser uma coisa terrível que ia acontecer, porque nós todos estávamos pernoitados e com muito medo”, conta.

Esse foi mais um dos livramentos narrados por Jailson, sem contar as muitas trocas de tiros. ELe crê que foi a misericórdia de Deus, que tinha um plano na vida dele. Umas das situações consideradas como “brabas” foi quando o grupo do qual ele fazia parte voltou para tomar esse morro de volta. “Foi uma das maiores guerras que teve na época. Teve até helicóptero no dia que a gente invadiu. Tivemos que nos agarrar no mato e nos esconder entre as árvores”, lembra.

Não tiveram, porém, o mesmo desfecho a vida de dois irmãos mais novos de Jailson, também envolvidos com a criminalidade. Um deles foi morto na Fazendinha, localizada dentro do Complexo do Alemão, e o outro durante um assalto no Meyer, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Muitos amigos dele também morreram na criminalidade.

Mesmo tentando fugir da polícia diversas vezes, Jailson não conseguiu se livrar da prisão, sendo preso e condenado à pena de três anos e 50 dias. Da última vez que ele foi preso, conta ele que os policiais lhe afogaram três vezes, ao ponto de lhe causar desmaio.

Encarcerado no presídio de Bangu 2, na zona oeste do Rio de Janeiro, a história dele começou a mudar. Evangelizado lá dentro, ele decidiu entregar sua vida a Jesus, aceitando-O como Salvador de sua vida no ano de 1995. Mas, ao ser solto, voltou à criminalidade, até que um dia, de tanto ser evangelizado por pessoas que haviam sido criadas com ele na comunidade, não resistiu e voltou aos caminhos do Senhor, pois a Palavra de Deus já estava plantada em seu coração.

Jailson era tão influente no mundo do crime que tem seu nome citado em livro de autoria do traficante Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, que à época o chefiava. “Ele relata lá no livro dele que o meu apelido era ‘Mijão’. Era assim como eu era conhecido antes nessa comunidade. Ele conta que, depois de eu ter passado por três gerações de chefes [Orlando Jogador, Nem Maluco e Macarrão] e ter cumprido pena em Água Santa, Bangu II e Bangu III, me converti e hoje prego a Palavra de Deus na comunidade, resgatando jovens do crime”, relata Jailson.

No tráfico, segundo Jailson, ele ganhou muito dinheiro, mas, além de ser um dinheiro sujo, ele nunca conseguiu juntar recursos. Assim como ganhava “fácil”, assim também gastava. “O Senhor tirou tudo isso de mim. Saí sem nada, nem uma casa eu tinha. Também não tenho estudo, mas, por graça e misericórdia, já conquistei muita coisa depois que vim para Cristo. Comecei como servente de pedreiro e hoje sou um pequeno empresário. Inclusive, presto serviço para a CPAD. Possuo um carro, cinco casas, consegui comprar outra casa para minha filha e meus netos. Deus tem me honrado!”, celebra Jailson, que, além de microempresário do ramo de construção civil, serve ao Senhor como diácono na congregação Alvorada, da Assembleia de Deus em Bonsucesso. Jailson também faz parte do chamado Grupo Resgate, com o qual desce vielas, becos, ruas, anunciando que o Senhor Jesus é o Caminho, a Verdade e a Vida. Segundo ele, hoje fazem parte do grupo convertidos que outrora compravam droga dele.

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