A Bênção Apostólica como parte importante do culto pentecostal

A Bênção Apostólica como parte importante do culto pentecostal

A liturgia de um culto das Assembleias de Deus no Brasil tem basicamente uma estrutura parecida. Quando o povo pentecostal se reúne, tem-se a oração inicial, os cânticos do hinário oficial da igreja, a leitura devocional, os louvores congregacionais, a palavra do pregador, a oração final e a bênção apostólica, e é sobre a relevância para os cristãos atuais dessa última parte do culto que iremos tratar aqui.

A Bênção Apostólica é uma marca nas composições das cartas paulinas e nas pastorais, as quais eram direcionadas às igrejas e também a alguns indivíduos que faziam parte do ministério de Paulo. É possível ver as diversas formas de estrutura dessa bênção nas epístolas canônicas e até no Apocalipse de João: “A graça do Senhor Jesus Cristo seja com todos vós/convosco” (Romanos 16.24; 1 Coríntios 16.23; Filipenses 4.23; 1 Tessalonicense 5.28; 2 Timóteo 3.18; 2 Timóteo 4,22; Hebreus 13.25; Apocalipse 22,21); “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja irmãos com o vosso espírito” (Gálatas 6.18); “A graça seja com todos os que amam o nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade” (Efésios 6.24); “A graça seja convosco” (Colossense 4.18); “A graça seja contigo” (1 Timóteo 6.21); “A graça seja com vós todos” (Tito 3.15); “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito” (Filemon 1.25).

De forma proposital, não foi colocado acima o texto de 2 Coríntios 13.13, onde temos a composição da bênção que é mais impetrada em nossos altares: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós”. Não é por acaso que esta bênção é a escolha preferida dos ministros do culto, porque ela carrega em si uma estrutura trinitária: o Pai, o Filho e o Espírito Santo são mencionados na referida bênção, diferentemente do que ocorre nas outras passagens citadas.

Esta bênção do Novo Testamento chamada de “Bênção Apostólica” faz lembrar a “Bênção Araônica” do Antigo Testamento, registrada em Números 6.24-26: “O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHOR faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre ti levante o rosto e te dê a paz”. As bênçãos trazidas na menção do nome “SE-NHOR” por três vezes garante verdadeiramente a presença de Deus no meio de Seu povo com graça, misericórdia, favores e o Seu eterno amor.

O que realmente chama a atenção na Bênção Apostólica de 2 Coríntios 13.13 são os três elementos fundamentais à vivência cristã, à fé: a graça, o amor e a comunhão, que estão em sequência ligados às três pessoas da Trindade - a Cristo, ao Pai e ao Espírito Santo. A presença deles nesta citação solene do apóstolo Paulo significa que o crente em Cristo tem a garantia de Deus estar sempre presente em sua caminhada rumo aos céus. Nesse sentido, veremos agora como o crente precisa ver, através dos elementos citados, a importância da Bênção Apostólica como parte do culto pentecostal.

A graça do Senhor Jesus Cristo

A graça, do grego χάρις, é o favor, a benevolência, a misericórdia que vem ao homem da parte de Deus por meio de Jesus Cristo. É o elemento primordial à salvação (Atos 15.11; Efésios 2.8). Ela produz, na vida de quem a recebe, a esperança da vida eterna segundo o Evangelho de Cristo, transmitida pela pregação da Igreja (Atos 20.24; Efésios 3.8). A graça é ofertada por Deus gratuitamente, sem ser merecida pela humanidade; e quando aceita, a pessoa goza da justificação de Deus e de seus benefícios (Romanos 3.24). A graça de Jesus é ainda a força, a capacidade dada ao que crê, para suportar as fraquezas e as adversidades (2 Coríntios 12.9). O Espírito Santo é quem a torna eficaz e real, pois é Ele quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo (João 16.8).

Paulo sempre usou em suas cartas a estrutura “A graça do Senhor Jesus Cristo” (Romanos 16.24; 1 Coríntios 16.23; Filipenses 4.23; 1 Tessalonicenses 5.28; 2 Tessalonicenses 3.18; 2 Timóteo 4,22; Filemon 1.25), e para ele, o nome de Jesus associado a “Senhor” e/ou “Cristo” demonstra a consciência que o apóstolo tinha de Jesus como sendo Deus, igual ao Pai e ao Espírito Santo, e como a fonte de toda graça oferecida aos homens. Ao mencionar a graça vinculada ao Deus Filho, o apóstolo dos gentios também queria apresentar à Igreja o Deus único que revela a Sua graça e misericórdia.

