Teologia com e para a igreja

Teologia com e para a igreja

É consenso de que toda a ciência possui um objeto de estudo. Neste sentido, o termo Teologia indica uma ciência em particular, uma vez que tem como alvo perceber, compreender e tematizar os discursos em torno da pessoa de Deus contidos na Sagrada Escritura. Portanto, a Teologia ocupa o seu próprio lugar, dentro e fora de seu âmbito, desde que continue agindo de acordo com as suas premissas; dessa maneira, continuará conquistando autoridade. A Teologia não deve ser somente um esforço acadêmico de ordenação de doutrinas e dogmas de determinada religião, mas deve expressar sua relevância para a Igreja e a sociedade. 

Porém, a Teologia é muito mais do que um conjunto de elaborações acadêmicas a partir de métodos previamente estabelecidos. Neste sentido, ela ocupa o seu lugar nos propósitos divinos. A ação teológica no mundo tem como via a sabedoria de Deus, daí a nossa busca por essa ciência tanto nos textos bíblicos como na realidade em que é revelada. Em síntese, a Teologia deve ser contextualizada de acordo com as necessidades espirituais dos cristãos e da comunidade; afinal, conforme elucidado, ela é saber de Deus, a qual se acolhe pela fé na Bíblia Sagrada.

A sua colocação primária ocorre a partir de seu objeto de estudo principal: a Bíblia. Essa posição envolve avançar em todas as suas disciplinas bíblicas, as históricas, as sistemáticas e as práticas. O raciocínio teológico deve ser guiado pela Palavra de Deus, orientar-se e medir-se por ela. Esse aspecto evidencia que o lugar da Teologia não se encontra no espaço vazio, mas concretamente na Igreja. Cabe ainda destacar que, sendo ciência modesta, livre e alegre, ela só poderá ser possível e real dentro do campo da força do Espírito Santo. A Teologia influenciará a Igreja e o mundo, se confiarmos que o Espírito Santo opera em justiça e verdade.

Quando falamos em Teologia, logo remetemos a uma conexão direta com a espiritualidade. Pergunta-se a respeito da contribuição deste saber para o crescimento espiritual dos cristãos. No tocante a esse ponto, destacam-se a fé, os dons espirituais e o amor cristão à luz da revelação divina da Sagrada Escritura. Assim, cabe destacar a devoção do teólogo juntamente com o seu testemunho. A partir disso passa-se a perceber a ação do Espírito Santo na vida do ensinador, inspirando-o em seu ensino, o que traz conhecimento à igreja com o propósito de desenvolver a espiritualidade dos membros do Corpo de Cristo aqui na terra.

O labor e a devoção do teólogo chamam a atenção, até pelos aspectos fundamentais desse serviço, com destaque para a oração como forma básica de todos os elementos deste trabalho. Ela deve ocorrer de forma ininterrupta por meio do ato contínuo de dependência de Deus do teólogo. A oração “representa o movimento interno de baixo para cima, o movimento espiritual de uma pessoa” (BARTH, 2007, p. 108). Já o estudo ressalta o labor teológico de forma externa, e ocorre na horizontal, e representa um movimento intelectual. A oração e o estudo devem ser feitos de forma indissolúvel. Em outras palavras, a oração sem o estudo torna-se vazia e o estudo sem oração produz cegueira. Assim, esses dois labores são serviços prestados na busca do conhecimento da Palavra de Deus. O teólogo, em sua atividade, deve considerar a comunhão com Deus como fator primordial de seu serviço. Em sua devoção, ele deve sentir as suas misérias e a necessidade da satisfação de uma vida dependente das riquezas de Deus. Cabe ainda destacar o amor, que representa a obra que agrada ao Eterno; sem ele, todo o labor teológico não teria nenhum valor.

A Teologia e a espiritualidade sempre estiveram intimamente ligadas ao longo da caminhada da Igreja. Desde que os primeiros escritos teológicos surgiram a partir dos discípulos, dos apóstolos e dos Pais da Igreja, se pensava a Teologia e a espiritualidade como uma busca por Deus. O teólogo era uma pessoa que buscava a santificação, cuja sabedoria inspirava e motivava os outros crentes a 

terem uma vida de comunhão com o Criador. O conhecimento de Deus não se destina a exacerbar o orgulho, a obter vantagens em termos de ministério, à exposição da imagem pessoal ou a garantir estabilidade financeira. Muito pelo contrário, o indivíduo que passa a conhecer um pouco mais da Sagrada Escritura, e considera o que apredeu dela, de modo nenhum deixará sua espiritualidade ser moldada por valores do mundo rebelado contra Deus. Ao obter a experiência com o Espírito Santo, jamais homem algum foi o mesmo. O ser humano que se encontra com o Espírito Santo percebe sua impiedade de maneira clara e não vê alternativa, a não ser a misericórdia de Deus. Foi o que aconteceu com o profeta Isaías: “Então, disse eu: ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o SENHOR dos Exércitos!” (Is 6.5) (Bíblia de Estudo Pentecostal, 1995, p. 999).

Os teólogos devem ensinar e anunciar o Reino de Deus e a sua justiça por meio do Evangelho de Jesus Cristo. Essa função traz grandes privilégios e responsabilidades a todos os teólogos. Em outras palavras, tal serviço reflete os direitos e deveres da Igreja perante o seu dono, Cristo. Isso significa que o ensino teológico deve ser prioridade da liderança cristã, visto ser um grande ministério ordenado por Jesus para a formação de novos pastores, com objetivo de ensinar, exortar e edificar os demais fiéis. Por isso, os escolhidos e vocacionados para o exercício desta função devem se esmerar com compromisso e dedicação ao ensino do Evangelho de Cristo.

Portanto, o teólogo, no exercício de sua função, não deve isolar-se em seu esconderijo intelectual. Ele necessita trabalhar no chão da Igreja. O trabalho teológico é essencialmente comunitário e não meramente individual (ROLDÁN, 2000, pp. 33,34). Esse aspecto demonstra que os teólogos não são meros espectadores, mas personagens principais da formulação e organização da Teologia.

Referências

BARTH, Karl. Introdução à Teologia Evangélica. São Leopoldo: Sinodal, 2007.

BÍBLIA DE ESTUDO PENTECOSTAL. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.

ROLDÁN, Alberto Fernando. Para que serve a Teologia? Método, história, pós-modernidade. Curitiba: Descoberta, 2000.

Por Ailto Martins.

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