O amor de Deus

O termo grego usado por Paulo para se referir ao amor de Deus é ἀγάπη, que neste contexto da Bênção Apostólica está relacionado à misericórdia de Deus oferecida aos homens. Ele é demonstrado pelo próprio Senhor Jesus Cristo, que se entregou voluntariamente para que o homem não mais “pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). O amor oferecido por Deus é aquele que tira o homem da servidão e o coloca como amigo de Cristo (João 15.13-15).

O amor de Deus faz parte de um dos Seus diversos atributos e demonstra a própria essência e natureza de Deus, porque Ele é amor (1 João 4.8,16). O Espírito Santo é quem derrama o amor de Deus nos corações dos Seus servos (Romanos 5.5). O amor de Deus é a fonte de todo bem-estar humano, pois esse amor nos alcançou quando ainda éramos pecadores (Romanos 5.8). Esse amor é a origem de todos os benefícios dados por Deus à Igreja (Efésios 5.25). Ele representa o amor ativo de Deus que alcança o homem em Cristo Jesus (Romanos 8.32; 11.32). O amor de Deus Pai se revela aqui, nos mandamentos divinos e na obediência da Igreja ao seu criador, construindo, assim, uma relação em amor, do Pai com o Filho, do Filho com o Pai e do Pai e do Filho com a Igreja e da Igreja com o Pai e o Filho, na dimensão do Espírito Santo (João 14.15,21; 15.10).

A comunhão do Espírito Santo

Uma característica da unidade da Igreja é a comunhão do Espírito Santo, que mantem o vínculo da paz no Corpo de Cristo (Efésios 4.3). A palavra grega que Paulo utilizou é κοινωνία, expressão essa que pode ter as seguintes implicações para os crentes: a participação no dom da vida do Espírito Santo (Atos 2.38; 10.45); a manifestação do Espírito através dos dons espirituais (1 Coríntios 12–13); a concepção de companheirismo ou da comunhão que é garantida por Cristo e por Deus Pai e com os outros crentes, mediante a presença, a habitação e o ministério do Espírito Santo.

A comunhão do Espírito Santo produz no crente o fruto do Espírito (Gálatas 5.22-23); faz Jesus habitar no crente pelo Espírito (2 Coríntios 3.17); ajuda a vencer a carne no Espírito (Romanos 8.1-13); auxilia na oração exclamatória do “Aba, Pai” (Romanos 8.15); ocasiona a virtude e o poder para vencer o mal e testemunhar a respeito de Cristo (Lucas 24.49; At 1.8); capacita a perseverar na doutrina dos apóstolos e na comunhão (Atos 2.42); traz a garantia e é o penhor da promessa (2 Coríntios 1.22; 5.5; Efésios 1.14).

Seja com todos vós

A princípio é uma bênção comunicada para todos os crentes da Igreja de Corinto. Aqui vemos uma bênção na Igreja do primeiro século que perpassa os cristãos do período medieval, alcançando os servos de Deus dos tempos contemporâneos e chegando até a Igreja moderna, pois assim como o Espírito continua falando às igrejas, a Bênção Apostólica tem a sua atualidade na Igreja, sendo pronunciada até hoje.

Conclusão

Os elementos que compõem a Bênção Apostólica - a graça, o amor e a comunhão - e a presença nela do Deus trino - Pai, Filho e Espírito Santo - já devem despertar, por si só, o interesse do participante do culto pentecostal, a percepção da sua importância, do que ela representa para o homem e a mulher de fé em Cristo Jesus. Tanto o ministro que impetra a bênção quanto os que hão de receber a maravilhosa dádiva nessa ministração precisam reconhecer que sem a graça de Jesus não conseguimos a salvação, que o amor de Deus é ainda hoje revelado pelo Seu Filho e que precisamos participar da comunhão do Espírito que nos une ao Pai e ao Filho em amor e graça.

Portanto, a Bênção Apostólica não deve ser entendida como mais uma formalidade cultual, em que as pessoas apenas estendem as mãos e retornam aos seus lares acreditando que este é apenas um ato normal de todo final de culto. Ao contrário, a Bênção Apostólica necessita criar em cada servo de Deus a expectativa de que é amado e cuidado pelo Pai e que carrega em si a presença do Filho pelo Espírito Santo. Nesse sentido, devemos ter a ministração dessa bênção com alegria, porque é Deus quem abençoa o Seu povo desde agora e para sempre. Amém!

Por Adalberto do Carmo Telles.

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